A situação não parecia das melhores para nossos amigos, e Lara era a que mais sabia disso. É provável que após o tempo ter voltado ao normal, o grupo de Asha e de Túlius conseguiram derrotar os filhotes de dragão que estavam por lá, mas quanto tempo levaria para que eles chegassem até o grupo onde estavam? É óbvio que precisavam fazer alguma coisa, pois mesmo que não pudessem derrotar esse dragão, ainda assim teriam que ganhar tempo até que a ajuda chegasse.

– Meninos não se preocupem! – disse Lara tomando a frente – Eu não vou deixar que essa mãe-dragão estrague tudo, depois de termos passado por tanta coisa. ESPÍRITO: MANIFESTAR!

E então seu espírito começou a circular seu corpo, mas dessa vez um pouco mais fraco devido ao uso anterior no campo de batalha. De repente, uma luz começou a brilhar de dentro da aljava que carregava em suas costas, deixando tanto ela como o resto de todos um pouco mais assustados, se isso realmente fosse possível. Ao colocar uma das mãos sobre a aljava, sentiu algo espetar seu dedo. Lara decidiu ir mais a fundo e sentiu que a luz começava a tomar forma, a forma de uma flecha.

Essa flecha seria de grande ajuda, visto que não haviam mais flechas com Lara, fato que percebera somente naquele momento. Assim que a pegou em suas mãos ela aumentou de tamanho, e Lara percebeu que o peso havia aumentado proporcionalmente, apesar de conseguir levantá-la como se fosse uma pena. O brilho também havia aumentado, e Lara que estava mais perto chegou a ficar sem visão por um tempo, aliás o tempo parecia estar imóvel, como se a luz a tivesse levado à uma dimensão alternativa. De fato, ela estava em um lugar diferente: uma floresta, porém, o ambiente parecia sem bem mais acolhedor do que o lugar onde estava anteriormente.

Foi então que viu surgir dentre as árvores uma mulher. Ela tinha cabelos ruivos, olhos claros e sua roupa era toda feita de folhas, apesar de ser pouca. Lara também havia reparado que haviam alguns animais ao seu redor, alguns até perigosos demais para se aproximar, mas que ao olhar novamente percebia-se que não estavam com desejo de machucar alguém.

– Não tenha medo, jovem arqueira – dizia a mulher, a qual também carregava um arco em uma das mãos.

– Q... Quem é você? – perguntou Lara um pouco assustada.

– Eu sou o seu espírito – respondeu sorrindo e com uma voz suave.

Logo após continuou, com o mesmo tom de voz que sempre prevalecia.

– Sou Ártemis, deusa da caça e da vida selvagem.

Lara não conseguia acreditar que bem diante de seus olhos estava seu espírito, o mesmo que habitara seus ancestrais no passado.

– Se você é meu espírito, então acho que não preciso me apresentar. – disse Lara com um leve sorriso, mas ainda intimidada – O que você quer de mim?

Ártemis mudou sua face de serenidade para um pouco mais séria.

– O mundo no qual vocês vivem está chorando por causa da guerra, assim como os animais que vivem nesta floresta. Toda a maldade guardada em seus corações é resultado da maldição que sempre reinou nesta floresta, logo, isso não é culpa deles.

A jovem estrategista ficou muda por alguns segundos. Ela conseguia ver nos olhos de seu espírito todo o sofrimento do qual ela estava falando.

– Me desculpe por termos que matar os filhotes de dragão, – tentou se explicar Lara – mas nós realmente não sabíamos...

– Não se preocupe! – disse o espírito – Também entendemos o lado de vocês.

– Acredite, se pudéssemos acabar com toda essa dor, já o teríamos feito... – disse desviando o olhar.

Ártemis se aproximou mais de Lara, e com um gesto suave, virou o rosto de Lara de modo que seus olhares se encontrassem.

– Eu sei que você, mais do que ninguém sonha em acabar com essas guerras. E eu digo a você: o seu sonho vai se realizar. É possível neste instante acabar com toda essa maldição que vem atormentando minhas criaturas durante séculos.

Lara se soltou das mãos que seguravam seu rosto, não porque estava assustada, mas porque se sentiu espantada pela resposta que acabara de ouvir.

– Se você diz que existe uma maneira, então me diga o que eu preciso fazer.

Ártemis olhou novamente de forma séria para Lara. Seus olhos dessa vez pareciam penetrar seu coração.

– Não é o que “você pode fazer”, mas o que “todos podem fazer”. – e continuou – Dentre vocês está aquele que pode mudar o rumo de toda a história, muito mais do que você poderia.

Lara não entendia o que Ártemis estava revelando neste momento, muito menos sobre essa pessoa que seria tão poderosa a ponto de mudar não só um reino, mas todos os outros. Devido a isso, seus olhos brilhavam ao mesmo tempo que expressavam confusão.

– Quem seria essa pessoa? – perguntou Lara.

– Não se preocupe. Em breve chegará o momento em que tudo será esclarecido. E neste dia, o seu futuro estará fadado a uma grande responsabilidade.

Após essas palavras, Ártemis começou a desaparecer dentro da mata e Lara começou a voltar a si, porém, antes que desaparecesse por completo, Ártemis deu seu último conselho.

– Lara, cuidado! Entre vocês está aquele que pode acabar com as guerras, mas também há aquele que pode causa-las. Não se esqueça disso.

E então, Lara voltou a realidade.

– Lara! Lara! Você está me ouvindo? Lara!

A voz que gritava era a de Guilherme.

– Não se preocupe... – disse Lara, olhando para trás em direção aos seus amigos – Tudo vai ficar bem.