Kokoro escrita por Claire


Capítulo 13
Quinze Primaveras




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Rin você acha que o Kaito vai vir pra festa de aniversário das meninas?

May estava terminando de recortar a última letra do “Parabéns meninas” enquanto Rin recortava o letreiro de “15 primaveras” na mesa da cozinha. Bianca e Laura estavam no colégio e elas aproveitavam o tempo sozinhas para adiantar os preparativos da festa, mas May tinha mais preocupações em mente do que o baile que daria no fim de semana. Kaito não saía mais do laboratório e ela realmente queria que ele estivesse presente naquela noite; ficar o tempo inteiro na frente de uma tela não era saudável… Rin terminou de cortar uma letra S e se virou para ela.

Não posso garantir, ele me pediu para fazer dois litros de café hoje. A linha de progressão sugere que eu tenha que fazer dois litros e 600ml no sábado.

Hã? Ah eu não entendo nada do que você fala as vezes sabia?

Disse que não sei se ele vai querer sair de lá.

Ah… Mas… Já faz anos

Rin concordou. Exatos vinte e quatro anos. Em breve May faria quarenta e Rin continuava com a aparência de quatorze. As pessoas achavam que ela era uma das filhas de May quando andavam juntas e isso incomodava-a bastante, mas não havia o que fazer quanto a isso. Rin se tornara a única que lhe lembrava dos tempos de escola e May gostava de tê-la por perto. As meninas também gostavam da tia Rin e contavam seus segredos para ela sabendo que ela jamais contaria para a mãe se assim pedissem. A casa de Rin estava se tornando quase como a casa dela própria àquela altura.

Quando voltou para casa, Kaito estava deitado no sofá da sala dormindo. Era a primeira vez que ela o via dormir deitado e não sentado na cadeira do escritório como sempre, e por falta de certeza se o veria fazer aquilo novamente, ela parou e apenas ficou ali observando-o. O dia escureceu e ela não havia se movido, apenas ficou ali observando o modo como sua camisa subia e descia com o ritmo da respiração profunda dele, e o jeito como seu rosto mudava de expressão as vezes. Kaito acordou assustado olhando para os lados e quando percebeu a presença da robozinha sua expressão suavizou e ele sorriu.

Bom dia

Boa noite Kaito. Quer algo para comer?

Hmm… Não… Vou tirar a noite de folga, então quer ir ao cinema?

Se for o que você quer fico feliz em acompanhar.

Kaito sorriu de forma cansada enquanto olhava para ela. Já não era mais um menino… Haviam cabelos brancos em sua cabeça e rugas em seu rosto. Ele não era assim tão velho mas anos encurvado em frente a um computador afetaram sua coluna, e seu rosto pálido denunciava a falta de sol. Ele se arrumou rapidamente e logo estavam tomando o caminho de um antigo parque de diversões. Kaito não quis ir ao cinema então resolveu levá-la para andar na montanha russa, mas ao chegar lá os brinquedos estavam desativados e nenhuma alma viva era vista. Ele ficou ali parado por alguns poucos minutos até que começou a andar de novo.

Eu não entendo… Este parque era o mais movimentado da cidade

Ele foi desativado dez anos atrás, Kaito, quando uma menina morreu ao cair da montanha russa.

Kaito concordou com a cabeça mas não conseguia entender como ele perdera algo assim. Pensando bem, ele não sabia nada do mundo exterior a anos… Era um milagre que ainda se lembrasse onde ficava a pizzaria que mais gostava. Eles pediram uma pizza pequena e começaram a conversar, no que Rin deixou-o inteirado dos eventos das últimas duas décadas. Para ele não foi surpresa saber que as últimas árvores do Japão haviam sido derrubadas e que agora havia uma taxa para o uso de chaminés de oxigênio. Surpreendeu-o saber da idade das gêmeas, afinal lembrava-se delas bem pequenas e não percebera que já tinha passado tanto tempo. Rin lhe falou do aniversário delas e perguntou se ele iria, mas ele não planejava descansar de novo por mais alguns meses e recusou o convite. Estava muito perto de terminar o programa… Era uma realidade agora, ele não podia parar. Rin disse que avisaria May e a conversa passou para coisas variadas enquanto a pizza esfriava intocada na mesa.

 

(…)

 

Fiquem ali para as fotos! Não, ali perto do arco primeiro!

May segurava a câmera com uma mão e apontava para um arco enorme de balões furta-cor perto da entrada. Laura desfilou seu vestido azul estilo princesa até lá e parou fazendo poses enquanto Bianca ajeitava o vestido tubinho verde que vestia. Bianca era mais parecida com a mãe quando se tratava de personalidade: animada, exibida, tinha orgulho de seu corpo e adorava valorizá-lo com peças coladas exatamente como a mãe quando tinha a idade dela, já Laura era mais menininha e preferia estudar a ir para as festas com a irmã, embora fosse igualmente animada. Eram uma figura as duas juntas… Sempre animavam as pessoas a sua volta e eram muito queridas. A festa estava lotada, visto que elas eram muito populares no colégio, e vários adolescentes arrumados zanzavam por ali. Rin estava linda com o cabelo preso para trás e um vestido solto marrom. A maioria das pessoas trouxeram presentes para as aniversariantes e elas até mesmo tinham pares para dançar a tradicional valsa da meia noite, algo que embora estivesse fora de moda a séculos ambas quiseram reviver ao menos por uma noite.

Não era muito mais do que três da manhã quando os convidados começaram a voltar para casa e Rin decidiu ir junto apesar do convite para dormir ali que recebera. Era de praxe que as aniversariantes passassem a noite fora e um grupo bem grande iria com elas para uma boate em breve, e Rin preferiu deixar May e seu marido sozinhos um pouco. Ela chegou em casa às quatro e meia e encontrou Kaito ainda acordado em frente ao computador, porém ele não trabalhava mais vigorosamente como antes. Ela estranhou o fato e foi verificar, encontrando-o lendo o código de mais de 2 mil páginas que escrevera.

Algo errado Kaito?

Hã? Não, nada… Só estou revisando o código de novo. Falta menos de uma página agora mas creio que este programa seja muito pesado para você rodar, pode ser que isso lhe cause uma sobrecarga de sistema e você deixe de funcionar… Preciso descobrir se tenho como mudar isso.

Ela não falou nada, apenas foi para a cozinha e preparou café. Embora não compreendesse exatamente o que aquele programa faria, imaginava todos os prós e os contras de tentar rodá-lo. Certamente Kaito a concertaria se o programa queimasse seu processador, mas não iria tentar fazer isso a menos que Kaito estivesse certo de que ela poderia. É. Assim era melhor.


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