Por toda a minha vida escrita por Elle Targaryen


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Sem delongas.

Boa leitura.



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07:56 - Quarto de hóspedes da mansão Mills.

Emma abre os olhos. O teto branco, uma bola de vidro no meio, qual é mesmo o nome disso? Poderia lembrar se sua cabeça não doesse tanto. Encolhe o corpo nos lençóis enfiando a cabeça no travesseiro o mais fundo possível. Travesseiro de penas. A casa Mills sabia tratar bem seus hóspedes. Senta-se na cama. Olha em volta. Ao lado viu uma calça jeans, uma camisa branca de botões, sua jaqueta vermelha e uma bengala. O que sua jaqueta fazia ali não tinha ideia, aquela roupa devia ser de Regina, e a bengala... devia ser por causa do tornozelo. Pegou-a. Levantou com dificuldade apoiando-se na bengala. Foi até o banheiro. Tomou banho. Não queria mais sair daquele quarto. Lá fora tinha Neal, a namorada maluca dele, tinha seus pais, o time de rugby, talvez a tirassem do time por não poder treinar, tinha Regina...será que aquilo tudo foi um sonho? Será que foi ela quem trouxe as roupas enquanto dormia? Como ela agiria quando vissem de novo uma a outra? Seu plano era não descobrir, apenas descer e sair sem que ninguém percebesse.

Sai do quarto olhando pros lados. Desce as escadas com toda a cautela que conseguia. Depois devolvia a bengala, pensa. Quando atravessava o hall, já próxima a porta de entrada, ouve a voz rouca de Regina atrás dela:

– Saída à francesa, Swan? - Emma vira-se e encara a morena meio sem jeito.

– Oi, não queria atrapalhar. - Fala timidamente.

– Mais do que você já atrapalhou ontem, impossível. - Estava lá, a velha Regina..., pensa e sorri.

–Vem pelo menos tomar café. – Regina pede sem ser rude. Emma concorda e segue a morena até a cozinha.

O café estava posto num balcão alto que ficava quase no meio da cozinha. Emma senta num banco, parecido com aqueles bancos altos de sorveteria. Serve-se e começa a comer. Regina estava sentada quase a sua frente tomando uma xícara de café e lendo o jornal.

– A minha jaqueta... - Regina põe o jornal em cima do balcão:

– Você esqueceu ontem na sala de música. - Fala e volta a ler . O silêncio cai entre as duas. Depois de um tempo Emma resolve falar:

– Não sabia que você usa óculos. -Comenta. Regina mais uma vez abaixa o jornal: - Só quando leio.

Faz-se silêncio.

– Neal e Henry? - pergunta a loira já meio incomodada por aquele silencio todo.

–Dormindo. Eles não acordam cedo no final de semana. Pensei que você também dormisse até tarde. - Fala num tom surpreso.

– Algumas vezes. Não consegui dormir direto essa noite. - Emma pensou que Regina perguntaria por que, mas a morena não demonstrou interesse.

O silencio cai novamente. Emma não conseguia ler as expressões de Regina. Ela estava séria, mas não fria e dura como a Regina que conhecia.

– Obrigada. – Emma agradece.

– Pelo que, Swan?

– Por me receber aqui ontem e... e cuidar de mim. - Regina fita a garota com curiosidade. Emma segura aquele momento no olhar da morena por alguns segundos.

– Por nada, só não faça disso um hábito. Não sou sua mãe nem tia nem nada. - Diz voltando-se para sua leitura matinal.

– Jamais imaginaria você como minha mãe ou tia. – Comenta.

Regina não faz comentário. Queria olhar pra Emma o mínimo possível, mas a garota fazia muitas perguntas. “Será que ela não podia terminar logo aquele maldito café e sair da sua cozinha? Devia tê-la deixado ir embora”, pensa.

– Eu perdoo você. - Diz Emma depois um longo silêncio.

– Eu não te pedi perdão. - Regina olha a loira confusa.

– Te perdoo por ontem, na sala dos pianos. Sei que você só me ajudou essa noite por que estava se sentindo culpada, eu vi nos seus olhos, sou especialista em ler as pessoas, observo muito. Sabe como é...

– Não, não sei. Não faço o tipo que se interessa pela vida dos outros, Swan.

– Ontem não foi isso que pareceu. Você fazia tantas perguntas. - Emma fala em tom de desafio.

Nenhum comentário por parte da morena é feito. Mais uma vez se dirige ao jornal. Se estava lendo realmente, não importava desde que tirasse sua atenção dos olhos chamativos da garota.

– Obrigada pelas roupas. Serviram bem. A calça ficou um pouco curta, mas a bota cobre. - Regina apenas sorri e mais uma vez lê seu jornal.

Emma não conseguia conter-se. Não sabia o que acontecia com ela quando estava na frente daquela mulher.

– Você se veste assim nos sábados?

– Assim como? – Regina pergunta dessa vez sem desviar os olhos da leitura.

– Assim tão formal. - A morena usava uma calça jeans de corte social e uma blusa de seda vermelha com gola e pequenos botões dourados.

– Sim. - Foi só o que Regina respondeu. Estava doida pra mandar Emma sair dali voando em um foguete russo. A garota tinha voltado a ser intrometida de novo, mas por mais que quisesse esconder de si mesma, a morena estava gostando daquilo.

Emma termina de comer e fica olhando para a mulher a sua frente. Os detalhes das mãos, do pescoço, da orelha, a cicatriz no lado direito do lábio superior.

– Como consegui essa cicatriz? – Pergunta curiosa.

– Que cicatriz? - Regina fala distraída sem tirar os olhos do jornal.

– Aqui! – A garota diz pondo a ponta dos dedos no lábio superior da morena que paralisa com o toque. Mais uma vez Emma a olha nos olhos tentando segurar aquele momento o máximo possível. Ontem estava odiando a si mesma por não consegui odiar aquela mulher, mas aquela madrugada havia mudado tudo. Emma sentia como se tivesse feito um buraco de minhoca no muro espesso que Regina havia erguido em volta de si. Até então a loira não sabia exatamente o porquê de querer tanto ultrapassar aquela barreira. Mulan havia lhe dito que estava afim da diretora, mas pra Emma isso era uma ideia absurda, tá certo que tudo na morena fosse atrativo pra ela, absolutamente tudo, mas via isso como total admiração e desafio e ela não fugia de um desafio. Mas na noite anterior e agora que tinha a ponta do dedo em cima do lábio carnudo e macio da morena, agora que tinha seus olhos embebidos pelos dela, agora que via a profundidade daquele olhar e percebia a diferença com que Regina olhava pra ela, não se irritou, não fez cara de impaciência, estava o tempo todo tentando não olhar e Emma percebeu isso com facilidade. Agora entendia. Não fora apenas um sentimento de culpa, afinal, tinha mais ali, tinha mais na expressão espantada de Regina, tinha mais que uma simples culpa naqueles olhos castanhos enlouquecedores assim como tinha mais que admiração e desafio naquela íris esmeralda.

Regina deu um pulo, Henry entrava na cozinha sonolento.

– Bom dia mãe, bom dia... Emma?! - Olha surpreso para loira.

– Bom dia, garoto! - Emma retira os dedos do lábio de Regina no mesmo segundo em que vê Henry.

–Você dormiu aqui? Por que seu rosto ta machucado? – Pergunta de ma vez só.

–Sim, dormi aqui. O rosto é uma longa história. Depois o Neal te conta tudo, ok? - Diz bagunçando os cabelos castanhos do menino que sentava ao seu lado no balcão.

Emma levanta. Olha pra Regina. Ela continuava lendo aquele maldito jornal como se nada tivesse acontecido. Nenhum músculo do seu rosto de contraía.

–Eu já vou. Tenho que enfrentar as feras lá em casa. - Diz olhando mais pra Henry que pra Regina.

– Você vai ao hospital? – A morena pergunta finalmente abaixando o jornal em cima do balcão.

– Não precisa. – A loira responde.

–Precisa, sim. Você tem que bater um raio-X do tornozelo e enfaixar isso direito pra que cure de forma adequada. - Fala tentando não parecer preocupada demais. Mas Emma insiste:

– Não precisa mesmo, vai curar direito.

– Emma, eu levo você! – Regina fala num tom sério.

– Me leva pra casa? – A garota pergunta.

–Não! Levo ao médico. – Responde.

– Mas... - Ia argumentar algo, mas Regina a interrompe.

– Sem mas, Swan. Anda logo. – Levanta do banco, pega as chaves do carro, dá um beijo em Henry e sai na frente da loira.

O garoto devorava uma panqueca quando as duas começaram a discutir sobre ir ou não ir ao hospital e só agora percebeu que havia parado de comer pra tentar descobrir quem sairia ganhando, tinha achado aquilo tudo muito estranho, mas preferiu não comentar.

***

Emma entra no carro ainda relutante, insistindo que poderia ir pra casa a pé, insistência que logo desapareceu quando Regina se pôs a sua frente daquele jeito sensual e mandão que a deixava sem conseguir desviar os olhos:

– Então você tem medo de médicos, Swan? - Regina fala com uma expressão divertida e irônica na voz.

– C-Claro que não! Só acho desnecessário - Fala fazendo bico.

Regina abre a porta do carro fazendo sinal para que a garota entre.

Emma entra ainda com uma expressão birrenta. Regina senta no banco do motorista, sorri com o canto da boca enquanto dá a partida. Não podia negar para si mesma que Emma era uma criança grande. Aquele bico que a loira fazia não deixava de ser infantil, fofo e até mesmo sexy. Sim... Emma era sexy. Cabelos loiros ondulados que iam até a cintura, alta, mais alta que Regina, corpo atlético, rosto bem definido e aqueles olhos verdes que a queimava por dentro toda vez que Emma os segurava nos seus. Em seus pensamentos uma imagem insistia em aparecer: Emma levando seus dedos ao lábio superior da morena. Mesmo que por um curto instante seu olhar colando ao dela, seu olhar permitindo mergulhar naquela imensidão verde que Regina não conseguia decifrar. Quais seriam as intenções da loira com aquilo? Será que ela teria feito isso intencionalmente? No que estaria pensando? Estaria provocando-a? Com qual interesse?

A morena sabia que muitos garotos e até garotas da escola nutriam paixões platônicas por ela. Recadinhos, bilhetinhos, declarações de amor anônimas em papel de caderno. Até mesmo rosas Regina já havia recebido de alunos e alunas, mas nunca deu a mínima intenção pras paixões adolescentes. Emma seria mais uma? Sabia que não, queria negar, desde a primeira vez que a loira a desafiou em sua própria casa. Queria negar, mas não via Emma como uma criança ou como mais uma adolescente que pensa ter se apaixonado por alguém simplesmente pela pessoa ser bonita ou algo do tipo. Regina sabia que ela era diferente e queria muito saber no que a loira pensava, em quais eram suas intenções com aquelas brincadeiras e insinuações. Mas a grande interrogação da morena ainda estaria por vir.

"Neal não é meu namorado e eu não sou criança, Regina!"

– Regina? Regina? Você passou da minha casa. - Diz Emma. A morena parecia estar longe dali, perdida em pensamentos.

– Não estamos indo para sua casa, sabes disso. Você tem um encontro com o doutor Whale.

Emma bufa dizendo: - Sei que minha companhia é algo que você queira muito, Regina, mas basta você dizer que quer ficar perto de mim que eu fico perto de você. – Diz com uma voz desaforada e provocante.

– Não se anime. Não planejava trazê-la. Pensei que você também dormiria tanto quanto Neal e ele traria você, mas acordou cedo então..., Sobrou pra mim.

–Sobrou pra você? Sei... Admite que gosta da minha companhia, senhorita Mills. - diz Emma divertindo-se.

Regina olha pra loira de canto de olho:

– Além de intrometida e petulante, encontrei mais uma excelente qualidade em você, Swan... Modéstia. - Fala ironicamente.

Regina estaciona o carro em frente ao hospital. Levam mais ou menos uma meia hora na consulta com o médico, claro que por Regina ser filha da prefeita o mesmo deu prioridade a Emma.

– Você parecia uma criança chorona, Swan. - Comenta Regina enquanto as duas de dirigem porta a fora do hospital.

– Criança chorona por que não era o seu maravilhoso tornozelo inchado que aquele médico bruto estava amassando como se fosse massa de pão. – Fala entrando novamente no carro da diretora.

– Ontem você não reclamou enquanto enfaixava, estava se fazendo de durona? - Já dentro do carro a loira olha pra morena:

– É diferente. Ele não tinha as mãos tão macias e delicadas como as suas. - Diz num tom suave, quase como se quisesse sussurrar.

– Ok, vamos pra sua casa agora. - A morena muda de assunto bruscamente. - Se Henry tivesse tua idade e sumisse assim eu já teria ligado para a polícia, estaria feito louca procurando pela cidade. Seus pais não se preocupam? – Pergunta.

– Claro que sim, mas meus pais confiam muito em mim. Nunca menti pra eles. Mulan enviou um SMS do meu celular pra minha mãe avisando que eu dormiria na casa dela. Meus pais não se importam muito com isso, eles realmente confiam, sabem a filha que tem. Eu tenho juízo, Regina... Só ontem que.., não sei, foi uma exceção.

– Então você vai contar pra eles tudo que aconteceu?

– Sim..., Por mais que isso doa não posso falar simplesmente que caí da escada. Dói em mim decepcioná-los, tenho certeza que ficarei de castigo por tempo indeterminado. Mas eu mereço, né? Tenho de contar o que fiz como me senti e que estou pronta pra sofrer as consequências dos meus atos. - Para por uns segundos e conclui: - A ideia que tenho de família é que família aconselha, conversa, apoia e não mente uns pros outros.

–Nunca imaginei ouvir algo assim de você. – Diz realmente surpresa.

–Isso é por que você faz um julgamento bem errado de mim, senhorita Mills. - Emma fala de forma segura e séria. Um silêncio se instala entre as duas até a chegada do carro em frente ao apartamento da família Swan.

– Bem..., chegamos. Precisa de ajuda pra sair do carro?

– Não, eu me viro. Essa botinha horrorosa que o médico pôs ajuda bastante. - Emma fala fazendo cara de insatisfeita, Regina sorri.

– Tem certeza que não quer que eu entre pra falar com seus pais? Afinal eu devia ter ligado pra eles ontem à noite assim que te vi lá em casa.

– Ainda bem que não ligou. Não queria que eles me vissem naquele estado. Já ficarão bastante decepcionados quando contar o que aconteceu.

– Então..., ok. - Fala olhando pra loira. Jamais imaginou que Emma fosse uma garota com ideias interessantes. Falando daquele jeito sobre família, sobre como pensava que as coisas deveriam ser e como deveria agir. Ao que parece aquela menina intrometida e bruta tinha algo de sensível e admirável além daqueles profundos olhos. Aquilo cativava Regina de uma forma inesperada. Emma se mostrava doce, sensível, segura do tipo que se joga abertamente e vive o que tem que viver com sorriso aberto, do jeito que Regina fora um dia. Aquilo de alguma forma passava confiança à morena, parecia que ao lado dela, vendo todo aquele discurso sobre confiança e família, era possível crer que o famoso “felizes para sempre” existe.

Emma vira de lado no banco do passageiro ficando de frente para a morena. Regina estuda cada traço de seu rosto e prende seus olhos mais uma vez nos olhos dela. Estava ficando cada vez mais impossível não se perder olhando naqueles olhos de esmeralda que viravam seus sentidos de cabeça para baixo. Emma se aproximou mais. Devagar apoiou a não direita no ombro de Regina, a morena não teve reação, apenas começou a ofegar com a proximidade. Tentava fazer Emma não perceber, queria tirar a mão da loira dali, mas sentia que seu corpo pedia por aquele toque.

A loira desceu levemente a ponta dos dedos pelo braço até aconchegar sua não nas costas da mão da outra. O olhar vidrado um no outro. Seus corpos ansiando pela proximidade. A mente em parafuso. Emma massageava levemente a mão macia da morena, o peito de ambas subia e descia mais intensamente, como se o ar dentro daquele carro tivesse se tornado tão pesado quanto chumbo. Naquele minuto de confusão entre a racionalidade e o desejo Emma se aproximou ainda mais de Regina que estava imóvel, como se seu cérebro não comandasse mais seus músculos. Sabia do perigo daquilo, sabia que aquela proximidade era mortal. Queria saber o que a garota pretendia com aquilo, mas algo em seu inconsciente gritava dizendo-lhe que sabia a resposta, que sabia no que daria aquele momento e que a saída mais sensata seria recusar. Sair dali correndo, entrar num avião rumo à China e ir de trem até o fim do mundo. Mas só o que conseguia fazer era sentir seu cérebro derreter, um derretimento que abalava todo seu corpo a cada milésimo de segundo em que a loira se colocava mais perto. A sensação era como uma leve corrente elétrica que passava por todo seu corpo. Sua pele ansiava pelo toque. Seu nariz ansiava pelo cheiro. Seu sangue corria apresado pelo corpo fazendo retumbar suas veias, seu coração, seu sexo. Emma estava próxima demais, era possível sentir seu hálito. Retira a mão de cima da mão da morena e a leva ao seu rosto. Põe uma mexa de cabelo atrás de sua orelha delicadamente, sem cortar o contato visual. Aproxima-se ainda mais. Sua boca paira próxima a boca da morena pronta para alcançar aqueles lábios vermelhos. A hora do bote é chegada, mas não é certeira. No último segundo Regina vira o rosto ainda mais ofegante. Emma recua alguns centímetros pra logo em seguida pousar seus lábios na lateral do rosto da morena, bem próximo a orelha. Um beijo no qual fez questão de demorar seus lábios, colando-os sensualmente depois os retirando devagar: - Obrigada por tudo, mais uma vez. - Sussurra em seu ouvido e sai do carro sem olhar para trás, deixando ali uma Regina em conflito, completamente confusa.

A morena pousa a testa no volante do carro. Emma acabara de lhe mostrar aquilo que Regina, apesar de negar, já sabia. O problema agora era o que a morena faria com isso.


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Notas finais do capítulo

Meu povo... fiquei meio insegura com esse capítulo por que... não sei. hahaha
então se vocês puderem dizer se ficou bom ou ruim, o que devia ter sido melhor... eu agradeço muito.
Obrigada.
O prox cáp não irá demorar, prometo.
:)