Kokoro escrita por Claire


Capítulo 2
Fazendo Amigos


Notas iniciais do capítulo

esse capítulo foi praticamente todo só para introduzir os personagens principais da história. Espero que não tenha ficado muito longo nem muito curto.



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No primeiro dia em companhia da garota Kaito não sabia bem como agir... Tinha ansiado por aquilo, tinha preparado um quarto cheio de coisas “femininas” como ursinhos e bonecas mas ela, claro, não se interessava por nada daquilo. Ela fizera o café da manhã e limpara a casa inteira em apenas alguns minutos mas não era para isso que tinha sido feita e Kaito sabia que precisava mostrar o que queria. Afinal... Bem... Filhas precisam ser instruídas.

Escute Rin, você não precisa cozinhar ou limpar. Você é minha companhia entendeu?

Sim, mas minhas funções não foram bem programadas em meu disco rígido.

Falando em disco, tenho uma coisa pra você. Um presente.

A robozinha seguiu o professor até o laboratório que fora instalado no porão da casa onde ele morava e então esperou até que ele lhe entregasse um CD prateado. Sem esperar instrução, ela o enfiou na boca para que fosse lido.

É um software modelador de voz para que você seja capaz de cantar.

Instalação concluída com sucesso!

Eh... Rin... Se não for muito incômodo, será que você poderia usar linguagem humana? Você é tão perfeita, ficaria bastante estranho para quem não sabe que você é robô se acostumar com esse jeito de falar.

— ... Certo professor.

Me chame de Kaito. Ou papai.

Ela não respondeu, não sorriu, não demonstrou ter ouvido o que ele disse, apenas se virou e começou a subir as escadas. Ele a seguiu até a cozinha onde ela começou a servir o café e a partir daí a manhã seguiu completamente normal. Não era muito diferente ter a companhia dela ou de uma criança comum, a única coisa em que ela diferenciava das outras pessoas era em sua completa falta de emoção ou interesse pelas coisas, o que era normal visto que a peça chave daquele projeto ainda não estava concluído. Ele precisava primeiro apresentar seus planos ao comitê de ética para então poder trabalhar “dentro dos conformes”, mas esta parte não o preocupava.

O que de fato o preocupava era o ritmo em que esse último detalhe estava sendo feito. Ele começara a produzir o software bem antes de começar de fato a montar Rin e ainda assim seu trabalho não estava nem 1% pronto. Por hora ele teria que se acostumar com a ideia de só poder dar à Rin o que ele mais queria que ela tivesse dali a alguns anos... E para poder trabalhar sem aborrecer a robô ele tinha feito o modelador de voz, assim ela poderia fazer amigos lá fora e então passar seu tempo.

Ele sabia que ela não era humana mas não conseguia deixar de pensar nela como uma filha. E queria o melhor para sua filha, mesmo que fosse um CD prateado com um programa simples em vez de maquiagem e bolsas como as meninas da “idade” dela geralmente ganhavam.

Rin? Venha aqui um minuto?

Sim Kaito? — A robô não estava muito longe do laboratório quando fora chamada e então pode chegar na porta em pouquíssimo tempo, o que surpreendeu o cientista.

Eh... Eu tenho trabalho para fazer, será que você não quer ir para a praça um pouco? Tem várias pessoas lá fora, tenho certeza de que elas vão gostar de te ouvir cantar... Você canta tão bem...

Sim claro. Devo interagir com as pessoas?

Se você quiser, claro. Mas procure não voltar depois das 9 da noite ok?

Ok.

Rin deu meia volta e foi até a entrada de casa onde um par de botas de cano alto esperavam por ela. Calçou as botas e vestiu o sobretudo negro com detalhes triangulares amarelos antes de sair para o sol de 30°C que fazia naquele dia de maio. Ela não sentia frio ou calor mas os conhecimentos gerais em moda que tinha lhes dizia que aquela era uma boa combinação.

Na praça várias crianças corriam de um lado para o outro ou se balançavam nos brinquedos de madeira mais ao fundo enquanto pais despreocupados conversavam, e as poucas pessoas de idade semelhante à que ela aparentavam ter se dividido em grupos que conversavam nos bancos. Ela pesquisou rapidamente em seu banco de dados como interagir com outras pessoas, mas diante dos resultados ambíguos preferiu se sentar em baixo de uma árvore e fazer aquilo que Kaito lhe disse para fazer: cantar.

E ela era muito boa cantando... Sua voz de anjo ecoou pelo local chamando a atenção de crianças e adultos que pararam para ouvir sem saber por quê. Três dos garotos que conversavam em uma mesa se aproximaram mais para apreciar e logo ela estava cercada de crianças. Quando a música terminou já havia uma plateia aos seus pés.

Moçaaaaa você canta muito bem! — Disse uma das crianças menores.

Você é cantora, menina? Qual seu nome? — Complementou uma segunda que não devia ter mais que 6 anos.

Meu nome é Rin e não sou cantora... Sou um sistema de companhia doméstica.

Ah... Então ela era um robô. A maior parte dos adultos desencantou-se com a garota naquele momento, visto que não era raro um robô com voz tão linda aparecer em público para “divertir” os humanos. Logo ela estava quase a sós com os três adolescentes de antes: dois meninos e uma menina. A menina tinha cabelo castanho e olhos cor de mel, pele pálida cheia de sardas e aparência muito amigável; um dos meninos, o maior deles, era loiro dos olhos verdes e o mais baixo tinha a pele mais escura entre eles embora não fosse negro, olhos verdes e cabelo preto. Eram todos bonitos para Rin segundo os padrões de beleza da época.

Oi bee-bop! — Falou o mais baixo.

Para Shiro! Que mania feia essa sua... — A menina logo deu um pequeno tapa na cabeça do tal Shiro, que sorriu diante do gesto.

Por que me chamou assim? — Rin perguntou em voz sem entonação, o que evidenciou ainda mais seu status de robô.

Por que é esse o barulho que os robôs fazem! Hahahahaha boo-bep boo-bep boo-bep aaaaww! Cantou o Moreno.

Não reconheço essa música.

Está tudo bem, ele só está brincando com você. Meu nome é May, o piadista é o Shiro e esse cara aqui se chama Oliver. Somos da mesma classe no colégio... Nunca tinha visto você, é nova aqui?

Meu criador me iniciou ontem.

Nunca vou me acostumar com esses robôs realistas... — Disse Oliver enquanto afastava um pouco do cabelo loiro dos olhos. — A gente anda pela rua e nem desconfia que 10% da população é composta de robôs “camuflados”.

Eu até me acostumei, demorei algum tempo pra perceber que a May não era uma dessas IA* hahahahaha — Shiro novamente levou um tapinha na cabeça e Rin ficou apenas olhando por um tempo.

Qual o propósito de bater na cabeça dele? Bios não sofrem travamento de sistema.

Não, isso é só uma forma de mostrar que... que... bom... é um jeito humano de dizer “você é um idiota”, se é que me entende.

Entendi. Interessante...

Você não fala como uma IA. — O loiro era o mais desconfiado entre os três, mas ainda assim apresentava um sorriso cordial quando falava.

O professor pediu que eu minimizasse as expressões técnicas para me aproximar mais dos humanos.

E esse “professor”, ele te deu qual missão? — May passou uma mecha do cabelo para trás da orelha direita enquanto falava. Era comum entre os robôs de companhia terem uma “missão” específica. A de alguns era manter a casa em ordem, que eram usados mais por jovens descuidados ou universitários ricos, outros deviam fazer a segurança da casa, ou até mesmo pesquisas ou trabalho pesado, então seria normal que Rin também tivesse uma designação.

Na verdade ele ainda não me falou qual era meu propósito. Ele apenas disse que não preciso limpar nem cozinhar, depois me mandou vir para fora e cantar...

Talvez essa seja sua missão. Entretenimento.

Pensando por este ângulo tudo fazia sentido, afinal robôs que serviam para distrair as pessoas não eram incumbidos de trabalhos domésticos mesmo. Dando por encerrado o assunto ‘missão’ os três passaram a incluir Rin em assuntos menos mecânicos. Cada um se apresentou dizendo o que gostava mais de comer, cor preferida e coisas assim e em pouco tempo ela era parte do grupo mesmo sem ter uma cor ou comida preferida. E o tempo passou tão rápido que por pouco Rin não perdeu o horário de chegar em casa.


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Notas finais do capítulo

* IA = Inteligência Artificial. Pois é, roubei do filme xD



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