POV Elena Gilbert

Uma semana atrás...

Após uma demorada cirurgia tudo o que eu precisava era de sossego, um bom banho e dormir de conchinha com meu noivo.

Já era tarde e eu estava com fome. Como não sabia se haveria jantar em casa decidi parar para pegar comida no caminho de casa, comprei hambúrguer, batata frita e milk-shake. Que Melanie não me pegasse comendo, caso contrário eu seria importunada para sempre, afinal sempre prezo pela boa alimentação de minha filha.

Abri a porta de casa com cuidado, tudo estava silencioso, também pudera, era quase uma da manhã. Sentei-me na bancada da cozinha e tratei de comer, sem pressa, deliciando-me com cada mordida ou gole do milk-shake de chocolate.

Já estava no meio da refeição quando ouvi alguém descendo as escadas. Virei-me e observei meu lindo moreno descendo lentamente apenas de calça de moletom.

– Como foi sua cirurgia? – perguntou.

– Bem, mas longa e cansativa. – sorri – Quer um pouco?

Ofereci meu lanche, estendendo o braço em sua direção. Damon negou com a cabeça. Tinha algo errado.

– O que foi? Aconteceu algo? – perguntei e Damon bufou.

– Aconteceu. – vi uma carranca se formar.

– Alguma coisa com Melanie?! – perguntei aflita.

– Não. Quer dizer, ela esteve envolvida. Mas o problema é com você. – explicou calmamente.

– O que aconteceu, Damon? – eu estava confusa.

– Melanie me contou... – fez uma pausa – Sobre Liam.

Gelei. Tudo o que eu não queria era que Damon se desapontasse comigo. Saber que tive um relacionamento com outro homem enquanto ele estava numa cama de hospital seria demais para ele, eu não poderia submeter meu noivo a uma decepção dessas. Rapidamente pensei numa mentira.

– Ele é apenas meu colega do hospital...

– Que morava com vocês?! – Damon alterou o tom de voz.

– Sim! – não adiantava mentir no que ele já sabia – Mas não é como você está imaginando...

– Ah, não? – controlou seu tom de voz.

Levantei-me, para conseguir algum tempo a mais para pensar, e segui até meu noivo.

– Liam teve problemas com dinheiro e precisava de um lugar para morar. Eu me mudei em LA, tinha um quarto sobrando e lá estava a oportunidade de ganhar uma grana extra. Afinal eu era uma mãe solteira, sustentando sozinha uma criança. E no começo da carreira eu não ganhava muito bem.

Despejei meia verdade. Liam realmente foi minha salvação no quesito dinheiro, pois dividíamos as contas. Damon pareceu acreditar, pois logo sua carranca se tornou um semblante de culpa.

– Ai, Elena. Me desculpe por assumir coisas. – pediu perdão.

– Está tudo bem. – sorri selando nossos lábios.

– Vocês nunca se envolveram? – perguntou, dessa vez, calmo.

– Nunca.

Menti sim. Mas foi para o bem de Damon. Nós nunca mais veríamos Liam, não tem porque ele se machucar desnecessariamente. Nossa vida era boa, e continuaria assim. Nada iria nos atrapalhar, muito menos Liam.

...

– Eu sei que está mentindo. Por que está assim? Eu só quero falar com você. Pedir desculpas. Por favor... Esses dois meses foram um inferno sem você, sem a minha família.

Eu não podia acreditar! “Sem minha família”, minha família era Mel e Damon, apenas!

– Nós não somos sua família. Mesmo que estivéssemos juntos Melanie é apenas minha filha, não sua. E agora eu e você não temos mais nada. Por favor, vai embora. – respondi sem paciência.

– Não faça isso, Elena. Eu te amo. Deixei meu orgulho de lado, pedi transferência e vim aqui para você.

A cada minuto que se passava meu desespero aumentava. Passei a mão pelo rosto num gesto desesperado e me preparei para mandar Liam se foder e sair da minha porta, eu não poderia arriscar tudo por alguns minutos de conversa.

– Liam...

– O que está acontecendo aqui? – escutei a voz de meu noivo ecoar atrás de mim.

Virei para trás e dei de cara com Damon com os olhos fixos em Liam. Ele devia ter escutado tudo! Droga! Não pude evitar as lágrimas.

– Damon...

Fechei a porta atrás de mim, ignorando o loiro que, de boca aberta, observava a situação. Que se foda Liam, eu precisava salvar meu noivado!

– Damon, meu amor… - implorava por sua atenção.

– Mel, sobe pro seu quarto rapidinho. – Damon falou calmo.

Observei minha filha subir as escadas sem contestar. Damon apenas me encavara, sem revelar nenhum sentimento.

– Amor…

– Amor, vírgula, Elena! – esbravejou – Liam, “formar uma família”... – fez aspas com as mãos lembrando das palavras de meu ex namorado - Você vai me contar essa história direitinho... e dessa vez sem mentir.

Suspirei. Não havia escapatória. Eu menti, eu o enganei, e agora seria a hora da minha penitência.

Fiz sinal para que se sentasse, mas meu moreno negou com a cabeça. Observei Damon cruzar os braços, num ato de impaciência, e então suspirei novamente. Era hora.

Sentei-me na poltrona que ficava de frente para onde Damon estava e tratei de contar minha história.

– Assim que terminei de falar com você pela última vez no telefone fui a aula, como normalmente eu faria. Ao voltar eu estava ansiosa para saber de você, ouvi seu recado na secretaria eletrônica e tratei de te retornar a ligação, mas você não atendia...

– O que isso tem a ver com o que eu quero saber?! – perguntou ríspido.

– Chegarei lá. – sussurrei assustada com a frieza de Damon – Nas duas primeiras horas após eu retornar a ligação eu estava brava, é claro, você não me atendia e muito menos retornava as mensagens. Nos dias que se seguiram sem notícias suas eu fiquei preocupada, algo poderia ter acontecido... Um acidente, ou enfim.

Notei a expressão de Damon dizer “como aconteceu”. Ignorei e continuei.

– Mas então semanas se passaram, Damon. – soltei todo o ar que eu nem sabia que havia prendido – Eu já havia ligado em hotéis, hospitais, corpo de bombeiros e delegacias. Ninguém sabia de você! Procurei o advogado, senhor Cooper, e ele me deixou claro que você havia tido acesso a toda a fortuna e ido embora. Infelizmente te julguei mal e imaginei que havia fugido e me deixado para trás! – minhas palavras continham ódio, ódio reprimido – Eu estava grávida! Com os hormônios maximizados! Você não faz ideia de como eu estava me sentindo: um lixo, abandonada, mal amada...

Limpei uma lágrima solitária ao me lembrar dos dias ruins que passei.

– Um mês depois eu consegui um estágio, apesar da gravidez. Eu estava ficando deprimida, apenas saia de casa para as aulas obrigatórias e mesmo assim meu rendimento começava a cair. Bekah me ajudou com o estágio, explicou minha situação e eu enfim consegui. Era um motivo a mais para levantar pelas manhãs...

Damon começava a amolecer, eu não havia contado ainda sobre esse tempo sozinha, ele não devia imaginar o quão afetada eu fui pelo seu desaparecimento.

– Pouco tempo depois que eu entrei houve uma grande festa em comemoração do centenário do hospital, nessa festa Bekah me apresentou a alguns colegas, entre eles Liam. Ficamos muito amigos, era bom ter uma companhia que não me lembrasse você o tempo todo. Com o tempo acabamos ficando juntos, foi inevitável. Eu me sentia mal, sentia que estava te traindo. Mas ai eu me lembrava das suas promessas vazias e do abandono. Eu me forcei a sentir algo por Liam, pela minha saúde mental. – eu chorava copiosamente – Assim que Mel nasceu ele se ofereceu para morarmos juntos, foi tudo muito rápido, mas eu precisava de uma casa nova que não me lembrasse você, precisava de ajuda com as contas, alguém que estivesse ao meu lado, alguém que fosse um pai para Mel... Liam me deu todas essas coisas e eu simplesmente aceitei. Alugamos uma casa e nos comprometemos. Ele foi um bom “marido” por três anos – fiz aspas para deixar claro que não nos casamos -, mas meu amor por ele era uma mentira inventada pelo meu subconsciente para me poupar de mais sofrimento. Tanto é que larguei tudo para vir para Londres sozinha!

Terminei gritando. Me exaltei ao contar minha história e mal percebi. Eu estava um caco por dentro – e provavelmente por fora também. Falar em voz alto o que ocorreu nos últimos anos me fez perceber sentimentos novos.

– Tudo o que eu fiz, foi apenas para tentar suprir a falta de você. – sussurrei.

Limpei as lágrimas que insistiam em cair. Olhei nos olhos azuis de Damon, meu noivo parecia estar em outro planeta. De repente o vi piscar e despertar do transe. Suspirou e se virou em direção a escada.

– Você não vai falar nada?! – perguntei brava.

– Não. – respondeu seco sem olhar para mim.

– Como não?! – gritei.

– Primeiro, não grite, nossa filha está lá em cima e pode escutar. – escutei sua voz falar calmamente – Segundo, eu pedi para que me contasse a história, não disse que te perdoaria.

– Me perdoar? Eu não fiz nada de errado, Damon! Você havia sumido... Como eu saberia?!

– Elena, entende de uma vez por todas. – Damon se virou pela primeira vez e seu olhar vazio me rasgou inteira – Você não fez porra nenhuma errada a não ser mentir. Eu perdi três anos inteiros da minha vida, da nossa vida! Minha mente já estava bem fodida só com esse fardo, mas agora preciso lidar que minha mulher pode estar mentindo e omitindo coisas da vida dela. Se um Liam apareceu quem garante que um Jared não apareça? Ou um Zac? Ou até mesmo um Nick?! Céus, eu não conheço essa Elena! – ele fez uma pausa – Essa Elena em frente a mim é outra, completamente diferente, e eu não sei se gosto dessa nova versão.

Sem demonstrar qualquer sentimento Damon se virou e subiu, provavelmente para o nosso quarto. Joguei-me no sofá e não pude conter as lágrimas. Damon estava certo, eu nunca mentiria para ele em outros tempos. Eu mudei, mas é claro, três anos se passaram para mim... Mas não para ele!