Klaroline; Areias Do Tempo escrita por Miss Mikaelson


Capítulo 4
O filho da luz


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas pela demora, mas eu estou BASTANTE ocupada. A escola e o Enem se aproximando tem consumido todo o meu tempo, espero que tenham compreensão pois eu estou sem tempo de atualizar todas as histórias, mas não os abandonei. Quero que saibam que sempre leio todos os comentários e assim que posso respondo. Obrigada aqueles que tiveram a consideração de enviar uma MP para saber como eu estava. Esse capítulo será explicativo e de suma importância para o desenrolar da trama, tendo como principal objetivo focar no inicio de uma nova dinastia, conflitos e mistérios. Nos próximos capítulos pretendo fechar os parentes dados em "A joia do Nilo".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/467787/chapter/4

Olhos baixos e ombros caídos, cabisbaixo, com o rosto ensanguentado e o corpo flácido com ferimentos provocados por facas. Assim retornou o arauto do rei, que saíra com o faraó para guerrear contra os povos do mar há dias. O conselheiro desmoronou em frente ao trono do rei, ocupado por seu primogênito desde então, que se tornara faraó em tudo, menos em título. Os guardas trouxeram água e curativos para curá-lo. Embarbeceram os seus lábios com água e limparam-lhe os ferimentos com cautela, enquanto este aos poucos abria os olhos e murmurava palavras sem sentindo, seguindo de gritos clementes.

O príncipe inclinara-se a fim de compreender os ditos do arauto. E ele aos poucos recobrava a memória, levantando-se com a ajuda de seus companheiros deixados no palácio, curvou-se diante de sua majestade, com a espada apoiando-o diante do rei, contando-lhe:

— Meu senhor, és de fato o governante dessas terras.

Na entrada do palácio surgiram duas figuras robustas que caminhavam com dificuldade até o trono real. Mesmo feridas pela batalha, os dois soldados desataram o corpo inativo do antigo rei nos pés do filho. Com uma face irreconhecível até mesmo para o seu herdeiro, que custou a crer que ali, golpeado nos braços, rosto e uma abertura no peito provocado por espada fosse o pai, que saíra para guerrear exalante de vida e juventude.

O príncipe, agora o rei de direito, cerrara os punhos e soltara um brado clamoroso que se ecoara por todos os cantos da casa real. Os seus irmãos de sangue surgiram de todos os lados do palácio, amedrontando-se ao ver a cena, reuniram-se de maneira ordenada detrás do trono do novo rei, lamentando-se pela morte do pai, executado pelo exército inimigo.

— Chamem os sacerdotes — diz Elijah moderando o tom de voz. — É tempo de galardoar nosso irmão como o rei do Egito.

Iniciaram-se os preparativos para a coroação do futuro rei, que recebera um império desfragmentado, ressaltando as condições atuais; o envenenamento da rainha e as rebeliões de trabalhadores de pirâmides. Os sacerdotes preparam o corpo do antigo rei para que este pudesse se encontrar com Osíris no afamado tribunal. Feito isso, seus feitos em vida, assim como os escravos mortos, animais e todos os bens deste adquirido, foram sepultados ao seu lado na tumba no Vale dos reis, para que o servissem na pós-vida. O Egito entrara num estado de profundo pesar devido à morte do antigo reinante. Homens não faziam a barba nem mulheres trocavam as vestes durante os dias de mumificação para que o corpo fosse preparado para a vida eterna.

O filho mais velho conduziu a cerimônia do pai, fazendo as honras de abertura da boca da múmia, para que a mesma pudesse dizer o seu nome aos deuses, e assim interceder pelo império deixado nas mãos do filho.

Pela tarde, quando o sol se punha no zênite do Nilo, a cerimônia de coroação dera-se inicio. O reino que lastimara a morte do antigo governante, agora celebrava ascensão do novo chefe reinante das terras egípcias. Os povos se reuniram ao redor do palácio, festejando o inicio de uma nova dinastia. Os irmãos legítimos aglomeraram-se ao lado do trono do novo rei, enquanto as esposas e filhos do harém real temiam pelo novo chefe do império. Poderia o novo rei exilá-los das terras com um simples aborrecimento, afinal.

Momentos antes da ascensão do governo assentou-se o príncipe nos pés da estátua do deus da sabedoria, Toth, localizada no longo corredor desértico que ligava o palácio até a varanda onde o rei se mostrava aos súditos quando estes tinham permissão para adorá-lo. Uma varanda ricamente decorada por quatro colunas colossais, elegante, onde a água da fonte que caía da boca da estátua do deus Amon serpenteava resplandecente e chamativa sob o sol árduo. Da vista da varanda via-se o Nilo ao longe, onde, dali por diante, o falecido rei se transportaria por sobre as águas na barca doura de Rá, intercedendo pelo império terreno.

Naquele momento, carregando o peso de um império nas costas, Niklaus lembrou-se da mocidade, quando era apenas um menino da corte real educado para o cargo de faraó. Estava evidente que o pai criava o filho para exercer a função sagrada de rei. Ao fechar os olhos, ainda nos pés da estátua, em busca de que o deus da sabedoria se compadecesse de seu lamento e temor ao governa o império, visualizou a cerimônia de passagem da infância para a vida adulta.

Nunca sentira tanto temor quanto em seu décimo terceiro ano de vida, quando o seu pai, Merneptá, o convocou para a arena onde os soldados da guarda real eram treinados para o combate. No meio do campo, entrementes, um touro de olhar negro como a escuridão da noite e jeito feroz como a fúria do próprio Rá rasgava a arena em massacre aos soldados.

O primeiro guerreiro lançou a corda de laço na ponta contra os chifres da besta, mas caiu ao solo, arrastado pela força no animal e arremessado contra as armas no fim do arsenal. O príncipe recuou, paralisado ao lado do pai que o olhava severamente. Pelo que diziam as escrituras Merneptá havia herdado a severidade de Seth e personificação de coragem gloriada por Ramsés.

Os soldados avançaram contra a fera, mas, vendo que em morte resultaria o trabalho de enfrentar a besta, afugentaram-se da arena como uma caça que corria do caçador, mas ainda assim pereceram como animais, mortos com a espada do rei na garganta. O último soldado, vendo a agonia dos aguerridos, fugiu acuado pelo medo. Ao ver a desonra no servo, Merneptá ordenou aos demais que o matassem ali mesmo, e que seu corpo fosse oculto nas areias do deserto, com a língua cortada para que o mesmo não pudesse dizer seu nome aos deuses da pós-vida e, com isso, exilado para o submundo de Osíris.

— Vê o motivo de tê-lo matado? — perguntou ao filho estático em seu lado.

— Ele era um traidor, não? — sibilou a criança com os olhos enfraquecidos.

— Não. — esclareceu o rei. — Ele era um covarde. A covardia é mais letal que a traição. E não permito que covardes caminhem em minhas terras. Um homem não é nascido apenas de riquezas e sabedoria. É preciso coragem para não fracassar. Ide agora ao meio do campo e traze para mim a cabeça do animal.

O rapaz recuou.

— Lança-me para morte certa, meu faraó.

— Diga-me quem és de fato — o rei elevou a voz. — O príncipe herdeiro do trono egípcio ou o filho bastardo de uma criada?

— O filho de um rei — pronunciou em voz baixa e amedrontada, olhando para os pés.

O rei o esbofeteou no rosto com a finalidade de fazê-lo lhe encarar.

— Errado — o pai vozeou possuído de raiva. — O primeiro entre os príncipes. Toda minha honra e glória repassadas a ti, meu sucessor. Seu destino está selado desde o dia em que rompera a madre da rainha: dar continuidade a dinastia e a glória dos que vieram a te anteceder. Um faraó só é digno de esplendor quando o império é mais grandioso do que o seu antepassado. Quéops, Quéfren e Miquerinos. Pai, filho e neto. Seus reinados se distinguem na grandeza de cada um. Tão como o rei Seth, meu avô, que se engrandece parcialmente por seu herdeiro, meu pai, que fizera o Egito que hoje você caminha e um dia governará. Agora confirme que o sangue desses homens corre também em suas veias. Prove-me que será digno de herdar o império. Vá para a arena e traga-me a cabeça do animal e lhe farei um homem; o príncipe regente comandante das tropas egípcias. Ou fuja como um covarde e fazei com que um bastardo, o filho de uma escrava estrangeira ocupe o seu lugar divino e selarei seu destino ao sacerdócio, um servo de Amon, distante da vida palaciana e, na mesma varanda em que o apresentei com júbilo aos súditos como o herdeiro das duas terras, da mesma forma o renegarei como o filho do meu corpo. Prometo-te se caso não trouxer a mim a cabeça da fera... Nunca mais nos veremos.

— Há uma multidão de súditos ignorantes ao redor do palácio desejando ver o novo rei, Alteza.

A voz melódica de Caroline fê-lo desonerar-se do sonho. Parada em frente ao rei, com uma túnica de linho rasgada nas pontas e encardida na cintura, agarrada a jarros de água trazidos do córrego que dividia o fundo do palácio.

E a sentença de morte haveria de ser dada a escrava pelo fato de não se curvar perante seu senhor, mas ele não o fez. A escrava grega o olhava nos olhos com firmeza, não se curvava e, apesar do orgulho ferido do rei ser a maior dentre suas fraquezas ocultas, ela o fazia desafiar a si próprio. Talvez seja esta uma razão para mantê-la viva, pensara.

— É provável que anseiem por uma rainha — repeliu. — A cada dia que o deus sol corta o Egito, a marca negra no corpo de minha mãe se engrandece. Os servos divinos nada podem fazer quanto a isso e pelo que estimam logo a rainha se unirá ao esposo na pós-vida. Com isso, como o estipulado pelas sagradas escrituras, Rebekah será minha rainha.

— Como se sentirá majestade? — discursou com arrogância. — Ver o império de seus ancestrais em decadência com a ascensão da sua irmã no trono...

Ele limitou-se a um sorriso mínimo pela sentença verídica.

— Um fato autêntico — concordou o rei levantando-se dos pés da estátua. — Fale o que desejar Caroline. Poderá assistir a ascensão do meu governo do harém onde viverá até o fim dos dias.

— Pois um dia ambicionara minha presença em seu leito, agora não deveria demonstrar sequer redenção?

— Redenção é para os fracos. — Dito isso se retirou para a varanda onde os sacerdotes o aguardavam para a coroação.

Os irmãos ao lado do futuro rei destacavam-se em seus trajes de linho e suas joias a adornar os corpos, mas a glória dos príncipes jamais se comparava as vetes do rei, que transmitiam toda a sua grandeza e opulência. Um saio plissado branco enfeitado com fios finos de ouro e prata, e na fivela acima o nome do rei gravado em signos de ouro assim como o Nemes azul e dourado que escondiam seus cabelos da multidão de súditos.

Posicionou-se o futuro governante em frente ao trono que mais tarde se assentaria. Os sacerdotes de Amon-Rá trouxeram-lhe o antigo cetro de seu pai e puseram-lhe a coroa da serpente estufada. O rei assentou-se ao trono, e por um momento o silêncio perdurou.

— Contemplem o rei do Egito — preferiu o sacerdote. — O filho de Rá. Hórus vivo que caminha sobre a terra. O senhor do Baixo e Alto Egito. O rei de aparição magnífica; querido de Amon-Rá. Touro poderoso de aparições. O Hórus dourado. Rei falcão. Que a realeza e sabedoria do Grande Faraó permaneçam nele por muitos e muitos anos.

Levantou-se do trono e caminhou pelo carpete carmesim até a sacada para avistar a multidão que jorrara em saudações. Ergueu os braços em posse dos cetros em cada mão, e por um tempo, sentiu o peito a encher-se de alegria. Agora era o comandante de fato. Os súditos inclinaram os corpos até que a boca tocasse o chão e os olhos se passassem longe dos olhos do rei.

Voltou a sentar no trono e os serviçais carregaram o rei para a sala do trono, seguidos pela comitiva real que se resumia aos irmãos legítimos, sacerdotes e alguns soldados que marchavam em duas fileiras organizadas ao lado do rei.

O dia expirou e tão rápido ascendeu-se novamente. Era fim de madrugada quando os serviçais adentraram no quarto do rei do Egito, acordando-o, guiando-o até os ritos religiosos do inicio do dia. Enquanto dois servos dividiam-se entre cuidar da barba rala do faraó e dos curtos fios loiros que cresciam intensamente na cabeça, derramando-se em cachos sobre a testa, os demais cuidavam da purificação corporal do rei, ascendendo incensos no romper do dia e servido vinho.

Após a purificação matinal os chefes religiosos seguiram ao passo do rei para a sala dos deuses, cuja entrada secreta dava-se aos pés da imensa estatua de Toth, e no silêncio da câmara pediram por clemência a Seth, que não derramasse sua fúria no reino, rogando a Amon para que os avisasse do perigo quando estivesse a se aproximar e uma breve prece a Néftis, que guiasse o antigo rei ao tribunal dos mortos.

O sol se ascendia com mais força no horizonte. Marchou o rei até a sala dos tronos e lá se deu inicio aos julgamentos do dia. Somente então Niklaus compreendera o pesar dos ombros do pai. Prove-me que será digno de herdar o império, lembrara-se das palavras do pai.

— Senhor — disse o arauto — estes dois homens foram pegos furtando uma tenda de armas no comércio do Baixo Egito.

Dois rapazes de semblante afeiçoado e cabelos negros curtos vieram ter com o rei. O cabelo e as túnicas imundas revelaram de imediato que os dois homens não pertenciam ao Egito.

— Dois estrangeiros que roubam da terra que os acolheu não são dignos de clemência. —falou o soberano a observá-los do alto das escadas do trono. — É um crime imperdoável tanto para os deuses quanto aos homens. — Olhou para os guardas ao lado. — Levem-nos daqui. Serei bondoso e darei aos homens o poder da escolha: a mão direita ou a castração.

Ecoou o berro dos homens que protestavam por piedade, levados pelos guardas que executariam as ordens do soberano. Sentou-se no trono apoiando a cabeça em um dos braços. Mais dez casos aguardariam seu julgamento.

— Hórus Dourado — chamou o sacerdote de Amon-Rá, parado com o corpo encurvado ao lado do trono. — Leve em consideração sua sentença, senhor das duas Terras. Eram dois rapazes famintos que...

O rei ergueu a cabeça, furioso:

— É a palavra final do seu rei! Dois estrangeiros que roubaram de terras egípcias. Piedade é para os fracos, foram essas as instruções de meu pai, seu antigo rei, portanto não me diga como comandar o meu império.

— Perdoe-me, Rei Falcão. — afastou-se ao lado da trilha de chefes religiosos.

O arauto veio à frente do trono; abrindo papiro e recitando as vontades do novo chefe.

— É tempo de pesar para o Egito. — vociferou o servo. — Vivemos em tempos de guerra com um inimigo que nos assombra desde a antiga dinastia. Uma batalha violenta que ceifara a vida do nosso antigo reinante, mas ascendera uma chama de esperança com o inicio de uma nova era. Que Osíris tenha em seu tribunal nosso afamado rei, que interceda por nosso império terreno e compadeça o coração de Seth e nos poupe de sua cólera divina. Por ordem do Hórus Dourado, o senhor das duas Terras, Rei Falcão, o filho de Rá...

— Poupe-nos de títulos imbecis e apresse o assunto! — delegou o rei.

—... o rei nomeia o seu irmão de sangue, Elijah, como o atual chefe das tropas egípcias — continuou. — É de desejo de vossa majestade que todo aquele homem que ousar dar continuidade as rebeliões seja punido com a pena máxima. Ainda manifestando-se a guerra contra os hititas, todas as famílias deverão oferecer à corte seu primogênito, para que seja ele alistado a tropa egípcia e enviado para combate a qualquer momento. Aquele que se recusar a entrar na guerra terá a cabeça exporta na entrada da cidade. Por fim, esperamos um reinado de grandeza e exuberância, bem como um inicio próspero de uma nova dinastia.

— Suspenda os julgamentos por hoje — alegou o faraó levantando-se do trono. — Saiam todos!

Num passo enfileirado e ensaiado todos os guardas partiram atrás do clero. O arauto por último começou a sair, mas foi chamado pelo rei.

— O que ele disse? — perguntou fitando o rosto longo do servo. Sua voz por um momento aparentara dor, mas em seguida virara desprezo e autoridade. ­— O que disse o meu pai antes de morrer?

— Nada — respondeu o conselheiro sem virar os olhos. — Bem, não exatamente algo que fizesse sentido, majestade. Não deixe que o erro de todos acabe com o menino, dissera-me o senhor seu pai.

— Que erro é esse?

— Dizem que há aqueles que logo perdem a lucidez ao se deparar com as portas do tribunal dos mortos, Alteza. — sussurrou o servo agora olhando diretamente no profundo dos olhos do rei. — O sol se põe para um governante e se levanta com uma nova era. Seu pai foi um bom rei, meu faraó. Mas até o melhor dos governantes tem suas falhas.

— O que me diz sobre o exercito hitita? — perguntou o Hórus Dourado, de repente interessado na guerra que roubara a vida do pai.

— As perdas de homens foram menores para os hititas, meu senhor. — assegurou. — Logo mais o rei hitita liderará um novo ataque, imaginando ele que estará em vantagem ao lutar contra um novo governante que tem pelo menos a metade de sua idade.

Levantou-se o rei duramente do trono:

— Então arrancaremos o coração do maldito e o enfiaremos em sua boca. Recrute novos soldados, coloque homens de vigia ao acampamento hitita, faça o rei chorar e clamar pela mãe enquanto saqueamos sua cidade. Não estamos ligados a dinastias anteriores, nem por casamento nem parentesco, portanto, será no campo de batalha onde provaremos nosso valor.

Veja também:

Forbidden Love


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente aqui! O foco principal da narrativa foi a coroação do novo rei e, sim, as coisas se complicarão ainda mais durante a batalha hitita e, sem querer dar spoilers, mas principalmente para Caroline. Teremos vários personagens apresentados no próximo capítulo, e digamos que vários conflitos para apimentar. Como ressaltei anteriormente, estou sem tempo para atualizações, portanto não tenho uma dada prevista para o próximo, porém espero que não demore muito para que eu possa postar o capítulo seguinte de complemento.
Beijos e até o próximo.