One and Only escrita por Nina Spim


Capítulo 1
Chapter One


Notas iniciais do capítulo

Então, né. Mais uma fanfic pra vocês.
Faberry, yay! *-*
Estou me especializando nisso, haha.
Espero que gostem dessa, pois ela meio que é inspirada na minha própria vida! ;)
Beijos!



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Dia 04 Rachel Berry.

Estou atrasada.

Não sei por que coisas assim têm de começar desse jeito: completamente erradas, sem falar atrasadas. Eu me sinto como se já pudesse fracassar sem mesmo sair daqui.

Minha colega de quarto não está mais aqui, o que me faz achar que sou a única no alojamento que ainda está gastando o seu tempo olhando fotos do passado, relembrando bons momentos e falando com o antigo pessoal pelo whatsapp.

Sério, por que eu faço isso?

Tenho cinco minutos para chegar ao meu destino, que é meio longe, pois tenho de atravessar o campus – isso se eu não passar em frente de algum bistrô e ser seduzida por tomar um cappuccino. Não vou ceder em tentação, não vou. Tenho um objetivo, não posso fracassar justo no primeiro dia.

Troco de roupa rapidamente, porque, embora eu não esteja suada devido ao calor que faz aqui dentro, meu vestido está amassado e não posso chegar lá assim. Seria horrível. Eu estaria demonstrando a minha incapacidade de fazer o trabalho, é claro.

Estou quase abandonando o recinto, quando me lembro que não tenho a chave da porta, ainda. Bato-a mesmo assim, porque estou apressada. Não tenho o telefone da minha companheira de quarto, e parece que ela desapareceu. Mas tanto faz. Não posso me ater a isso, tenho de caminhar um bom bocado para chegar na redação, e se eu não começar agora talvez eu perca a minha vaga logo no primeiro dia. Espanto o meu desespero quanto a não ter a posse de uma cópia da chave do quarto (por que ainda não pedi à minha colega? Sou mesmo muito burra!) e começo a caminhar com passos rápidos, desde que eu não torça meu pé nesses negócios altos que calcei. Acabo de pensar que foi uma péssima ideia – quem é que usa saltos altos quando sabe que não sabe andar com eles? Agora eu estou parecendo o Garibaldo, ou sei lá quem. Um vaqueiro com assaduras. Ai, meu Deus. Não vou chegar a tempo!

No meio do caminho, estou quase tentada a jogar os sapatos na lixeira próxima, porque eles apenas estão me estressando e causando bolhas em mim – é impressionante o quanto uma menina desabituada a esse tipo de coisa possa se ferir em tão pouco tempo usado esses negócios.

Droga, droga, droga.

Ah, que merda mesmo.

Tenho de dizer: por que justamente eu?

Por que a minha colega de quarto teve de desaparecer? E por que – POR QUE – eu fui inventar de estar “apresentável”? Eu não preciso disso, pelo amor de Deus! Fico ótima nas minhas sapatilhas!

Estou passando na frente de um bistrô, o meu bistrô favorito até agora, mas sigo em frente. Tenho de seguir em frente, não posso parar para nada. Já são três horas, em ponto. Meu relógio de pulso nunca me engana.

Quero parar para recuperar o fôlego, mas meu cérebro está no meio de uma nebulosa, completamente estancado e me dizendo: continue.

Eu estou continuando.

Apenas mais um prédio, só mais um! E depois, é só passar pelo saguão de prédio 7 e depois passar pela catraca – graças a Deus, eu me lembrei de pegar o meu cartão de estudante, senão teria de parar na portaria e preencher uma ficha, o que me tomaria mais uns dois minutos – e então achar a minha sala.

Qual é a sala mesmo?

Ai, meu Deus! EU NÃO LEMBRO QUAL É A SALA QUE ME MANDARAM APARECER!

Ok, sem pânico.

Já entrei nesse corredor, para as minhas aulas de Laboratório e não há tantas salas assim. Talvez quatro ou cinco. É só olhar para dentro de cada uma delas e perceber se a minha professora de História da Arte está lá dentro. Ela me disse para procurá-la. E, afinal de contas, não é tão difícil encontrá-la, já que ela parece agir como se estivesse numa excursão na qual seus alunos são seus melhores amigos.

Certo, estou no saguão. Há pessoas aqui, nas mesinhas conversando e lanchando. É incrível o quanto tem gente que não tem o que fazer. Talvez elas pudessem fazer essa maratona de cinco minutos em meia hora comigo.

Não paro, vou direto para a catraca. Meu cartão é liberado e estou no corredor.

Ok, uma, duas, três quatro, cinco... seis. São seis portas. Apenas preciso escolher uma delas. Sei que a 309 não é, pois é a sala de Laboratório. A 304 também não deve ser, pois é destinada a outro pessoal da minha área. Sobram-me as da esquerda. 311: Laboratório de fotografia. 315: “Laboratório de Rádio”, é o que a placa informa. 313: Redação de TV. Sobrou uma. É a minha sala.

A porta está aberta e há um falatório lá dentro. Entro e vejo umas trinta pessoas mais ou menos da minha idade em computadores, conversando e andando por entre o espaço. Numa mesinha em frente a todos, pessoas mais velhas conversam. Vejo a Holly Holiday. Ela é bastante loura e está com um caderno de anotações sobre as pernas, anotando algo que todos os outros estão observando no tablete de um deles. Fico parada ali, até alguém me notar. É o cara de cabelos encaracolados que tem o tablete na mão. Todos os outros olham para mim. Holly me sorri e diz:

– Oi, Rachel! Que bom que pôde vir!

O cara de cabelos encaracolados se levanta da sua cadeira e vem para perto de mim.

– Escolha uma mesa, daqui a pouco falo contigo, ok?

Assento.

Olho para o pessoal. Ninguém pareceu parar para me averiguar, ou algo assim, Todo mundo está naquele mundo de um modo que não entendo. Há gente demais aqui, não há como escolher alguma mesa vaga. Fico meio perdida, sustentando o meu desconforto, e então vejo uma mesa. A tela do computador está aberta na página do facebook do usuário dela, mas me sento mesmo assim. Não há outro lugar.

– Hey, a Santana está aí! – alguém me fala.

Giro a cadeira – daquelas com rodinhas – e me deparo com a minha colega de quarto. Oi! Ai, meu Deus! Nunca fiquei tão feliz por ver um completo desconhecido, meio conhecido (afinal, já faz cinco noites que temos dividido o quarto)! Fico imediatamente aliviada. De repente, não me sinto mais tão deslocada.

Como não a vi enquanto avaliava o grupo? Com certeza, eu estava nervosa demais para avaliar de modo crítico o cabelo de todo mundo.

O cabelo da minha colega balança, e suas mechas pink parecem brilhar sob a luz fria. Sua expressão sustenta um tipo de irritação misturada à impaciência. Acho que essa é uma característica inata dela.

– Desculpe, eu... Eu não sabia – respondo.

– Ela foi apanhar o cronograma do Debate, mas deve voltar. Caia fora daí enquanto é tempo – ela me diz, com aquele mesmo tom irritado/impaciente. Agora, na verdade, parece mais irritado do que impaciente.

Fico me perguntando por que isso sempre acontece quando me vê. Ela fica muito irritada. Nós mal conversamos no quarto, porque ela está sempre no seu mundinho particular, que é o whatsapp, sempre falando com o namorado.

O dia em que me mudei para cá, a primeira coisa que vi ao me adentrar no meu novo quarto foi ela, deitada de costas no colchão, trajando uma calcinha cor de rosa e uma baby look meio transparente. No pé da cama, estava um cara de moicano, com as pernas esticadas para fora do colchão, rindo.

Nenhum dos dois pareceu se incomodar com a minha interrupção. Ela me olhou e disse:

– Oi, novata. Espelhe suas coisas e caia fora.

Eu tinha feito isso. Espalhei minhas coisas e caí fora. Foi aí que achei meu bistrô favorito. Fiquei por lá por três horas, bebendo cappuccinos e lendo. Na verdade, não foi tão ruim assim. Não precisei me estressar com a arrumação – já que, muito claramente, a minha colega não era chegada à limpeza, ou à tudo-certinho-no-lugar – ou me preocupar em me socializar. Quando retornei ao quarto, ele estava vazio. Voltei a vê-la somente depois das onze da noite, ocasião na qual ela não me dirigiu nenhuma palavra; ao invés disso gastou seu tempo tomando um banho e depois dormindo.

Não sei se aprecio essa coisa dela de ficar me dizendo toda hora para “cair fora”. É meio grosseiro. E eu não fiz nada contra ela. Por que ela fica me tratando desse jeito, como se não estivesse aí para mim? Quer dizer, eu achei que seríamos melhores amigas, afinal é assim que acontecem as coisas, não? Você não se torna a melhor amiga da sua colega de quarto na faculdade? Achei que fosse assim que as coisas funcionavam.

Mas pelo jeito eu me enganei.

– Mas... – tento rebater. O cara tinha me dito para escolher uma mesa! E essa mesa está vaga, por ora! Preciso ficar aqui! Será que ela não entende?

– Ai, caramba, pare de fazer um showzinho! – ela me responde, rolando os olhos – Esse aqui é o mundo real, entendeu? Ninguém vai ficar com pena de você, só porque você chegou atrasada e todas as mesas já foram ocupadas! Aqui há competição mortal, novata. Nada de parcerias, ou amizade. Então, caia fora se não suportar a pressão!

Estou chocada. Fico olhando para ela sem saber bem o que pensar, exceto que acho que já estou odiando tudo isso. Gostei das aulas que tive, mas isso daqui? Isso daqui parece ser horrível! E essa garota então? Uma filha da mãe! Por que caí justamente no quarto dela?!

Não digo nada. Pego a minha bolsa e me levanto. Não há lugar para mim aqui.

Sem nem mesmo mirar os mais velhos, que são os nossos coordenadores – sei disso, porque a Srta. Holiday é a coordenadora da plataforma de TV – saio da sala. Não quero saber, não quero ouvir mais nada. Simplesmente atravesso a barreira.

Ando pelo corredor, até chegar ao banheiro.

Não preciso fazer nada nele, mas ele parece um bom refúgio. Ele está vazio, e me olho ao espelho. Não quero chorar, nem nada assim. Preciso segurar a minha decepção. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas faço um esforço. Respiro fundo duas vezes. Então fecho os olhos. Lavo as mãos – não sei por quê, acho que para passar o tempo. Então vasculho a minha bolsa, preciso encontrar meu celular. Encontro o meu melhor amigo Kurt por entre as conversas já iniciadas pelo whatsapp.

Que engraçado. Sua última mensagem está gravada, e eu a releio:

Tenha um bom dia! Boa sorte! Você vai ARRASAR! :)

Tenho ainda mais vontade de largar tudo, de sair correndo para o meu bistrô preferido e me esconder por entre as páginas do livro que carrego, O Diário de Anne Frank.

Desisto. Não quero que ele saiba que esse dia é um dos piores da minha vida. Respiro fundo novamente.

Não posso chorar.

Não quero chorar.

Isso seria dar margem ao desespero e ao fracasso.

Eu sou mesmo desesperada – ok, mais precisamente: dramática –, mas suscetível ao fracasso? Não mesmo! Eu nunca fracasso!

Enfio-me em um dos box. Sento-me no vaso, com a tampa abaixada, e olho para a porta. Há coisas escritas. Uma em especial me chama atenção.

Maybe everything is right with the world,

It's just that we can't get off it,

Maybe everything is wrong in the world,

It’s just we're too proud to see it.

Isso meio que me acalma. Não sei por quê. Acho que é porque posso ver tudo de errado no mundo, e não tenho condições de fugir dele. Queria ser capaz de declinar a oferta do estágio, de dizer que não terei tempo neste semestre, afinal é o meu primeiro semestre. É coisa demais para suportar, além das aulas, trabalhos e provas. Não sei se vou dar conta. Não se parece que aquele ambiente é completamente horrível. Não se a minha colega de quarto é uma filha da mãe que não me suporta. E eu nem sei por quê, já que não lhe apresentei nem um motivo para tal comportamento.

Procuro meu estojo escolar – porque eu sei que precisarei de uma caneta mais cedo ou mais tarde – e retiro de lá o meu pincel atômico, daqueles que dá pra escrever em qualquer lugar. A tinta é vermelha e se contrasta com a tinta negra da citação. Desenho uma carinha logo abaixo do texto. Parece idiota, em primeira instância, mas fazer isso me ajuda a me recuperar. Guardo o pincel e fico olhando a porta com todos os seus escritos. Esse, sobre o mundo, é o único que dá pra dizer que não tem xingamentos, ou palavras feias.

Ouço alguém abrir a porta do banheiro. Fico onde estou, completamente quieta.

– Novata? – uma voz pergunta. É a minha colega de quarto – Você está aqui? Cadê você?

Fico quieta, ainda. Não quero me pronunciar. Vai parecer que fugi de lá. E ela vai ter certeza de que a pressão é grande demais. Quer dizer, é claro que eu fugi de lá, mas ela não precisa saber disso.

– Novata, fale alguma coisa. Eu sei que você está aí – meu colega diz.

Ela está perto da minha porta. Ela sabe que estou aqui.

– Novata, eu não tenho a tarde inteira, tá sabendo? – ela fala, meio que perdendo a paciência – É que o Sr. Schue foi procurar por você, e você não estava mais lá. E é claro que, como sou a editora-chefe fico com todos os trabalhos sujos, inclusive ir atrás da novata que fugiu logo no primeiro dia de estágio, porque é uma ególatra que acha que o mundo gira em torno dela.

Isso mexe comigo.

– Não sou ególatra – digo, meio furiosa.

– Ah, então você tem língua pra falar! – ela revida – Vamos logo, saia daí! Tenho que preparar a grade de revezamento para o Debate! Você estaria sabendo disso se estivesse lá na reunião de pauta!

Ok, quando aceitei esse estágio eu não sabia que seria assim. Achei que, sei lá, eu iria escrever alguma coisa – talvez aprender a escrever do modo jornalístico que tanto lemos nos jornais, ou talvez ajudar alguém na diagramação. Não esperava isso: reuniões, ou uma colega que me chama de novata, mesmo sabendo meu nome. Acho que ela sabe, pelo menos. Quando cheguei ao quarto no primeiro dia, eu me apresentei. Ela apontou para o cara que estava junto a ela e disse:

– Puck. E eu sou Quinn.

E então me mandou cair fora.

Eu odeio esse lugar.

Achei que a faculdade de Jornalismo fosse uma boa ideia, já que fui rejeitada na NYADA, onde Kurt, meu melhor amigo, conseguiu entrar. Sinceramente, fico com inveja dele. Ele deve ter se inserido no círculo da faculdade muito rápido e talvez no futuro desfrute de Amostras de Inverno, ou de batalhas do tipo Midnight Madness. Enquanto eu estou aqui sendo tratada como lixo na NYU. É bom saber como o mundo gira. Uma hora eu sou a estrela, outra hora é outro alguém.

Esse lugar parece o inferno, sinceramente.

Especialmente se eu tenho de lidar com a minha colega de quarto.

– Novata? – Quinn me chamou.

Meu nome não é “novata”, será que ela não sabe?!

– Meu nome é Rachel – tenho a necessidade de pontuar com irritação através da porta do box – Pare de me chamar de “novata”.

– Ok, Rachel. – ela diz com uma espécie de sarcasmo – Vamos logo, por favor? Eu realmente não tenho a tarde toda...

Abro a porta do box e a encontro perto de mim. Ela dá um passo para longe, mas ainda está perto de mim. Meus olhos analisam as mechas pink do cabelo dela. O seu corte é curto, meio desfiado, e o cor pink contrasta perfeitamente contra a cor loira do restante de seu cabelo. Com os olhos estilo gatinho, ela parece bonita daqui. Meio graciosa, mas de um modo desleixado, porque seu cabelo parece estar despenteado propositalmente. Seu vestido preto com bolinhas brancas feito de um tecido leve e meio transparente cai perfeitamente nela. Ela está de salto, mas ao contrário de mim parece que ela sabe andar com eles com perfeição.

– Você é minha editora-chefe?- pergunto.

– Talvez. Qual é a sua plataforma? – seu tom está mais suave e não há indicação de sarcasmo agora. Ela está séria.

– Impresso.

– Sou, sim – ela confirma – Bem, parece que você vai precisar muito de mim por aqui. Cuide-se para não ficar com dívida, depois.

Isso parece meio cruel.

Como se eu quisesse computar alguma dívida com ela! Quero manter distância dela, se possível. Mas é claro que isso não vai acontecer, já que ela é a minha colega de quarto. E minha editora-chefe. E minha colega em Laboratório e Metodologia.

Fico tentada em lhe perguntar se está no meu semestre, mas aí percebo que é ridículo lhe perguntar isso, se já tem o posto de editora-chefe. Com certeza, ela já foi uma novata um dia. Já se estressou no primeiro dia e se escondeu no banheiro.

Ou não.

Talvez eu seja a única covarde por aqui.

– Ah, anda logo! – ela exclama e apanha a minha mão, me guiando para fora do banheiro.

É o primeiro contato que temos em cinco dias. Nunca nos abraçamos como se tivéssemos felizes por compartilhar o quarto, ou algo assim. Quando ela agarra a minha mão sem aviso prévio, eu deixo.

Porque pode ser que eu não tenha mais nada a perder.

~*~

Dia 04 - Quinn Fabray

A novata é engraçada. Meio covarde também.

Não acredito que ela quase desistiu no seu primeiro dia! Isso é tão surpreendente! Quer dizer, ela parecia tão empenhada nas aulas e no seu esforço em ser legal comigo, no fim de semana. Achei que ela fosse um pouco mais resistente!

Mas tudo bem. Porque ela é uma novata.

Novatos são medrosos assim mesmo diante de uma dificuldade. Porque, de repente, o mundo que real não é exatamente do modo como fantasiavam em suas mentes.

E a mente dessa garota... Uh, deve ser recheada de coisas bonitinhas, do tipo ficar amiga da colega de quarto e se sair bem logo no primeiro dia. É por isso que ela é tão engraçada.

Claro, eu não vou rir disso na cara dela, porque tenho mais que fazer. E eu não posso cuidar dela o tempo todo, como se fosse a babá particular dela. Eu sou editora-chefe, caramba. Ela ainda vai me dever muito.

Saímos do banheiro, a minha mãe ainda na dela.

Srta. Holiday está saindo da sala.

– Acabou a reunião? – pergunto.

– Rachel, vou ter que dar um pulinho no Laboratório, mas está em ótimas mãos. A Quinn é a sua editora-chefe.

– É, editora-chefe – enfatizo – Não babá, dá licença.

– Não se deixe enganar, ela vai te ajudar – Srta. Holiday colocou uma mão no ombro da novata – Depois me diga o que está achando da experiência! Tenham uma boa tarde, meninas!

Rachel olha para mim. Está me olhando feio e se livra da minha mão.

– Não preciso de você – ela rosna – Não precisa ser minha babá.

E aí ela entra na sala, mas para diante de todo mundo. Rolo os olhos, porque é evidente que ela não sabe o seu lugar.

– É, parece mesmo que não precisa da minha ajuda. Boa sorte, então – eu digo perto dela, desdenhando.

E sem mais, ando até a minha mesa, ao lado de Santana. Rachel não tem lugar da redação, e isso fica claro. O problema é dela, foi ela quem não quis aceitar meu auxílio. Quer dizer, não que eu tenha paciência pra esse tipo de coisa, é claro. Tenho mais o que fazer dentro disso daqui, além de ficar indo atrás da novata covarde que se refugiou no banheiro. Aposto como ela ficou com lágrimas nos olhos e ficou tentada a largar tudo.

Maldita ególatra.

Parece que o mundo não gira mais ao seu redor, não é mesmo, novata?

Mesmo sentada, olho para ela, para a novata. Ela parece apavorada em pé daquele jeito, olhando todo mundo. Parece, realmente, que vai vomitar, ou fugir de novo.

– Então essa é a sua novata? – Santana intercala o olhar entre mim e a novata, soltando uma risadinha.

– Dá pra acreditar? Já estou notando que serei a babá dela pelo resto do semestre – digo, suspirando pesadamente. Estou meio decepcionada. É mesmo um saco que essa garota seja tão sem noção. Se ao menos eu tivesse tido a sorte da Santana... Ela ficou responsável por uma tal de Brittany, que é totalmente um amor. Mas a minha novata parece ser meio boba – Arre, já volto. Vou ter de salvá-la mais uma vez...

Saio da minha cadeira.

– O que você está fazendo aí parada? – pergunto para a garota, que olha para os próprios pés. Ela ergue a cabeça para mim e me olha – Venha logo, para perto de mim.

– Mas...

– Mas o quê? Você não consegue pensar por conta própria, não? – retruco, impaciente, pegando o braço dela e levando-a até a minha mesa. Santana dá uma olhadinha nela, engolindo uma risada.

– Você não me disse para...

– Não preciso dizer! – rolo os olhos – Sou sua editora-chefe. Ou você cola em mim, ou pula fora desse negócio, está entendendo? – viro-me para Sr. Schue e digo – Hey, Schue, passa pra cá uma cadeira que a novata está pronta!

Sr. Schue se levanta de seu lugar, trazendo uma cadeira de rodinhas consigo. Ele a coloca ao meu lado, bem entre mim e Santana. Santana se afasta um pouquinho, e não sei se é por educação ou meramente por desprezo. Ela odeia novatos. Está gostando da sua novata, Brittany, pois ela ainda não lhe pregou nenhuma peça. Ao contrário da minha novata: já tinha de resgatá-la duas vezes em menos de vinte minutos. Essa é a droga do meu trabalho: todo mundo acha que preciso dar conta de tudo no mundo.

– Rachel, certo? – Sr. Schue lhe inquere depois que ela já está sentada; ela assente – Não sei se Quinn já te deu alguma orientação, mas como é o seu primeiro dia, apenas fique aqui com ela e a veja trabalhar. É claro que a sua função é bastante diferente da dela, mas vocês podem conversar sobre pegarem alguma pauta do dia. Está bem assim, Quinn?

Eu dou de ombros.

Tanto faz, desde que a novata pare de ficar achando que o mundo está contra ela e que – ai, meu Deus – ninguém a entende.

– Seja bem-vinda, aliás – ele adiciona. A novata sorri meio sem jeito; ele retorna ao seu trabalho sem mais delongas, e ela me olha.

– Então, o que você está fazendo? – ela me pergunta de um jeito meio tímido, observando a tela do computador aberta na nova diagramação da capa do jornal.

Troco um olhar e uma risadinha com Santana; é inevitável.

– Relaxa, novata – eu digo – Apenas fique quieta, de preferência sem fazer perguntas e me deixe fazer o meu trabalho.

– Mas você ouviu o que...

– Eu decido isso – saliento com determinação. Se as coisas acontecerem desse jeito, eu vou me casar dela muito rápido. Olho para Santana, sem me importar com a novata – Sant, cadê a lista dos entrevistados? Acho que, sabe como é, poderíamos imprimir as fotos de cada um com seus respectivos nomes para facilitar o reconhecimento. Acho que muita gente fica perdida nesse tipo de evento.

– Hey, essa é uma boa ideia! – Santana me diz – Vou achar o e-mail do Figgins e já te encaminho!

Figgins é um cara legal. Não entende muito da vida, mas sempre nos ajuda aqui no Laboratório de Carreiras. É nosso coordenador de Jornalismo dentro da NYU e seu sotaque é meio engraçado. Santana vive dizendo que quase nunca o entende. Pensando bem, eu sofro desse mesmo problema.

– Quais pautas você já tem? Eu poderia... – a novata recomeça. Meu Deus, alguém aqui precisa prestar atenção no que eu digo!

– Não poderia, então pare de falar – respondo na mesma hora, enquanto olho a nova diagramação.

– Mas...

– Mas, mas, mas. É só isso que você sabe dizer? Seja útil, novata, não seja uma perda de tempo para os meus ouvidos!

Ela fica quieta.

– E-mail enviado – Santana diz.

Fecho a página de diagramações e abro minha caixa de e-mails.

– E-mail recebido. Devemos fazer um quadro com os entrevistados e os entrevistadores, para ninguém se perder. Mas é claro que se eu vir o Tanaka e ele for seu, eu vou poder entrevistá-lo. Pelo menos, assim ninguém perde nada.

– Eu fiquei com a April – Santana diz – Parece legal entrevistar alguém que passou metade da vida bêbada.

– Só espero que ela não vomite em você.

– Eu espero que tenham encomendado um buffet legal esse ano. O frango frito do ano passado e fez passar mal.

– Quem vai entrevistar o pessoal do buffet?

– Isso é importante? – Santana olha para mim, rindo.

Não é, e até parece que estou ligando para isso.

– Hey, novata! – Santana ri para ela – Você fica com o buffet!

A novata olha para Santana expressando horror.

– Que pauta é essa? – ela pergunta.

– Não é uma pauta – eu e Santana respondemos juntas.

– Estamos por dentro do Comitê de Palestras, e vamos entrevistar algumas pessoas. Todo mundo gosta do Dia das Palestras, porque ninguém tem aula e ganha crédito extra por somente ficar dormindo ao invés de participar – Santana esclarece.

– Vai ter buffet? – a novata quer saber.

– Claro, é tipo um coquetel, entendeu?

– Não parece... – ela começa. Eu sei o que vai dizer.

Não parece legal cobrir o buffet. E não é mesmo. Mas e daí? Ela quer ser útil, não é mesmo? E o trabalho sujo sempre acaba parando nas minhas mãos. Agora, estou passando o trabalho sujo para as mãos da novata. É um direito meu, por ser a editora-chefe.

– Ah, pare de reclamar! Você mal chegou! – exclamo.

Ela fica quieta de novo.

– Quando isso acontece? – ela quer saber.

– Depois de amanhã. Você precisa fazer o cadastramento para conseguir a licença para entrar no evento – abro a página do cadastramento, no próprio site da faculdade – Aqui, faça logo antes que encerre o prazo.

Todo o corpo estudantil e docente precisa fazer esse cadastramento para haver o controle do evento, é claro. O evento é meio grande e tem visibilidade regional, de modo que é por conta disso que o Editorial NYC, o jornal da faculdade, está cobrindo o evento. A tiragem é regional, então temos de estar presentes.

Eu me levanto e a deixo sentar na minha cadeira. Troco um olhar com Santana; ela deixa escapar uma risadinha silenciosa.

Leva uns dois minutos.

– Comece a pensar nas perguntas a serem feitas – digo à novata – Não que seja difícil, você só vai lidar com comida. Vai ser fichinha.

Ela assente.

Duas horas se passa, e estamos na mesma posição. Fazendo a mesma coisa. Eu na diagramação, e ela me olhando. Converso com Santana de vez em quando e isso acaba por amenizar a situação.

Quando não aguentamos mais ficar olhando o tela do computador, digo:

– Intervalo?

Santana suspira.

– Leu a minha mente – ela diz.

Eu e Santana apanhamos nossas carteiras, enquanto a novata apenas nos observa.

– Anda logo, venha com a gente – acabo dizendo para ela. A novata se surpreende e esboça um sorriso apressado.

– Obrigada. Aonde vão?

– Intervalo, querida – Santana fala, rolando os olhos – Vamos fazer um lanche, conversar... Talvez jogar sinuca, ou dormir um pouco.

Levamos as nossas bolsas, pois é mais seguro. Apesar de, é claro, ainda não ter havido uma ocorrência de furto pra esses lados. Vamos para um dos bistrôs; peço um café puro e uma torta fria. Santana pede um prato cheio de salada e um suco. A novata ainda está escolhendo.

– Um cappuccino – ela diz para atendente. Pagamos, esperamos por nossas comidas e nos sentamos.

– Vai ficar com fome depois – digo para a novata.

Ela faz que não com a cabeça.

– Estou acostumada.

– E aí, novata. Como está sendo a sua adaptação? Muito diferente do que achou?

Ela dá de ombros.

– Está tudo bem por enquanto.

Eu sei que está mentindo. Quer dizer, eu já a salvei umas três vezes. Não parece nada bem. Dá para perceber que ela está tensa aqui conosco, como se quisesse se refugiar no banheiro mais uma vez.

– Ainda é o primeiro dia – respondo, lançando uma piscadela para Sant – Tudo fica pior depois. Espere as provas e, especialmente, os trabalhos começarem. Vai enlouquecer na primeira semana – eu rio, não conseguindo evitar aquilo – Metodologia é uma porcaria. Rodei no primeiro semestre, mas resolvi pegar de novo agora no quinto.

Ela assente.

– Você também está no quinto período? – ela inquere para Santana, que assente.

– O primeiro é sempre muito bom, o segundo é ok também, se você conseguir sobreviver à Ética e Cidadania e à Legislação. O terceiro é meio depressivo. O quarto recomeça um pouco com toda a responsabilidade, especialmente por conta do estágio obrigatório. E o quinto... – Santana olha para mim.

– Está ótimo, não está? – pergunto, rindo.

– Ah, está uma maravilha! – Santana devolve.

– O melhor mesmo é as pessoas que você conhece – falei com certeza – É muito fácil fazer amizade aqui, apesar da competição. Você pode encontrar o amor da sua vida, aqui, também – eu ri. Eu meio que estava mentindo, eu acho. Ainda não achei o amor da minha vida. Mas tanto faz. Ela não precisava saber disso.

Apesar de suspeitar, por conta de Puck.

Mas ele não é o amor da minha vida, é preciso logo esclarecer.

É claro que ele é legal – quando não está de gracinha pra cima de mim – e eu sei que posso chamá-lo para qualquer coisa, desde sexo a matar uma barata no banheiro. E é claro que ele é um dos meus melhores amigos, mas não é uma espécie de amor.

É claro que o amo, mas como amigo. É inegável o quando nos dando bem assim, mantendo essa relação de amigos com benefícios.

O intervalo acaba – não dá tempo para jogar sinuca, ou tirar um cochilo – e voltamos para o corredor do Editorial.

Passamos no banheiro.

Entro no meu box preferido, o cheio de desenhos e alguns xingamentos. Meu verso preferido ainda está ali, ninguém ousou ainda a rabiscá-lo. Releio-o. Embaixo dele há uma carinha desenhada, em tinta vermelha.

Sorrio, porque isso é meio que legal.

Retiro a minha caneta piloto da bolsa e rabisco abaixo da carinha:

In the dream that I’ve seen,

In the day that is gone,

On the flow of the wind the ocean,

And the black oh the night,

And the breath of the…

One who doesn’t care

Guardo a piloto e sorrio de novo. É preciso dizer que me importo, na verdade.


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Notas finais do capítulo

Reviews?
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