_O que está acontecendo aqui?!

Meus sentidos começaram a se despertar com aquela voz que soou repentinamente, e eu pude ouvir mais murmúrios, tentei ignorar, mas seria impossível, já que já havia me acordado por inteira.

Abri meus olhos lentamente, e por um momento enxerguei tudo embaçado, depois de um tempo, me acostumei com a luz ambiente. Olhei para a porta e encontrei meu pai parado com os braços cruzados, e uma cara não muito boa.

Logo eu entendi o motivo da sua raiva. León dormia ao meu lado, mas pelo visto também estava acordando. Meu pai não ia voltar somente próximo ao Natal? León levou um susto assim que encontrou a imagem de meu pai ali.

_Ai o que foi? – falei me sentando, um pouco sonolenta e vendo no relógio que estava em cima de minha cabeceira. – São sete e meia da manhã, o que o senhor pensa estar fazendo? – perguntei com o meu mau-humor matinal que eu tinha quando me acordavam cedo, sendo que era para acordar tarde, ainda mais estando dormindo nos braços de um garoto tão maravilhoso.

_Eu que pergunto. – meu pai falou bravo. – O que vocês dois pensam estar fazendo?!

_Bom, antes de você nos interromper, estávamos dormindo. – falei tranquilamente.

_Dormindo?! Faça mil favores né Violetta?!

_É sério. – falei firme. – Se tivéssemos fazendo coisas erradas, supostamente a porta estaria trancada. – eu disse e León me olhou espantado, assim como o meu pai. – Falei algo de errado?

_Não confio nos jovens de hoje. – Papai disse olhando o teto, e logo Olga apareceu ao lado dele. Ótimo! Mais platéia...

_O que houve a... León?! – perguntou surpresa. – Vocês dormiram... Juntos?!

_Olga, não é o que está pensando. – León disse aflito. – E senhor Germán, eu seria incapaz de fazer algo com a sua filha. – “Mas bem que ele queria” pensei.

_Não confio em você e nem em nenhum garoto, León. – papai disse ainda mantendo a expressão fechada e brava, se eu estava com vergonha? Claro eu não, não estávamos fazendo nada de mais.

_Bom, nós não te devemos satisfações sobre a nossa relação papai. – eu disse me levantando da cama e calçando minhas pantufas.

_Sim, deve. – papai contrariou-me e eu virei os olhos. – É direito meu saber o que você e o seu namorado andam fazendo juntos, ainda mais em minha própria casa! – disse, e faltava pouco para ele gritar.

_Primeiramente: Ele não é o meu namorado. – falei e papai me olhou confuso. – E segundo: Eu respeito o senhor e esta casa, e eu sei à hora certa de fazer as coisas acontecerem pai. – falei cruzando os braços.

_Senhor Germán, eu não faria nada de mal a sua filha. – León disse nervoso. – Não sou desses, nós só estávamos dormindo. – explicou mais uma vez e meu pai revirou os olhos. – Basta o senhor confiar na gente.

_Como confiar?! – meu pai se exaltou. – Eu encontro minha filha, dormindo nos braços do atual ou ex. namorado, e quer que, eu fiquei calmo?! Faça mil favores né León! – disse gesticulando.

_Papai – suspirei. – Por favor, saia do quarto, eu vou descer e aí conversamos melhor, os três, tudo bem? – propus e ele descruzou os braços, um tanto cansado e saiu de meu quarto acompanhado de Olga.

A porta se fechou e eu suspirei. Eu suspirei pesadamente e tirei o coberto que envolvia minhas pernas. Levantei-me e calcei minhas pantufas fofinhas. Olhei para trás e vi o León que já havia se levantado também, e estava colocando sua jaqueta.

_Desculpe pelo meu pai. – pedi e ele sorriu vindo até mim. – Ele não entendeu as coisas como estávamos querendo explicar.

_Tudo bem – León sorriu pegando em minhas mãos. – Se eu estivesse no lugar dele, acho que também surtaria. – continuou e eu ri.

_León, vou me trocar. – falei um pouco nervosa, já que aqueles olhos estavam me fitando o meu corpo de uma maneira que me deixava, constrangida. – Aí já descemos para falar com ele.

Ele apenas assentiu e eu entrei em meu banheiro. Tomei um banho, como tinha costume de fazer todos os dias de manhã. Lavei meus cabelos e logo saí, nem demorei tanto. Penteei meus cabelos e os deixei soltos e... Como estavam grandes! Coloquei meu vestido de renda azul e minhas sapatilhas e assim saí de lá de dentro.

Encontrei Olga arrumando a minha cama, cantarolando com os fones de ouvido. Procurei com o olhar pelo León, mas nem sinal de vida do mesmo. Será que havia ido embora?! Sem ao menos se despedir de mim?!

_Olga – chamei um pouco mais alto e a mesma notou minha presença, tirando os fones do ouvido. – Onde está o León.

_Está no escritório, tendo uma conversa séria com ele. – ela disse misteriosa, e eu me assustei. – Creio que os dois já estão conversando há bastante tempo, pois quando você entrou no banho, León desceu para falar com ele.

Nem a esperei falar mais nada, e voei até o escritório de meu pai. Desci as escadas como uma louca, quase tropeçando em Ramalho que passava com um monte de folhas, provavelmente da empresa.

A porta se encontrava aberta apenas por uma fresta. Em passos lentos e silenciosos, me dirigi até ela. León estava em pé, e meu pai também, ambos de frente um para o outro. E o silêncio reinava, até que começaram a conversa, ou recomeçaram.

_Sabe muito bem que eu odeio que façam coisas pelas minhas costas, ainda por cima aproveitaram que eu estava viajando, para fazer essas loucuras. Pensei que você fosse mais responsável León. – meu pai dizia com uma expressão rude que me assustava.

_Senhor Castilho, não sei quantas vezes vou ter de dizer ao senhor que não aconteceu nada, apenas tivemos uma noite de sono juntos, eu nunca poderia fazer isso, eu respeito sua filha, ela me respeita, e logicamente respeitamos o senhor.

_Então se era para dormir, por que não dormiram cada um na sua casa, em camas separadas?! – meu pai perguntou se exaltando. – Homens não são confiáveis León, tenho todo direito de suspeitar de você.

_Bom, não gosto quando generaliza todos em uma característica tão ruim como esta. Eu sou confiável, mostrei isso várias vezes e estou tentando provar, agora, minha verdade na história, eu jamais encostaria um dedo sequer em sua filha, afinal como ela disse, nem estamos juntos para que isso aconteça.

_E é isso que eu menos entendo. – meu pai disse suspirando alto. – Se não estão juntos, por que estão juntos? – pergunta difícil. – E eu também queria saber muito o motivo da separação de vocês, o que você aprontou?! – papai perguntou se sentando e indicando que ele fizesse o mesmo. Vi León ficar um pouco tenso com a situação, certamente as coisas iriam ficar mais complicadas para ele.

_Eu vou para os Estados Unidos. – León disse se sentando na cadeira, olhando diretamente para o meu pai, e ele estava nervoso, pois não parava de bater o pé no chão, não estava fazendo barulho, mas era perceptível sua ansiedade.

_Minha filha não se separaria de você somente por isso. – meu pai disse convicto e eu tive vontade de entrar correndo naquela sala, papai surtaria se ele dissesse a verdade. – Vamos León, me conte. Mostre-me se você é realmente confiável. – desafiou, E León suspirou pesadamente.

_Eu... – ele olhava fixamente para as pernas. – Eu e a Violetta... Nós... – disse gaguejando, e escolhendo as palavras, que nenhuma seria certa para aquela situação. – A Violetta me viu... Beijando outra garota. – ele disse num entre um suspiro e outro.

_O QUE?! – eu sabia, papai surtou. – Como você teve coragem de trair minha filha?! Que tanto te amava?! Como?! – ele disse se levantando e batendo as mãos na mesa. – Eu juro que te mato TRASTE!

_Olha, eu amo sua filha. – León disse se levantando. – Se eu pudesse... Juro que não faria nada para machucá-la do jeito que eu fiz. – disse com a voz embargada. – Ela é a garota da minha vida, se eu soubesse, eu nunca na minha vida faria uma besteira dessas.

_Não acredito... – papai murmurava sem olhar no León diretamente. – E eu não consigo acreditar que mesmo com essa barbaridade que você aprontou, ela teve coragem de dormir com você, de te defender. – ele disse incrédulo. – Não acredito que ela é esse tipo de garota, que se entrega fácil e de primeira. – finalizou e eu senti algo descendo de meus olhos, eu estava chorando, papai novamente magoou-me com as palavras.

_Ela tem muita coragem – León disse o olhando com superioridade. – Mas ao contrário do que você pensa, ela não é fácil, muito menos se entrega de primeira. – continuou, e meu pai o encarou. – Não se preocupe, sua filha continua intacta, ninguém nunca encostou um dedo nela, que não fosse pela permissão dela. Não se preocupe, que o traste aqui, como o senhor me chamou, não tive a oportunidade de fazê-la minha. – León disse e vi o rosto de meu pai ficar vermelho. Ele estava a ponto de matar o León. - Eu estou sendo sincero com o senhor, você sabe que sua filha é atraente, e que tem grande importância para mim. E se eu fosse um traste, novamente repito seu insulto, eu só pensaria em usá-la, e depois que me cansasse, me livraria dela. Mas isso não aconteceu. Não aconteceu porque eu amo a Violetta.

E antes de mais alguma palavra, ouvi o estalo da mão de meu pai, no rosto de León. Ele havia batido da face de León, e pelo que eu vi deixou marcas. León grunhiu de dor.

_Como você consegue dizer isso assim?! Por acaso você bebeu?! – Meu pai disse completamente, alterado.

Desta vez eu não aceitei. Ele havia insultado o León, havia desrespeitado o mesmo, e ainda por cima, disse coisas sobre mim que são ridículas. Entrei naquele escritório com o meu rosto tomado por minhas lágrimas de raiva e dor. Raiva por ter que escutar aquela discussão, e dor por ver o que o cara que eu mais amo no mundo estava passando. Papai me olhou confuso.

_Você não tem o direito de falar com ele desse jeito! – falei me pondo de frente ao meu pai. – Eu sei que ele errou! Todos nós sabemos! – eu disse ficando na ponta dos pés para encará-lo. – Mas você não tinha direito de bater na face de um homem, que apenas estava tentando defender os direitos da mulher que ele ama. – falei com a voz tomada pelo choro e completamente nervosa. Papai segurou meus pulsos, pois eu estava a ponto de estapeá-lo por tamanho desrespeito.

Papai me jogou contra a poltrona, e eu caí meio desajeitada na mesma, machucando minhas costas, e acho que resmunguei, pois não foi nada fofinho. León tentou vir até mim, mas meu pai praticamente o empurrou para longe.

_Vai embora daqui. – Papai disse raivoso para o León que estava assustado e evidentemente preocupado comigo. – A não ser que queira aparecer totalmente estraçalhado em sua casa. – ameaçou e eu juro que senti um pouco de medo. León hesitou. – Vai embora daqui e nunca mais volte a olhar para a minha filha.

León mais uma vez tentou se aproximar, mas papai o impediu novamente. León me olhou suplicante, talvez pedindo perdão, ou desejando o meu bem com aquele simples olhar tão dolorido e com falta de esperanças.

Ele se dirigiu vagarosamente para fora da sala, e quando olhou para trás, papai bateu a porta em sua cara e eu novamente me pus a chorar.

_Talvez essa seja a coisa mais dolorosa que eu esteja fazendo, mas é para o seu bem. – disse tirando meu celular de minhas mãos. – Você não terá mais nenhum meio de comunicação, pelo menos não nesse momento, quem sabe quando você for maior de idade, e crescer mentalmente. – disse duro, pegando o meu computador que estava em seu escritório. – Não quero que saia de casa. – falou e eu olhei para ele indignada, ele estava me prendendo novamente. – Só irá sair quando eu deixar, e ainda eu mesmo acompanhar.

_Você é um monstro. – falei com medo de sua reação. – Eu não acredito que você está me punindo por querer ficar e amar o garoto que é a simplesmente parte da minha vida. – disse voltando a chorar alto.

_Vocês jovens não sabem o que significa o amor. – ele disse frio saindo da sala e em deixando completamente desiludida. Minha vida amarga havia voltado....

...