Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 6
Capítulo 5




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A sensação inicial de choque se dissipou lentamente, deixando apenas o medo estampado nas feições de ambos. Atônito com a circunstância, Ma-Ru encarou a ahjumma através do vidro do guichê de passagens de tal forma, que a venha senhora arregalou os olhos, assustada. De forma alguma havia sido sua intenção assustá-la e, arrependido da situação, o rapaz se aproximou do balcão, a fim de se desculpar.

Imediatamente, a ahjumma recuou o corpo rapidamente contra sua própria cadeira e olhou nervosamente em volta, na certa procurando algum objeto com o qual pudesse se defender de seu provável ataque. Um momento depois, empunhando uma plaquinha de plástico, dependurou-a contra o vidro e fechou a persiana de seu guichê, desaparecendo de vista. Abismado, Ma-Ru piscou os olhos e encarou atônito a placa que declarava o fechamento daquele guichê. Aish, o que havia de errado com aquela ahjumma?

Sabia que não era culpa da pobre senhora, sua aparência não era lá uma das mais agradáveis e tampouco inspirava confiança. Embora sentisse muito por tê-la assustado, sua mente estava concentrada na péssima situação daquele momento. Seu dia havia começado de forma errada, mas jamais cogitaria que pudesse terminar daquele jeito, não imaginava como podia ter se perdido há vários quilômetros de casa com uma garota que não podia ver e seu enorme cão de olhos meigos.

O dia maravilhoso havia sido realmente incrível, havia desfrutado de cada pequeno momento com sua amiga e se divertido o máximo possível. Quando pensava que o pior já tinha passado – e, portanto, a situação não poderia piorar – , sua sorte desastrosa o havia surpreendido novamente, prendendo-os naquela cidade.

Seu olhar vagueou pelo terminal rodoviário, muito limpo e bem conservado. Talvez por que não houvesse viva alma ali, as cadeiras que serviam de acento aos passageiros que aguardavam o horário de embarque estavam bem limpas, não havia um grão de poeira sequer em qualquer uma delas. As paredes também estavam muito brancas e limpas, dando destaque a um grande cartaz com os horários especificados para a saída e chegada dos ônibus. Aproximando-se, correu os olhos pelos diferentes números impressos ali e procurou o primeiro horário de saída para Seul. Nem sequer se surpreendeu ao saber que aquilo só aconteceria dali a um par de horas, às quatro e meia da manhã.

— Ottoke, Choi Ma-Ru? — O pânico na voz de Eun Jae era nítido. O choque havia deixado seu rosto ainda mais pálido, sua expressão congelada exibindo um temor óbvio em seu olhar. — O que vamos fazer?

— Vamos pensar com calma. Não há como sair daqui essa noite, vamos para um hotel e amanhã retornamos. — Aceitando aquele fato como inevitável, Ma-Ru concluiu que aquela era a melhor atitude a tomar naquele momento. Ajeitando seu casaco grosso para enfrentar o frio noturno, aproximou-se de Eun Jae e segurou seu braço, tentando conduzi-la para fora do terminal.

— Ya! Michyeosseo? — Eun Jae colocou sua mão contra o braço dele, parando-o. — Você realmente ficou louco?

— Ya, Eun Jae! Não adianta agir assim! Vamos lidar com o que temos.

— Não é por que eu ache uma ideia ruim! Isso não é a América! Somos menores de idades, não podemos nos registrar em um hotel! E se chamarem a polícia e nossos familiares?

Ma-Ru finalmente pareceu entender o lado dela. Naquele país, a maioridade só acontecia com 21 anos, ambos eram menores de idade, certamente a policia seria chamada caso tentassem se registrar em algum hotel. Não podia sequer imaginar halmeoni indo para o distrito policial, fosse dia ou noite, quanto mais em uma cidade tão longe. Ainda que não conhecesse os tios de Eun Jae, esperava causar uma boa impressão caso chegasse a conhecê-los.

— Ottoke, Ma-Ru? — O tom de Eun Jae era baixo, era quase possível ler em seu rosto entristecido que ainda se culpava por aquilo. Condoído pelo remorso de sua amiga, Ma-Ru pousou sua mão contra o braço dela, tentando consolá-la.

Mas o que quer que fosse dizer a Eun Jae se perdeu no ar quando uma movimentação anormal no saguão do terminal rodoviário. Desviando sua atenção de Eun Jae, Ma-Ru notou uma senhora que falava rispidamente com dois ahjussis, vestidos em uniformes idênticos de seguranças. Estreitando os olhos na direção do trio, Ma-Ru reconheceu naquela senhora a figura da ahjumma atendente, agora usando roupas comuns em vez do uniforme de trabalho. O rapaz gelou ao ver que a ahjumma apontava na direção do guichê, como se tentasse convencê-los a acompanhá-la.

Sua mente funcionou depressa, tentando salvar Eun Jae e a si mesmo. Seria realmente o fim da linha caso fossem apanhados. Os dedos de Ma-Ru se fecharam contra o pulso fino de sua amiga, puxando-a depressa na direção da saída.

— Ya! Mueos? O que foi isso?

Ignorando a resposta que ela merecia, – e que naquele momento não tinha condições nenhuma de responder – , Ma-Ru puxou-a novamente em direção ao escuro. Não tinha ideia de onde estavam indo, sua única intenção era a de por o máximo de distância possível entre eles e os guardas que ladeavam a ahjumma. Felizmente, Eun Jae confiava plenamente nele e havia aceitado resolver as coisas em outro momento, cooperando com ele mesmo sem saber o motivo que o havia levado a fazer aquilo.

Mal a cauda de Nagoya tinha passado pela porta da saída e a voz rude da ahjumma chegou aos seus ouvidos. Maldita fosse! Havia dado queixa contra ele, que sequer havia feito algo errado! Tentando despistá-los, Ma-Ru mergulhou na escuridão da noite e caminhou um pouco mais depressa. Desacostumados à repentina falta de luz, seus olhos piscaram seguidamente, tentando se ajustar ao escuro e ao mesmo tempo achar algum abrigo que pudesse ocultá-los.

Lá fora, o clima estava bastante frio, porém suportável. Não era o ideal, mas não havia outra escolha melhor naquele momento. Só precisavam de um esconderijo até perto das quatro horas da manhã, quando o primeiro ônibus partiria para Seul. Não importava o que, prometeu a si mesmo que Eun Jae e ele estariam lá dentro quando aquilo acontecesse.

Margeando as paredes da rodoviária, virou à esquerda no estacionamento, conduzindo-a silenciosamente até o final do terminal. A calçada de cimento deu espaço a um chão fofo, parecendo estranhamente feita de terra. Um parquinho para crianças! A pequena área era uma pequena praça, e embora não tivesse saída, poderia muito bem servir como um esconderijo improvisado. Embora estivesse um pouco escuro, ainda podia ver que era tudo muito colorido e bem conservado. Meia dúzia de balanços feitos de pneus se enfileiravam à espera das crianças que vinham se divertir naquele local, seguido de um grande brinquedo para escaladas e mais alguns jogos comuns.

A um canto, um pouco mais afastado dos demais brinquedos, uma pequena construção elevada do chão se projetava contra a semi escuridão com contornos bastante sólidos, chamando sua atenção. Um playground! Há alguns anos não chegava perto de um daqueles, embora fosse sua atração favorita quando criança. A construção pintada de cores claras e infantis parecia ser bastante firme, projetando assim um ótimo esconderijo para ambos.

O grande brinquedo parecia com uma grande tubulação, toda colorida e com escorregadores de todos os tipos, para atender ao gosto das crianças. O maior deles tinha o formato de um tobogã, e a seu lado, havia uma escada de acesso à plataforma superior, onde uma pequena cabana servia de entretenimento principal para os pequenos, dando passagem aos demais escorregadores. Outro escorregador em formato espiral ficava ao lado de cordas de escalada, dando acesso a uma passagem inferior, para que as crianças pudessem brincassem sob a cabana do andar superior.

— O-Onde estamos? — Gaguejando, a voz de Eun Jae saiu baixa e ligeiramente ofegante. Ma-Ru podia sentir a pequena mão dela, tão delicada, estremecendo sob a sua própria.

— Um playground. Vamos nos esconder aqui, por enquanto. Suba, eu levo Nagoya.

Um tanto quanto relutante, colocou a mão dela no corrimão da escada, indicando o que ela deveria fazer. Por um momento, a garota se curvou na direção do cão, e em seguida, tateou os degraus da escadinha que levava ao nível superior. Com alguma dificuldade inicial, começou a subir, enquanto Ma-Ru segurava o cão em seus braços. Naquele momento, percebeu que ela tinha tirado a guia do cão, deixando-o livre do comando de guiá-la.

Pequenos fachos de luz iluminaram partes do parquinho não tão longe de onde Ma-Ru estava, indicando que os seguranças enviados pela ahjumma ainda estavam em sua perseguição. A voz esbaforida daquela ahjumma foi ficando cada vez mais alta, conforme se misturavam aos ruídos dos passos que se aproximavam daquele parquinho. Seu tom de voz soou irritante em seus ouvidos conforme ela despejava suas queixas contra os seguranças.

Depressa, Ma-Ru ergueu o cão em seus braços, levando-o junto consigo enquanto subia as escadas do escorregador. Já no alto, encolhida a um canto daquele esconderijo improvado, Eun Jae havia se sentado a um canto do brinquedo respirando profundamente, aliviada. Embora soubesse que fazer silêncio era absolutamente necessário, Ma-Ru se espantou ao ver que ela cobria seus lábios, rindo silenciosamente.

— Ya, Eun Jae! Ficou maluca? Por que está rindo desse jeito?

— Acho que desde que nos conhecemos, eu tive mais ação com você do que no resto da minha vida toda.

— É por que você me trouxe má sorte desde aquele dia.

— Como foi que você conseguiu assustar aquela ahjumma?

Aish, ela havia entendido as queixas da velha senhora para os guardas! Talvez até mesmo a parte onde a ahjumma dizia quase ter sofrido uma ameaça de morte de um jovem assustador. Levando a mão até sua cabeça, Ma-Ru coçou o couro cabeludo e torceu para que ela nunca viesse a descobrir que ele era um punk.

Eun Jae parecia sentir frio conforme seu corpo se acostumava ao esconderijo frio e Nagoya se juntou a ela, sentando-se protetoramente ao lado de sua dona. Retirando seu próprio casaco, Ma-Ru colocou-o sobre as pernas dela, improvisando um cobertor para cobri-la. Agradecida, a garota encolheu-se sob o tecido grosso, aquecendo-se. Desviando o olhar dela, Ma-Ru foi se sentar perto da porta, onde poderia olhar pela janelinha da cabana, à procura daquela ahjumma ou dos seguranças. Tudo parecia extremamente calmo e sossegado, as luzes das lanternas de momentos antes haviam sumido ao longe, bem como a voz dos policiais.

— Aquela senhora não devia estar em seus sentidos, só pareceu assustada ao me ver. — Deu de ombros ao responder daquela forma desinteressada quando, na verdade, queria mudar completamente de assunto.

Eun Jae apenas assentiu como se concordasse, mas ficou calada por um momento, parecendo bastante pensativa. Embora o preocupasse um pouco aquele repentino silêncio, hesitou em perguntar o que se passava em sua mente.

— Eu queria muito te ver também. — Ela quebrou o silêncio com aquele desejo, suspirando baixo. — Você me deixaria?

— Me ver? Como...? — Ainda que tivesse verbalizado a pergunta, ele pareceu ter falado consigo mesmo, perguntando-se como ela poderia vê-lo sendo uma deficiente visual.

— Tocar seu rosto.

Ma-Ru sentiu seu rosto esquentando com aquele pedido tão inesperado. Sentiu-se novamente como uma criança pequena, quando uma de suas tias apertou suas bochechas. Eun Jae conhecia o mundo pelo toque, aquele pedido realmente tinha sentido.

— Ya, Eun Jae... Não acho que seja uma boa ideia.

Novamente, a pequena cabana do playground voltou a mergulhar num silêncio repleto de pensamentos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Nagoya escolheu aquele momento para se mover novamente, indo para junto de sua dona.

Eun Jae evitou um novo suspiro, evitando que a atmosfera tensa do esconderijo piorasse. Queria muito saber como Ma-Ru era, não podia entender por que ele parecia ter tanto receio que ela o tocasse. Os comentários dos estudantes na escola voltaram à sua mente, falando da aparência assustadora. E para completar as peças daquele quebra-cabeça, a ahjumma que havia se assustado com Ma-Ru nesta noite. Sua única teoria era a de que ele tivesse muitas cicatrizes em seu rosto, o que fazia com que ele não se sentisse à vontade em ser tocado.

— Há quanto tempo você tem a companhia de Nagoya? — A voz de Ma-Ru ecoou ali perto, sua pergunta trazendo-a novamente para o momento presente.

— Quatro anos. Ele veio do Japão, foi treinado nesta cidade, por isso o chamei de Nagoya.

— Por que do Japão? Não se treinam cães-guia no nosso país?

— Cães-guia são raros em qualquer parte do mundo, Ma-Ru. Por isso Nagoya é tão especial... Ele não é só os meus olhos. Não é só um cão, mas um verdadeiro amigo. — Sua voz de tornou mais doce e carinhosa ao falar de seu companheiro daqueles últimos anos. — Ele pode parecer um pouco grande e assustador para algumas pessoas, mas na realidade, ele é só um cão que gosta de morder coisas, correr no parque e se sujar de lama. Realmente espero poder dar isso a ele depois da cirurgia.

— Cirurgia...? Você não me disse nada sobre isso.

— Em algumas semanas, vou fazer um procedimento cirúrgico. Não disse nada por que as chances não são muito favoráveis, mas... Se tudo der certo, eu vou poder te ver.

O rapaz não disse mais nada depois daquilo, ficando estranhamente silencioso. Eun Jae se obrigou a ficar silenciosa também, não querendo perturbá-lo, embora quisesse saber o motivo dele ter se calado.

Silencioso, o ar pareceu difícil de se respirar para Ma-Ru. Um punho de aço parecia apertar seu peito dolorosamente, trazendo-lhe dor. Eun Jae voltaria a enxergar, devia se sentir feliz por ela. Mas não. Se sentia angustiado e egoísta, com medo do que aconteceria. Voltando a enxergar, ela não haveria de ser amiga de um maldito punk que só causava confusões. Sua amizade estava com os dias contados.

Não havia muito que pudesse fazer, senão cuidar dela e garantir que estivesse bem até seu retorno para a escola, onde ela finalmente seria uma estudante comum e ninguém teria motivos para desprezá-la. Aceitando aquele fato, Ma-Ru se aproximou de sua amiga, ajoelhando-se diante dela.

— Ma-Ru? O que...? — Sentindo as vibrações na madeira, Eun Jae percebeu que ele havia mudado de posição e agora estava muito perto. Perto até demais... Tensa, Eun Jae engoliu em seco e também se ajoelhou, sentando-se sobre seus calcanhares, à espera de que ele se manifestasse.
Seus olhos se abriram em espanto quando a respiração dele, tão próxima, se misturou à dela como uma só.

Ao contrário da resposta que ela esperava, Ma-Ru continuou sem dizer uma palavra. Aquele silêncio opressivo e absoluto mexeu com os sentidos de Eun Jae, fazendo com que sua sensibilidade ficasse ainda mais aguçada. Ma-Ru levou suas mãos até as dela e fechou os dedos em volta dos delicados pulsos femininos, enlaçando-os. Suavemente, pousou as palmas das mãos dela contra seu rosto quente, deixando por fim que ela o conhecesse.


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Notas finais do capítulo

Ahjumma - Senhora
Ottoke - Expressão que significa "O que eu faço?"
Michyeosseo (미쳤어) Sonoridade "mitiossô", Uma expressão que significa algo como "Enlouqueceu?"
Halmoni - Avó
Ahjussi - Senhor
Aish - Expressão utilizada quando algo dá errado, algo como "Putz"
Mueos - Sonoridade "Weo", significa "O que?"



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