A Lua escrita por Pedro_Almada


Capítulo 21
Duelo – parte I




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Duelo – parte I

    O clima não estava nada bom entre nós. Depois da noite passada eu ainda não tinha encontrado minha mãe ou meu tio, e estava preocupado com meu pai e Emi, escondidos em algum lugar com o velho gigante sem nome. Mas, em todo o caso, minha maior preocupação era com o meu futuro. Se eu fosse taxado como “o inimigo”, o que eles fariam comigo? Talvez esse tal Aloysius pudesse nos ajudar, mas eu ainda não o tinha conhecido.
    Entrementes, os nossos anfitriões se mantinham escondidos nos quartos-buracos, talvez com medo de nós, ou indiferentes à nossa presença. Dominique, o Homúnculo com asas, vez ou outra nos encarava com certa repulsa, como se não nos quisesse ali. Charlie, por outro lado, nos tratava tão bem, sempre nos servindo, mas eu não gostava. Ela agia como se nos devesse algo, como se precisasse servir os herdeiros das três famílias.
    Após o café da manhã Dominique simplesmente saiu sem dizer uma palavra. Charlie e Abi acabaram de terminar a cozinha e iniciaram uma longa e amistosa conversa. Apesar disso, Charlie evitava olha-la nos olhos, em um gesto de profunda reverência. Aquele tratamento me incomodava. Eu preferia que ela fosse grossa e cretina como Dominique.
    _ Hei, Charlie – Abi segurou as mãos da nova amiga – a gente poderia fazer um tour nos domínios da Célula. Eu só estive aqui uma vez e lugar é muito grande.
    Ela sorriu timidamente, recolhendo as mãos e fechando-as como uma concha sobre o colo.
    _ Claro – ela respondeu – quando vocês quiserem.
    Abi sorriu solidariamente. Ela havia percebido o mesmo que eu, Charlie estava nos tratando como senhores. Eu estava irritado.
    _ Olha, Charlie – eu estava em silêncio até aquele momento, mas eu decidi resolver a questão – nos trate como você trata os seus amigos, ok? Não estamos aqui para que vocês nos sirva, estamos aqui apenas de favor. Esse é o lugar de vocês.
Os olhos me fitaram com surpresa, um espanto que deixou-a lívida.
_ Eu... Eu sinto muito.
    _ Não, Charlie. Você não precisa sentir muito. Você só tem que ser você. Olha, eu sei fazer ovos cozidos e... Bem, eu posso aprender a fazer bacon. Não precisa nos tratar com tanto respeito. Pode nos xingar, se quiser.
_Mas eu não quero – ela disse num sussurro.
    _ Ele tem razão, Charlie – uma voz desconhecida respondeu – você não é nenhum servo.
    Olhamos em direção à fonte da voz. Era uma voz feminina, doce mas decidida. Eu estava convencido, Homúnculos nasciam destinados à serem belos, os traços perfeitos e atraentes. Assim era aquela garota.
    _ Mandy – Charlie olhou para a garota – já acordou?
    Ela tinha os cabelos tão negros quanto a noite, os olhos eram verdes muito vivos e a pele cor de pêssego combinava com os lábios rosados e finos. O nariz, fino e delicado, combinava com as mãos, brancas e, eu podia jurar se pudesse tocá-las, muito macias.
    _ Sou Amanda Allen – ela se apresentou, eu me lembrei de Amanda Parshes no mesmo instante, e voltou sua atenção à Charlie – O garoto... Ele é como nós. Não o ouviu dizer?
    _ Eu sei que ele é um mestiço – ela retrucou com uma expressão brava mas muito infantil, como uma criança – mas é um Vance.
    _ Por favor, Charlie. – eu pedi – a última coisa que eu preciso agora é ser rotulado. Me conheça, e depois a gente vê o que isso vai dar, ok?
    Ela sorriu, tão marota e tão gentil, que eu senti vontade de abraçá-la.
    _ Assim está melhor – respondi.
    _ Charlie, me faça um favor – pediu Amanda – vá até o pátio e busque mais mantimento. Acho que estamos quase sem comida.
    _ Ora, você acabou de dizer que eu não sou uma serva. Eu vou ficar – ela cruzou os braços, teimosa.
    _ Mas se você olhar no calendário, vai perceber que hoje é o SEU dia de ir buscar comida. – Amanda retrucou.
    _Ah... Bem, ok. Estou indo.
    Charlie se levantou, pegou um cesto de arame e saiu. Os passos dela só deixaram de ser ouvidos depois de tempo.
    _ Charlie não é assim normalmente – comentou Amanda, sentando-se à mesa – geralmente ela sorri muito, age teimosamente e retruca bastante. Uma ótima amiga. Mas o passado dela a incomoda, às vezes.
    _ Passado? – Abi virou-se para a garota – que passado?
    _ Bem... Ela é uma mestiça. O pai dela era humano, a mãe era da linhagem primária dos Blair.
    Abi arqueou as sobrancelhas, surpresa.
    _ Provavelmente uma prima distante sua – comentou Mandy percebendo a expressão de Abi – você é Abigail Blair, certo?
    _ Mas o que houve com ela? – eu perguntei – ela parece tão tímida.   
    _ Vocês possuem ligações fortes com as famílias principais. No passado o pai dela foi executado pela FourFace.
    _ Executado? – Abi exclamou – a Fourface pode executar um humano?
    _ Os poderes de Charlotte se manifestaram muito cedo, e o pai dela viu. Se ele tivesse aceitado a natureza da esposa e filha, ele estaria vivo. Mas ele não aceitou. Na verdade, o pai dela surtou, queria sair de casa, começou a falar demais, os vizinhos começaram a estranhar. É por isso que a FourFace condena relacionamentos entre Homúnculos e humanos.
    _ O pai dela foi executado? – era difícil acreditar, mas, julgando o submundo pelo que eu via naquela torre, eu não duvidava – eles não podem fazer isso!
    _ Não podemos contradizer as regras – Amanda respondeu, pesarosa – isso mudou o comportamento de Charlie. Ela tinha uma ligação muito forte com o pai. Ele estava sempre presente. Quando ela nasceu a mãe dela estava em uma guerra regional. Aurupos estavam dizimando muitas vilas na Escócia, e a mãe dela foi enviada para parar o conflito... Aurupos são lobos gigantescos, com escamas. Uma história para outro momento. Enfim, quando o pai morreu, ela estava sozinha, com poderes que desconhecia e uma mãe ausente, que nem foi capaz de perceber o sinal no décimo aniversário dela.
    _ Ela adquiriu habilidades no décimo aniversário? – perguntou Abi – isso é bem cedo. Não tanto quanto Matthew, é claro.
    Amanda me olhou com curiosidade.
    _ Você. Se desenvolveu com que idade?
    _ Bem, eu só fui perceber minhas habilidades um dia antes do meu décimo sétimo aniversário. Mas o Oráculo disse que eu me tornei um Homúnculo aos três anos.
    _ Uau! – ela exclamou.
    Naquele momento um movimento desproporcional ao da noite passada, começou. Alguns saíram de suas tocas e apareceram como um relâmpago perto de nós. Haviam vários deles.
    Uma garota ruiva de olhos muito negros, um garoto de cabelos tão castanhos quanto os olhos e dois gêmeos, um loiro de cabelos lisos até o pescoço e outro com os cabelos cacheados. Até aquele momento, eles não haviam se apresentado.
    _ Você é um homúnculo desde os três anos? – a garota ruiva perguntou.
    _ Impossível – o gêmeo do cabelo liso riu – isso é I-M-P-O... S... Ah, vocês entenderam...
    _ Pessoal, esses são os ratos – Amanda riu – só saem da toca quando sentem cheiro de queijo.
    _ Espero que eu não seja o queijo – eu brinquei.
    Eles riram e, pela primeira vez, eu me senti aceito.
    _ Eu sou Kristin Blair – a ruiva falou, acenando para Abi – acho que somos primas. Pai Homúnculo, mãe humana. Uma lástima.
    _ Sou Archibald Tompson – o garoto de cabelos castanhos sorriu para Abi de uma forma bastante interesseira – mas podem me chamar de Archy.
    _ Sou Ephaim Gifford – o gêmeo de cabelos cacheados se apresentou – e o analfabeto aqui é o meu irmão gêmeo, acho que vocês já perceberam isso...
    _ Deixa que eu me apresento, mané – o outro empurrou o irmão para o lado – Sou Ethan Gifford, o gêmeo mais bonito da casa.
    _ É um grande prazer conhecê-los – eu disse – e obrigado por nos deixarem ficar.
    _ Foi um pedido de Bradley Vance, não poderíamos negar – disse Archibald Tompson – o seu tio é o único Vance que vale alguma coisa nesse lugar... Opa, sem querer ofender.
    _ Eu sei, e concordo com você – eu respondi, me lembrando do meu avô, que não estava mais ali, e da minha mãe, que certamente estava.
    _ Bem, acho que vocês são um pouco mais amigáveis do que o cara de asas – falou Abi.
    _ Não se preocupem com Dominique, ele é um cara legal, está só nos protegendo – respondeu Kristin – ele se importa conosco.
    _ Foi bom conhecê-los – falou Abi – mas acho que temos que ir. É melhor nos encontrarmos com a família do Matthew.
    _ Só uma pergunta: Por que estão aqui? Quer dizer, o mestiço Vance, eu entendo. Mas e o resto de vocês? Não são todos mestiços, são?
    _ Meu irmão é de linhagem pura – eu respondi, lembrando-me do dia em que meu tio dissera sobre o fato de Richard não ser filho de George Chambers, meu pai – meus amigos também. Mas somos inseparáveis, acho.
    _ Vocês precisam se decidir. Não que nos importemos – Archy virou-se para os amigos, que afirmaram com a cabeça – mas são regras. Plebes e Nobres não devem dividir o mesmo teto. “Isso poderia influenciar a forma de pensar a respeito de um relacionamento entre humanos”, é o que dizem.
    _ Estamos nos ajustando aos poucos – eu disse – precisamos resolver... Uns problemas que estou passando. Meu tio está tentando resolver o resto. Mas se as coisas não ficarem boas para o lado de vocês, nós saímos, eu prometo.
    _ Tudo bem – Kristin sorriu – espero que consiga resolver os seus problemas.
    _ Obrigado.
    _ Hei – Archy falou – não querem companhia? O lugar é grande, e precisam de alguém que conheça essas montanhas como a palma da mão.

    Abi, Archy, Charlie, Mandy e eu estávamos descendo as escadas. Agora de dia, com a cabeça tranqüila, eu havia percebido como haviam portas em todos os lugares, não seria difícil me perder em um lugar como esse.
    _ Estávamos no oitavo andar, onde dormimos. Mas cada andar é dividido em três alas, então, se formos contar, existem certa de vinte e quatro pisos em cada construção – Archy explicava apontando para portas, janelas e paredes de pedra escura – aqui são as salas dos outros Plebes. Ficariam surpresos se soubessem quantos Homúnculos se relacionam com humanos. Existe uma torre isolada, ao norte. Lá estão a ralé, os Plebes dos Plebes.
    _ Ah, sei. É lá onde ficam os filhos de Plebes que se relacionam com humanos, certo? – Abi arriscou.
    _ Exato. Como vocês sabem, não importam o quão misturada seja a arvore genealógica, se algum descendente seu é Homúnculo, certamente você também será. Mas a probabilidade de serem Desertados é grande. Na verdade não é incomum.
    Continuamos a caminhada até, finalmente, chegarmos ao pátio gigantesco. Estava muito movimentado agora, cheio de bancas de jornal, carrinhos com frutas e outros alimentos, uma verdadeira feira.
    As pessoas estavam se aglomerando aos poucos, rindo e conversando animadamente, cada segundo mais agitadas. Alguma coisa muito interessante estava para acontecer.
    _ Está movimentado hoje. – comentou Charlie. Ela ainda nos tratava com um respeito desnecessário, mas não bajulava como antes.
    _ E tem que estar. Hoje é dia de Duelo – falou Archy ansioso e animado – vamos ficar por aqui. Vocês vão adorar isso.
    _ Duelo? Vai haver um duelo aqui? – perguntei.
    _ Isso é bastante comum em Células – comentou Abi – Homúnculos se reúnem nas praças para demonstrarem seus poderes, uma forma divertida de treinar.
    _ E quem participa? – eu perguntei.
    _ Muita gente – Archy fez um gesto com as mãos – principalmente os Nobres. É como uma luta livre, “quem quiser lutar, dê um passo a frente”. O problema é que poucos enfrentam os Nobres. Geralmente somos apenas espectadores.
    _ Isso me parece divertido – eu falei com sarcasmo – brigando por diversão.
    _ A maioria dos lutadores são Rubros, aqueles que nascem na lua vermelha. Eles possuem um temperamento mais estourado.
    Lembrei-me do meu irmão e como ele tinha o péssimo hábito de ser impulsivo.
    _ Vamos ficar mais a frente, assim podemos ver as lutas de perto.
    _ Isso não é divertido – falou Mandy – É patético. Abi, acho que os homens vai ficar por aqui. Não quer ir para outro lugar?
    _ Tudo bem. Não gosto de Duelos mesmo. Você vem Charlie?
    _ Ah... Acho que vou ficar com o Matthew... Com os rapazes. Vão na frente, nos encontramos depois.
    Eu percebi o olhar minucioso que Abi lançou sobre Charlotte. Eu me senti estranhamente bem. Eu senti na voz de Charlie que algo em mim a atraia e, a julgar pela expressão de Abi, ela também havia percebido e não estava gostando nenhum pouco. Eu sorri discretamente, me sentindo bem, pela primeira vez em muito tempo. Era como estar em casa, no meio da amigos, sem nenhum segredo, apenas sendo eu mesmo e divertindo com os flertes como os caras normais fazem.
    Abi e Amanda sumiram no meio da multidão. Apenas Archy, Charlie e eu ficamos para assistir ao evento. Passamos entre algumas pessoas para nos adiantarmos e termos uma visão melhor. Era estranho estar em uma multidão onde todos eram como eu, onde eu poderia destruir um muro ou correr como o vento sem ser taxado como monstro. Era o mundo que eu procurei toda a minha vida.
    O centro do pátio, onde antes havia a fonte gigantesca de uma sereia, agora estava um círculo em alto relevo, grande, feito de pedra branca bastante sólida. Eu imaginei que precisaria de algo bem reforçado para resistir à força de um Homúnculo.
    _ Vejam! – Archy murmurou, eufórico – vejam quem vai lutar! Um Conselheiro!
    Eu segui o olhar de Archibald. Um homem caminhava até o centro do círculo, com um sorriso amigável e brando, como um político. Uma cabeleira grisalha cobria a sua testa, os olhos fundos e negros, envolvidos por olheiras arroxeadas, embora parecesse jovem. Usava uma capa preta que ia até os pés, as mãos estavam calçadas com uma luva vermelho-sangue, cheia de pedras verdes incrustadas.
    _ Sammael Vance – falou Archy, cerrando os punhos – simplesmente o conselheiro mais influente e o Homúnculo mais poderoso. Dizem que ele tem mais de cem anos, mas não parece, não é?
    _ Vance? – eu arqueei as sobrancelhas involuntariamente, surpreso.
    _ O irmão dele, Vincent Vance, morreu há alguns meses. Isso abalou o Conselho, então Sammael Vance assumiu o lugar dele. Sammael e Vincent eram tipo reis do Submundo.
    _ Vincent... Era o meu avô.
    Charlie e Archibald me encararam, atônitos. Eu não sabia se era espanto, medo, ou qualquer outra coisa, estavam ilegíveis.
    _ O que foi?
    _ Seu avô... Era Vincent Vance? Deixa eu ver se entendi... Então o seu tio... Bradley Vance...
    _ É filho dele.
    _ Puta que o...
    _ Archibald! – ralhou Charlie – Não fale essas coisas!
    _ Mas é... É demais! Quer dizer, seu avô, seu tio... Aquele ali em cima no picadeiro é o seu tio, cara!
    _ Eu sou mestiço, então acho que isso não faz diferença.
    Archy estava prestes a discutir, mas um movimento no meio da multidão chamou nossa atenção. Sammael estava olhando diretamente para o tumulto. As pessoas deram espaço. A pessoa que saiu da multidão era alguém bem conhecido.
    _ Elisabeth Vance! – uma voz anunciou, ecoando em todo o pátio, as pessoas agora estavam em silêncio – será a adversária de Sammael Vance!
    As pessoas bateram palmas, não era o que eu esperava. Como nos filmes, eu achei que haveria vaias, urros de euforia, gritos histéricos. Mas pareciam bastante civilizados para quem estava prestes a assistir um duelo. O que me perturbava, no entanto, era o fato de estar de frente para o primeiro duelo que eu havia visto, onde minha mãe e meu tio-avô seriam adversários.
    Eles apertaram as mãos. Vi Sammael gesticular os lábios em uma velocidade absurda. Minha mãe respondeu da mesma forma. Estreitei meus olhos e apurei os ouvidos, tentando compreender o que se passava no diálogo. Então uma sensação estranha me ocorreu. No primeiro momento, foi como se uma bombinha estourasse dentro da minha cabeça, deixando meus ouvidos zumbindo. Mas, gradativamente, o zumbido foi sumindo, e as vozes de Sammael e da minha mãe se tornaram bem nítidas, ecoando dentro dos meus tímpanos, como se eu estivesse ao lado deles.
    _ Como está George? – perguntou Sammael. Sua voz era jovial e calorosa.
    _ Muito bem. Está cuidando de Emi.
    _ E o Matthew? Está entre nós?
    _ Ele está com os Estranhos, mas até agora não o vi. Richard e um outro rapaz, Filho de Renwick, estão cuidando dele.
    _ Alguém sabe sobre seu filho?
    _ Não.
    _ Não conte a ninguém – pediu Sammael – gostaria de conhecer meu sobrinho em breve.
    _ Sim, tio – minha mãe sorriu – bem, acho que estão esperando por um espetáculo.
    _ Vamos dar um a eles, então.
    O zumbido no meu ouvido se agravou e, instantaneamente sumiu. Eu sorri, eufórico, sentindo gotas de suor escorrendo no meu pescoço, quando senti o bocal do trompete esfriar a minha garganta. Eu era capaz de ouvir àquela distância.
    Voltei minha atenção ao duelo, que estava prestes a começar. Minha mãe se posicionou em uma extremidade, Sammel em outra. A luta estava prestes a começar. A mesma voz que havia anunciado os adversários soou novamente.
    _ EEEEEEE.... Comecem!
    Uma onda de ar e poeira se formou em todo o pátio com a investida. Num segundo lá estavam os adversários se encarando. No segundo seguinte Sammael estava caído no chão e Lisa estava em posição de ataque.
    _ Que investida extraordinária da filha de Vincent Vance! – a voz do narrador ecoou mais uma vez – acho que teremos uma briga de família, pessoal!
    Sammael se levantou aparentemente ileso, sorrindo cordialmente. Minha mãe retribuiu o sorriso, mas ela parecia bem mais decidida a derruba-lo. Ela investiu outro ataque contra o tio, mas errou. Ele havia sumido completamente. Lisa olhou para os lados, procurando pelo seu adversário. Ele não estava em lugar algum. Mas eu senti. Pela primeira vez eu pude ver. Havia uma luz no ar, uma espécie de fluido incandescente flutuando acima de nós. Eu tinha certeza, não sabia como, mas aquele era Sammael e a luz era sua aura. Tudo parecia em câmera lenta outra vez. A aura sumiu e reapareceu atrás da minha mãe. Tudo voltou a ser rápido outra vez. Mais rápido do que eu consegui acompanhar.
    Minha mãe estava no chão, fora do círculo, enquanto Sammael parecia bastante satisfeito no centro do círculo, rindo da sua vitória. Lisa havia perdido e ninguém poderia contestar.
    _ Ele é um teleportador – falou Archy – uma habilidade covarde, se quer a minha opinião. Viu como ele derrubou a sua mãe?
    _ Ele é muito forte – eu comentei – meu avô era forte como ele?
    _ Seu avô? Ora, Sammael levava uma sua do grande Vincent Vance. Acredite em mim, seu avô era o Homúnculo mais forte.
    _ Mesmo tão velho?
    _ Dizem que seu avô tinha mais de cem anos. A diferença é que Sammael envelhece muito lentamente, é parte da sua habilidade.
    _ Então assim é um duelo? – eu perguntei, assistindo minha mãe se levantando, constrangida, enquanto Sammael estendia a mão para ajudá-la.
    _ Sammael é incomparável. Espere logo mais a noite. Veremos lutas que valham a pena.
    _ Ninguém tem coragem de lutar com conselheiros – comentou Charlie.
    Um homem saiu da multidão e foi a frente do círculo. Quando ele falou, percebi que era o narrador do duelo.
    _ Alguém pretende desafiar o vencedor?
    As pessoas murmuravam baixo, outras riram, como se dissessem “quem seria louco?”. Estava claro que Sammael era forte demais para ser vencido.
    As pessoas acreditavam que o duelo estava no fim, mas se enganaram. Um enorme vulto veio do céu. Asas brancas chacoalharam o ar, e conduziram Dominique até o círculo branco. Ele estava disposto a lutar.
    _ Eu serei o próximo – falou Dominique.

      
     
      


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