Klaroline; Areias Do Tempo escrita por Miss Mikaelson


Capítulo 2
Vale dos Reis


Notas iniciais do capítulo

Oi, minhas lindas, tudo bem? Desculpem pela demora, mas aqui estou. O resultado deste capítulo foi bem satisfatório. E aí, o que acontecerá no decorrer da história? Leiam as notas finais.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/467787/chapter/2

Quando o seu próprio nascimento é uma dádiva e o seu futuro é herdar o maior reino já erigido; não se pode culpá-lo por não empenhar-se em favor daquilo que não herdara. Nunca houvera desafios na vida do jovem príncipe que não se consolidasse com a palavra do faraó, seu pai. Agora, o herdeiro do trono encontrara-se num campo de batalha sem fim — em busca do coração da jovem grega. Jamais houvera uma luta tão singela e ao mesmo tempo árdua como o sol adusto do deserto. Afinal, o que se esperar da jovem dama que não se fartava apenas com joias assim como as demais concubinas?

Caroline, a moça grega que encantara o coração fátuo do príncipe primogênito, fora mandada para o harém juntando-se a mais trezentas moças vindas de Mitanni e Grécia. Pela tarde as servas vestiram-na com com uma túnica de linho vermelho, após um longo banho de leite de cabra a fim de amaciar a sua pele ressecada pelo sol, enfeitaram-na com as mais finas joias e a mais bela peruca. Demarcaram seus olhos como as moças egípcias destacando os olhos com uma sombra verde.

Em seguida, enquanto esperava pelas ordens dos escravos do príncipe, Caroline assentara-se junto às crianças de faraó, que eram criadas e tratadas no harém ao leito de suas mães. Ela acariciara o rosto fino do jovem príncipe que se aproximara. Era uma criança franzina: possuía lábios grossos, a pela numa bela tonalidade de cor amêndoa, olhos âmbar e a cabeça raspada como das demais crianças, porém uma única trança de um lado da cabeça — uma verdadeira marca dos príncipes. Esta era, no entanto, a décima criança nascida de faraó, filho de sua segunda esposa e jamais ocuparia o trono.

— Radamés — disse a mãe da criança em tom plangente, arrancando-a dos braços de Caroline.

Caroline encarara-a incrédula. A jovem egípcia era dotada de um olhar fatal e misterioso. Quando a jovem entrara no harém pela primeira vez três concubinas avisaram-na a respeito da rivalidade que predominava naquele local. Esposas disputando atenção do faraó assim como filhos em busca da atenção do pai, mesmo sabendo que mínima seria esta atenção.

— Não se acanhe — sussurrou uma concubina deslizando para a esquerda de Caroline. Esta possuía olhos castanhos e rosto longo, pele dourada pelo sol e postura invejável assim como a moça a sua esquerda. Ambas partilhavam as mesmas feições e modo gentil sem igual. Embora a de olhos castanhos parecesse muito mais velha do que a jovem de olhos verdes ao seu lado.

— Serás tratada assim durante os primeiros meses — acrescentou a moça ao lado. — Enquanto a verem como uma ameaça.

— Uma ameaça? — retrucou Caroline elevando o sussurro. — A quem estou ameaçando?

— Esta é uma história antiga — contou a donzela de olhos castanhos. — Nos últimos anos do reinado do grande faraó, quando este se encontrava debilito e cansado pelos anos que dedicara ao império; logo após a morte prematura de seus filhos primogênitos, o grande faraó nomeara o seu décimo terceiro filho como sucessor; sendo assim, este subiria ao trono anos depois, quando o faraó passasse para a outra vida. Bem, ainda como co-regente, sua mãe escolhera uma jovem do harém para casar-se com o futuro rei. Todavia que o coração do príncipe já pertencia a outra moça, mas este nada dissera a fim de não contrariar a palavra de vossa mãe. No terceiro ano de seu reinado ele tomara a serva que amava como esposa, fazendo-a sua favorita. Embora no quinto ano de reinado a esposa real dera a ele o que realmente o faria amá-la; um filho. O primogênito que se assentaria ao trono. Ela então se tornara a sua favorita, sua esposa, amante... A única de real importância. Kia, por outro lado, era seca e impossibilitada de conceber um filho. Uma verdadeira vergonha para uma mulher. Ao longo dos anos o rei tomara novas esposas e a rainha concebera mais filhos, mas...

Ela interrompeu-se abruptamente ao ver Kia desfilando pelo harém, mimando o filho Radamés em seus braços. Aquela criança era, de fato, a única esperança para que o seu sangue chegasse a alcançar a linhagem de sucessão.

— Mas? — inquiriu Caroline ao ver que Kia mantinha-se longe.

— Não se deixe enganar pelo rosto impermeável, minha criança — continuou. — Após a morte prematura do filho mais novo da esposa real, o quinto filho de direito ao trono, Radamés está a um passo a frente de ocupar o lugar de sucessão. Em caso...

— Em caso de assassinato dos filhos mais velhos — completou Caroline. — Mas o que a minha presença no harém está relacionada a isso?

— Kia não é confiável — devolveu o argumento. — Sendo a favorita do herdeiro ao trono, vossa presença acarretará empecilhos nos planos dela, sejam eles quais forem. Presumo que a morte do mais moço da rainha tenha o dedo de Kia. — A mulher pusera as duas mãos firmes no rosto de Caroline. — Ouça-me com atenção... deite-se ao leito da naja asquerosa do deserto, mas jamais olhe naqueles olhos negros da víbora que habita o harém.

— Não farei — assegurou Caroline.

— Veja a pobre Dafina — murmurou rolando os olhos para a moça desolada ao fim do harém. Caroline acompanhou o olhar da senhora. — Aquela era a terceira esposa do faraó. Tomada por ele anos depois do nascimento da princesa. Esta lhe deu um filho, mas misteriosamente a criança desaparecera do leito da mãe. Todos presumem, porém dificilmente assumem... Kia é a principal suspeita desde então.

Caroline pôs a mão sobre o rosto, indignada. Logo em seguida interrogara:

— Então se a senhora Kia deseja tanto por seu filho ao trono, por que não desaparecera com o primogênito do rei? Somente ele tem o real direito a herdar o império.

— Veja bem, Caroline — respondeu a mais nova. — Desde o nascimento do príncipe real, seu pai ordenara que o filho fosse criado junto à corte, ao seu lado, separando-o das demais crianças. O favoritismo dele jamais fora oculto. Aos cinco anos de idade o príncipe acompanhara o pai numa guerra em que saíram vitoriosos. Agora serás tu um alvo vivo de Kia, sabendo que se tornara a favorita do co-regente... isso seria a garantia de mais um herdeiro na linhagem.

Caroline sentira o coração agitando-se convulsivamente. Aquele não era o harém real — não o afamado harém de faraó, conhecido pelo povo pelas mais belas moças de todo o Egito. Aquele era realmente o verdadeiro lar de najas.

— Chamo-me Amina — revelou a mais velha. — Esta é a minha irmã Alisha. Viemos da terra de Mitanni anos antes da sua vinda. Quando... bem, logo no inicio da concorrência entre a realeza egípcia.

Não era preciso esforço para perceber a dor naquela voz. Alisha desviara os olhos para os pés, enquanto a irmã olhava para um canto vazio; como se sua mente viajasse ao longo do tempo. Havia uma história de competição entre as irmãs de Mitanni e a jovem egípcia. Amina abaixou os olhos deixando uma lágrima escorrer pelo rosto de querubim. Apesar de aparentar uma meia idade, Amina possuía traços belos e amorenados: mais belos do que qualquer moça na flor de sua mocidade.

— Amina tornou-se esposa de faraó logo após sua chegada — disse a sua irmã Alisha. — Quando ela concebeu... bem, esta criança jamais veio a nascer...

— Alisha, querida irmã, não incomode a nossa jovem com desavenças passadas — pediu Amina em seu tom mais educado. — A questão é: siga o juízo de quem muito sofreu pelas maldades de Kia.

Liberando um meio sorriso meigo Amina e Alisha desapareceram do campo de visão de Caroline. Esta desviara os olhos para o fim do harém, num local isolado de todos, com expressão asquerosa e o filho nos braços, encontrava-se Kia — a naja que habitava o harém. Kia percebera os olhares da jovem grega, e, ainda com os olhos estreitos encarando-a, soltara um sussurro imperceptível.

Caroline virou-se. Não era seguro encarar a víbora do harém, avisara Amina. Assim então faria. Livrar-se-ia dos planos malévolos da egípcia se caso não entrasse em seu caminho.

— Caroline — estrondou a voz do príncipe real. Naquelas circunstâncias qualquer moça haveria de se alegrar com o herdeiro chamando-a pelo nome. As mulheres e crianças curvaram-se diante do filho mais velho de faraó; muitas evitavam olhá-lo nos olhos e as demais crianças encaravam-no com desalento. Aquele era o filho real; de verdadeira importância. Viviam naquele harém ao leito das mães pela vontade do pai, mas quando este passasse para a outra vida, dependeriam unicamente da palavra do irmão.

Ainda em estado irresoluto ela caminhara rumo a ele. O príncipe a cortejou no mesmo instante em que esta abaixara os olhos em reverencia, fazendo-o soltar os lábios formando um sorriso harmonioso.

[***]

O sol íngreme finalmente abaixara-se no horizonte do Nilo; dourando a superfície das águas que, por sua vez, permaneciam remansadas durante o inicio da noite. Os guardas reais galgavam na frente em suas bigas, enquanto a jovem seguia atrás junto ao príncipe, sem imaginar o que o faria atraí-la para aquele remoto e árido local — estabelecido nas margens ocidentais do Nilo junto às montanhas de Tebas.

Os guardas depositavam tochas flamejantes ao longo do caminho a fim de iluminá-lo. Os cavalos dificultosamente percorriam o caminho rochoso, mas, ainda que de modo dificultoso, concluíram com êxito o desafio.

Caroline observara com fascínio a imensidão do local. Ainda que as duas estátuas esculpidas de cada lado da rocha não se encontrasse no tamanho da normalidade, ainda assim não deixara de ser um âmbito encantador.

— Esperem-me neste ponto — disse o príncipe aos guardas recebendo logo em seguida uma tocha do aguerrido da esquerda.

— Mas... — este mesmo tentou argumentar.

— Não me repreenda — diz o futuro rei.

Um som de fascínio fugiu dos lábios de Caroline assim que adentraram a câmara. O ambiente era invadido por colunas colossais, as paredes ainda inacabadas eram preenchidas por desenhos e hieróglifos; cada minucioso detalhe bem repensado, câmaras, tumbas. Somente então ela percebera onde estavam. O tão celebre Vale dos Reis — onde os faraós e seus filhos sucessores eram enterrados desde o império antigo.

Apenas a tocha os aquecia. Aquelas paredes liberavam um frio intenso. O verdadeiro frio do deserto: as brisas regeladas que assopravam intensamente durante toda a noite compensavam o sol árduo durante o dia.

— Este é um local sagrado — revelou o jovem. Caroline prendeu os olhos no rapaz. — Não obtive permissão para estar aqui

— Mas ainda assim o fez — afirmou fitando o saiote do herdeiro que nada mais trajava além das joias que ocupavam o seu corpo.

— Quando se é filho dos deuses — retrucou —, às vezes nem mesmo o seu próprio pai é capaz de vetá-lo.

Ele então apontou em volta com a tocha, gesticulando para que ela o acompanhasse com o olhar. Assim o fez, seguindo os gestos dele de acordo com a iluminação. Por fim ele pousara a tocha num canto inferior da parede, parando para explicar a pintura.

— Uma moça que valoriza as artes deveria conhecer esta história — reclama sorridente. — Veja bem esta pintura — interrompeu-se amargamente ao vê-la. Um corpo reclinado seguido pela realeza e imagem monumental do faraó com a serpente de peito estufado em sua coroa.

— Esse é o seu pai? — perguntou interessada.

— Não — negou o rapaz. — Este é o pai de meu pai, sepultando o seu filho primogênito após a sua prematura morte. Narram as escrituras que este era o seu favorito, o filho nascido de sua amada esposa, Nefertari. Este seria o seu real herdeiro, mas a sua morte favorecera o trono ao meu pai, Merneptá, o décimo terceiro filho. Logo abaixo naquelas câmaras, encontram-se grandes nomes do Egito. — Mudando a claridade do local pusera a tocha num canto mais amplo, contou-lhe: — Esta simboliza a vida de Tutancâmon. O filho enfermo de Akhenaton, nascido de sua meia irmã. Morreu sem herdeiros anos após assumir o trono. Antes havia perdido duas filhas nascidas de sua meia irmã, Ankhesenpaton, filha de Nefertiti. Uma verdadeira maldição dos deuses. Presumo que, muito embora a sua vida tenha sido enferma e amaldiçoada pelos feitos de seu pai, este conseguira encontrar a paz após restaurar o império desfragmentado deixado por Akhenaton.

— Não há rainhas sepultadas? — consultou demonstrando interesse em tal conto.

— As rainhas e princesas, quando passam para a outra vida, são estas sepultadas no seu próprio vale, para que seu espírito repouse durante a eternidade; aclamadas com ouro e prata, como também os feitos de seus maridos em vida. A única exceção talvez seja Hatshepsut: rainha que governou como rei após usurpar o trono do filho de seu marido. Ganhando o direito de um verdadeiro faraó.

— Não temes pelas esposas de vosso pai? — perguntou ao lembrar-se da história de Kia e comparara-a com a vida de Hatshepsut. —Não receia que a história de Hatshepsut se repita em seu reinado?

Ele limitou-se a um sorriso inepto. Nada respondeu como se isso já fosse evidente. Com uma mão segurou a tocha chamejante e com a outra afagou o rosto da moça.

— Dê-me a honra de ser minha rainha — pediu. — Governe o Egito ao meu lado. Dar-te-ei do melhor ouro da terra para que seja minha Nefertiti.

Ela o olhou sem crer. O príncipe havia levando-a do harém até o Vale dos Reis para que fizesse tal pedido. O que havia de especial na jovem escrava grega que tanto o encantara?

— Trouxera-me até a câmara de seus antepassados para que pedisse a minha mão? — tentou ela controlar o desprezo no tom de voz. Aquele era o príncipe do Egito, homem que escravizara o seu povo e invadira as suas terras numa batalha sangrenta que resultara na morte de seus pais e irmãos. — O fato de ser herdeiro dessas terras não o deixa mais aprazível. É de tal relevância que as donzelas atirem-se aos vossos pés devido as riquezas?

Ele irou-se por tamanho insulto. Aos poucos sua mente processara aquelas blasfêmias. Um insulto causado por uma escrava. Nunca ninguém ousara tamanha corajem ao referir-lhe a palavra. Largou a tocha no chão e empurrou-a contra a parede.

— Então se recusa a aceitar minha clemente oferta — rosnou o rapaz —, que apodreça no harém com as outras. Que a fúria de Rá recaia sobre o seu leito!

Deixando-a para trás com um olhar fulo encaminhara-se até a entrada principal do vale, pronto para abater sua ira contra o primeiro servo que lhe cruzasse o caminho. Aquela era a única vez que fora contrariado. Quando vergonhoso seria para a sua honra. Afinal, que nome de dá a um príncipe que desmorona aos pés de uma escrava grega?

O primeiro criado que entrara em seu caminho fora alvo da fúria. O pobre jovem recém-chegado as terras egípcias aproximara-se a fim de informá-lo, mas este recebera um golpe aplicado com a mão de um contrariado chefe reinante, que o fizera cair sobre a areia do templo.

— Majestade — disse o aguerrido ao lado, temeroso, pois jamais vira a alteza tão fula —, chamam-no na corte.

Leia mais em:

Forbidden Love

Envie Um Anjo


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Klaus sendo Klaus, rsrsrsrsr. Então o que acharam? E, antes que eu esqueça, devo ressaltar que não foram nada gentis quanto os comentários. Não estipulo numero de review pois não concordo com essa metodologia do autor, mas eu tenho que contar, é ruim você se dedicar por um trabalho, fazer algo prudente, repensar como e quando irá distorcer uma história egípcia e como isso se aplicará melhor no seu enredo e não o obter resultado.... ninguém gosta. Sejam apenas sinceros nos comentários e me enviem a sua opinião. Não morderei ninguém.