São seis da manhã e eu estou caminhando em direção á minha cabana, passei a noite inteira ao lado da Diamond na enfermaria, Andrew ficou lá também, ele parecia bem preocupado, afinal Diamond estava apagada totalmente. Não acordou a madrugada inteira. Só sai de lá agora, pois os pais deles chegaram.

Pareciam ser pessoas corretíssimas, a mãe vestia uma roupa social que deveria custar mais do que tudo em que a minha mãe já gastou em roupas pra ela, e o homem usava um terno, também com aparência de caro. Enquanto eu saia, Andrew e eles conversavam, ao lado de onde Diamond dormia. Os pais pareciam dizer algo como "como pôde não cuidar dela? "ela é sua irmã, Andrew" "você esta seriamente encrencado".

Eu só gostaria de saber o que levou aquelas garotas ridículas, a machucarem Diamond, agredi-la fisicamente e verbalmente, só por causa da sua roupa, da sua aparência? Estas pessoas mereciam ser presas e espancadas até a morte. É um pensamento cruel demais, eu sei, mas eles merecem. Diamond é tão doce, meiga, quieta.

O camping estava vazio, o sol nascia atrás das árvores, iluminando as trilhas, as cabanas e o lugar aonde ontem a noite estava montada a festa, não restava mais nada ali. O único som que havia ali, era dos pássaros cantando sob os galhos, e das árvores se balançando com a ventania. Alguns funcionários começavam a sair da sede do camping, que era uma casa grande com dois andares, lá dormiam a diretora, a supervisora, e todos os funcionários que não moravam perto o bastante pra vir pela manhã. Eles recolhiam os lixos espalhados, da festa talvez, varriam as folhas que caíram durante a noite, limpavam a umidade da chuva de ontem a noite das janelas. Enquanto isso eu caminhava em direção a cabana, que eu não havia percebido que era tão longe. Alguns deles olhavam abismados para mim, uma menina, com o cabelo todo bagunçado, a maquiagem toda borrada, as roupas sujas de terra, de pé descalço. Deviam achar que eu fui abusada ou algo do tipo.

Até que enfim, comecei a chegar perto da minha cabana, e enquanto entrava percebi um movimento humano vindo de uma das trilhas, que levava e trazia a uma cachoeira. Pareciam duas pessoas, talvez um casal vindo de uma noite amorosa por lá. Entrei na cabana e fui direto para o banho, e enquanto estava lá o silêncio da cabana me incomodava.

Estava acostumada com o barulho das brigas entre Elenina e Diamond, dos insultos, do diário de vida da Elenina que ela fazia questão de contar toda noite. Ela não era tão chata assim, só um pouco sozinha, pelo que se percebia.

Saí do banho e botei o maior pijama que encontrei nas minhas coisas, desliguei as luzes, fechei as janelas, e me deitei na minha cama, dormi em segundos.

***

Acordei umas oito horas depois, exatamente as 14hrs. Abri as janelas, e percebi que chovia lá fora, talvez por isso tenha dormido tão bem e aconchegada, liguei as luzes e fui trocar de roupa, devia estar atrasada para alguma atividade, para o almoço, para o café, eu não sei. Botei a primeira coisa que achei, e enquanto maquiava meu rosto de cansada e acabada, ouvi o barulho da porta, e de vozes, sai correndo do banheiro e vi Diamond, Andrew e os pais deles.

— Diamond. — disse aliviada, pensei que ela não acordaria hoje.

— Chloe. — ela sorriu fraco. Andrew a levava até a sua cama, mesmo que ela dissesse que não precisasse.

— Como você está se sentindo? — me sentei em uma poltrona.

— Nada bem, mas também não tão mal. — Andrew arrumou uma almofada em suas costas. Eu o olhei fazendo aquilo.

— Então você deve ser a menina que defendeu a minha filha. — a mãe deles, caminhava até mim, parando perto de mim. — Em vez do seu próprio irmão, fazer isso. — lançou um olhar zangado a Andrew. — Só tenho a lhe agradecer...

— Chloe. — completei sua frase. — De nada, mas eu não fiz nada, só arrebentei a cara de uma menina por ela estar insultando e batendo na minha melhor amiga.

— E eu te agradeço por arrebentar a cara dela. Aliás, meu nome é Vera Morgenstein. — Vera não parecia o tipo de gente que falava arrebentar, achei engraçado. — E este é meu marido, Tom. — o pai dos dois deu um passo á frente.

— Tem alguma coisa que você queira? Gostaríamos de agradecê-la de alguma forma.

— Não, muito obrigada. — pensei bem. — Na verdade, há uma coisa que vocês podem fazer. — me olharam curiosos. — Façam Andrew assumir Diamond, como irmã, de uma vez por todas.

— Chloe. — Andrew me repreendeu no tom de voz e no olhar.

— Assumir a irmã? — os pais perguntaram curiosos.

— Ahh, vocês não sabiam dessa parte. — percebi a merda que eu havia feito.

— Não, não sabiam. — Andrew falou em um tom bem diferente do que falara comigo a noite inteira.

— Mas agora que sabemos, faremos ele fazer isso. — o pai somente encarava Andrew, o xingando com os olhos. A mãe se despedia de Diamond, dizendo que tinha uma reunião, mas voltava no fim de semana para cuidar dela, e saia. Tom, chamou Andrew para ir lá fora e ele os seguiu, dizendo que já voltava. Só se ouviam os gritos.

— Chloe. — Diamond disse, bem baixinho.

— Sim? — perguntei me sentando no pé de sua cama.

— Estes são meus pais. — eu sorri.

— Percebi. Mas, não se parecem com você, e nem com Andrew.

— Eu sei. Eles são durões, mas também são boas pessoas. — ela endireitou a cabeça, fechando os olhos por alguns segundos, mas logo voltou a abri-los. — Chloe.

— Sim? — repeti.

— Você promete fazer uma coisa pra mim, quando eu melhorar?

— Faço qualquer coisa.

— Eu quero que você, me mude. Me deixe bonita, ou pelo menos aceitável. — a olhei confusa. — Não, como aquelas meninas escrotas e ridículas que fizeram isso comigo. Mas me deixe aceitável, com um rosto angelical, rosto de menina de certa forma. Quero que meninos olhem pra mim e pensem "eu pegaria ela". Depois do que eu passei, não quero mais me olhar no espelho e me ver. Quero ver uma nova pessoa, que é capaz de acabar com aquelas meninas. Como você fez. Você promete fazer isso?

— Eu prometo. — disse, olhando para ela que virava seu rosto e começava a dormir. Andrew logo voltou.