Family Secrets escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 4
Capítulo 03 - Fenômenos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/467481/chapter/4

No quarto, Matt e Paige conversavam. Ela estava deitada na cama, lendo um livro, enquanto o marido colocava uma roupa para dormir.

– Que susto a Ella nos deu hoje, não? – Matt sorriu.

Ele esperava que Paige dissesse algo, mas não disse.

– O que você acha que aconteceu com ela? Quer dizer, o que ela disse é improvável.

Paige novamente ficou calada, estava com os olhos fixos no livro.

– Paige? – Matt chamou – Amor? – E ela não respondeu nada.

Matt estralou os dedos na frente do rosto dela e ela voltou à realidade.

– Ah, desculpa – Ela disse – O que você estava falando?
– Eu estava dizendo que a Ella nos deu um susto hoje.
– Pois é – Ela respondeu, com um olhar estranho. Como se estivesse pensando em algo.
– No que está pensando, querida?
– O que a Ella me disse – Ela respondeu – Eu passei por uma coisa parecida hoje à tarde.
– O que ela disse?
– Disse que minutos antes de nós chegarmos, ela nos ouviu bater na porta, mas quando abriu, não estávamos lá, e hoje à tarde, aconteceu a mesma coisa comigo. Eu estava na cozinha e escutei a Ella gritar que havia chegado da escola, mas quando eu fui verificar, ela não estava lá, e vocês chegaram uns cinco minutos depois.
– O que? – Matt começou a sorrir – Você não está começando a acreditar nisso não, né?
– Eu não sei.
– Amor – Ele sentou-se na cama, ao lado dela – Eu não sei o que deu na Ella hoje, mas eu posso garantir que a casa está do mesmo jeito que deixamos.
– Tá bom – Ela respondeu – Boa noite. – Então se virou e tentou dormir, pensando no que Ella havia dito, até porque uma parte dela acreditava.

***

No dia seguinte, Paige estava na cozinha, com Matt e Ella. O marido levantou-se e saiu.

– Vou sair em cinco minutos – Ele falou para Ella, que estava terminando de tomar café.
– Tá bom – Ela respondeu, dando um gole na xícara de café.

Matt deixou a cozinha.

– Ella – Paige disse baixinho, pois não queria que ninguém ouvisse – Você disse ontem à noite que nos ouviu chamar, mas nós não havíamos chegado em casa ainda, certo?

Ella ficou surpresa.

– Sim – Respondeu – Por quê?
– Isso aconteceu comigo também – Paige respondeu.
– O que? – Agora, Ella estava ainda mais surpresa – Quando?
– Ontem mesmo, à tarde – Ela respondeu novamente – Eu estava na cozinha, esperando vocês chegarem da escola, quando ouvi você gritar que havia chegado, mas eu olhei lá em cima e não tinha ninguém, cinco minutos depois, vocês chegaram.
– Mas eu nunca digo isso – Ella disse.
– Eu sei – Paige respondeu, com uma expressão de preocupação no rosto – E tem mais – Ela continuou – eu também tenho ouvido sons estranhos aqui embaixo durante a noite, e ontem... – Ela parou.
– Ontem o que? – Ella perguntou.
– Eu posso jurar que vi uma mulher parada perto da porta do armário do meu quarto.
– Oh meu deus – Ella ficou perturbada.
– Eu preciso pensar no que vamos fazer, eu preciso falar com seu pai, não estou com bons pressentimentos sobre essa casa.

***

As crianças estavam na escola e Matt no escritório, Paige estava sozinha em casa, deitada sobre o sofá, folheando uma revista de moda. Lia uma matéria sobre Madonna quando ouviu um barulho vindo do andar de cima, parecia que havia alguém pulando ou batendo o pé.

Ela largou a revista na mesinha de centro e levantou-se, então o barulho veio outra vez. Dessa vez mais forte.

Paige pegou uma barra de ferro perto da lareira e subiu as escadas. O barulho continuava, e parecia vir do seu quarto.

Ela se aproximou da porta e abriu lentamente, mas não havia nada lá dentro. A não ser uma mensagem gravada com batom no grande espelho que havia na parede.

“Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem Vão embora nos libertem”.

Paige levou uma mão à boca e soltou a barra de ferro no chão, perto do batom jogado ao chão, perto do espelho. Ela estava aterrorizada, então correu para a sala. Ia pegar o telefone e ligar para seu marido, mas quando chegou à sala, o telefone já estava fora do gancho. Paige pegou o aparelho e colocou no ouvido. Do outro lado, ouviu uma voz, a de Matt.

– Alô? – Ele perguntava – Tem alguém aí?

Paige percebeu que fosse o que fosse a coisa que escrevera aquilo no espelho, queria que ela falasse para seu marido, já até havia ligado para ele. Em um impulso, ela desligou, colocando o telefone no gancho. Precisava pensar um pouco, e fazer o que a coisa estava mandando não parecia uma das opções mais inteligentes, então ela sentou-se no sofá e ligou a tv, tremendo de medo, esperando outra manifestação. Aquela coisa estava tentando dizer algo. Vão embora, nos libertem, Paige só conseguia pensar nisso. O que quer dizer? Quem são essas pessoas? Estava explícito que a casa estava sendo assombrada por algo, mas ela ainda não sabia o porquê.

***

Horas se passaram e Paige continuava sentada, esperando que algo acontecesse. Seus olhos estavam vidrados na tv, mas seu pensamento estava longe dali. Vão embora, nos libertem. Estou ficando louca. Esses eram os únicos pensamentos que ela se permitia ter.

Ela voltou à realidade e olhou o relógio. Faltavam apenas meia hora para que Matt e as crianças chegassem e ela não podia preocupa-los, e também não podia contar a Matt sobre o espelho – Já havia limpado – e os fenômenos que havia presenciado durante os dois dias que estiveram morando ali. Ele pensaria que ela enlouquecera, e talvez seja isso que as coisas querem. Assombrá-la mais um pouco, deixa-la realmente louca. Não podia. Paige definitivamente não podia contar a ninguém sobre aquilo, talvez apenas para Ella, que também já havia presenciado essas coisas estranhas. Ela deveria aguentar sozinha. Podia aguentar sozinha, então resolveu de uma vez por todas que não contaria nada a ninguém, não por enquanto.

A porta se abriu e as crianças entraram.

– Oi mãe – Emma e Ethan disseram, subindo a escada.
– Oi queridos – Paige respondeu, sem tirar os olhos da tv, agora desligada.

Ella subiu para seu quarto, depois, Matt entrou e deu um beijo no topo da cabeça da esposa.

– Oi querida.
– Oi amor – Ela respondeu.
– Não está preparada para ir trabalhar? – Ele perguntou, vendo que Paige ainda não estava com a camisa de mangas longa e a saia preta que geralmente usava para trabalhar.
– Oh sim – Ela levantou-se, tentando disfarçar a atitude estranha, mas era tarde demais, Matt havia percebido.
– Querida, você está bem?
– Sim, estou – Ela respondeu, sem olhar para trás.
– Paige, o que está acontecendo?
– Nada, querido, eu estou bem – Ela subiu a escada rapidamente, e Matt foi atrás dela.

Ao chegar ao quarto, ela ia bater a porta e trancar, mas Matt impediu, colocando o pé no meio.

– O que houve? – Ele perguntou, percebendo que ela estava chorando.

Paige não respondeu, apenas deixou que ele entrasse.

– Não importa – Ela respondeu, de costas para ele.
– Como assim não importa? Eu sou seu marido!
– Você iria achar que estou ficando louca – Ela virou-se, revelando uma palidez preocupante.
– Eu prometo que não – Matt disse – Mas, por favor, conte-me, você não pode sofrer sozinha.

Ela abaixou a cabeça, pensou um pouco, e depois disse:

– Ella não estava mentindo.
– Denovo essa história? – Matt esfregou as têmporas.
– Viu? Eu disse que não acreditaria.
– Paige, por favor...

Ela não o deixou terminar e correu em direção à porta do banheiro.

– Você vai acreditar quando acontecer com você! – Ela gritou, fechando a porta do banheiro.
– Paige, por favor, você tem que trabalhar – Matt batia na porta.
– Vá embora!

***

Era madrugada, a casa estava mergulhada em um silêncio perturbador. Paige estava deitada, virada de costas para Matt, ainda estava furiosa com ele, mas por um lado o compreendia, pois os fenômenos que estavam acontecendo nos últimos dias eram difíceis de acreditar, a não ser que ele presenciasse algum.

Estava pensando no que fazer, ela sabia que eles não teriam lugar para onde ir se saíssem da casa, então a única maneira seria aguentar até que alguém aparecesse para comprar – Se Matt aceitasse, o que era a parte mais difícil.

Sentiu uma mão percorrendo seu corpo por cima da camisola e ficou surpresa por achar que Matt pensava em se desculpar com carinhos. Idiota, ela pensou.

Paige colocou segurou a mão de Matt e tirou de sua cintura. Estava gelada.

– Vá dormir, ainda estou brava – Ela disse, e ele não respondeu nada.

Paige ficou surpresa quando olhou sua mão, estava cheia de sangue. Provavelmente havia sujado quando pegou a mão de Matt. Neste instante, a mão voltou a passear pelo seu corpo, desta vez, arranhando forte com as unhas. Paige percebeu que não era Matt, pois pareciam unhas grandes, femininas.

Ela virou-se lentamente, quando olhou do outro lado, Matt estava dormindo. Ela virou-se de volta e ao lado da cama, ajoelhada havia uma mulher. Ela mesma. Era idêntica a ela, só que sua carne estava apodrecendo. A coisa segurou o braço de Paige com tanta força que suas unhas a cortaram e então falou, aos berros:

– Vão embora desta casa!

Paige então acordou. Ensopada de suor. Tinha sido um sonho, ela pensou, com a mão sobre o peito, mas parecia tão real, principalmente por pequenos cortes que ela havia percebido em seu braço. Ferimentos de unha. Não foi um sonho, ela concluiu. Foi real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Family Secrets" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.