Son of Hephaestus escrita por Lissandré, Sherllye


Capítulo 24
Chapter 24 - If You Hate Me


Notas iniciais do capítulo

Oi, não tenho muita coisa pra falar. O capítulo não demorou muito. Ta vindo uma surprise pra vocês.

GOGOGO



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Charlotte encarou Leo do outro lado da mesa iluminada pela solitária lâmpada acima. O Bunker estava estranhamente silencioso, não se ouvia nem Buford. Era uma aura pesada, palpável. Era agoniante. Leo rolava um lápis entre seus dedos, de um lado para o outro. Charlie tentou ignorar as manchas pretas de calor onde as pontas dos dedos de Leo encostaram. Ela sentiu os músculos tencionarem. E se ele tivesse nojo dela, agora? Já começara a se arrepender de contar o que acontecera.

–Ele a... Ele a tocou? – murmurou ele, sem levantar os olhos. Seu tom era quieto, contido.

–Tocou tipo... Tocou, tocou?

Leo levantou os olhos para ela. O rosto sério e a boca contraída em uma linha fina. Em seu olhar havia algo doloroso e até de pena. Ela não gostou disso, não gostava que se apiedassem dela, não precisava disso. Pela primeira vez parecia que todo o resquício de humor em Leo havia se esvaído. Charlie percebeu que isso era um tipo de realidade que ninguém gostaria de viver. Um Leo sem graça.

–Não Leo, eu o... – Charlie hesitou. Sempre que falava sobre isso, um frio percorria sua espinha. Como o toque de um morto.

–Eu só não... Não consigo processar o que sinto. É um ódio tão grande, quase assassino. Isso assusta. – Leo soltou um suspiro exasperado – Quero machuca-lo apenas pelo fato de ele ter encostado em você, com maldade. Quero causar dor, mas sei que não posso, por que... Isso me da um sentimento de impotência irreal.

–Sei como é horrível. Lamento se sentir assim. É culpa minha, não deveria ter contado. – Charlie baixou a cabeça, embaraçada.

De repente, Leo se sentiu muito assustado em relação a Charlotte.

–Não. Não, eu iria ficar realmente desapontado com você se não tivesse me contado. Quero dizer, você é forte, é incrível, mas não se pode ser isso o tempo todo. Estamos juntos nessa, esqueceu? Não é culpa sua o que aconteceu, nunca será. – Leo estendeu a mão por cima da mesa. Charlie olhou para ele e a pegou, hesitante. – Nunca mais ouse ir para longe de mim.

Ela afirmou.

–Prometa.

–Eu prometo. – ela sorriu.

***

Foi a primeira vez em dias que Leo saíra do Bunker e foi ótimo. Não sabia que sentia falta do barulho da floresta, ao invés de rodas dentadas, e da brisa da praia ao lado. Ele e Charlie saíram à noite, para jantar junto com os campistas. Eles andavam em um silêncio confortável, mas parte de Leo estava terrivelmente nervosa com o fato do pai de Charlotte estar no acampamento.

–Então, seu pai...

–Sim?

–Qual era mesmo seu nome?

–Bob.

–Ah, claro. Ele sabe sobre...

–Oh, lá está ele! Na mesa da Casa Grande... Vou apresenta-lo a você. – O que ainda funcionava normalmente em Leo (andar, respirar) parou naquele instante. Ele teve que se esforçar para controlar o nervosismo. Ele andou forçando um sorriso confiante. Estava morrendo de medo. E se ele não gostasse dele? E se o odiasse? E se não o quisesse como genro?

–Leo! – saudou Quíron. – Finalmente saiu daquela oficina, huh? – O centauro lançou um olhar para Charlie e para a mão dos dois e entendeu tudo. – Ah...

–Er...

–Charlotte? – disse o homem ao lado de Quíron. Leo olhou para ele e o reconheceu imediatamente, o mesmo desenho do rosto, mesmos olhos... Era o pai de Charlie e olhava com cenho franzido diretamente para as mãos dos dois juntos. Charlotte apertou a mão de Leo, não em um gesto encorajador, mas de aviso. Leo percebera que sua mão estava quente, mais que o normal. – Quem é... Este? – seu olhar não era muito contente. Leo engoliu em seco.

–Sou Leo Valdez, senhor Madison. Charlie falou muito sobre o senhor.

–Mas é claro que falou, sou pai dela. – cortou ele. Ah, facilita... pensou Leo.

–C-claro.

–E ele é o que seu?

–Sou seu... – começou Leo.

–Amigo. – interrompeu Charlie.

Leo olhou para ela com as sobrancelhas erguidas, bastante ofendido. Charlie não retribuiu, encarava o pai normalmente. Leo afastou a mão, ressentido. Depois de tudo? Só amigos?! Não estou acreditando, pensou ele.

–Amigos que andam de mãos dadas? – questionou Bob.

–Grandes amigos. Ele é um dos que foram na missão comigo.

“Grandes amigos?!” ecoou Leo “Um dos que?... Odeio você, Charlotte Madison.” a boca dele se abriu em descrença. A essa altura, ele olhava impaciente para o lado, como se questionando se alguém mais ouvia aquela conversa. Quíron parecia realmente interessado em seu jantar. Leo não conseguia mais esconder seu descontentamento.

–Ah, então ele estava com você quando foi sequestrada? – perguntou Sr. Madison. Seu tom indicava que queria por a culpa em Leo por ela ter ido embora e passado pelo que passou. Que ele não havia feito nada para impedir.

–Olhe, estávamos sendo atacados, também, por um deus. – Explicou Leo, com um leve tom de sarcasmo. – Ele imobilizou Nico e eu antes de...

–E você é filho de quem, mesmo? – perguntou Bob, desinteressado.

–Hefesto, deus das forjas, do fogo... – disse ele, segurando para não soltar um suspiro irritado.

–Sabe, seu diretor de atividade aqui me contou algumas coisas sobre o Olimpo...

–Meus Deuses – Leo ouviu o centauro murmurar.

–Hefesto é o marido de Afrodite, não? – continuou Bob, não parecia ter ouvido Quíron.

–Er... Hum... É?

–Você sabe disso. – seu tom era ríspido, como se fosse culpa de Leo.

“Legal, ele me odeia!”

–É, mas você sabe... Eles não se amam. Ele é feio e tal, era para por um ponto final pela briga da deusa mais linda do Olimpo. Ela ama Ares e...

–Não, não, não, coisa errada Valdez... – sussurrou Charlie, desesperada.

Bob ia responder – pela sua expressão, algo bem mal-educado – quando Quíron interrompeu:

–Pois bem, Charlie, Leo, porque não vão ver seus amigos do acampamento? Já faz um tempo, não?

–Claro! – disse ela, rapidamente, puxando Leo pelo pulso, se afastando do Sr. Madison que tinha um olhar azedo em seu rosto.

–Que porra há de errado com você? – explodiu ela, aos cochichos.

–Comigo? Que porra há de errado comigo? Me diga você, amiguinha.

Charlie soltou o ar, exasperada.

–Aquilo? Você não entendeu...

–Que somos apenas amigos? Caralho, Charlotte, olha tudo que a gente passou e você vem com “amigos”? Que porra há de errado com você?

–Exatamente, o qu...

–Charlotte Madison! – chamou Nico di Angelo, se aproximando entre as mesas – Eu não acredito que eu estou aqui só por você, e você só da as caras a noite! Eu mataria você se não fosse... – ele hesitou confuso – Se não fosse algo esquisito e totalmente aleatório que passou na minha cabeça.

–Nico... – suspirou Charlie, sorrindo. Leo a encarava estupefato. O seu humor mudava de uma hora para a outra. Charlie pensava que, mesmo não sendo muito próxima de Nico, sentia uma falta enorme dele e de suas brigas com Ally. Sem pensar, ela o abraçou, pegando-o de surpresa.

Nico pensou em afastá-la. Se fosse qualquer outra pessoa o faria, mas o peso no peito que sentira em relação a ela, só se intensificou agora. Ele sentia a morte nela. Charlotte levara alguém aos Campos da Punição.

“Quem diria?” pensou ele “Uma filha de Afrodite que matara alguém!”.

Não é como se isso fosse um pensamento feliz. Matar um monstro? Salvar o mundo e, de brinde, a si próprio. Matar um ser humano? Homicídio. Não era algo que te levava para o Elísio, mas algo dizia a ele que fora extremamente necessário. Sem falar que filhos de Afrodite mal e mal pegam algum monstro. Por sua espécie não exalar um forte odor de semideus e não ser perigosa, além de preferirem deixar na mão de semideuses de batalha.

“Sem quebrar as unhas”

–Você matou alguém. – sussurrou ele, em seu abraço repentino. Seus braços se apertaram em volta dela. Algo dizia a ele para fazê-lo.

–Como sabe? Já correram os boatos? – sussurrou ela, preocupada.

–Eu só sei... Sinto muito.

–Não. Eu sinto muito.

–Não cabe a eu julgar.

Eles se separaram e o olhar da menina era agradecido. Os dois encaram um Leo atordoado, até mesmo ultrajado.

–Tudo bem, cara? – perguntou Nico.

–O que, eu? Perfeito. Aliás, cena fofa. Agora vou comer que estou morto. – ele olhou para Nico, examinando-o – Desculpe, faminto.

Ele se retirou em direção a mesa do chalé 9, onde foi recebido com sorrisos e alguns tapinhas nas costas.

–Eu não sou um zumbi, Leo. Já te disse mil vezes – suspirou o filho de Hades, sem vontade.

Charlie forçou um sorriso. Leo não entendera nada. Ainda estava bravo.

–Cadê Ally? – perguntou, não notando a cabeleira ruiva em lugar algum. Nico ficou hesitante.

–Em seu chalé. – murmurou, passando a mão em sua nuca.

Charlie semicerrou os olhos e entendera tudo. Tinha vontade de bater em Allycia por ser tão complicada, às vezes. Na verdade, nos dois.

–Vocês brigaram, de novo?

–Er...

–Nem você sabe.

–Er...

–Ai meus deuses. – disse ela, entendendo mais. Nico corou furiosamente. Charlie sorriu, surpresa, e virou-se, correndo em direção aos chalés. Ela se aproximou do 3, o de Poseidon e parou, franzindo o cenho. Estava tudo fechado e silencioso. Ela bateu a porta, mas ninguém respondeu.

–Ally? – chamou ela.

Charlie ouviu murmúrios dentro do chalé e abriu a porta. Ally passou a mão sobre uma névoa colorida que saia de uma fonte de água no canto do quarto. Não parecia tê-lo feito por causa da filha de Afrodite. Seus olhos estavam inchados e ela parecia já ter terminado sua mensagem de Íris.

–Hey – saudou Ally, coçando o nariz vermelho.

–Hey? Eu sumo por dias e você só me vem com um hey?

–Desculpe – murmurou Ally, sua voz estava pesada. – Você tem razão. Deuses, como senti sua falta.

–Você está bem? – perguntou Charlie, o queixo apoiado no ombro da amiga. Nunca tinha percebido que Ally era mais alta que ela.

–Aham. – disse ela, mas parecia automático.

–Com quem estava falando? – perguntou, preocupada. Charlie já passara por muitos momentos ruins para conseguir reconhecer um. Allycia estava com os cabelos embaraçados e roupas largas, sem falar no rosto vermelho. Ela andara chorando, e muito.

–Meu pai... – ela deu de ombros, se afastando de Charlie e sentando-se na cama do outro lado do quarto. Charlie achou que era um tremendo choque a diferença de decoração entre o chalé 10 e o 3. Afrodite era tudo babados e cortinas que cominassem. O de Poseidon era tão aconchegante que chegava a fazer Charlie querer se mudar. Tinha todo aquele ar de cabana na praia. As janelas pequenas dando para praia, as conchas entalhadas nas paredes. Havia um chifre pendurado na parede oposta a da cama de Ally. Ela encarou com curiosidade. O que levaria Percy a pendurar um chifre na parede? Pensou ela. – É um espólio de guerra. O primeiro monstro que Percy matou, o Minotauro.

Charlie soltou um assovio baixo. Seus olhos se desviaram para a fonte no fundo do chalé, era de rocha marítima com um peixe expelindo água pela boca, sai um leve vapor do recipiente, deixando um cheiro de brisa do mar no verão. Era muito agradável.

–Não sabia que se podia comunicar com deuses por mensagem de Íris.

–E não pode, eu acho... Pelo menos nunca tentei. Seria óbvio demais. – Charlie se virou para ela, e percebeu que havia um caderno de desenho em cima da cama e muitas – muitas – folhas de papel amassadas pelo chão. Ela pegou uma das folhas do chão e a desamassou. Havia um desenho o qual ela levou um tempo para processar. Era Nico, enforcado e ensanguentado.

–Quanto ódio, conchinha do mar... – disse Charlie, sarcasticamente, mostrando o desenho.

–Não está tão realista quanto este. – disse ela, mostrando uma das folhas do caderno. Este era apenas um desenho do rosto de Nico, em um lugar escuro, com um sorriso luminoso. Charlie sentou-se ao seu lado, na cama, examinado o desenho. Allycia era talentosa.

Como em um clique, Charlotte entendeu a conversa com Ally.

–Se não era com Poseidon que estava falando, então...?

–Adotada. Sou adotada. – disse ela, baixo. Em seguida, fechou os olhos e abraçou os joelhos, o cílios ficando molhados, mas era obvio que ela estava se contendo. Não queria chorar mais. Charlie ficou confusa.

–O que aconteceu? Você não...

–Eu não sabia. – sua voz saiu firme, apesar – Eu... Eu meio que imaginava sabe? Mas nada que me desse receio real. Minha mãe é morena e meu pai loiro. E então eu vim para o acampamento. Achei que minha mãe houvesse, você sabe... Traído meu pai.

–E então você falou com eles?

–Só agora.

–Allycia! Você ficou um mês no acampamento!

–Eu sei! Mas não queria aceitar a realidade da minha família ser uma mentira. Uma coisa é suspeitar, imaginar. Outra é você ouvir assim, da boca dos seus... Das pessoas que você achava serem seus pais. Eu não estava preparada. Me senti estupida.

–Então vocês se falaram por mensagem de íris? – perguntou Charlotte, achando que um Skype dos deuses não era o lugar perfeito para assuntos delicados como esse.

–Gastei 7 dracmas.

–Eles não sabiam que você era semideusa?

–Não, foi um tremendo choque. Mamãe é professora de História. Saber disso foi extremamente incrível para ela. Agora papai... Ele é totalmente cético. Foi complicado.

–“Como pode um divindade mágica reproduzir-se com um ser humano normal? Isso é impossível!” – recitou Charlie. Parte dela, às vezes, queria muito que fosse tudo impossível mesmo. Seria mais fácil, sem sofrimento.

–Exatamente. Eles disseram que me adotaram de forma legal. Parece que me deixaram em frente ao orfanato. Eu quase quero saber quem é minha mãe.

–Quase?

–Ela não me quis por algum motivo. Quem garante que queira me ver agora? Eu só fico me perguntando quem é a minha mãe verdadeira... É frustrante.

–Eu também.

–Todos fazemos. O que aconteceu com você?

Um calafrio passou por todo o corpo de Charlie. Não queria mais ter que contar essa história. Toda a enxurrada de lembranças. Não conseguia mais se forçar a fazê-lo.

–Não foram coisas boas, não é? – perguntou Ally, preocupada. Ela abraçou Charlie que começava a remoer todas as memórias, todo aquele sangue, toda aquela manipulação e todo o desespero. Tinha impressão de que nunca superaria o que aconteceu nesses dias. – Estou feliz que esteja de volta.


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Notas finais do capítulo

É isso! Dúvidas? Ideias? Recomendações? (-q) comente dizendo :3

Beijos de Luz (mudei, hue) da EP :*



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