Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 5
Capítulo 4




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O sorriso espontâneo daquela garota era único, desde o momento em que havia lhe dado sua anuência quanto à visita a Incheon, não conseguiu apagá-lo de sua mente. Durante grande parte daquela noite, os acontecimentos do dia tomaram seus pensamentos, impedindo que seus olhos se fechassem até que fosse tarde na noite.

Como consequência da noite mal dormida, Ma-Ru abriu os olhos com relutância naquela manhã quando seu celular despertou. Por um momento, só se encolheu sob seu edredom, relutante em sair de sua cama macia e quentinha. Porém, um olhar rápido para o relógio digital no criado mudo ao lado da cama tratou de espantar seu sono. Se demorasse mais, acabaria por se atrasar, e imaginar Eun Jae sozinha no meio da multidão que ia e vinha pela estação de ônibus foi um ótimo incentivo para que pulasse da cama de um salto, correndo depressa rumo ao banheiro.

Aish, francamente! Por que eu dormi tanto justo hoje? — Ma-Ru resmungou consigo mesmo ao olhar seu próprio rosto sonolento no espelho. Sem demora, tratou de jogar água fria enquanto escovava os dentes.

Embora não houvesse tempo para um café da manhã, Ma-Ru não se sentiu arrependido. O arroz e a sopa característicos no café da manhã tipicamente coreano ainda lhe pareciam extremamente indigestos. Tinha a pretensão de comer algo na rua, mas sua avó havia lhe obrigado a levar alguma comida. Mesmo relutante, desobedecer sua halmoni, que sempre procurava fazer tudo por ele, era algo fora de cogitação.

Quinze minutos mais tarde, um Ma-Ru extremamente apressado saiu depressa da casa, empunhando uma legítima torrada americana com manteiga de amendoim devidamente embalada, enquanto o táxi o esperava na rua.

A viagem ao terminal durou alguns minutos, o olhar de Ma-Ru era atraído para os ponteiros do relógio como se jamais tivessem visto tal objeto antes e em seguida para a janela, vagando pelos arredores na tentativa de avistar o terminal rodoviário. O ahjussi motorista lançava olhares esquisitos pelo espelho retrovisor interno, seus olhos se arregalando mais e mais conforme seguia acelerado pela rua, talvez com medo de não ser pago pela corrida. Em outro momento, aquilo o teria divertido, mas a pressa lhe havia tirado qualquer senso de humor que pudesse ter naquela hora da manhã.

Ahjussi, depressa.

Ma-Ru fez questão de dar a ele uma enorme gorjeta por seu bom trabalho e saiu depressa, rumando para o ponto de encontro, uma das salas de espera daquele terminal rodoviário. Acelerando o ritmo de seus passos, não demorou a identificar Eun Jae logo na entrada, sentada em uma das cadeiras na sala de espera.

Ela sempre parecia muito bem em seu uniforme escolar, mas não tanto quanto naquele momento, trajando as casuais roupas esportivas. Um casaco vermelho com aspecto grosso a aquecia, assim como o fofo cachecol branco em volta de seu pescoço. O jeans escuro e as botas pesadas completavam o visual junto do gorro também vermelho que lhe ocultava boa parte de seus cabelos, dando-lhe um ar delicado. Uma bolsa esportiva estava em seu colo e sua mão estava firme contra o que parecia ser uma guia de couro.

Ao contrário do que esperava, ao se aproximar dela, notou que aquela guia não pertencia à bolsa que trazia consigo, mas sim a um cão atado à guia, preguiçosamente deitado a seu lado. Havia visto poucos animais de estimação nas ruas de Seul, parecia bastante estranho que houvesse um justo no terminal, onde muitas pessoas circulavam a todo momento.

Em resposta à sua aproximação, o cão se sentou, imponente e atento, como se guardasse a integridade e a segurança de sua dona. Quase de imediato Ma-Ru reconheceu a raça do animal, havia visto muitos daqueles nos Estados Unidos. O cão era um enorme Golden Retrivier, cuja pelagem dourada parecia bastante macia ao toque. Suas orelhas peludas eram caídas e somadas aos brilhantes olhos escuros, lhe davam um ar dócil e bastante meigo.

Ya, Eun Jae! O que é essa coisa? — Eun Jae pareceu levar um susto, quase pulando na cadeira onde estava sentada.

— Choi Ma-Ru! Chugul-le? Por que fica assustando uma pessoa a esta hora da manhã? — Levantando-se de seu acento, seguiu a direção do som de sua voz e aproximou-se do rapaz, ficando à frente dele. — Você não sabe reconhecer um cachorro?

— Acha que eu perguntei isso por que não sei realmente a resposta? Quero saber por que o trouxe aqui.

— Nagoya não é só um cão. — Respondeu em defensiva. — Ele é o meu guia, vai ser nossos olhos durante esse passeio.

— Nagoya? Por que seu cão tem um nome japonês?

— Ele já tinha esse nome quando veio para mim. — Ela deu de ombros, indiferente ao fato da origem do nome. — Foi treinado no Japão, na cidade Nagoya.

— Oh. — Seu olhar se voltou na direção do cão, que agora estava em pé, parecendo bastante alerta e bastante disciplinado.

— Há duas regras que precisa saber antes de partirmos. A primeira regra: você não pode tocar nele, enquanto Nagoya estiver usando a guia.

— Ya! Eu não machucaria o seu cão, Eun Jae!

Eun Jae balançou a cabeça ante o tom indignado do rapaz. Aquela ideia nem sequer havia passado por sua cabeça.

— Eu sei que não, Choi Ma-Ru. Nagoya não pode ser distraído enquanto estiver me guiando. Nós dois podemos nos machucar seriamente se ele se desconcentrar. Por isso, o melhor é que você o ignore e não brinque com ele.

Ma-Ru balançou a cabeça, por fim entendendo o que ela queria dizer. Sua segurança dependia exclusivamente da concentração do cão em guiá-la com segurança pelas ruas, algo que devia ser bastante complicado com tantas pessoas e distrações.

Arraso, Arraso. Eu vou lembrar disso.

— Segunda regra: permaneça do meu lado direito. Nagoya é treinado para ficar sempre à minha esquerda, assim como todos os cães-guia.
Em resposta a aquela instrução, Ma-Ru imediatamente colaborou e mudou de posição, postando-se a seu lado direito, seguindo suas instruções sem quaisquer outros questionamentos.

— Você cheira a doce. Mas um doce que eu não conheço. — Ela disse de repente, erguendo o rosto e aspirando o ar pausadamente.

— Por que será que eu tenho a impressão de que você sempre pensa em comida quando eu estou perto? — Remexendo no bolso de seu casaco, disfarçou uma risada e entregou a ela a torrada que sua avó havia lhe embalado para que comesse no caminho, previamente descartando a embalagem. — Manteiga de amendoim, algo que os americanos adoram.

Eun Jae não se incomodou em responder naquele momento, ocupada em descobrir que sabor tinha aquilo. Com cuidado, mordeu a torrada e mastigou devagar. O gosto era bom, diferente dos doces coreanos aos quais estava acostumada, mas no geral, era gostoso.

— Isso é bom. Eu gosto. — Terminando de comer a torrada, levou a mão até um de seus bolsos e tirou dois bilhetes comprados momentos antes. Ma-Ru apanhou a ambos e procurou a identificação da plataforma e o número do ônibus que deviam tomar. Seus olhos se desviaram para as placas da plataforma, procurando o lugar certo para o embarque.

Deixando que ela segurasse seu antebraço, guiou-a pelo terminal até que estivessem sentados lado a lado no fundo do ônibus. Embora o motorista não tivesse visto com bons olhos levar um cão em seu ônibus, não colocado oposição ao ver que se tratava de um cão-guia em serviço. Nagoya era um cão bem comportado, com doces olhos castanhos que conquistavam incondicionalmente até o mais duro dos corações. Era realmente difícil resistir à tentação de acariciá-lo, mas por fim, Ma-Ru desviou a atenção do cão deitado a seus pés e olhou pela janela.

A vista parecia ser a mesma a de sempre. Carros, prédios e estabelecimentos comerciais se misturavam à paisagem urbana, onde pessoas iam e vinham como uma enorme onda. Não parecia tão diferente assim dos Estados Unidos, onde se recordava de viver a vida toda. Perdido em seus pensamentos, um toque leve em seu ombro desviou sua atenção da janela, fazendo com que voltasse sua atenção para o banco a seu lado.

Profundamente adormecida pelo balanço do transporte, Eun Jae havia se recostado contra ele acidentalmente. Ma-Ru sorriu ao olhar o rosto dela, parecia fofa e engraçada naquela posição, ainda que parecesse um tanto quanto desconfortável. Estranhamente, sua aparência doce o cativou, fazendo com que se tornasse ainda mais encantadora para ele.

Ela teria uma grande dor no pescoço se continuasse naquela posição, refletiu em seus pensamentos. Preocupado e cuidadoso, Ma-Ru mudou de posição e a acomodou junto de si. Apoiando-se contra ela, passou um dos braços por trás de seus ombros, garantindo que a viagem ficasse mais confortável.

Não soube dizer quanto tempo ficou admirando seu rosto bonito, relaxado pelo sono agradável. Somado à noite mal dormida, a oscilação monótona e contínua do ônibus fez com que Ma-Ru se recostasse contra a ela, apoiando seu rosto contra o gorro avermelhado e adormecesse sem sequer se dar conta. A última coisa da qual se deu conta antes de mergulhar em um sono profundo, foi o cheiro de seus cabelos castanhos, um suave aroma de baunilha.


***

Uma sensação esquisita fez com que Eun Jae abrisse os olhos, alarmada. Embora não pudesse enxergar, todos os seus outros sentidos estavam bem alertas naquele momento. A perspectiva de um passeio livre e agradável havia feito com que ficasse até altas horas da noite em seu computador, pesquisando atividades para a excursão que faria no dia seguinte junto a seu amigo. De posse de seu fone de ouvido, o software especial para deficientes visuais lhe forneceu detalhadamente todas as informações que ela necessitava, o que havia lhe custado preciosas horas de sono.

A vibração do ônibus havia parado, mas não havia sido exatamente aquilo que a havia despertado de seu sono. Algo grande e sólido na poltrona do lado lhe servira de travesseiro por toda a viagem, deixando-a confortável e relaxada. Seu rosto queimou de embaraço ao se recordar de quem a acompanhava naquele passeio, deixando-a ruborizada e completamente sem jeito. A respiração tranquila e constante lhe indicou que Ma-Ru ainda dormia, o que foi um enorme alívio, uma vez que não tinha ideia de como reagir a aquilo.

Revigorada depois daquela soneca, Eun Jae remexeu-se em sua poltrona e procurou pela guia de Nagoya, tateando o pelo fofo do animal. O que não contava era que Ma-Ru fosse se mexer abruptamente justo naquele instante, assustando-a. Agitando-se ainda mais, sem saber exatamente o que fazer, acabou esbarrando em Ma-Ru, metendo dolorosamente seu cotovelo contra o estômago do amigo.

Um gemido de dor chegou a seus ouvidos imediatamente, seguido de uma palavra em inglês que Eun Jae não entendeu, mas que apostaria qualquer coisa que se tratava de um algum palavrão. O rubor em seu rosto se tornou ainda mais intenso, Eun Jae podia sentir sua própria face quente, na certa pateticamente avermelhada.

Mianhae, Ma-Ru! Eu realmente sinto tanto... Eu não queria... — Engolindo em seco, continuou se desculpando, preocupada por tê-lo machucado.

Arraso, Arraso... Foi só um acidente, Eun Jae.

Chesonghamnida! Chesonghamnida... — Profundamente arrependida, fez a mesma reverência costumeira, se desculpando profundamente por machucá-lo.

— Não precisa se desculpar, não foi nada, Eun Jae...

O tom contrariado dele a convenceu de que realmente estava bem, mas aquele fato não aliviou a sensação de mal estar pelo que havia feito. Nervosa, retorceu as mãos e se forçou a parar de se desculpar, tentando não piorar ainda mais aquela situação. Esquecida de que ainda estavam no ônibus, só lembrou do fato quando ouviu a porta se abrir, o vento entrando em uma lufada fria.

— O que estão fazendo aqui, jovens estudantes? — Uma voz masculina ecoou pelo ônibus, fazendo com que se recordasse do motorista que havia feito aquela viagem.

Chesonghamnida, ahjussi! — Eun Jae curvou-se novamente, desculpando-se respeitosamente com o motorista. — Faz muito tempo que chegamos a Incheon?

— Incheon? Estamos em Busan. O ônibus fez uma parada em Incheon, mas isso aconteceu há algum tempo. — O tom do velho ahjussi motorista pareceu sinceramente surpreso ao ouvir aquela pergunta.

Os olhos de Eun Jae se arregalaram com aquela nova informação, assustada com a situação na qual se encontravam. Busan era assustadoramente grande e longe para alguém como ela, que além de não poder enxergar, jamais havia estado ali. Todas as informações que havia pesquisado na internet se referia exclusivamente a Incheon, que ficava muito perto de Seul e portanto, completamente inúteis naquele momento.

— Busan? Ya, Eun Jae!

Encolhendo-se ante o tom da voz de Choi Ma-Ru, Eun Jae fez uma careta sem jeito. Era óbvio que ele sabia onde os dois estavam e tinha plena noção da situação na qual se encontravam. A culpa era toda sua, havia convocado seu amigo para aquele passeio, e em troca da confiança que recebera, havia feito com que ambos se perdessem. Baixando a cabeça, encolheu seus ombros e suspirou, tentando pensar na melhor atitude a tomar naquele momento.

Mianhae, Ma-Ru... Vamos pegar um ônibus de volta a Seul agora mesmo.

— Não há necessidade. Vamos andar pelos arredores e comer algo antes. Já estamos aqui mesmo, vamos aproveitar nosso passeio. — Dizendo aquilo, Ma-Ru ajudou-a a sair do ônibus com Nagoya em seus calcanhares.

Ainda que o começo houvesse sido realmente desastroso, as horas que se seguiram foram realmente divertidas, as melhores que podia se lembrar nos últimos tempos, fazendo com que tudo se tornasse realmente agradável. Ainda que seus olhos não pudessem apreciar a beleza da paisagem em volta, a presença de seu amigo a seu lado lhe deu coragem para ir em frente e relaxar. Atencioso, Ma-Ru fazia questão de descrever todos os detalhes possíveis da paisagem ao redor, tentando fazer com que se integrasse ao passeio e se sentisse à vontade.

As palavras dele se projetavam em sua mente, tomando forma e cor, de maneira que tudo parecia se tornar interessante. Os sons, os diferentes cheiros e as pessoas ao seu redor pareciam ainda mais especiais, pareciam reais em sua imaginação. Igualmente, a presença de seu cão era notada por onde iam, fazendo com que algumas pessoas amigavelmente se aproximassem para conversar. Obedientemente, Nagoya trotava a seu lado atento e concentrado em guiar sua dona, sem que qualquer distração o desviasse de seu trabalho.

Rindo e brincando, o tempo passou em uma velocidade relativamente rápida e realmente agradável. Caminhando lado a lado com Ma-Ru até que ambos estivessem famintos e cansados, pararam apenas tempo o bastante para comer em uma barraca de bolo de peixe e continuar o passeio até um grande parque cheio de jogos nas proximidades e por fim percorrer as inúmeras lojas que se espalhavam por toda parte.

Nenhum dos dois tinha qualquer noção de horário, a noite já estava bastante adiantada quando refizeram caminho até o terminal rodoviário, encerrando com relativo sucesso aquela primeira experiência de Choi Ma-Ru. Eufóricos e entretidos em uma conversa interessante, já planejavam a próxima expedição quando finalmente voltaram a seu ponto de partida. Ao se dirigir ao guichê para comprar os bilhetes, Eun Jae sorria abertamente, já esquecida do início conturbado.

Chesonghamnida, o último ônibus partiu em direção a Seul há uma hora, senhorita.

Eun Jae piscou ao ouvir aquela nova informação da atendente, ainda sem compreender a profundidade daquela frase. Seus olhos se arregalaram ainda mais quando tudo finalmente fez sentido, seu coração batendo em disparada. Estavam presos em Busan até o dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Aish - Expressão utilizada quando algo dá errado, algo como "Putz"
Halmoni - Avó
Ahjussi - Senhor
Chugul-le? - Expressão muito utilizada em doramas, traduzida como "Você quer morrer?"
Ya- Ei
Arraso - Entendi/informal
Mianhae - Desculpe/informal
Chesonghamnida - Desculpe/formal
Busan - Cidade da Coréia do Sul, localizada na costa sudeste do país
Incheon - Cidade da Coréia do Sul, situada na costa ocidental do país



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