A neve caia excessivamente ao lado de fora. O frio não dera nem uma trégua. A recuperação de Peeta ainda não estava completa e isso preocupara Haymitch. “Talvez, cuidar desses garotos tenha sido a melhor coisa que me tenha acontecido”.

Haymitch sempre fora sozinho e parecia não ter ninguém com quem se preocupar, até o momento dos primeiros jogos. Sua cabeça não ficava em paz. Chegava a acreditar que aqueles garotos iriam deixa-lo maluco. Katniss sempre fora uma garota perturbada e isso ele não tinha dúvidas, mas a ligação que ele possuía com ela ia além de qualquer explicação. A garota tinha uma semelhança inevitável com Haymitch. Sua maneira de pensar e suas atitudes eram os pontos mais fortes. Fisicamente, não havia aspecto algum que pudesse ser comparado mas em seus interiores, pareciam pai e filha.

Peeta era um garoto muito sensível, totalmente diferente da Katniss. Haymitch era ciente que o menino precisava de uma atenção especial. Afinal, ele havia passado por um inferno. Haymitch nunca aprovara a maneira de como Peeta se expunha em relação a Katniss. Embora adorasse ambos, o fato do garoto viver se menosprezando não era certo. Peeta era um garoto muito honesto e muito bom, não merecia o que estava acontecendo.

Sua casa estava sempre vazia, mas não se importava. Apreciava em demasia o silêncio. Ciente que a qualquer momento receberia a visita dos médicos, Haymitch já havia tomado banho e se arrumado. “A última visita” - Pensou. Essa o permitira receber um atestado de bom comportamento e a aprovação de que estava apto para exercer o cargo de Prefeito da Cidade 12. Aquilo tudo ainda parecia banal aos seus olhos, mas Haymitch não tomava nenhuma atitude sem antes pensar em seu benefício. Ser o prefeito da cidade o faria ter privilégios, teria acesso a toda e qualquer informação governamental, poderia colocar projetos a favor da população, acrescentaria escolas, hospitais e milícias. Isso tudo seria excelente, mas seu objetivo principal era ser alguém de nome caso precisasse proteger a Katniss e o Peeta.

Seus devaneios foram interrompidos com o bater da porta. Ele encaminhou-se para atendê-la.

– Olá, Haymitch. – Disse o Dr. Aurelius.

– Quer dizer então que você veio pessoalmente me visitar. Sozinho? – Riu Haymitch. – Pode entrar. Ambos se acomodaram no sofá. O doutor estava com o papel e a caneta e um formulário. Haymitch tentava ser o mais agradável possível, embora isso não fosse de seu feitio.

– Haymitch, eu prometo que não vou demorar. Essa viagem até a Cidade 12 é absurdamente cansativa. – Disse o Dr. Aurelius, exausto.

– Sim, tudo o que você precisar de mim. Pode começar a perguntar. – Disse Haymitch ansiosamente.

– Eu sei que você não tem bebido, sei também que o processo de desintoxicação foi totalmente auxiliado pelo Prolux de 60 mg. Estou certo?

– Sim doutor. Eu não tive que passar pelos problemas da falta de bebida. Não fiquei nervoso, não senti calafrios, não mudei minha postura. É como se eu só sentisse falta de beber, não tive consequências. – Disse Haymitch ponderadamente.

– Excelente Sr. Abernathy. Como eu disse essa droga é experimental, mas pelo funcionou bem com você. É visível, o ganho de peso, a aparência muito mais saudável e você está até sendo educado!

– Não se iluda doutor. Eu só quero o meu atestado. – Riu ele. – Tem mais alguma coisa que podemos fazer?

– Não, Haymitch. Eu tinha que passar aqui mesmo só para liberar você. Eu já havia o acompanhado durante essas semanas. O remédio acelerou o processo de desintoxicação e você está ótimo, pronto para governar.

– Fantástico.

– Haymitch, eu só quero abordar um assunto com você. – Suspirou Aurelius. – Katniss.

– Ah, desde que você falou com ela está um pouco confusa. O Peeta está morando na casa dela, mas assim que ele melhorar acho que vai voltar pra a dele. – Ponderou Haymitch.

– Hm. Esses jovens são terríveis. Faça um favor pra mim? – Aurelius estendeu sua mão. – Entregue esses remédios para a Katniss. Cada um vem com a especificação de que horas deve ser tomado e para que serve. Se ela quiser, claro.

– Sim, doutor. Pode deixar que entrego a ela. Obrigado.

Aurelius e Haymitch apertaram as mãos e se despediram.

Haymitch mal tivera tempo de se sentar novamente no sofá quando a campainha tocou. “O doutor teve ter esquecido alguma coisa.” Para sua surpresa, um Gale ofegante entra em sua sala sem ser convidado.

– Ei, Gale! Acalma ai, que houve? – Disse ele o olhando de cima a baixo.

– Você já é prefeito? É oficial? – Disse Gale lutando para recuperar o ar.

– Sim, garoto. – Haymitch pusera sua mão em cima do ombro de Gale. - O que deu em você?

– Precisamos sentar. Esse assunto é extremamente oficial. Acabei de conversar com a Paylor e ela me pediu para contar somente a você. Por favor, Haymitch me escute com atenção porque é muita informação. – Disse Gale apressadamente.

– Ok. – Disse ele duvidoso.

– Haymitch, eu nunca fui com a sua cara, você sabe, mas você ajudou a Katniss a me salvar naquele dia... das chibatadas. Eu sou eternamente grato a você por isso. – Gale respirou fundo. – Teremos que aprender a conviver um com o outro porque é definitivo. Eu vou ficar aqui no 12, vou ter que me juntar a você para iniciarmos o projeto de segurança da cidade.

– Entendo. – Haymitch assentiu com a cabeça concordando.

– Mas não é esse o motivo deu ter vindo aqui. – Suspirou Gale. – Ontem eu recebi documentos diretamente do nosso governo a fim de identificarmos uma ameaça. Enviaram-me diversos arquivos, contudo, somente um teve fundamento. Um rapaz que não soubemos identificar de imediato disse que não está satisfeito com o nosso modelo governamental e que mostraria para a Panem que ele estava certo de uma forma peculiar. - Gale fizera uma pausa. - Ele quer a Katniss, Haymitch.

– MAS COMO ASSIM, GALE? DA ONDE ISSO SURGIU? – Gritou Haymitch.

– Esse arquivo foi espalhado com o objetivo de incitar um caos. Aparentemente ninguém o levou a sério. Porém, Paylor quer garantias.

– Calma, deixa eu entender Gale. - Respirou fundo. Haymitch a essa altura já estava de pé, caminhando de um lado a outro pela sala. - Você está me dizendo, me afirmando que existe uma ameaça para o governo e principalmente para a Katniss, é isso?

– Sim. - Disse ele tristemente.

– Alguma ideia de quem seja? - Haymitch olhara fixamente para os olhos de Gale, com a raiva emanando seu ser.

– Sim, temos razões para acreditar que é alguém relacionado ao Snow. Algum filho, sobrinho ou neto. Pela a voz dele pudemos presumir que ele está entre a faixa de 20 a 30 anos. - Disse Gale profissionalmente.

– Compreendo. Então, a primeira coisa que devemos fazer é avisar a Katniss.

– Não podemos Haymitch. Temos ordens diretas da presidente Paylor de que não podemos informa-la de absolutamente nada, isso vai atrapalhar a investigação.

– Mas é a vida dela, Gale! Dane-se a investigação! – Bufou ele. – Não podemos a deixar correr riscos.

– Sim, mas por enquanto não podemos fazer nada. O que podemos fazer é avisar o Peeta. A presidente me autorizou. Eu não posso ficar na casa dela, então – Suspirou Gale dolorosamente – ele vai ter que cuidar dela.

– Temos que falar com ele urgente. – Disse Haymitch. – Vou providenciar umas coisas e me comunicar com a Paylor.

– É, acho que então estamos resolvidos. – Disse Gale se afastando quando se lembrou de algo – Haymitch?! Você está muito próximo a casa dela. Sempre que puder, dê uma olhada. Se algo parecer suspeito, me ligue imediatamente.

– É Major, obrigado por me dar esse presente. – Disse ironicamente. - Estamos com uma bomba em mãos.

– Prestes a detonar. – Gale saíra sorrateiramente pela porta.