Ellie.

A luz do quarto ofuscava meus olhos. Demorei uns segundos para conseguir abri-los. Mable estava saindo quando percebeu que acordei.

– Oi. Tá melhor? - Ela queria ser gentil. Mas eu conheço ela tempo suficiente para saber quando ela tenta esconder seus sentimentos. O que é bem comum. Sempre tentando ser descontraída e tudo mais, mas o que ela sente por dendro não tem nada a ver com suas ações. Mas eu sabia exatamente o que ela estava sentindo.

– Me desculpa. Na verdade, não precisa se não quiser. Eu sou uma idiota. - Eu disse.

– Ellie...

– Sério, Mable. Não tente ser gentil. Eu esqueço o dia do seu aniversário, tento ir embora sem nem me despedir, ou avisar você e... - Suspirei - Eu sei tudo sobre você e não sou capaz de te contar um segredo. Que ótima amiga.

Ela não disse nada. Parecia concordar mas não disse nada. Ela se aproximou.

– Sim, eu fiquei muito triste.

Eu fiquei em silêncio. Mable odiava momentos como esse. Odiava ser consolada.

– Mas não tanto quanto eu poderia estar se algo tivesse acontecido com você, Ellie! Sério, por que você faz essas coisas? Caramba eu morri de preocupação! Como eu poderia ligar pra uma idiotice dessas enquanto você podia ter morrido? Prefiro você viva do que... Sei lá, uma prova de que somos melhores amigas.

Uma lágrima caiu do meu rosto. Ela me abraçou.

– Por que você faz isso? - Eu ri - Você acabou de provar que é minha melhor amiga! - Enxuguei minha lágrima.

– Ah qual é! Você sabe que somos mais que amigas! - A loira deu um tapinha no meu ombro.

– Ah claro, você é a irma caçula irritante, hahaha!

– Sou mais nova, mas a irritante é você! - E nós duas rimos.

Mas ainda tinha algo entalado dentro de mim. Eu precisava saber a verdade, mesmo que essa mudança de assunto estrague um momento raro como aquele.

– Mable... E o Trent?

Silêncio. Droga.

– Ele... Ele tentou deixar uma carta pra você... Mas... Ele só disse um monte de coisas bonitas pra você. Mas eu não lembro... E...

– Eu não sei. - Ela disse segurando o choro.

– O quê?

– Todos nós saímos correndo, ninguém viu o que aconteceu com ele. Pelo menos se alguém viu, não me disse nada. Típico.

Eu me levantei e a abracei. E ficamos ali abraçadas, chorando. Ela não viu mas eu ouvi. E eu disse o que escutei. Trent estava morto.

Aiden.

Carreguei Ellie até o nosso destino. E descobri que Joel definitivamente ainda não confiava em mim. Bem, ele me odiava. O porquê eu não sei. Chegamos na cidade do irmão dele, Tommy, que me pareceu bem mais simpático. A mulher dele, maria me mostrou a pequena cidade. Mas logo depois Joel e o irmão arranjaram uma lista enorme de tarefas para mim. Aposto que foi ideia do velho. Mas eu precisava da confiança deles.

Estava cortando a lenha quando vi Ellie e Mable em uma das janelas. Eu me aproximei e vi as caras de choro. Não fiquei com Trent por muito tempo, mas ele devia ser um cara muito legal.

– Você tá legal? - Perguntei para a garota machucada.

– Sim... Bem melhor. Vejo que Joel já te pôs pra trabalhar...

– É... Tenho certeza que a ideia foi dele. Mas eu já terminei. Por isso to aqui, por quê se não...

Apontei discretamente para a janela que ele estava. De certo, me vigiando.

– Bem, então agora posso te agradecer... Mais uma vez... - Ela ficou corada.

– Pelo que?

– Eu disse que você a carregou até aqui, hehe. - Mable entrou na conversa, com uma expressão de quem está pensando em um plano. - Acho n=melhor deixa-los sozinhos para ela te agradecer, hahaha!

Ellie revirou os olhos. Admito que demorei um pouco para entender.

– Mable para de ser idiota!

– Calma! Hahaha! Na verdade eu só quero ir ao banheiro mesmo. - E saiu andando.

– Ah essa... - Ellie estava mais vermelha do que antes. Me segurei para não rir.

Ela pulou a janela. E me notou segurando a risada. Ficou brava, mas só fazia a situação ser mais engraçada. Ela me empurrou e eu caí sentado na neve.

– Ah você tá pedindo! Heehee... - Fiz uma bola de neve.

– Não! Aiden... Aiden!

Joel.

– Parece que eles já são bem próximos não acha? - Tommy chegou perto de mim, na janela, e me ofereceu café.

– Hum. - Eu peguei a xícara.

– Que foi? Parece que não quer que ela se aproxime de ninguém...

– É que... Eu só não confio nesse sujeito...

– Aaaah... Parece que alguém está com ciúmes! hehehe... - Maria chegou na conversa, abraçando Tommy.

– É, os pais nunca confiam, hahaha! - Tommy completou.

Eu não encontrei palavras para uma objeção. Apenas cruzei os braços e devo ter feito uma cara engraçada. Porque os dois não paravam de rir. Aiden e Ellie estavam la fora numa guerra de neve, um escorregando e caindo em cima do outro.

– Ah, me dá um tempo! - Suspirei - Eu nunca passei por isso antes, seus bocós!

Mas Tommy e Maria não deram trégua. Definitivamente, um ataque de riso. Mas não é contagiante quando você é o alvo.