Kokoro escrita por Claire


Capítulo 12
Amizades Quebradas


Notas iniciais do capítulo

Ok eu tinha começado a gostar da Lia, mas depois desse capítulo voltei a odiá-la. É, eu crio laços com os personagens que escrevo. Prometo procurar um psiquiatra depois xD



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O tempo estava muito agradável considerando que era final de ano. As pessoas faziam planos, os animais brincavam ao ar livre enquanto o ar não esfriava muito e a maioria dos alunos em férias se preocupavam unicamente em esquecer que deveriam retomar as aulas no ano seguinte. Oliver, no entanto, estava mais preocupado em não levar uma surra de sua mãe naquele momento. Certo, ele tinha se graduado com méritos no ensino médio e certo, ele era um ótimo filho que se mantinha longe de problemas, mas o fato dele andar com uma robô e ainda levá-la ao baile ia contra tudo o que sua mãe acreditava. Era uma mulher tradicional que discordava da visão do marido de que esses robôs eram interessantes. Ela considerava a tentativa dos engenheiros de criar algo parecido com um ser humano algo completamente anti ético, estranho e inaceitável. Previa o dia em que esses “demônios disfarçados” iriam se rebelar contra os humanos e queria manter o filho longe deles, então era de se esperar que a ligação de uma Lia preocupadíssima com a segurança de Oliver a levasse a querer espancar o filho. Talvez ela tivesse feito exatamente isso se não houvesse seu marido para lhe segurar.

 

(…)

 

Estavam na praça May e Rin, a mesma praça onde se conheceram no primeiro ano, ainda que estivessem sem o resto da turma. As crianças brincavam como de costume, Rin cantava como de costume, mas nada era como deveria ser. Shiro cortou contato completamente com as meninas depois que sua namorada – Uma tal de Marisa – começou a dar ataques de ciúmes quando ele mencionava o nome delas. Oliver não ia mais para a escola já que se formara e as férias já tinham acabado a dois meses, então eram quase 5 meses sem ver o rosto de Oliver. May sabia que nem mesmo ela iria permanecer ali por muito tempo já que sua mãe cada vez mais afundava a menina em cursos extracurriculares, preocupada que as notas dela não fossem o suficiente para arrumá-la um bom emprego, e em breve ela teria menos tempo ainda. Rin terminou uma canção linda e algumas crianças bateram palmas enquanto os adultos sorriam para ela.

 

Tenho saudades do Oliver.

 

Posso compreender este sentimento. - Rin rapidamente estabeleceu um paralelo entre o tempo de ausência do garoto e a proximidade que os dois tinham antes. Mesmo que Rin houvesse constatado que a amizade entre eles estava enfraquecida, preferiu não falar.

 

É… Devíamos ir lá na casa dele.

 

Se você quiser.

 

May se animou na hora. As duas se levantaram e pegaram o caminho para a casa de Oliver, mas tão logo chegaram o encontraram colocando malas dentro do carro do pai. O menino tinha os olhos brilhantes de tanto segurar as lágrimas, mas May não era tão forte quanto ele. Ela sabia o que estava acontecendo… Todo aquele movimento de entra e sai da casa, a quantidade de malas, o caminhão parado na porta com móveis dentro. Ele estava indo embora e não planejava se despedir antes. As duas pararam na porta e quando Oliver saiu, May se jogou em cima dele.

 

Por que Oliver? Por que não me falou nada?

 

Minha mãe não deixou eu sair de casa nem telefonar… Desculpa May.

 

OLIVER! SE AFASTE DESSA CYBORG AGORA!

 

O grito inesperado fez May pular para trás e olhar na direção da voz. Uma senhora de cabelos loiros mantinha o olhar furioso em Rin e vinha com a velocidade de uma flecha. Ela puxou Oliver pelo pulso para dentro de casa e apontou o longo dedo acusador para uma Rin impassível.

 

Você, criatura profana, não vai chegar perto do meu filho nunca mais, entendeu? Suma daqui antes que eu te jogue água!

 

Meu revestimento é a prova d'água, senhora.

 

Você… Você

 

Ela olhou com raiva para Oliver e ele quase não conseguiu segurar mais as lágrimas. May permanecia quieta e perplexa com a reação da mulher. A conhecia a anos e nunca imaginara que ela nutria ódio por robôs… Oliver apenas deu outro abraço em May e, aproveitando que estava com o rosto escondido do olhar da mãe, pediu desculpas a Rin com uma expressão de sofrimento digna de partir o coração de qualquer um, e para piorar ainda mais a cena, um “eu te amo” mudo ficou gravado no HD de Rin. Ele se afastou e pediu delicadamente que as duas saíssem dali, mas May sabia que ele apenas não queria que a mãe fizesse uma cena por causa de Rin. Então elas saíram… E nunca mais viram Oliver enquanto viveram.

 

(…)

 

De fato o tempo passou rápido enquanto a bomba não explodiu. Eram meados de março quando os alunos se revoltaram com a presença de Rin, agora que descobriram que ela era um robô, e demorou cerca de um mês e meio para a pressão chegar ao ápice e o diretor Kiyoteru ser forçado a expulsá-la. Lia sentia-se completamente vitoriosa. Se ela não poderia ficar com Oliver, tão pouco essa geniazinha robótica poderia. Em casa Rin não tinha muito o que fazer: preparava comida para Kaito, limpava a casa inteira (que estava abandonada já que Kaito não saía do laboratório e ela passava pouco tempo ali antes) e lia várias e várias vezes os livros de engenharia e física que Kaito mantinha na estante. Tentou ver TV algumas vezes mas não encontrava a graça dos programas exibidos, e não adquiria novos conhecimentos portanto desistiu do aparelho e se concentrou em ser útil.

 

E assim as estações chegaram e passaram, e a única que ela via era May nos raros sábados em que ela tinha tempo livre. E May se formou e conseguiu um emprego em uma loja de esportes, e conheceu um rapaz que foi apresentado meses depois como seu namorado. E foram anos e anos, May ficou noiva e se casou. E nesse tempo todo Kaito saíra com Rin para a praça apenas quatro vezes. Sendo uma robô ela não ficava entediada, nem triste, nem ressentida com o fato de estar presa naquela casa a maior parte do tempo. Ao menos a casa estava limpa e Kaito se alimentava graças a ela… Ás vezes ela levava sorvete para ele quando fazia as compras mensais e ele parava de digitar para se sentar à mesa e ter uma refeição normal com Rin, e nessas ocasiões Kaito se sentia muito revigorado e seu amor por Rin só crescia. Ela passou a ajudá-lo no laboratório e juntos eles fizeram um grande avanço…

 

May já estava casada a quase cinco anos quando as gêmeas nasceram. Laura e Bianca, duas meninas lindas de cabelo castanho e olhos verdes como os do pai, herdaram mais traços da mãe e adoravam Rin. A robô passava horas na casa de May ajudando-a com as meninas e cantando para elas, no fim as gêmeas já tinham sete anos e consideravam Rin uma tia, ou prima por sua aparência. Pediam conselhos de roupas e penteados e passeavam no parque juntas como se fossem mesmo uma família. May adorava a presença de Rin mas se sentia triste, pois sabia que Rin não amava ninguém. Era estranho ver as filhas gostarem tanto de alguém que era incapaz de retribuir.

 

Tia Rin, você não pode nem tomar sorvete?

 

Não tenho reservatório interno, Laura.

 

Mas tia… É tão gostoso! - Completou Bianca enquanto dava mais uma bocada no sorvete de menta com flocos de chocolate.

 

Não duvido de vocês. May diz que tem ótimo gosto para as coisas.

 

Bianca sorriu com o elogio e apontou para a entrada do cinema. Rin se dispôs a levar as meninas para um passeio enquanto May e seu marido tiravam o dia de folga juntos, e as meninas foram impassíveis na escolha do programa: queriam ver um holograma. Os filmes avançaram muito com os anos e a tecnologia 3D tornou possível filmes interativos, com hologramas caminhando entre as poltronas e tudo mais. As gêmeas adoravam o cinema. O filme era um desenho engraçado sobre os tempos antigos, nada exatamente preciso do ponto de vista histórico mas bem divertido de assistir. Passaram o dia no shopping vendo filmes e comendo porcaria, e para as gêmeas foi um dos melhores programas já feitos com a adoravelmente mecânica “tia Rin”.


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Notas finais do capítulo

Eu pulei uns bons anos dessa vez... Foi triste para mim escrever isso, principalmente a partida do Oliver =/ Gosto dele... Gosto dele gostar da Rin...



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