A Lua escrita por Pedro_Almada


Capítulo 24
Um Novo Hóspede, Dois Novos Aliados




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Um Novo Hóspede, Dois Novos Aliados

    Meu corpo ainda estava pesado, dolorido e eu me sentia como se tivesse sido atropelado por um trem, jogado de um penhasco e pisoteado por uma manada de elefantes selvagem. Não, eu me sentia muito pior. Eu estava lúcido e desperto, mas não tinha forças para abrir os olhos. Minha cabeça estava intacta, mas não tinha forças para mandar qualquer ordem aos músculos do meu corpo.
    Ouvi um rosnar baixo, um grunhido quase imperceptível. O nervosismo me tomou quando um hálito quente aqueceu minhas bochechas. Eu queria me mexer, mas era quase impossível.
    _ Ele está bem? – uma voz sussurrou ao fundo. Eu não conseguia distinguir o dono da voz, mas me parecia familiar.
    Um grunhido baixo e sutil pareceu responder à pergunta.
    _ Conseguiu despistar o Rubro? – a voz perguntou.
    Outro grunhido em resposta.
    Embora eu não pudesse me mexer, ou ver, ou falar, um cheiro de lavanda muito familiar acalmou os meus nervos.aquele cheiro sempre me tranqüilizava, queria dizer que estava tudo bem, não havia motivos para me preocupar.
    _ Ele vai acordar em breve. – uma voz diferente, desconhecida murmurou – não entendo como ele conseguiu.
    _ Não dá pra explicar – a voz familiar falou – mas talvez ele possa.
    Senti duas mãos me tocarem no peito nu. Mãos macias, femininas. Senti meu rosto corar. Embora meu corpo estivesse semi-morto, minha mente estava viva o suficiente para compreender que uma mulher apalpando um homem nunca era simples.
    Assim que as mãos me tocaram, senti meu corpo esfriar gradativamente. Meus ossos cessaram o fogo e senti o ânimo voltar de volta aos meus músculos. Minhas pálpebras tremeram com o meu esforço de abrir os olhos, e alguns filetes de luz invadiram minha visão. Meu corpo estava vigorando aos poucos.
    _ Não vai demorar agora – a voz desconhecida falou. Agora estava muito claro. Era uma garota.
    Finalmente, depois de muito esforço, consegui abrir os olhos. A primeira coisa que consegui enxergar foi um rosto feminino, sério e penetrante. Ela parecia ter seus quase vinte anos, os olhos eram verdes e os cabelos louros levemente ondulados, a pele era branca e, a julgar pelo seu toque, era muito macia.
    _ Que bom que acordou – ela murmurou.
    _ Que bom que não morreu – a voz familiar gargalhou. Eu a conhecia perfeitamente. A voz era de Brian.
    Então minha mente se ligou completamente. Assustado, me curvei pra frente, apoiando meu corpo pelos cotovelos, assustando a garota que tinha aos mãos sobre o meu peito.
    _ Claus! – eu exclamei – os cães de pedra! Parshes!
    _ Hei, Matthew. Vai com calma – Brian me segurou pelos ombros, me forçando a deitar outra vez. Percebi que eu estava deitado no chão – Primeiro relaxa.
    _ Não, eu não posso! Claus matou Parshes porque... A chave!
    Eu levei a mão ao peito. O bocal não estava ali.
    _ Está com Abi – falou a garota, apontando para o canto da sala.
    Levantei-me outra voz, e percebi que estávamos em um salão completamente desconhecido. Mas meus olhos se detiveram na enorme criatura de pedra. Os dentes eram de metal reluzente, o corpo coberto por uma pele de rocha densa e os olhos eram vermelhos e vivos como rubi. As patas enormes e garras curvadas só deixavam a criatura ainda mais perigosa.
    _ Calma, Matthew! – ele me segurou – não é um Aurupo. É só a Abi.
    Eu fitei a criatura, incrédulo. Ela pareceu sorrir. Em seguida ela se contorceu. Suas garras retrocederam, seus olhos reduziram e seus dentes de metal desapareceram. A única coisa a minha frente era o belo sorriso de Abigail, segurando o bocal em uma das mãos.
    _ Sou animorfa, lembra-se? – ela disse, sorrindo – salvei você dos outros Aurupos.
    _ Aurupos? – eu repeti confuso – aquelas coisas são... Aurupos?
    _ Exato. – Abi sorriu – eles obedecem o Aurupo mais inteligente do bando. Então eu me transformei em um deles e eles seguiram minhas ordens.
    _ Abi é inteligente – a garota misteriosa falou – Uma prodígio.
    _ Desculpe-me... Mas... Quem é você.
    _ Louise – ela sorriu – Louise White. Você conheceu minha irmã Angeline. Ela é o Oráculo.
    _ E... Você me curou? – eu perguntei.
    _ É parte do meu dom – ela respondeu – posso afastar a dor física da mente e curar feridas. Suas dores surgiram porque você se esforçou muito...
    _ Onde está Claus? – eu interrompi.
    _ Ele sumiu – Abi apressou-se em dizer – está foragido. O corpo de Parshes também não foi encontrado. Aurupos são carnívoros, devem ter devorado o corpo dela e lambido até a última gota de sangue nas paredes.
    _ O que ele queria?
    _ Claus? Não sabemos. Quer dizer, ele não é uma pessoa má. Pelo menos não era. Agora eu já não sei mais.
    _ E Parshes. O que ela estava fazendo aqui?
    _ Ela é uma traidora, Matthew. Mas deve ter usado sua ilusão para entrar aqui.
    _ O que Claus...
    _ Claus era marido de Parshes mas, quando ela traiu os Homúnculos, ele jurou matá-la.
    _ Mas... Eles estavam conversando. Eu vi com meus próprios olhos – eu disse atônito – ele só pode estar do lado dela.
    _ Claus é uma espécie de braço direito de Sammael Vance – Louise se levantou indo até a mesa onde havia uma bacia de metal e alguns panos velhos – Claus sempre foi um homem bom, mesmo sendo um Rubro. Mas eu sei que você não está mentindo. Quando eu curo as pessoas, consigo ver o momento em que ela foi ferida. Claus matou Parshes, isso não resta dúvida. Mas... Por quê?
    _ Se você viu o que eu vi, então você viu ele tentando me matar, certo? – eu disse, irritado – pessoal, precisamos falar isso com alguém imediatamente!
    _ Não, Matthew. Veja Bem... – Abi sentou-se ao meu lado com o olhar cansado. Ela ficou preocupada comigo. Agora sim eu me sentia um crápula – Lembra-se quando você quis manter segredo dos seus poderes, temendo a reação do Submundo? Pois é, essa é uma situação parecida. Não vai ser fácil provar que Claus tentou te matar.
    _ Claus Yakov possui uma pele de metal maleável, ela pode tomar a forma de lâminas muito resistentes. Poderia cortar um homúnculo sem muito esforço.
    _ É, eu sei disso. Agora eu sei – eu tentei afastar a lembrança de Parshes sendo friamente assassinada – o que aqueles... Aurupos estavam fazendo lá.
    _ Estavam guardando a Biblioteca – explicou Brian – ninguém pode entrar lá sem uma autorização e escolta de peso. Os livros contidos naquele lugar são reveladores, apenas o Conselho pode entrar livremente.
    _ Mas... Eles atacaram Claus sem piedade. – novamente a lembrança veio a minha mente.
    _ Ele é apenas um guerreiro de Sammael, mas os Aurupos atacariam qualquer um, incluindo conselheiros. Como você sabe, existe apenas um Alucate no conselho, Ross Grant. Alucates possuem o dom natural de domarem feras do Submundo, como você deve saber. Algumas são fáceis, mas Aurupos são, com certeza, os mais complexos e teimosos. Eles possuem uma inteligência bastante desenvolvida, compreendem certo e errado, bonito e feito, entendem perfeitamente o que dissemos. Mas são movidos pelo instinto.
    _ Então esse Ross Grant... – minha mente começou a funcionar de muitas formas. Eu estava sendo conspiratório, imaginando traições e mentiras em todos os lugares.
    _ Tire essa idéia da cabeça – avisou Abi – nem pense em acusar Ross Grant. Ele é um Alucate, mas é confiável. Se voltou contra a própria espécie para lutar ao nosso lado.
    _ Peraí! O meu pai fez o mesmo e perdeu os poderes! – eu retorqui.
    _ Seu pai se casou com uma Vance. A história é outra.
    _ Me desculpem, mas acho que ficar discutindo sobre isso agora não é o ideal – Louise falou – Precisamos saber onde Claus está. Provavelmente o esquadrão está rondando os corredores procurando os Aurupos. Precisamos ser cautelosos, não podemos estar ligados aos acontecimentos.
    _ Hei... Não estou querendo ser grosseiro ou ingrato, mas... Por que está nos ajudando? – eu perguntei para Louise, duvidoso. Era a minha parte conspiratória pensando mais alto.
    _ Angeline disse que você é inocente. Eu não sei o que ela quer dizer com isso, mas me pediu que eu ajudasse. Ela disse que viu uma jornada de difícil transição. Coisa de Oráculo.
_ Ótimo... qual o próximo passo, então?
    _ Esse é o meu dormitório. Vocês não deveriam estar aqui.Voltem para a torre dos Estranhos, amanhã nos falamos.

    O salão estava em completo silêncio. Abi já estava em sua toca. Eu e Brian estávamos debruçados na janela, minha mente estava recapitulando o dia estafante e confuso. Eu tinha aquela sensação inexplicável, mas agradável. Louise era confiável.
    _ Não faz sentido. – Brian murmurou – por que Claus faria algo desse tipo?   
    _ Ele disse claramente que o sumiço da chave – eu disse, pegando o bocal e exibindo-o a lua da lua – poderia atrapalhar os planos de Sammael Vance.
    _ Sammael não pode ser um homem ruim – Brian contestou – ele fez muito por nós. Ele é irmão do seu avô, Matthew. Não deveria desconfiar...
    _ Mas eu não tenho escolha, tenho? Quer dizer, se me descobrirem vão pensar que sou o cara mau da profecia.
    _ Então você precisa provar o contrário. E duvidar de Sammael Vance não vai te ajudar muito.
    _ Ok, quer saber. Acho que estou com sono.
    _ Concordo. Amanhã vamos dar um jeito de resolver isso.

    Acordei com as luzes do enorme lustre se acendendo. Não havia uma janela aberta, mas as velas no interior do salão substituíam muito bem o sol. Assim que me levantei, percebi que Richard não estava mais lá. Brian estava amarrando o cadarço da sua bota e, no degrau da escada, Abi nos esperava pacientemente.
    _ Oi, soneca. – ela sorriu, radiante. Ah, agora eu entendo porque me apaixonei por ela.
    _ Seja rápido – Brian disse – precisamos resolver... Nossos problemas.
    Eu me levantei, troquei de roupa, coloquei o colar com o bocal como pingente e descemos as escadas. Passamos pelo salão, onde todos estavam conversando animadamente em uma mesa nova em folha. Para minha surpresa, até mesmo Richard estava lá, no canto da mesa. Assim que passamos, os olhos se voltaram em nossa direção.
    _ Alô, Matthew. Abi... Brown – cumprimentou Archy.
    _ Não me chame de Brown! – Brian retorquiu.
    Archibald apenas sorriu e voltou sua atenção a conversa. Ninguém estava me olhando com receio, era como se a última noite nunca tivesse acontecido. Alguém segurou o meu braço e me puxou para o canto. era Charlie.
    _ Oi, Matthew – ela sorriu, meio constrangida.
    _ Hei, Matt! Vamos logo! – chamou Abi, que já estava na porta do dormitório.
    _ To indo! – eu gritei em resposta e voltei minha atenção para Charlie – hei, Charlie. O que aconteceu? Estão todos bem.
    _ Er... Acho que isso é um pouco minha culpa – ela respondeu – eles não se lembram daquela noite.
    _ Não se lembram? Nenhum deles? – eu perguntei, cético.
    _ É parte do meu dom. Eu posso infiltrar nas mentes, apagá-las, modificá-las, criar eventos que nunca existiram.
    _ Você... Como você... Uau! – era a única coisa racional a se dizer como resposta, “uau”.
    _ Mas não funcionou com você. Lembra-se do beijo? Eu tentei fazê-lo esquecer... Mas não deu certo.
    _ “Você está protegido dentro de você mesmo. Não há lugar mais seguro do que esse”. Foi assim que o Oráculo definiu meus poderes. Talvez esse tipo de coisa não funcione em mim.
    _ Você não é o único. – ela respondeu, olhando discretamente para Brian a minha espera na porta – Seu amigo, Brian, também não foi afetado. A princípio parecia ter dado certo, ele parecia não se lembrar. Mas passados alguns segundos foi como se ele se lembrasse. Ele se virou pra mim e disse “Hei, garota. Isso não funciona em mim”.
    Ela deu de ombros, rindo baixo.
    _ Ele é cheio de surpresas – eu disse.
    _ Apesar disso, ele parece reconhecer o quão importante isso é pra você – ela respondeu – ele está agindo como aquela noite não tivesse acontecido. É um bom amigo.
    _ É... É sim.
    _ Hei, Imbecil! – gritou Brian, me fazendo arrepender do que havia dito – Vamos logo!
    _ Até mais, Charlie. Você tem um dom incrível.
    _ Que bom que não se esqueceu... – ela respondeu, e eu entendi o que ela queria dizer.
   
    Brian, Abi e eu descemos até o pátio. Havia um murmúrio diferente da última vez em que estive lá. As pessoas pareciam mais cautelosas, observadoras. Estava muito claro que a fuga dos Aurupos e os danos deixados no “campo de batalha” estavam deixando as pessoas com os nervos sobressaltados.
    _ Louise disse que nos ajudaria – Abi falou – temos que encontrá-la perto das fontes termais, na ala oeste.
    Nós furamos caminho por entre os outros homúnculos, passamos por corredores e precisamos nos esconder algumas vezes de olhares curiosos. Finalmente, depois de uma longa caminhada, entramos em um outro pátio, coberto de névoa, onde vários buracos no chão cheios de água quente umedeciam o ar. Estava quente e tranquilo.
    _ Estou aqui – a voz nos chamou – atrás da estátua.
    Vimos uma enorme estátua de uma mulher com um tridente na mão. Passamos por ela e nos encontramos com Louise. Ela continuava linda como da primeira vez.
    _ Alguém viu vocês? – ela perguntou.
    _ Não. Podemos conversar.
    A ala das fontes termais estava completamente vazia. Nos sentamos atrás da estátua e iniciamos nossa conversa.
    _ Claus apareceu ontem – começou Louise – como se nada tivesse acontecido. Eu mesmo não teria acreditado se não tivesse visto suas lembranças. Eu só gostaria de saber como Amanda Parshes conseguiu entrar.
    _ Ela é uma ilusionista, certo? – eu conferi – ela poderia ter criado uma ilusão.
    _ Como ela conseguiria manter uma ilusão tão forte a ponto de enganar tantos olhos? – retorquiu ela – é quase impossível.
    _ As ilusões de Parshes não são como miragens – explicou Abi – ela entra na sua mente e destorce a realidade, altera a forma como você enxerga. Entrar na mente de tantos homúnculos seria quase impossível.
    _ Certo, estou convencido.
    _ A única pessoa capaz de ler mentes na Célula é o conselheiro Sammael Vance – explicou Brian – Mas ele é ético demais. Não entraria na mente de ninguém a menos que tivéssemos provas concretas.
    _ Ele poderia entrar na minha mente.
    _ Não poderia – falou Brian – sua mente é um refúgio, lembra-se?
    Eu entendi o que ele queria dizer. Provavelmente sabia da tentativa fracassada de Charlie ao tentar apagar minha mente.
    _ Mas Louise conseguiu – eu retorqui.
    _ Eu não invadi sua mente – ela explicou – Eu posso absorver a dor e, a partir daí, ver o que aconteceu. Eu não sei COMO aconteceu, apenas sei o que aconteceu. Não tente entender, nem mesmo eu entendo às vezes.
    _ Então precisamos ir atrás de respostas – eu decidi – tem algo muito errado por aqui.
    _ Eu preciso dizer uma coisa – Louise falou, cautelosa – a partir daqui, vocês estão sozinhos. Não posso ajudá-los. Apenas vou passar uma coisa que minha irmã conseguiu ver nas areias do deserto. É a forma como ela enxerga a linha do tempo.
    Louise enfiou a mão no bolso e tirou um pergaminho velho. Abriu-o e começou a ler.


    “Assim como um triângulo, seus vértices são opostos, mas se ligam em um mesmo ponto central. Mas de três, dois são destrutivos, um deseja a ordem. O perigo nasceu de onde menos se esperava, e agora está entre nós e segue ordens dos perversos”

    Louise terminou de ler. Nada do que eu havia ouvido era racional. Olhei para todos a minha volta, mas ninguém compreendia as palavras do Oráculo. Louise me entregou o pergaminho e, levantando-se falou:
    _ Não posso ficar mais. Não posso me envolver... Boa sorte.
    E, dizendo isso, ela desapareceu de vista por entre a névoa.
    _ Estamos sozinhos outra vez – eu falei.
    _ O que o Oráculo quer dizer?
    _ Odeio charadas – reclamou Abi.
    _ Que raio de triângulo é esse? – perguntei, confuso.
    _ Pro inferno com esse Oráculo! – explodiu Brian – vamos ter que fazer do nosso jeito.
    _ Como?
    _ Vamos precisar da ajuda de Charlie. – falou Brian – Depois vamos falar com Claus.

    A idéia me perecia absurda. Tentar persuadir Claus a nos contar o que sabia e depois apagar sua memória era muito arriscado e, na verdade, muito insano. Ele era forte o suficiente para destruir nós quatro.
    Subimos a escada em direção ao dormitório. Iríamos abordar Charlie quando estivesse sozinha, iríamos contar tudo o que havia acontecido e, depois disso, precisaríamos torcer para ela concordar com o plano. Se ela fosse esperta, diria “não”.
    Assim que entramos no dormitório, um movimento diferente rondava a mesa. Todos os Estranhos estavam em volta de um sujeito completamente estranho para mim. Ele se levantou assim que entramos.
    Seus cabelos eram arrepiados, dourados, os olhos alaranjados e usava uma jaqueta vermelha, uma calça marrom escuro e uma bota até o joelho. Parecia um sujeitinho estanho, mas nos cumprimentou sorridente. Percebi que ele tinha na mão direita uma luva vermelha até o cotovelo, quando acenou.
    _ Alô.
    _ Ah, oi. – nós falamos em uníssono.
    Nos aproximamos, cautelosos, como se toda aquela multidão de pessoas em volta do sujeito pudesse nos atropelar a qualquer momento.
    _ Hei, pessoal – Archy acenou para nós – esse é o novo Plebeu.
    _ Não é demais? – Amanda riu e, olhando para Kristin, soltaram uma risadinha cheia de segundas intenções. Mulheres...
    _ Sou Jericho Barclay – ele se apresentou – vocês devem ser Matthew Vance, Abigail Blair e Brian Renwick, certo? Desculpem-me, mas é que esse pessoal falou de vocês bastante.
    Eu fitei os Mestiços, que sorriram constrangidos. Olhei em seguida para Charlie. Eles ainda gostavam de nós, e isso graças a ajuda de Charlie.
    _ Você está certo. Eu sou Matthew. Esse é Brian e essa...
    _ É Abi Blair – Barclay se adiantou, pegando a mão de Abi e beijando-a – um prazer.
    Era só o que me faltava. Um gentleman metido a gostosão! Archy e Brian pareciam se contorcer por dentro. Estava muito claro que essa relação iria ficar ainda mais complicada. Eu, Abi, Charlie, Brian e Archy já estávamos bastante ligados emocionalmente, não precisávamos de mais um idiota para complicar mais a situação.
    _ Que doce... – Abi sorriu, radiante – o prazer é todinho meu.
    _ De repente esse cara não me parece tão legal – Archy murmurou quando se aproximou de mim.
    _ Espero que não se importem se eu ficar aqui. Fui mandado para esse dormitório. – falou Jericho, feliz como um gnomo de jardim. Grande Babaca! Eu não conseguia gostar dele, era como se aquela pose fosse falsa demais.
    _ Seja bem-vindo! – falou os gêmeos.
    _ Só não entrem naquele buraco ali – falou Kristin – nosso amigo, Dominique, ainda está muito mal.

    Esperamos o tumulto acabar. Finalmente, depois de muito insistirmos, Abi conseguiu convencer o pessoal de fazer um passeio com Jaricho Barclay, o novato. Foram todos, inclusive Abi, alegando “garantir que não voltem tão cedo”. Fiz um sinal discreto para Charlie, e ela entendeu. Diferente dos outros, ela permaneceu no dormitório. Assim que desapareceram de vista, eu, Brian e Charlie nos sentamos a mesa.
    _ Charlie, precisamos de uma ajuda sua – comecei a falar com urgência – precisamos dos seus poderes emprestado.
    _ Ah, sabia que eu não deveria contar sobre os meus poderes. Já é muito difícil mantê-lo em segredo dos meus amigos.
    _ Não importa, nós... Como assim? Os outros não sabem dos seus poderes?
    _ Você sabe como seria complicado explicar que eu posso entrar na sua mente e mexer com as suas lembranças?
    _ Eu não me importo – Brian respondeu.
    _ Claro, meus poderes não funcionam com você... Aliás, por que não?
    _ É simples. Minha habilidade de regenerar – explicou Brian – quando você altera minhas lembranças originais, a parte do cérebro responsável por elas fica alterada. Meu corpo reconhece isso como uma lesão, e repõe a região original. Minhas lembranças são restauradas e as lembranças implantadas são descartadas. Quando você apaga minha memória, meu corpo também reconhece da mesma forma, e repõe o que faltava.
    _ Confuso – eu disse – mas não foi pra isso que viemos. Charlie, seu dom é incrível. E, talvez possamos usa-lo para... Ajudarmos o resto do Submundo.
    _ O que? No que vocês se meteram?
    _ É uma longa história.
    Expliquei sobre a noite anterior, quando cruzei com Parshes e Claus, como a mulher morreu e a forma como ele me perseguiu. Disse sobre a máscara e, depois de muito relutar, acabei contando sobre o meu outro lado, o lado Alucate. Eu sabia que podia confiar em Charlie. Ela ouvia a história, perplexa, enquanto eu contava minha relação com a profecia, explicando que eu não deveria chamar muita atenção, ou poderiam em ligar com o inimigo da profecia. Ela não acreditava que eu seria o inimigo, e isso me deixou mais a vontade para contar a história. Contei sobre o provável envolvimento com Sammael e os Alucates, em busca da máscara. Falei dos meus poderes Alucate, sobre a chave e a última profecia enviada por Angeline. Enfim, ela já sabia de tudo. Eu estava sendo displicente contando tudo a uma pessoa que eu mal conhecia, mas eu estava sem opções, e eu sentia que o tempo estava acabando.
    _ Então vocês pretendem, mesmo, ir atrás de Claus e descobrir tudo? – ela cruzou os braços, ainda pasma – ele vai nos matar.
    _ Não vai. Não vou deixar – eu disse – só precisamos de conversar com ele. Depois disso, você apaga a memória dele. Simples, sem sujeira.
    _ Vocês não vão fazer isso sozinhos! – a voz de Dominique nos assustou.
    Dominique estava logo atrás de nós, encostado na parede com as asas cobrindo os ombros, de braços cruzados.
    _ Vocês querem descobrir se Sammael é um cretino, certo? – ele se adiantou – Eu to nessa. 


   

     


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Notas finais do capítulo

Os capítulos até agora serviram para unir aqueles que lutariam juntos contra o desconhecido. A partir daqui a verdadeira batalha será travada.
Continuem lendo, e comentem!! xD
vlw, leitores!!