Kokoro escrita por Claire


Capítulo 5
Aula de Biologia


Notas iniciais do capítulo

Heh tô tentando, não vou abandonar de novo (eu espero), mas vou precisar de paciência ^^''



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468954/chapter/5

 

Uma festa! Isso é ótimo, precisamos comprar um vestido novo e ver o que fazer com seu cabelo, e te levar para fazer as unhas

 

Kaito tinha deixado a pilha de papéis rabiscados na escrivaninha quando Rin lhe falou sobre a festa que aconteceria em duas semanas para dar atenção aos preparativos. Não que Rin estivesse minimamente animada ou qualquer coisa já que suas expressões não retratavam o que ela sentia – afinal não sentia nada mesmo – mas Kaito estava tão animado que até a deixou um pouco alerta. Não parecia natural, mas ela sabia que era apenas mais uma coisa humana. Pelo que observara dos alunos, parecia que festas despertavam uma comoção exagerada.

 

… e temos que encomendar sapatos! Já decidiu qual cor vai usar no dia?

 

É uma festa natalina, suponho que vermelho seja conveniente.

 

A decoração vai ser vermelha e branca, você não quer ser confundida com a decoração. Natal tem bastante verde também.

 

O que achar melhor, Kaito.

 

E o professor sentiu uma pequena parte de si morrer com a falta de emoção dela. Não conseguia deixar de amá-la apesar de tudo e logo sua animação retornou. Ele conectou seu computador de mesa ao mecanismo de buscas que usava e começou a procurar vestidos, preços, sapatos… Parecia um amigo em vez de um pai naquele momento, e só então compreendeu que deveria estar com ciúmes de Oliver levando sua menininha para uma festa a noite. Era interessante que não conseguisse se sentir assim embora não conhecesse muito do caráter de Oliver… Mas afinal Rin não era uma menininha qualquer. Ele fechou o navegador depois de algum tempo e olhou para suas mãos. Ele ainda era jovem e já tinha conquistado tantas coisas… Tantas, e ainda estava tão longe da meta de sua vida. Suspirou com a súbita realização de que talvez Rin o houvesse salvo de sua infinita solidão, afinal ''nerds'' não eram populares entre as meninas. Ele não teria seus próprios filhos. Afastou essa ideia com rapidez a fim de tentar falar com Rin sobre suas preferências, mas ao se virar a robô não estava mais ali e sim na cozinha preparando café.

 

...

 

No dia seguinte na escola nada de novo foi ensinado a Rin nas aulas regulares. Já era o último horário e o professor de biologia explicava como dissecar uma rã enquanto Rin observava o pequeno anfíbio na bandeja prateada de forma apática. Seus olhos traçavam linhas perfeitas pela pele verde da criatura e apenas esperava que o professor desse autorização para começar quando percebeu pelo canto dos olhos uma irritada Lia observando-a.

 

As duas mantiveram contato visual por alguns segundos antes que Lia pegasse o bisturi e encostasse-o na rã, então Rin fez o mesmo. Elas ficaram assim por todo o resto da explicação e quando o professor enfim autorizou, os cortes de ambas foram precisos e rápidos. Rin mapeava o corpo da rã e calculava a força que precisaria empregar para não cortar seus órgãos, e Lia parecia completamente natural no que fazia: cortava a pele sem arranhar os órgãos, e em pouco tempo ambas estavam olhando para as entranhas do ser morto que tinham a frente. Ouviram alguém vomitar no fundo da sala mas não se viraram para ver. Ainda havia trabalho para fazer, e nenhuma das duas podia perder tempo. Foi quando May se inclinou por cima da rã de Rin.

 

Você é boa nisso Rin! Me ajuda com a minha?

 

Rin olhou para a rã de sua colega de laboratório e percebeu que ela tinha feito um pequeno corte em um dos órgãos do bicho, porém quando ia se mover para ajudá-la, May esbarrou em seu braço com mais força do que parecia ser possível e um coraçãozinho voou pela sala indo parar no meio do cabelo castanho escovado de Lia. Seus olhos, geralmente verdes, pareciam ter ficado vermelhos de ódio enquanto a sala inteira começava a rir. Lia se levantou com uma batida que assustou e calou a turma, então caminhou na direção de Rin e agarrou a rã da bandeja, espremendo-a no cabelo loiro da robô. Rin não esboçou reação alguma, mas May ficou tão surpresa que parecia compensar pelas duas. A sala rompeu em risos e pedaços de órgãos vermelhos desciam pelo cabelo de Rin que, sem dizer nada, apenas se levantou e começou a tirar os pedaços amassados da cabeça. Suas mãos ficaram cheias de sangue e fragmentos que ela esfregou pelo cabelo de Lia, para a surpresa de todos.

 

Já chega! Eu quero as duas na sala do diretor AGORA!

 

Lia ainda estava com ódio de Rin quando se sentaram na sala de espera sob os olhares assustados das pessoas que passavam por ali. Sentaram-se cuidadosamente longe uma da outra e nada falaram por alguns minutos, até que o choro baixo de Lia chamou a atenção de Rin.

 

O que foi Lia?

 

Nada que te interesse, nerd, fica quieta!

 

E Rin ficou quieta. Algo em sua programação dizia que ela devia tentar conversar com Lia e ajudá-la – Talvez fossem as noções de psicologia gravadas em seu HD – mas por outro lado Lia a odiava embora não houvesse motivo. Ela ficou parada por mais alguns minutos e Lia foi se acalmando até que finalmente seu choro sumira por completo e só seu rosto vermelho mostrava sua frustração.

 

Quer falar sobre isso?

 

Sobre o quê? O fato de que o diretor vai me expulsar da escola e meus pais vão me internar em algum colégio de freiras? Deve ser muito bom ser uma maldita geniazinha, mas eu não sou inteligente! Nem bonita, nem nada! Não tenho talentos, e agora vão me expulsar.

 

Não vão não. - Falou Rin após meio segundo de pausa. Lia olhou para ela com uma mistura de ódio e curiosidade, mas então a porta da sala do diretor se abriu e um homem alto fez um gesto para que as meninas entrassem.

 

Kiyoteru era diretor daquele colégio a quase quinze anos e conhecia cada canto daquele lugar. Sabia quem era de qual turma e podia dizer o nome de todos os 300 alunos sem gaguejar. Ele sabia quais eram os pontos fortes e fracos de seu corpo docente e se orgulhava de ter tudo sob seu controle, mas a visão de duas meninas ensanguentadas e cheias de vísceras no cabelo o surpreendeu. Mal conseguiu acreditar quando o professor de biologia lhe enviara os acontecidos da aula por e-mail, mas não é que era verdade? Agora haviam duas de suas alunas fedendo a sangue em seu escritório. Ele as fez sentar nas cadeiras de madeira em frente a mesa e se sentou em seguida, cruzou os braços e esperou. Eles sempre acabavam falando mais cedo ou mais tarde…

 

Senhor, creio que haja um engano aqui.— Rin começou a falar.

 

Tem sangue e pedaços de sapo no seu cabelo. Não tem engano algum.

 

Era uma Rã. Mas me refiro a ela. - E apontou para Lia – Ela não devia estar aqui. Eu joguei a rã na cabeça dela, eu fui a responsável por tudo isso. Ela apenas se defendeu.

 

Tanto Kiyoteru quanto Lia olharam surpresos para Rin, mas logo a surpresa deu espaço à compreensão. Os dois sabiam que ela estava encobrindo Lia, mas ninguém a corrigiu ou repreendeu. Ao contrário, Kiyoteru apenas mandou que Lia tomasse um banho e fosse para a aula, algo que indicava que apenas Rin estava em apuros ali. E Lia não conseguiu compreender o motivo dela ter feito aquilo. Assim que a adolescente saiu da sala o diretor voltou a falar.

 

Rin Kagamine, você não foi programada para mentir. O que de fato aconteceu?

 

Ela está preocupada com o futuro, não quer ser expulsa. Eu fui programada para ajudar.

 

É claro… Kiyoteru concordou com a cabeça, compreendendo subitamente que ela não havia falado para ninguém que era uma robô e portanto estava agindo como achava que os humanos agiam. Ele não podia culpá-la, mas também não podia ignorar seu comportamento.

 

Me conte por quê jogou o sapo nela.

 

Quando acidentalmente o coração da rã foi parar no cabelo dela, as pessoas riram. Achei que fosse algum tipo de piada e continuei. E era uma rã, não um sapo.

 

Que se dane o que era! Olha eu não sou completamente favorável a todo esse experimento que Kaito quer conduzir, você é auto didata, ok, mas não acho certo aprender na minha escola. Se não fosse a verba que ele deu para essa escola você seria expulsa agora mesmo! Em vez disso volte para a sala e se livre desse sangue de sapo antes.

 

Rin se levantou, inclinou-se e caminhou para a porta, mas antes de sair ela parou e se virou para Kiyoteru uma última vez.

 

É sangue de rã.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kokoro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.