Ellie.

– Ellie! E-ele acordou!!

Eu e Mable corremos pelo jardim, o sol nascendo. Entramos na casa onde estavam Peter e William, acordado e sentado na cama.

– Aid...William! – Eu me aproximei. Seu olhar estava confuso.

– Q-quem é você?

Se ele tivesse me atingido com um soco no estômago, surtiria o mesmo efeito dessa frase.

Dias se passaram. William aos poucos recuperou a memória. Apesar disso a primeira frase que ele me disse quando acordou ainda entoava na minha cabeça.

“Quem é você?”

Mas ele se lembrou do meu nome. Ele se lembrou que não deveria estar ali. Mas não sabe o que aconteceu para ele voltar. Não se lembra de quem fez isso com ele. Ele só se lembra da “Vicky”

“Eu lembro de uma garota que eu conheço... Vicky. Ela gritava não. Mas não era para mim”.

Ele ainda estava de repouso, e de vez em quando eu ia visita-lo. Ainda não conversamos sobre o que aconteceu na noite antes de ele ser expulso. Não sei se ele não lembrava ou... Se ele mudou por arruinarmos os seus supostos planos do mal. Era diferente.

Naquele dia, Mable e o avô tinham coisas para fazer fora de casa, então me pediram para olhar William. Mas claro que os dois homens que Joel mandou estavam de guarda do lado de fora.

William.

Acordei com uma melodia suave. Um dedilhado no violão, talvez. Procurei pela fonte do som e nada. Nenhum radio ligado. O som vinha de outro cômodo. Segui a melodia pelos corredores, desci a escada. Olhei pela porta da frente, pela pequena janela era possível enxergar os dois guarda-costas que não saíam do meu pé. Me lembrei vagamente do que aconteceu. Mas tinha a impressão que nem se eu contasse a verdade, iriam acreditar em mim.

Segui para a porta dos fundos, que estava aberta. A porta dava para uma varanda, onde estava a fonte da melodia. Ellie.

Tentei me aproximar mas interrompi o movimento. Ao som do violão, foi adicionada a voz da garota. Eu não sabia que ela sabia tocar violão e cantar daquele jeito. Ou talvez eu não me lembrasse. Ela estava de costas para a porta. Queria elogiar, falar que achava incrível. Mas não queria interromper a musica.

“Shadows settle on the place, that you left.
Our minds are troubled by the emptiness.
Destroy the middle, it's a waste of time.
From the perfect start to the finish line.

And if you're still breathing, you're the lucky ones.
'cause most of us are heaving through corrupted lungs.
Setting fire to our insides for fun
Collecting names of the lovers that went wrong
The lovers that went wrong.

We are the reckless,
We are the wild youth
Chasing visions of our futures
One day we'll reveal the truth
That one will die before he gets there.

And if you're still bleeding, you're the lucky ones.
'cause most of our feelings, they are dead and they are gone.
We're setting fire to our insides for fun.
Collecting pictures from the flood that wrecked our home,
It was a flood that wrecked this.

And you caused it
And you caused it
And you caused it

Well I've lost it all, I'm just a silouhette,
A lifeless face that you'll soon forget,
My eyes ae damp from the words you left,
Ringing in my head, when you broke my chest.
Ringing in my head, when you broke my chest.

And if you're in love, then you are the lucky one,
'cause most of us are bitter over someone.
Setting fire to our insides for fun,
To distract our hearts from ever missing them.
But I'm forever missing him.

And you caused it,
And you caused it,
And you caused it”.

Ellie.

– Porque nunca me mostrou esse dom?

Virei para trás num susto. Lá estava William parado na porta.

– Q-quanto tempo faz que...

– Tempo suficiente pra descobrir minha música preferida.

– Obrigada... William. – Virei as costas para ele.

– Pode me chamar de Will. Ou Willy, sei lá. – Ele se sentou do meu lado. – E me desculpe.

Eu fiquei em silêncio. Queria acreditar que ele estava do nosso lado, mas ainda me sentia muito mal por tudo que aconteceu.

– Você devia estar em repouso.

– Você devia estar me vigiando.

– Joel arranjou dois homens para fazer isso, eu só estou cuidando da casa.

– Bem, apesar de tudo, não sei qual o motivo de Joel se preocupar tanto comigo. Até um infectado estaria em melhor forma que eu.

– Nossa, por que será, né? – Eu disse num tom debochado e irônico – Você nunca fez nada de errado, né?

– Você devia ficar de boca fechada, né? – A expressão dele foi engraçada demais para me irritar. Descobri que eu estava com saudade das risadas com ele.

– Sinto a falta do Aiden.

– Aiden não existe mais. Ele foi uma tentativa frustrada de fugir do passado e das coisas ruins que Willy fez.

– Você se lembra de tudo que fez?

– Exatamente sobre isso que eu quero falar.

Estávamos sentados nos degraus da varanda. Só se ouvia o barulho do vento. Duque chegou e se aninhou nos pés de William.

– Eu me lembrei do que aconteceu, Ellie. O problema vai ser convencer Joel e Tommy de tudo isso.

Ele me contou tudo. Que o momento das fotos era um reencontro indesejado. Ele fazia parte de uma gangue, mas que praticamente fugiu dela. Ele entrou na gangue por que salvou a vida de uma garota da gangue, a tal Vicky. E bem, ele nunca foi muito a favor do que eles faziam, matando inocentes para roubar seus pertences, mas era isso ou sobreviver. Ele planejou fugir da gangue com Vicky, mas foram ameaçados de morte e ela desistiu do plano. Quando reencontrou o novo chefe da gangue, Luke não o matou esperando alguma ajuda para sobreviver, já que Willy estava vivendo bem dentro do território de Tommy. Mas como ele foi expulso, e a gangue não recebeu nenhuma ajuda, Luke ignorou o pedido de William para deixar a área de Jackson Country e deixar as famílias em paz. E também ignorou a possibilidade de deixar Will vivo.

– Nossa, então foi ele que fez isso com você?

– Sim, e deve ter feito isso com Vicky também. Ela tentou impedir no último momento.

– Ele seria capaz de fazer isso com a própria amiga?

– Ellie, esse cara é louco. Ele só se tornou líder porque o antigo morreu. E segundo Vicky, ele o matou. Do mesmo jeito que eu, amarrando em uma arvore na pior situação possível, sendo torturado por causas naturais até a morte.

– Ele é um monstro!

– Eu iria te contar tudo isso na noite em que te contei sobre minha família mas...

– Willy. Podem me chamar de louca, mas eu acredito em você. Depois do que você fez por mim, não acho que você esteja do lado ruim. E...

Ele me interrompeu do jeito único que só ele é capaz de fazer, de novo. Com um beijo. Eu retribuí. Ainda com as mãos no meu rosto ele começou a falar. E o sangue do meu rosto sumiu.

– Você acha que eu teria feito o que fiz se você não significasse nada pra mim?

Eu tinha certeza que já tinha ouvido aquilo antes. Da boca do Joel.

– Eu não sou o antigo William, Ellie. Pode acreditar.

Depois de ouvir isso. “É claro que acredito, William”, pensei. Mas não disse nada. A parte mais difícil nem tinha começado. E essa parte era fazer Joel acreditar também.