Matt estava descendo a escada do porão. Era um cômodo mal iluminado e cheio de coisas desorganizadas. Ele estava ali por um motivo. Armas. Matt possuía vários objetos ali embaixo que eram usados para consertas as coisas quebradas na casa, mas que também poderiam ser mortais.

Ele abriu uma gaveta em meio a tanta bagunça e tirou de lá um facão. Seja o que for essa coisa, eu vou mata-la, ele pensou.

Desligou as luzes do porão e subiu as escadas de volta para a sala, quando chegou, deparou-se com Paige, parada ao lado do sofá. Estava pálida e a expressão em seu rosto era de medo.

– Paige – Ele sorriu ao vê-la e correu para abraçá-la, mas ela esquivou-se.
– Não tenho muito tempo, Matt – Ela disse, acariciando o rosto dele com sua mão gelada – Eu preciso te dizer algo.
– O que houve?
– Nós precisamos sair dessa casa antes das duas e meia da manhã, caso contrário, ficaremos presos aqui.
– Por que até às duas e meia? O que acontecerá? – Matt estava confuso.

Um ruído estranho veio do andar de cima, parecia um grito de raiva, mas estava abafado.

– Oh não, ele está aqui – Paige disse, olhando para cima. Ainda estava chorando.
– Quem? Quem está aqui?
– Eu preciso ir – Ela soltou-se das mãos dele – E você precisa ir embora.
– Paige! – Ele gritou, enquanto ela subia as escadas.
– Não esteja aqui às duas e meia! Vá embora e não volte mais!
– O que? Paige! – Ele a seguiu, mas ao chegar ao andar de cima, Paige havia sumido. Não tinha ninguém ali – Paige! – Ele continuou chamando, procurando nos quartos e no banheiro. Ela não estava ali.

Quando Matt estava no banheiro do casal, ouviu a porta da frente se abrindo e foi até o corredor.

– Matt? – Paige estava chamando, subindo a escada.
– Paige! - Ele exclamou ao vê-la – Que história era aquela?
– O que? – Ela perguntou, confusa – Que história?
– Aquilo que você disse sobre ir embora antes das duas e meia da manhã.
– Eu não te disse nada – Ela deu um sorriso, estranhando a situação.
– Sim, você disse – Ele insistiu – Disse que precisávamos sair da casa hoje mesmo e depois saiu correndo.
– Matt, eu não disse nada, eu acabei de chegar.

Ele se afastou e então percebeu. Não era Paige. Ela estava com uma roupa diferente, e não havia como ela ter trocado em um intervalo de tempo tão pequeno.

– Mas... Mas... – O espanto em seu rosto era visível – Você estava lá embaixo, agora mesmo, estávamos conversando.
– Espere um pouco, eu estava vestindo outra roupa, certo?
– Sim.
– Um vestido florido? O que você me deu no nosso aniversário de quinze anos de casamento?
– Sim, aquele mesmo.
– Não pode ser.
– O que?
– Eu sonhei comigo mesma, eu estava vestindo aquela roupa e eu me fiz isso – Ela mostrou o braço cortado.
– Isso é impossível.
– Não é – Ela segurou os ombros do marido – Matt, nós estamos correndo perigo. Eu não sei o que são essas coisas, mas elas estão por toda parte, deixando avisos, hoje mesmo, alguém deixou uma mensagem no espelho do quarto, dizendo para irmos embora e libertá-los.
– Você disse a mesma coisa!
– Eu não, a outra coisa né?
– Sim, sim, ela disse que deveríamos ir embora, caso contrário, ficaríamos presos.
– Nós precisamos ir embora daqui.

Do topo da escada, puderam ver a porta da frente se abrindo e por ela entraram Ella, Emma e Ethan.

– O que estão fazendo aqui? – Paige perguntou, descendo as escadas. Matt a seguiu.
– Nós estamos preocupados com vocês e pedimos para a tia Jenn nos trazer – Ella respondeu.
– Ela já foi? – Matt perguntou.
– Sim.
– Escutem – Paige começou – Quero que entrem nos seus quartos e arrumem suas coisas, nós vamos embora daqui.
– Por quê? – A pequena Emma perguntou.
– Porque essa casa não é boa – Matt tentou falar o mais suavemente possível.

Ela não respondeu, apenas subiu com seus irmãos.

– As caixas estão no porão, eu vou pegar e levo para vocês, enquanto isso tirem as roupas dos armários e deixem prontas para empacotar – Matt orientou.

As crianças obedeceram e subiram. Matt olhou no relógio e percebeu que eram dez e meia da noite.

– Não vamos terminar a tempo – Paige estava preocupada.
– Não tem problema querida, aliás, nem sabemos o que realmente acontece às duas e meia, e se não for nada?
– Matt, querido, eu não quero esperar para ver. Até dois dias atrás, eu não acreditava em fantasmas, agora, eu nem sei mais no que eu acredito, mas se há uma coisa que eu não vou fazer, é ficar mais um dia nessa casa.
– E como conseguiremos um caminhão para transportar tudo? Para onde iremos?
– Nós não precisamos levar as coisas agora, vamos para a casa da Jennifer enquanto não conseguimos achar um lugar melhor.
– Isso pode demorar.
– Ela não se incomodará. Agora vamos subir e organizar nossas coisas.

***

Horas depois, tudo já estava empacotado em suas respectivas caixas e Matt e Paige agora estavam sentados no sofá da sala, esperando que os filhos terminassem. Ela fala com sua irmã ao telefone.

– Nós só vamos ficar por alguns dias.
– Pode vir, querida, eu não me incomodo, aliás, estou precisando de companhia desde que aquele cretino de meu um pé na bunda – Jennifer disse do outro lado da linha, bem humorada como sempre.
– Eu não sei o que faria sem você – Paige deu um sorriso – Nós vamos chegar aí em alguns minutos – Ela deu uma olhada no relógio. Era duas da manhã. Eles tinham meia hora.
– Nem eu – Jennifer caiu na gargalhada – Então até mais querida.
– Tchau – Paige desligou o telefone.
– Temos uma hora para sair daqui – Matt preocupou-se.

As crianças desceram as escadas. Já estavam com seus casacos.

– Estamos prontos – Ella anunciou.
– Eu vou pegar a chave do carro – Matt disse, subindo as escadas alguns segundos depois.
– Então, vamos ficar com a tia Jenn? – Emma perguntou. Estava feliz.
– Sim, querida, por uns dias, enquanto não achamos uma casa nova.

Matt desceu as escadas desesperado.

– O que houve querido? – Paige perguntou.
– Não consigo achar a chave do carro, não está onde eu deixei.
– Como assim não? – Paige exclamou, olhando o relógio novamente – Temos apenas meia hora!
– Eu sei, mas ela não está onde eu deixei.
– Você procurou em todas as gavetas?
– Sim.

Matt e Paige estavam desesperados, pensando no que aconteceria se não estivessem fora dali às duas e meia. Enquanto isso, o tempo estava passando.