True Colors escrita por With


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores, tudo bem?
Trago mais um capítulo de "True Colors", espero que gostem.
Se as palavras estiverem unidas, por favor, me avisem.
Boa leitura a todos!



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True Colors

Capítulo 4

E eu vejo suas cores reais

Brilhando por dentro.

Eu vejo suas cores reais

E é por isso que eu te amo.

Então não tenha medo de deixá-las aparecerem,

Suas cores reais.

Cores reais são lindas

Como um arco-íris...

A estrada encontrava-se molhada da recente chuva, porém House pilotava a moto com Sandra à garupa como se apenas ele estivesse sobre o veículo. Ele gostava de motos, traziam-lhe uma sensação de jovialidade e liberdade. Os braços de Sandra se fechavam em torno de sua cintura, passando além de insegurança um calor confortável. Era notável o medo dela, pois cada vez que fazia uma curva o enlace se fortalecia. Havia um sorriso em seus lábios, um tanto debochado por sinal, entretanto altamente compreensível — algo raro tratando-se de Gregory House, o homem mais incompreensível da face da Terra.

Seguia agora o endereço que Sandra lhe dera. Um bairro bem acomodado da cidade de Princeton, de casas e prédios bonitos e bem cuidados. Contudo, não era exatamente isso que chamava a atenção de House e sim o fato de ter, talvez, ficado maluco quando pediu a Cuddy que lhe deixasse responsável por uma mulher que nem ao menos conhecia mais do que o nome. Ele não ligava para os seus pacientes, evidentemente confirmado, então o que aquela mulher tinha para fazê-lo agir impulsivamente? Parecia que a personalidade passional de James Wilson, seu melhor amigo, o influenciara. Totalmente descabido a atitude que tomara.

Todavia, não podia negar que seria interessante ter a convivência estreitada com Sandra. O caso dela poderia não ser o mais estimulante, no entanto House se conhecia o suficiente para admitir uma atração física. Sandra era uma mulher bonita, independente e até de sua preferência, portanto seria errado pensar que em uma “má” sorte pudesse ser o marido que ela tanto alegava o ser? Apesar de ter prometido, mesmo que sem palavras, a Lisa Cuddy que seria extremamente ético e profissional, duas pessoas do sexo oposto tendem a elevar situações.

— É aqui. — Sandra informou ao passarem por uma casa de enorme jardim, rondando a casa pintada de pêssego. Esperou que House estacionasse para que pudesse descer da moto. — Vamos entrar, pode deixar a moto na garagem. — Ela apressou-se em abrir os portões, permitindo que o médico adentrasse. — Pode seguir sem mim, tenho que checar a situação de Pandora.

— Não vá dizer que é um bebê. — House sentiu todo o seu corpo reagir nervosamente à possível expectativa. Como se respondendo seu medo, ele escutou um latido vindo dos fundos da casa.

— Pandora não é uma pessoa, é um pastor-alemão muito dócil e que acabou de ser mãe. Ela só está agitada porque eu trouxe você para casa. — Ela explicou, percebendo que a expressão do médico mudara. — Não se preocupe, ela não é curiosa e sua moto vai estar intacta ao amanhecer. Você deveria se lembrar disso.

— Deveria? — House interrogou-se e guardou silêncio após, enquanto a mulher lhe entregava a bolsa e rumava para os fundos da casa. O latido se intensificou e ele optou por esconder sua moto na garagem.

Como tivera livre acesso a casa, após acomodar o veículo ao lado de uma bicicleta, House adentrou o imóvel, sendo recebido por uma sala aconchegante, de paredes claras e aroma de flores. Observou os quadros nas paredes, todos mostrando paisagens calmas e simples, embora o estranho fato de não ter encontrado nenhum porta-retrato com fotos da família o fez franzir o cenho. Pelo pouco que conseguira captar de Sandra, imaginou que ela guardasse pedaços do passado e épocas especiais.

— Desculpe a demora, já está tudo certo. — Sandra sorriu ao encontrá-lo, apossando-se de sua bolsa. Fez menção em continuar o que tinha em mente, porém ela retornou alguns passos como se finalmente tivesse obtido coragem para prosseguir. Aproximou-se de House sorrindo, e mesmo de salto ela precisou se sustentar na ponta dos pés para alcançar-lhe os lábios.

A primeira reação de House foi de surpresa, após que em um dado momento circundou a cintura feminina, dando-lhe apoio. Seu corpo encostou-se ao corpo de Sandra, que imediatamente aprofundou o que era apenas um leve roçar de lábios. Sujeito a decisões, House achou melhor correspondê-la. Entreabriu os lábios, tornando o beijo completo. Apesar das dificuldades em domar as próprias ações, nenhum dos dois estava realmente preocupado com aquilo. Entretanto, algo sim se atentava ao detalhe de que beijava um homem desconhecido, algo que era imagem de racionalidade e inteligência: O cérebro.

Como se tivesse recebido um choque, Sandra rompeu o contato e distanciou-se de House, extremamente constrangida, o rosto ruborizado como o de uma adolescente em paquera. Ela observava House com descrença e suspeita. Sim, lembrava-se de que concordara que ele a trouxesse para casa, mas não imaginou acabar se descontrolando na presença dele. Sempre fora uma pessoa contida, de jeitos corteses, então por que agira tão impulsivamente?

— Desculpe, eu não sei o que deu em mim. — Sandra iniciou nervosa, pois os olhos extremamente azuis do médico a desafiavam em um deboche guardado. — Sinto muito, isso não vai se repetir. — Os cabelos cor de fogo agitaram-se aos passos apressados que ela caminhava, confusamente sem jeito. Havia alguma coisa de errado com ela.

O telefone tocou, fazendo-a sobressaltar de susto. Voltou para a sala e levou o aparelho a orelha com mão trêmula. A presença de House restringiatodos os seus movimentos naturais.

“Onde você estava?” A voz de Daniel ecoava grossa e impaciente. “Estou te ligando desde as oito!”

— Você não precisa saber da minha vida. Já passou pela sua cabeça que talvez eu não quisesse te atender? — Sandra soou ríspida, entregando-se a irritação que facilmente Daniel lhe despertara.

“Não é necessário tanta descortesia. Sabe qual é a solução para esse seu mau humor? Uma boa transa e estou disponível, se quiser.” Cafajestemente ele ofereceu-se, porém a mulher desligou o telefone antes que o mandasse para caminhos desagradáveis.

Bufando de raiva, ela retornou a cozinha. Iria preparar algo para comerem. Cozinhar sempre a acalmava e naquele momento tudo o que precisava era de tranquilidade. Já bastava suas preocupações com House, teria que adicionar Daniel a lista também? Decidiu preparar fricassé, simples e prático, talvez o médico não gostasse, mas não importava.

— Essa mudança de comportamento pode ser um sintoma. — House pronunciou-se, vendo que ela se encolhera a sua voz. — Ou isso apenas se deve a falta de sexo.

— Não sei qual dos dois é mais irritante: Daniel ou você. — Ela replicou nervosa, cortando os ingredientes com certa rudeza.

— Provavelmente sou eu, já que sou mais charmoso. Pela sua irritação, diria que eu acertei. — House sentou-se a mesa, pouco se importando se a dona da casa estivesse manejando uma faca. — Mas não se preocupe, você terá alguns dias de folga.

— Não entendi... — Sandra virou-se para o médico, exigindo respostas. — Espere... Está dizendo que não poderei ir trabalhar? Eu não posso simplesmente ligar para o meu chefe e dizer que estou doente, isso porque não estou!

— Eu mando um bilhetinho. — House lançou-lhe uma piscadela. — Sua doença está se agravando e as alucinações serão mais frequentes. — Deixar o paciente a par da própria situação, mesmo sob acordo, era desgastante para ele. — Se quiser voltar a ter uma vida normal, terá que confiar em mim.

— Sei que os exames não confirmaram nada, Cameron me mostrou. Eu prefiro acreditar em um papel a aceitar suas palavras.

— Exames mentem.

— Pessoas também. — Sandra calou-se, percebendo que o dissera abria mil portas para que House criasse mais piadinhas irônicas. Voltou-se ao jantar, sabia que perderia qualquer discussão que formasse com o médico. — E no momento eu não acredito em você.

— Quer provas? — House sorriu ao ver as sobrancelhas finas se erguerem. — Posso muito bem provar que você é uma louca e que acha que sou seu marido. Apesar de a ideia me agradar muito...

— Vá embora, House. Não vai me ofender na minha casa. — Sandra ralhou, porém como resposta, o médico a desafiou colocando os pés sobre a mesa.

— Somos casados, então esta casa também é minha. — Abriu o frasco de Vicodin e ingeriu alguns comprimidos. — Bem vinda ao matrimônio, querida.

Se não fosse educada, Sandra teria acertado-lhe um tapa naquele mesmo instante. No entanto, o máximo que sua raiva lhe permitia fazer era engolir os impropérios e voltar a preparar o jantar. Os movimentos eram pesados, causando barulho ao chocar a faca contra os ingredientes. Colocou o frango já limpo para cozinhar e enquanto esperava retirou os pés de House de cima da mesa com um safanão.

— Não abuse da minha paciência. Vigie as panelas, eu vou tomar um banho.

— Eu também vou. Você pode precisar de ajuda para lavar as costas... — House sugeriu, erguendo-se.

— É bom que não chegue perto de mim, House, ou corto seu pênis. — Ela sorriu falsamente antes de deixá-lo sozinho no cômodo.

Minutos mais tarde, vestida em um roupão macio, Sandra adentrou a cozinha com uma das mãos a massagear a têmpora. A dor de cabeça repentina pegara-a durante o banho, talvez pudesse ser uma reação por todos os problemas que vinha tendo em sua vida. Não se lembrava do verdadeiro motivo de ter convidado House a vir a sua casa, entretanto não era apenas isso. Era como se uma parte de seu dia tivesse sido apagado.

Notou que agora House havia abandonado o cômodo e uma música fina saía do piano em sua sala. Sandra nunca teve tempo suficiente para se dedicar a uma das suas poucas paixões, contudo escutar as notas subindo gradativamente preencheu-a de calmaria. A canção era bonita, ao mesmo tempo alegre e melancólica. Teve ímpetos de contemplar o homem ao piano, todavia o jantar não se faria sozinho.

Após preparar o fricassé rumou para a sala e encostou-se ao batente, observando o semblante sério e concentrado de Gregory House. Ele poderia ser um homem muito mais velho do que ela, talvez uns doze anos, mas os anos foram generosos ao conservar-lhe uma beleza peculiar. E admitir a atração era mais fácil do que escondê-la.

Em um dado segundo ele depositou os olhos azuis sobre ela, causando-lhe um incomodo incomum. Ela estava acostumada a ser alvo de atenção masculina e feminina, todavia ser alvo da atenção de House era outra sensação. O luxo de se vangloriar não lhe cabia, afinal, mesmo que não quisesse admitir, sabia que alguma coisa dentro dela estava errado.

— O jantar está pronto. — E ela quase terminou a frase com um “querido”. — Que música estava tocando?

— Acabei de compor, mas isso não é importante. — House levantou-se e caminhou mancando até Sandra. Esticou o braço como se fosse tocá-la, porém a intenção voltou-se ao casaco pendurado na parede próxima. — Vou para casa.

Me faça companhia no jantar. — Ela pediu, segurando a peça de roupa como se ambos disputassem cabo de guerra. — Não é justo, eu preparei tudo só para você.

— Milho e requeijão? Não, obrigado. — Vendo sua resistência, Sandra permitiu que ele se vestisse. — Então, é isso.

— É. — Sandra sorriu sem jeito. — Obrigada pelo seu tempo.

House não respondeu, apenas alcançou a porta em poucos segundos, sendo acompanhado pelos olhos verdes e vidrados. Não soube por qual motivo olhou para trás, mas foi bem a tempo de ver Sandra assumir uma expressão confusa e amedrontada.

— Formigas gigantes não existem... Existem?


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos por lerem.
Críticas construtivas, sugestões... Será muito bem vindo.
Próximo capítulo será o penúltimo, então nos vemos na quinta-feira.
Beijos!