Kokoro escrita por Claire


Capítulo 8
A decisão da Universidade




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Por toda a semana eles se divertiram com a praia, os vendedores de sorvete que apareciam as vezes, as lojinhas do centro e a quantidade enorme de crianças que corriam por aí. May pegou um belo bronzeado e estava muito feliz por isso, enquanto Oliver só conseguiu ficar vermelho e ardido pela exposição ao sol. Rin, obviamente, não mudou nem um pouco de cor mas depois do terceiro dia passava mais tempo na sombra para evitar superaquecimento do sistema já que naquela época do ano o sol chegava a incríveis 45ºC. O mundo não era mais o mesmo desde que a camada de ozônio fora destruída e tiveram que inventar um novo elemento que simulasse as propriedades dele para colocar no lugar. Mais raios UV passavam para dentro da atmosfera, e com isso o câncer de pele se tornou o mais recorrente; a expectativa de vida diminuiu, crianças de 15 anos tinham permissão para se casar e construir família, tudo se adaptou a essa nova realidade.

Oliver se aproximou com um sorvete de chocolate derretendo na mão esquerda e chamou Rin para continuar andando. Ela esteve parada na frente da vitrine da loja de artigos de informática por mais tempo do que parecia ser normal e May já estava impaciente.

Rin você não pode mesmo comer? Não tem nenhum espaço oco aí dentro para receber comida? - May se abaixou e cutucou a barriga de Rin. Era surpreendente o quanto ela era normal ao toque…

Não, aí é onde fica meu HD.

Seu HD é na barriga? Sério? Por que não na cabeça? — Falou Oliver com um pouco de receio. Odiava imaginá-la como uma robô.

Na cabeça fica minha central de memória e o leitor de CD. Não sou anatomicamente correta, eu acho.

May sorriu e lambeu novamente seu sorvete de morango. Foi só no fim do dia que colocaram as coisas no carro e tomaram o longo caminho de volta para a casa. Demorou quase toda a madrugada e obviamente os adolescentes adormeceram no caminho: May encostada no ombro de Rin, e Oliver com a cabeça no vidro do carro.

 

 

— … E não tinha água quente! Imagina, como pode ainda existirem lugares que não tem água quente em pleno século 24?

Shiro estava super entusiasmado com as coisas que vira na casa de sua avó, mas só May parecia interessado em ouvir. Não que isso o impedisse de falar… Ele trouxera alguns presentes também: para May um cordão de prata com um pingente mostrando a águia símbolo dos EUA, que sua avó disse ser da época em que os Estados Unidos ainda eram a maior potência da terra; para Oliver um soco inglês com pedrinhas roxas em cima, algo não tão velho mas super legal na opinião dos meninos; e para Rin ele trouxe uma pulseira com várias bandeiras dos países da Europa, também antigo. Shiro e Oliver passaram muito tempo tentando identificar de que país era cada bandeira até que May perdesse a paciência. Agora ele tagarelava sobre histórias que sua avó contava e sobre o lugar onde ela morava, um dos poucos lugares na terra onde ainda existiam florestas e não as chaminés emissoras de oxigênio que dominavam as cidades.

 

 

Shiro manteve a turma ocupada as férias inteiras. O ano mudou, as aulas voltaram e logo outras férias passaram. Os anos passavam rápido para os garotos e nada mudava além do comprimento do cabelo de May. Kaito quase não via a luz do sol por passar seu tempo praticamente inteiro no laboratório, mas era reconfortante ter a presença de Rin e seus amigos alegrando a casa. Já era meados de setembro quando Kaito conseguiu sua audiência com o comitê de ética da universidade e estava super apreensivo. Ele arrumou Rin com as melhores roupas que ela tinha: um vestido de babados de cor rosa e um laço branco no cabelo curto. Ele mesmo se arrumou com um terno azul escuro e logo estava diante de seis senhores de quase sessenta anos que eram conhecidos por serem extremamente conservadores. Quando enfim seu nome foi chamado ele se levantou e levou Rin e um notebook para a mesa de exposição no centro da sala.

Senhores, me chamo Kaito e sou cientista especializado em desenvolvimento de robôs ultra realistas. Me apresento diante de vocês hoje pois tenho um projeto em andamento que precisa de votação para ser terminado, trata-se de um software de alta tecnologia que simula sensações e sentimentos humanos em robôs.

Um murmúrio passou pelos membros da diretoria da universidade que estavam presentes. Cerca de trinta vozes repetiam frases como “isso é um absurdo” e “robôs não poderiam sentir”. Kaito sentiu um arrepio percorrer seu corpo, afinal não estava pronto para explicar seus motivos, apenas precisava da aprovação daqueles velhos senis para realizar seu sonho. Até aquele momento a universidade bancara os custos de montagem e desenvolvimento de Rin, mas se discordassem daquele projeto certamente cortariam as verbas e Kaito não era tão rico a ponto de levar tudo adiante sozinho.

Explique-se, meu jovem, pois robôs com sentimentos é uma máxima bastante velha e já vimos que não dá certo. - Falou o senhor que se sentava a direita, um gordo de cabelos brancos com ar de entediado.

Pois bem. Eu fui capaz de desenvolver um hardware que leria com sucesso um programa como esse e já estou bastante adiantado na criação do programa em si. Acredito que com a ajuda dos senhores serei capaz de lançar este programa em dez ou doze anos no máximo. Consegui colocar os sentimentos humanos em forma de equações ao associar o hormônio que causa cada uma a uma fórmula matemática correspondente. Foi complexo, mas consegui. Vejam— E então virou o notebook para a mesa dos membros da bancada, que se inclinaram para olhar. Na tela haviam fórmulas de mais de vinte linhas cada uma, e cada uma delas vinha acompanhada de um sentimento. Kaito rolou a barra lateral até parar em uma fórmula que quase ocupava a tela inteira. Seu nome era “Amor” – Esta fórmula traduz em números a adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e as endorfinas responsáveis pelo amor. Quando meu hardware lê esta fórmula, estímulos parecidos com impulsos nervosos traduzem tudo em forma de sentimento. Vocês estão diante da possibilidade real de robôs com sentimentos humanos, senhores.

A plateia continuou com os sussurros, mas desta vez bem mais animados e interessados do que descrentes. Kaito respirou fundo aliviado por conseguir se explicar sem precisar dizer seus motivos para investir naquilo, e a bancada se reuniu para discutir algo. Um dos homens, um magro com poucos cabelos nas laterais da cabeça careca, voltou-se para ele e apontou Rin.

Esta moça, quem é?

Ela é Kagamine Rin. A única robô capaz de receber um programa dessa magnitude.

Ela já roda este programa?

Não, como informei ainda faltam detalhes a serem acertados. Em dez ou doze anos serei capaz de fazer demonstrações.

E a bancada novamente se virou para discutir se dariam ou não as verbas que Kaito precisava para continuar. Quando se viraram novamente com a decisão tomada, a resposta mudou a vida de Kaito.

 

 

Como eles puderam cortar meus fundos de pesquisa? Eu dei a eles uma oportunidade de ouro! Aqueles velhos… Grrrrr!

Kaito andava de um lado para o outro sem parar e já estava a ponto de furar o chão de tanto ódio que colocava nos passos. Rin permanecia em silêncio enquanto ele falava e falava sem parar e descontava sua raiva por ter tido seu sonho podado por um grupo de falsos moralistas. Como assim não era “humano” brincar com a vida? Como assim robôs não deveriam sentir? Ele só queria que Rin o amasse como ele a amava para então poder ser um pai de verdade para ela… Ah mas ele continuaria. Sozinho contra o mundo, ali naquele porão, ele continuaria a programar seu software até o fim. Mesmo que sem as verbas daqueles idiotas isso demorasse mil anos.


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Notas finais do capítulo

Então, como deu pra ver eu pulei quase um ano na história... Isso significa que Shiro, May e Rin estão no segundo ano e Oliver está no terceiro. A partir daqui vou pular muito tempo na história por que além de eu não querer deixar ela gigante, também tem o problema de que preciso passar para o final em breve. Também deu pra perceber que a terra tá uma merda né? Imagino que daqui é pra pior, então resolvi colocar um pouco das consequências dessa destruição da terra que vivemos hoje. Fica aí de aviso pra não destruírem tudo, por favor.



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