Um Cupido (quase) Flechado escrita por Gaby Molina


Capítulo 14
Capítulo 14 - Chantilly é o problema e a resposta


Notas iniciais do capítulo

Eu não respondi nenhum comentário do último capítulo porque não consegui ;-; perdoem-me. Considerem essa nota como uma resposta.
Vocês fizeram o meu dia. Sério. Eu não fazia ideia de quantos de vocês haviam assistido DPS por minha causa. Recebi comentários dizendo que lembraram de mim na hora quando viram sobre a morte do Robin, e que ficaram preocupados comigo porque sabiam que ia me afetar muito. Até gente me dizendo que ficou esperando eu falar algo sobre o assunto, mas ninguém esperava um capítulo todo sobre isso.
O caso é que só tenho a agradecer. Achei que muitos nem leriam o capítulo, e em vez disso ganhei o capítulo com os melhores reviews. Me emocionei (o que não é fácil, já que meu coração é basicamente o lado esquerdo da tabela periódica) e fui contar tudo pro Marcelo, e não sei se já falei do Marcelo nessa fic, mas já falei em alguma. Ele é meu melhor amigo, irmão mais velho, alma gêmea (no sentido não-romântico da coisa, que é o melhor de todos), e eu conto sobre cada review legal pra ele. Então, sim, ele conhece todos vocês. Ah, caso queiram conhecer essa pessoa lufana: http://fanfiction.com.br/u/316756/
Ele é bem mais legal que eu, e bem mais útil em responder reviews. Eu poderia aprender uma coisa ou duas com ele.
Então, esse é meu recado da madrugada para vocês: seja amigo de pessoas com quem você possa aprender. Pessoas que não te façam esquecer os problemas, que te ajudem a resolvê-los. Pessoas que te fazem querer ser a cada dia a melhor versão de você mesmo.
Porque essas sim são as amizades que valem a pena.
Ou não. Afinal, o que eu sei?



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Serena

Eu estava batendo em Audrey com o meu livro de Biologia há cinco minutos.

— Máscaras?! Esse tema é horrível! Vocês tinham Harry Potter como opção, sua vaca! É tão clichê, e babaca, e Romeu e Julieta, e... Horrível!

— Então não vá ao baile, menina. Meu Deus — Audrey revirou os olhos.

— Bem que eu queria. Seeler vai me arrastar, diz que é meu "último ano" e "tenho que aproveitar" e "estou perdendo muitas experiências por conta do estágio". Aposto que minha mãe o convenceu disso.

— Sua mãe e seu namorado são melhores amigos agora?

— Perturbador, certo? Mas mesmo assim ela deixou a sra. Maxwell me espionando.

— É, bem, Seeler não é exatamente um exemplo angelical de confiança.

Comecei a rir, mas depois me lembrei de que Audrey não sabia o quão irônico aquilo soava. Thomas estava descendo as escadas, então gritei:

— Ei! Tom! O que acha do tema "Máscaras" para o baile dos veteranos?

— É horrível — respondeu ele. — Isso significa que os novatos podem ficar com o tema do Harry Potter?
Dei uma cotovelada em Audrey, com minha melhor cara de "Viu só?".

— Não é horrível — ela defendeu, enfezada. — É romântico, e suspêntico, e...

— Defina "suspêntico" — pedi.

— Algo ou alguém que possui suspense.

— Tá certo.

— E clássico! Está bem? É... É um oceano de possibilidades!

— Miller, o Jacobs não vai achar que você é a francesa e te beijar sem querer — meu irmão comentou, e eu dei uma cotovelada nele também.

— Thomas, vai brincar de casinha com a sua namorada, beleza? — ergui uma sobrancelha.

— Foi você que me chamou aqui, sua tapada.

— Bem, agora estou te deschamando! Tchau!

— Que seja — ele revirou os olhos e saiu de casa.

Thomas

Martelei meu dedo. Pela quarta vez. Em quinze minutos.

— Argent? — Piper ergueu uma sobrancelha. — Você quer parar um pouco?

Observei meu dedão inchado e suspirei, jogando o martelo para o lado e fitando a rua.

— Bailes são idiotas, certo?

Ela riu, se aproximando.

— São uma desculpa para beber demais e fazer merda.

— Certo! E os temas são idiotas.

— Totalmente clichês.

— Exatamente. Olha... — tomei coragem de olhar para ela, mas logo depois estreitei os olhos e desviei o olhar. E então voltei a olhar para ela. — É um baile de calouros, ou seja, vai estar cheio de pirralhos, tipo, um ano mais novos que você, e ponche ruim, e música alta ruim, tipo, ruim mesmo. Do tipo que te faz querer bater a cabeça na parede até ter uma convulsão. Mas eu meio que vou estar lá. — balancei a cabeça, percebendo a merda que tinha dito. — Sabe?

Ela riu, corando um pouco e mexendo na trança que já estava desmontando.

— Você tá me convidando para o baile, Argent?

Eu mordi meu lábio inferior inteiro, com quase toda a minha arcada dentária superior, de um jeito que me fazia parecer um coelho assustado.

— Eu... É, eu meio que tô.

— Então eu meio que aceito.

Eu franzi o cenho, surpreso.

— Você... Sério?

Ela riu com a minha reação idiota.

— É, é sério, palhaço. Não pode ser tão ruim se você estiver lá.

Eu sorri. Havia pensado a mesma coisa em relação a ela.

* * *

Acordei no dia seguinte com uma pedrinha acertando minha cabeça. Caí da cama, assustado, e gritei com Serena antes de perceber que não havia ninguém no quarto.

Ei, dorminhoco!

Piper acenava de seu quarto.

— Você... Como você...? — franzi o cenho.

— Bem, minha mira é meio incrível, e o namorado gostoso da sua irmã me disse que vocês nunca fecham a janela.

— Eu poderia ter ficado sem o "gostoso".

— O caso é que não importa! O que importa é que HOJE VAI SER UMA FEEESTA, BOLO E GUARANÁ, MUITO DOCE PRA VOCÊ! É O SEU ANIVERSÁÁÁÁRIO!

Estreitei os olhos.

— É?

— É, seu cuzão! Como você não sabe seu próprio aniversário?

— Bem, ele nunca foi um grande evento.

— Isso era antes de eu me mudar. Vem pra cá.

— Agora?

Ela ergueu uma sobrancelha, cravando os olhos cor de âmbar em mim.

— É, agora! Tenho uma coisa para você. Meus pais estão dormindo, então você não pode fazer muito barulho.

— Hã... Está bem.

Desci as escadas, depois percebendo que estava descalço e sem camisa, então voltei, coloquei uma camiseta cinza sobre a calça de moletom e chinelos. Piper estava encostada no batente da porta da sala dela. Ela me deu licença e subimos até o quarto dela.

— Feche os olhos — o sorriso animado dela me lembrava o de minha irmã, só que sem a perversão e bem mais amigável.

Fiz isso. Ouvi seus passos se afastando e voltando depois de um minuto.

—... Certo. Pode abrir agora.

Abri os olhos e deparei-me com a capa de Meat Is Murder.

— Ta-dah! — ela apontou para o vinil. — Feliz aniversário.

— Piper, isso não é engraçado — falei, ansioso. — Isso não é nem um pouco engraçado, essa porra é do seu pai e...

Era do meu pai. Ele me deu. E isso me deixa em total posição de, sabendo que é o seu álbum favorito, dá-lo a você. — disse ela e, percebendo que eu ainda não estava acreditando, concluiu: — Vamos, pegue.

Eu toquei no disco e não acordei. E então segurei-o com força e deixei um sorriso enorme preencher meu rosto antes de abraçá-la firme, rodando-a no ar.

— É o melhor presente de todos! Valeu, valeu, valeu!

Piper riu e cambaleou um pouco quando a soltei.

— Eu não sabia o que te comprar, então pensei que...

Sorri.

— É perfeito. Obrigado.

Serena

Foi no meio da aula de Biologia, quando eu tive que escrever a data no meu caderno.

— PUTA QUE PARIU! — gritei, e trinta cabeças se viraram em minha direção. — Desculpe... — fui fechando minhas coisas, derrubando metade no processo, e levantando da cadeira.

— Você precisa de uma ordem de dispensa, Argent? — a professora ergueu uma sobrancelha.

— Sim — sorri e saí da sala.

Eu não tinha um carro. Porra, por que eu não tinha um carro? Qual era a aula de Audrey...? Merda, eu não fazia ideia. Comecei a bater em portas aleatórias até a encontrar.

— Com licença, sra. Mansfield — esbocei um sorriso. — Posso pegar a Audrey emprestada por um minuto?

— Pode roubar logo, ela não está fazendo nada, mesmo — a professora revirou os olhos. — Vai, srta. Miller.

Audrey ergueu uma sobrancelha, mas caminhou até mim. Fechei a porta.

— Drey, preciso do seu carro.

— Pra quê? Eu vou junto. Me tira daquela aula. Pelo amor de Deus.

— Eu, hum, eu meio que esqueci o aniversário do Thomas.

Ela me deu um tapa no braço.

— De novo, porra?! Até eu dei parabéns para ele.

Ignorei.

— Então, vou comprar um bolo e velas e guardanapos coloridos e fingir que foi tudo planejado. Posso até chamar alguns amigos dele.

— Vou com você, sou ótima em escolher bolos.

Revirei os olhos, mas o carro era dela, afinal. Fomos até a confeitaria mais próxima e entramos na fila para pedir. Audrey foi pegar os guardanapos e eu esperei na fila durante — cronometradamente — vinte minutos. Quando chegou minha vez, o atendente de vinte e poucos anos disse:

— Bom dia, em que posso ajudá-la?

— Oi, ér, eu meio que quero um bolo.

— De que tamanho?

— Eu... Eu não sei... Talvez para umas... seis pessoas?

E então um funcionário que carregava um bolo derrubou chantilly em mim. Ele simplesmente brotou ali, calculou mal a distância e esbarrou com o bolo em mim, onde metade dele foi parar no meu corpo e a outra metade nas minhas botas de couro.

— Você tem algum tipo de transtorno mental?! — bufei, encarando-o.

— Eu... Eu sinto muito... — murmurou ele, se afastando.

Voltei-me para o atendente.

— Quanto fica essa merda?

— Qual o sabor?

Excelente pergunta. Vasculhei minha memória profundamente. Qual era o nome daquele bolo ruim que Thomas gostava? Era...

— Floresta Escura.

— Floresta Negra?

— Você entendeu.

— Quer escrever alguma coisa no bolo?

— Hmmm... "Parabéns, Thomas".

— E esse Thomas? Namorado? — indagou ele, erguendo uma sobrancelha.

— Irmão caçula.

Ele sorriu.

— Que sorte a minha.

— Não, nem começa — bufei, encarando-o. — Isso pode ser novo para você, mas as pessoas não dão em cima de mim frequentemente. E sabe por quê? Porque, surpreendentemente, eu não sou uma pessoa acessível. Ou gentil. Ou que vai rir, corar e desviar o olhar. Eu esqueci o aniversário do puto do meu irmão pela segunda vez em dois anos, e um outro filho da mãe derrubou bolo em mim e eu tô toda fodida e passei vinte minutos nessa fila, e vou bombar em Biologia.

O atendente corou e desviou o olhar.

— O que eu perdi? — Audrey apareceu. — Nossa, o que houve com você?

— Meia hora para guardanapos, Audrey?

— Bem, eu bati um pouco de papo com o cara gatinho na seção de coberturas também. Peguei o Whats.

Revirei os olhos e entreguei meu cartão para pagar. Depois fui retirar o bolo.

— Como assim, retirar? — a moça sorriu. — Ainda não está pronto.

— Como não está pronto? Vocês já não têm aqui?

— Não, o de Floresta Negra acabou.

— E por que ninguém me falou isso, porra?

— Shhh — Audrey segurou meu braço, o que me irritou mais.

— Quanto tempo até ficar pronto?

— Já estavam fazendo, deve dar mais uma hora.

— Está bem. Vem, Drey, vamos tomar um café.

— Você precisa tomar um banho, isso sim — ela pegou um pouco de chantilly da manga da minha camiseta.

* * *

— VOCÊS FORAM FABRICAR ESSE CHANTILLY NA PORRA DO...? — parei por um minuto. — Pera. Drey, de onde vem o chantilly?

— Érrr... Eu não sei, não.

— Tá, não importa. EU DISSE QUE ERA URGENTE! VOCÊS ME DISSERAM QUE FICAVA PRONTO EM UMA HORA, E JÁ SE PASSARAM DUAS HORAS E MEIA! MEU IRMÃO VAI VOLTAR DO COLÉGIO A QUALQUER MOMENTO!

— Floresta Negra! — a confeiteira gritou, chegando com o meu bolo. Olhei para o escrito.

Feliz aniversário, Tomas!

Ah, merda.

— A gente conserta — Audrey prometeu. — Mas precisamos ir, tipo, agora.

Assenti e peguei o bolo. Entramos no carro dela e fomos para a minha casa. Coloquei o bolo sobre a mesa e Audrey raspou a parte escrita "Tomas".

— Você tem chantilly aí?

Suspirei.

— Agora que você lembra disso?

— Bem, você tem alguma calda? De qualquer coisa?

Abri a geladeira.

— Érrr... Morango.

— Tá, vai ter que servir.

Escrevi "Thomas" com a calda de morango e me joguei na cadeira.

— Quer que eu fique? — ela ofereceu.

Fiz que não com a cabeça.

— Valeu pela carona.

— Disponha. Tchau, S. Depois me fala como foi.

Assenti e acenei enquanto a observava sair de casa. Lembrei que não tinha o número de nenhum dos amigos de Thomas. Quando pensei que ainda poderia chamar Piper, Thomas entrou em casa.

— Surpresa! — sorri.

Ele arregalou os olhos. Parecia mesmo surpreso, ou talvez eu tivesse simplesmente chantilly demais em mim.

—... Feliz aniversário. Tom.

Ele sorriu.

— Você fez tudo isso?

— Bem, eu tentei, mas tive alguns contrate...

E então ele me abraçou. Ficamos lá por um minuto, antes de ele raspar chantilly do meu braço e dizer:

— Hmmm, está bom.

Empurrei-o.

— Tem bolo pra caralho, porque eu pretendia chamar mais gente, mas...

— Tudo bem — ele deu de ombros. — Acho mais legal que seja só nós dois.

Ergui uma sobrancelha.

— Sério?

— Sério, sua tapada.

Sentamo-nos para comer bolo. Thomas pegou o primeiro pedaço para si mesmo, e disse:

— Olha, e não é que tá bom mesmo?

Peguei um pedaço. Alguém teria que comer aquela merda. E não é que não era tão ruim quanto eu me lembrava?

Comemos metade do bolo.

— Serena, eu não quero magoar seus sentimentos, mas eu já estou sentindo o bolo saindo pelas minhas orelhas — ele me fitou.

— Tudo bem, eu também não aguento mais.

— Pode doar tudo para o Seeler, ele pode engordar.

— Verdade. Deixo lá no caminho para o estágio.

— Você já vai?

Olhei para o relógio de parede.

— Ainda tenho mais um tempo.

— Lembra de quando eu tinha seis anos e você se confundia com relógios analógicos, e sempre que me perguntava que horas eram eu mentia?

— Certo, Thomas, você é a criança esperta, não precisa me lembrar disso — ergui uma sobrancelha, mas um sorriso escapou de meus lábios.

— E eu também sou bom em esportes. Meu Deus, Serena, você deveria se envergonhar.

— Ei! Eu... Eu sei cantar, tá, seu merda? Já te ouvi gritando Oasis no chuveiro, e não é bonito. E... E eu toco piano. E eu sei citar poetas nacionais do século XIX E eu sou uma irmã de merda, mas continuo sendo a melhor irmã do mundo.

Ele riu.

— Isso meio que faz sentido.

— É claro que faz. Afinal, você vai àquele baile amanhã?

— Sobre isso... — ele torceu o nariz, desviando o olhar. — Pode ser que eu tenha convidado a Piper.

— Está brincando! — sorri, bagunçando o cabelo dele. — Meu irmão tem culhões! Isso aí!

— Tá, tá, não é grande coisa.

— Você gosta dela?

— Eu não vou ter essa conversa com você. Que horas tenho que voltar?

— É o seu primeiro baile! Pode voltar quando quiser.

Ele abriu um sorriso entretido.

— Você acha que vou pirar e sair correndo de lá depois de uma hora, não acha?

— Eu diria trinta minutos — dei um tapinha no ombro dele. — Você não pode evitar, é genético.

— Talvez eu tenha escapado disso, que nem escapei do seu nariz comprido.

Meu queixo caiu.

— Meu nariz não é comprido!

— É sim, é totalmente empinado — ele riu.

— Tem gente que gosta, está bem?

— Não. Para. Acredite ou não, eu não gosto de lembrar do Seeler se esfregando em você. Porque nós dois sabemos que eu sou o filho mais velho.

— É o caralho. Vou tomar um banho rápido e já vou sair — beijei a bochecha dele, coisa que não fazíamos muito. — Amo você.

— Também amo você, tapada.

Dei um tapa forte na parte de trás da cabeça dele e subi as escadas.


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