Klaroline; Areias Do Tempo escrita por Miss Mikaelson


Capítulo 3
A joia do Nilo


Notas iniciais do capítulo

A joia do Nilo.... como estava me sentindo benevolente este dia, resolvi apressar um pouco e postá-lo hoje. Capítulo nada romântico. Porém de uma importância relevante quanto ao desenrolar da trama.



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— Seu pai está na guerra — sentenciou a rainha, alarmada. — Não posso pôr em risco o futuro da dinastia devido a sua insolência.

Caminhou em círculos durante horas, pensativa, com o filho primogênito aos seus pés, persuadindo-a. Seu coração apertava-se ainda mais a cada olhada direcionada ao trono de faraó, vácuo deste que os primeiros raios de Rá tocaram as margens do Nilo.

Apoiou-se em seu próprio trono, adornado em ouro e rubis, embora menor que o trono de seu marido, ainda assim belo e majestoso. Solevantou a mão até a coroa, ajustando-a em sua cabeça. A preocupação pelo marido na guerra, os conflitos diários entre as esposas secundárias de faraó e ainda a resistência do filho mais velho que deveria cumprir com as ordens deixadas pelo pai. Tudo isso aos poucos consumia a rainha, que sentira a visão turva por alguns instantes, dor agonizante na região abdominal, seguido da sensação de frio em pleno dia.

— Ouça-me, minha mãe, capturamos o aguerrido da rebelião dos povos do mar — insistiu o príncipe. — Há uma chance para o Egito.

— Basta! — disse ela encerrando a discussão. — Ordeno que fique no palácio. Supondo que os povos do mar massacrem o nosso exército, não há o que os impeçam de atacar o palácio e usurpar o trono que lhe pertence. Arriscaria a mim, sua irmã de sangue, seus irmãos, os filhos de seu pai e as esposas do harém.

— Posso guerrear ao lado do faraó — repetiu o pedido. — Conjecturando que a excelência de meus feitos em campo acarretaria num bom desempenho ao Egito. Armas, escravos, concubinas. Nosso reino estaria farto.

— Disse-lhe que me obedecesse — irou-se a rainha. — Caso não haja reverência em minhas palavras, submeta-se à vontade de seu pai. A justificação que o fizera deixá-lo no palácio é justamente a minha preocupação. Caso insista em acompanhá-lo nessa guerra, e por alguma razão morra em combate... — afastou então o mau pensamento. —... o Egito estaria perdido. Quem se assentaria ao trono?

Sem mais nada a dizer retirou-se para os aposentos reais. No meio do corredor sentira novamente a visão turvada, as pernas abaladiças e o frio repentino. Elevou os olhos até as mais altas aberturas do palácio, vendo o sol vigoroso no céu azul. A noite não estava próxima para que o frio predominasse. Algo mais havia de errado além da notável inquietude pela guerra. Talvez o vinho que lhe foi servido no almoço.

Seguido por mais dois guardas, o príncipe se retirara quando vira a sombra da mãe aos poucos se dissipando no corredor. Acorrentados uns aos outros, num canto isolado do lado de fora do palácio, encontravam-se os dois aguerridos capturados pelos soldados egípcios. De acordo com o informado, os dois conspiradores haviam invadido as terras a procura de se infiltrarem no palácio real. A sentença era a morte.

Sustentando a espada Kopesh, Niklaus erguera-a na altura do queixo, preparando-se para dar o golpe fatal no inimigo. Por decreto do próprio faraó, a sentença de morte era somente aplicada pelo mesmo, mas em sua ausência imposta por seu co-regente. Antes que o golpe fosse disparado, interrompeu o guerreiro condenado:

— Mate-nos, principezinho de merda — disse sorridente o guerreiro de cabelos longos e trançados. — Não impedirá a praga estabelecida em seu reino.

— A que se refere? — perguntou irado o chefe reinante.

— A morte e decadência de seu reinado — completou o soldado ao lado. Este tinha cabelos curtos, numa cor encardida e cicatriz no rosto.

Os olhos e sorrisos não expressavam mentira. Não imploraram por misericórdia, nem afrouxaram diante da espada resplandecente — curva de único gume forjada de bronze. Ignorando o dito dos soldados inimigos, levantou então novamente a Kopesh, deixando a luz solar atravessar a mesma, minutos antes de decapitá-los. O sangue jorrou no rosto de Niklaus, quando as cabeças dos guerreiros rolaram sobre a areia quente, banhando-a com o sangue inimigo.

A primeira cabeça fora cortada com um único golpe. Posteriormente, limpando a lâmina ensanguentada nas próprias vestes, Klaus encaminhara-se até a o prisioneiro ao lado, decapitando-o com três golpes.

Quando terminara o feito, abaixara-se ao lado dos corpos, capturando a cabeça dos inimigos e erguendo-a a altura dos ombros. Os soldados egípcios vibraram. O sangue que fluía das cabeças emporcalhara as vestes brancas do príncipe. O mesmo avizinhou o rosto da cabeça decapitada, dizendo-lhe:

— Bem vindo ao que se resumirá o meu reinado — arremessando a cabeça decapitada nos pés dos servos, ordenara novamente: — Jogue-os no rio Nilo. Que os crocodilos se satisfaçam com essa carne podre.

(***)

Os rumores de que a rainha havia sido envenenada chegaram ao harém real. Os murmúrios deslocavam-se por todo o palácio. O falatório surgira na boca das esposas secundárias e foi espalhado até os ouvidos dos escravos. As damas moviam-se rapidamente para um lado e para o outro, nervosas, prazenteiras, esboçando todo o tipo de reação imaginável.

Caroline afastara-se do harém, seguindo pelos corredores escuros e frios do palácio. Não se sentira confortável no lar de najas em que umas conspiravam contra a saúde da rainha, buscando vê-la debilita e em estado deprimido. Talvez a conspiração contra a saúde da bela esposa real viesse de dentro do próprio harém.

Caroline sentira-se deslocada no imenso e escuro corredor; iluminado apenas por algumas tochas. Seguindo uma das servas para o que achava ser a passagem para o jardim real, continuara a sua caminhada pelo estreito corredor. A serva manteve o seu rosto oculto nas sombras — vestia-se do mais belo linho egípcio e, apesar de não ver o rosto da jovem dama, Caroline arriscara-se a crer que jamais a vira no harém. Nenhum escravo, nenhum servo. Nada além do silêncio. Como se nunca houvesse uma criada naquele local, os vestígios do que seria o rastro de uma empregada desapareceram na imensidão do palácio: levando a jovem donzela grega a uma câmara deserta.

Guiando-se pela luz das tochas, Caroline encontrara dois outros corredores, que desciam de forma íngreme e a levaram para a parte frontal da sala. Em cada lado da câmara havia seis cômodos divididos, e um corredor adicional que levava a outra passagem.

Admirada pela pintura que aparecera sob a luz da tocha, a jovem grega parara para admirá-la de perto. A parede perfeitamente enfeitada com belos desenhos que retratavam uma luta entre nobres, julgando-se pela posição das bigas e os arcos empunhados.

O desenho, retratado com cores vivas, representava dois príncipes defrontes um ao outro. Embora a jovem não possuísse conhecimento algum a respeito de hieróglifos, avaliando-o pelo falcão imposto sobre a cabeça de um dos príncipes, com um das asas indicando-lhe o caminho, Caroline adivinhara perfeitamente a quem a figura retratava.

— A cura — disse uma voz feminina vinda do interior da câmara. — A joia do Nilo. A destruição da dinastia. Uma guerra do coração. A história se repetirá novamente.

Incrédula pelo dito, Caroline caminhara até o fim da câmara escura, com uma tocha chamejante em mãos. Não havia nada. Virando-se novamente em busca de um caminho retorno até o harém real, intimidou-se pelo rosto de um jovem príncipe que surgira.

— Perdoe-me — pediu educadamente. Um jovem robusto, cabelos curtos, mas não raspados como os demais membros da realeza, joias dispersadas pelo corpo e uma expressão de que acabara e sair de uma guerra; ressaltando o seu corpo transpirado. — O que faz uma jovem neste local?

— P-perdida — sussurrou. — Perdi-me nesse local, senhor. Seguia uma serva a este ambiente, mas esta desaparecera sem rastros.

O príncipe semicerrou os olhos em busca de ver o fundo da câmara. Nada viu. Olhou em seguida para a jovem grega e sorriu:

— Ninguém vem a esse lugar há anos. A última vez que viemos aqui, meu meio irmão pintara essa lenda no interior da sala — contou visualizando a parede do salão. — O maior equívoco é, de fato, a rainha tê-lo educado para incumbência de dar continuidade a dinastia. Ela o ensinou que a verdade seria aquilo que ordenasse. Ele acreditou.

Caroline percebera o tom amargo na voz do príncipe. Somente processou o dito; o mais velho, filho da rainha e herdeiro do trono, não havia vencido a batalha no qual relatara na parede da câmara.

— Ele não o venceu — afirmou. — Mas então por que não confessa a verdade?

— Pois a derrota é ilegal no Egito — respondeu ele após um intervalo. — Vasculhe cada bloco, pedra ou documento lítico, desconfio que encontre registros de derrota entre a realeza. É um fato oculto das futuras gerações.

— Devo ir, majestade — prosseguiu pelo corredor sem rumo.

— Espere — disse o príncipe puxando-a pelo braço. — Diga-me o seu nome.

— Caroline, majestade. — sussurrou a moça.

— Não se refira a mim com reverência — repreendeu-a. — Chamo-me Tyler. Nada fiz para que recebesse tal titulo. Sou apenas mais um filho à deriva na corte.

(***)

O majestoso falcão cortara o céu noturno. Logo mais pousara nas margens do rio Nilo, arrancando a serpente que repousava sobre a areia. A serpente de peito estufado erguera-se de maneira feroz, atacando o falcão em defesa. A ave hostilizou a víbora. Então as serpentes saíram do Nilo, invadindo a terra, multiplicando-se em torno do falcão. A majestosa ave, poderosa e veloz, nada mais era além de carcaça nas margens do rio.

Caroline levantara-se num sobressalto, girando a cabeça lentamente de um lado para o outro, buscando afastar o sonho. Sentara-se na cama com a cabeça entre as mãos, frenética. Não era dotada pelo dom dos sonhos, mas arriscava-se a crer que de alguma maneira aquelas imagens se referissem indiretamente a decadência do reino.

Na corte real, por sua vez, não havia paz. O faraó não dera noticias desde a sua partida para a guerra contra os povos do mar. Nenhum de seus aguerridos retornou ao palácio, o que implicava o pior para o futuro do Egito. O maior reino da terra agora caminhava a sua destruição. Nos aposentos reais, vieram então os sacerdotes, amontoando-se em volta do leito da rainha enferma. Caso o marido não retornasse da guerra, e o pior ocorresse a grande esposa real, o clero egípcio preparava-se para coroar o novo rei. Reunidos ao leito da mãe, permaneciam em perfeita harmonia os filhos que esta concebera; embora abatidos pelo estado deplorável em que esta se encontrava, ocultavam os receios, permanecendo de olhos erguidos.

— Malditos, malditos! — bradou o futuro rei introduzindo-se no aposento real. — Malditos povos do mar!

As servas deslizaram cuidadosamente um lenço levemente banhado contra o rosto sublime da esposa real. Invejada por sua beleza, seus traços sem iguais e pele perfeitamente asseada: rosto longo e uma tonalidade pálida — agora nada mais havia do que uma mulher seca, lábios ressecados e olhos fundos. Nem mesmo o filho Niklaus reconhecera a mãe naquela condição.

Encontrava-se a bela rainha das duas terras numa situação indigna. O corpo inerte reclinado sobre o leito, movendo apenas os olhos em acompanhamento do que se passava por diante, esforçando-se para mover os membros, mas sem resultados. Seus filhos trocaram um olhar que indicava receio. Os sacerdotes se inclinaram sobre o corpo da esposa real; retirando-lhe as vestes e presenciando o seu corpo nu, notaram que uma marca negra espalhava-se sobre a espessura corporal.

— Encontrem a cura — revelou o sacerdote num estado excessivo. — A joia do Nilo. Uma guerra divina. Luta armada entre a mesma linhagem. A história se repetirá novamente.

— Interprete-o — implorou com insistência a princesa. — Não compreendemos a linguagem simbólica e divina do clero.

— A morte da grande esposa real está visível — disse o sacerdote. — Quando a marca de veneno atingir o seu coração.


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Notas finais do capítulo

Não é novidade a minha insatisfação com os leitores fantasmas. Não gosto de cobrar comentários, mas vocês me obrigam a fazer. Sei que todos o que comentam neve devem ler isso, sinto muito, mas não tenho escolha. Pelo número de acessos e acompanhamentos, vejo que muitas pessoas acompanham a trama, mas são poucos aqueles que tem a bondade de comentar. Muitos de vocês como autores, sabem muito bem o que eu sinto em relação a isso. Então estou aqui me disponibilizando para propor um acordo com vocês, queridos fantasmas rebeldes. Enfim, caso melhorem no número de comentários e etc, irei agendar um capítulo para dia sim e dia não. Bem, os único interessados na proposta são vocês, então peço que reconsiderem. Próximo capítulo será postado no dia 23/06. Sim, um breve hiatus. O que acham ser esta joia do Nilo?