Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 37
O que eles precisam


Notas iniciais do capítulo

Tentei postar domingo passado, mas "a Kori mandou fechar" kkk'
Então, aqui está o//

Leiam as notas finais.

~~enjoy



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46672/chapter/37

Ash sempre soube que a vida não era simples e que muitas coisas ruins podiam acontecer, porém nunca achara que as coisas chegariam àquele ponto. Drew passara aquela primeira noite com ele, e o moreno seria eternamente grato ao amigo por aquilo, entretanto continuava magoado. Misty tomava decisões que o abalavam imensamente como se ela fosse a única a ter o direito de tomar essas decisões, e ele apenas seguia a onda dela. Aquilo não podia continuar. Acabaria morto se continuasse assim.

Suspirou encarando o teto. Yukira já tinha um quarto completamente novo, com as paredes pintadas como se o próprio quarto fosse um palácio de princesa. A decoração seguia o mesmo estilo, cama com dossel, guarda-roupas cheio de vestidos, mas ela agia como se aquilo nada fosse. Para ela, nada importava. Frequentava a escola normalmente, e parecia gostar mais de ficar lá do que em casa. Segundo as próprias palavras dela, “na escola pelo menos não tem o Ash”. Sim, a vida dele estava perfeita.

Não queria levantar. Misty viria naquele dia para ficar com Kira – era sábado –, e ele precisava receber as duas em sua casa. Tinha vontade de simplesmente sair e passar o dia longe. Não queria vê-la. Novamente, Misty conseguia quebrar seu coração em mil e um pedaços sem ter nenhum motivo! Rudy estava sabe-se-Deus lá onde, fazendo sabe-se-Deus lá o quê, e não podia machucá-los. Não sendo procurado pela policia.

Ouviu barulhos pela casa. Yukira acordara. Sabia que precisava levantar para ficar de olho nela, mas não sentia vontade. A garota obviamente o odiava, e ficar ouvindo-a dizer aquilo não ajudava em nada. Pegou seu celular e sorriu para a imagem de fundo. Era aquela tirada no orfanato, com Raki ao lado de Kira. Pobre Raki. Não fora ao funeral dela – não estivera em condições –, mas planejava visitar o túmulo em breve. Ela tentara ajudá-lo com Kira e, por isso, merecia algumas flores.

Kira sorria naquela foto. Ainda não gostava dele, mas ela estava bem naquele dia. E estivera ainda melhor no dia em que pensaram que Rudy finalmente fora pego. E ele quase conseguia ouvir a vozinha infantil a chamá-lo de papai. Ela dissera. Com Misty junto, claro, mas dissera. E ele sentira-se tão bem ao ouvir aquilo. Antes não sabia se estava pronto para ser pai e para cuidar dela, porém teve certeza naquele momento. Quando ela o chamou… quando ela o chamou de papai… Ash suspirou de novo e abriu os olhos.

Vidro quebrou.

O moreno correu, assustado, temendo que Kira tivesse se machucado. Ela estava na cozinha, ao lado de muitos cacos de vidro, sem chinelo.

— Espera aí, deixa eu te tirar…

— Não quero!

Ela saiu correndo e acabou pisando com toda a força num caco grande, e sangue começou a jorrar.

— Tá sangrando, tá sangrando!

— Kira, calma.

Ela começou a chorar e tentou correr, desesperada, vendo o sangue sair cada vez mais rápido pelo pé delicado. Ash a pegou no colo e a menina continuou a chorar, dessa vez gritando perto dos ouvidos dele.

— Tá doendo! Tá sangrando e tá doendo!

— Já disse que você não pode pegar copos de vidro ainda…

— Eu to morrendo e você tá me xingando!

A voz marejada dela quebrava o coração dele. Ash levou a garota até o banheiro, e o sangue ia deixando um rastro pelo caminho. Colocou-a sobre a tampa do vaso, e pegou um kit de primeiros socorros.

— Fica quietinha, ok? Eu vou ver seu pé.

— Não mexe, não mexe!

Ela começou a se debater. Ao longe, a campainha soou. Ash não podia deixar a menina sozinha naquele momento. Pikachu atenderia, ele esperava.

— Kira, para de se debater, eu preciso ver seu pé!

— MAS TÁ DOENDO E TÁ SANGRANDO!

— Calma. Hey, eu não vou te machucar, calma.

— Não! Eu quero a minha mãe, chama a minha mãe…

Ela chorava mais. Ash tentou segurar o pé da garota, mas ela apenas o balançou e fez com que o sangue saísse em ainda maior quantidade. Ash estava ficando preocupado.

— Kira, deixa eu fazer um curativo nisso, anda.

— Não!

Ela puxou o pé e o abraçou. Segundos depois eles ouviram passos apressados pela casa, e Misty apareceu na porta, preocupada.

— Kira, que foi?

— MAMÃE!

Ela tentou pular, mas Ash a segurou e levantou-se com ela no colo.

— Para de ficar caminhando com esse pé assim, você só vai piorar!

— Me solta, me solta, me solta!

Ela se debatia cada vez mais, tentando sair do colo de Ash e chegar a Misty. O moreno se aproximou da ruiva e entregou a garota no colo dela, sem encará-la verdadeiramente.

— Faz o curativo que eu vou limpar a bagunça. O kit tá ali no chão.

Misty pegou Kira no colo e a menina parou de se debater, aceitando de bom grado os braços da mãe. Misty observou Ash sair e sentiu os olhos marejarem, mas não se deixou chorar. Não podia.

— Mamãe, tá doendo!

— Calma, amor, mamãe vai fazer o curativo, tá?

Kira assentiu com a cabeça e a ruiva fez o que Ash fizera anteriormente: colocou Yukira sobre o vaso sanitário e pediu para ver o pé dela.

— Mas não machuca – pediu Kira.

— Mamãe não vai machucar.

–-//--//--//--//--//

Ash chamou Squirtle e os dois limparam o sangue do chão juntos. Pikachu também ajudou, mas o amarelinho estava desanimado. A ligação que Ash e Pikachu tinham era diferente da de Togepi e Misty, porém aquilo não significava que ele e Ash tinham menor afinidade por causa daquilo. Eram como um só, e Pikachu sofria por ele.

— Amigão, não fica tão pra baixo, ok? Vão pegar o Rudy.

Ash tentava animar Pikachu, mas ele próprio não estava bem.

Pikachu concordou e os dois continuaram a limpar o chão. Ash tirou os cacos de vidro com cuidado, para não se cortar também, e em poucos segundos estava tudo limpo na cozinha. Foram seguindo a trilha de sangue até chegarem à porta do banheiro. Nenhuma das mulheres os percebera.

— Eu odeio ele, mamãe. Me tira daqui.

— Bebê, você sabe que eu ainda não posso…

— Mas o juiz tinha deixado!

— Quando o Rudy tava na cadeia. Agora ele não tá mais, e a situação é tão complicada… mas assim que pegarem ele vai ficar tudo bem.

— Mas eu não quero ficar com o Ash, mamãe. O Rudy vai te machucar se eu ficar com ele…

Misty sorriu e acariciou o rosto assustado. Yukira estava completamente apavorada, e ela sabia perfeitamente daquilo.

— Ele não vai machucar a mamãe. Eu sou a mais forte do mundo. E o papai vai te proteger.

— Ele não é meu pai.

Ash saiu. Não aguentava mais ela falando aquilo. Não aguentava mais aquelas palavras, aquele ódio! Queria que ela fosse a garotinha que dissera que ele era o herói dela. Queria que ela o abraçasse e chamasse de “papai” de novo. Queria tudo aquilo e um pouquinho mais, porém recebia apenas as palavras de ódio.

Voltou à cozinha e preparou o leite dela. Quando terminou, levou-o até a sala e deixou a bebida esfriar sobre a mesinha. Segundos depois as duas entraram na sala. Yukira com o pé enfaixado era carregada.

— E eu tive que entregar um trabalhinho na escola.

Ash não sabia daquilo. Ela nunca lhe contava nada.

— É mesmo? E ficou bonito?

— Mais ou menos. Você não ajudou, aí eu acho que não ficou tão bonito.

“Eu podia ter ajudado”. Mas Ash não disse nada, apenas ficou observando as duas de longe. Os dois amores de sua vida. Misty sentou-se no sofá com Yukira ao seu lado. A menina se recusou a ficar longe do colo dela.

O telefone tocou. Ash suspirou, mas atendeu.

— Alô?

— Esqueceu que tem mãe? Acha que é assim? Que pode ficar um mês inteiro sem me ligar? Eu preciso descobrir que tenho uma netinha pela televisão, é isso?

— Mãe.

Misty imediatamente desviou o olhar para ele e Ash suspirou, colocando no vivavoz. A ruiva riu de leve, estava curiosíssima. Yukira também ficou interessada.

— Sim, mãe! Você tem uma, sabia? Uma mãe muito preocupada que precisa ligar pro filho porque ele não tem a capacidade de pegar o telefone e avisar ela que descobriu que tem uma filha!

Misty arregalou os olhos.

— Não contou pra sua mãe?! – sussurrou.

Ash encolheu os ombros, culpado.

— Mamãe, quem é essa?

Délia ficou em silêncio por três segundos. Quando voltou a falar, a voz estava levemente marejada.

— Essa… é ela?

Ash sorriu.

— É sim, mãe. Yukira, pode dizer oi pra sua avó? Por favor?

Ela inflou as bochechas, pronta para dizer que não tinha avó, porque ele não era pai dela, quando a mãe a impediu. Misty acariciou os cabelos negros e falou baixinho, esperando que Délia não ouvisse.

— Diz oi para vovó, querida. Ela é uma mulher incrível, e vai amar conhecer você.

Yukira desistiu e acomodou-se mais no colo da mãe. Olhou para Ash.

— Ash?

— Oi, vovó.

Eles ouviram um soluço do outro lado, e então uma mão cobriu o fone para que ninguém ouvisse o som. Ash sorriu, assim como Misty. Yukira ficou confusa.

— Mamãe, porque a vovó tá chorando? Ela não gostou de mim?

— Não! – Délia quase gritou do outro lado, a voz ainda embargada. – É claro que eu gostei de você, querida. Vovó… haha, quem diria, eu vovó… vovó só está surpresa. E feliz. Você tem uma voz linda.

Yukira abriu um dos maiores sorrisos de todos. Ash também já dissera que ela era linda – não só sua voz –, mas nunca recebera nenhum sorriso daqueles.

— Obrigada, vovó.

Kira riu sozinha.

— É legal dizer “vovó”. Nunca tive uma antes.

— Agora tem.

— É… você vai fazer doces pra mim? As vovós das minhas amigas fazem doces.

Misty cobriu o rosto com a mão, e Ash começou a rir. Délia também riu do outro lado da linha.

— Todos os doces que você quiser.

— Mesmo os de morango?! Mamãe não sabe fazer os de morango.

— KIRA!

— Nem fala nada, Misty, é verdade. Você não serve pra cozinhar.

— Mesmo os de morango. Misty, é bom ouvir sua voz.

— Olá, senhora Ketchum. É bom ouvir sua voz também.

— Ainda bem que você e o Ash se entenderam. Eu não aguentava mais ele sozinho.

Ash sentiu uma onda de tristeza invadi-lo.

— Mãe, eu e Misty não nos entendemos desse jeito. Estamos resolvendo a situação de Yukira, ok?

— Como não? Todo mundo sabe que vocês dois devem ficar juntos, desde sempre. E aquela sua última namorada foi uma vergonha, Ash! Qual era o nome mesmo?

— Serena! – falou a pequena.

— Não, não. Não teve nenhuma Serena, era… Catlin? Kaitlin?

— Catarina, mãe. E não vamos falar sobre isso, ok?

— Mas tinha a Serena também, vovó. Eu que fiz o Ash terminar com ela.

Yukira riu meio sozinha, e Ash pensou que podia simplesmente se jogar para longe do sofá. Aquilo era tudo que lhe faltava.

— Quem era essa que eu nunca conheci? Está assim já, é? Não me conta que tem uma filha, não me conta que está namorando… não foi isso que eu te ensinei. Pequenina, nunca faça isso com a sua mãe. Se seu papai não ensina, a vovó ensina. Sempre conte as coisas pra mamãe, ou ela fica louca de preocupação.

Yukira assentiu com a cabeça, como se acabasse de receber uma lição importante para a vida inteira.

— Ta bom, vovó. Eu sempre vou contar tudo pra mamãe.

— Mãe, eu não contei porque tá tudo muito complicado agora. Eu só… queria que tudo ficasse certo antes que você resolvesse vir pra cá…

— Estou chegando aí na segunda-feira. Está louco se acha que eu não vou conhecer a minha netinha.

Yukira sorriu e abraçou mais a mamãe. Tudo bem, ela não precisava do papai, mas podia ter a vovó.

— E vai me fazer bolo, vovó?

— Dois bolos. Três, se quiser.

— Eu quero quatro.

— Quatro então.

— Kira, pare de explorar sua avó – repreendeu Misty.

— Deixa, Misty. É bom. Vou te mostrar qual é o bolo preferido do papai também.

— Não tenho papai – disse Kira bem rápido.

O silêncio se instalou, e Ash quis realmente se jogar para longe.

— Claro que tem, meu bem. Gostando ou não.

— Não fica triste, vovó. Eu gosto de você. Não gosto do Ash.

“Maravilha” pensou o moreno, pensando em qual buraco precisaria se jogar. Délia ficou em silêncio do outro lado, e Misty sentiu vergonha pelas ações da filha. Assim que o telefone fosse desligado, precisaria conversar com ela.

— Não precisa gostar dele pra ele ser seu papai.

— Obrigado, mãe. Tá ajudando muito.

— Mas é verdade. Você detestava seu pai, mas o chamava de papai mesmo assim.

— É completamente diferente. Não me compare com aquele homem.

— Ele era um pai, você é um pai. Ele era um pai horroroso, era, mas era pai. Você é pai. Não são tão diferentes assim.

— Mãe, vou desligar. Nos falamos, ok?

— Te amo, Ash.

— Também te amo.

Ash desligou e suspirou. Yukira o encarava com interesse, mas ele não queria pensar naquele momento. A conversa o abalara muito.

— Você tinha um papai ruim também?

— Eu não sou um pai ruim, Kira. Você não me dá uma chance!

— Você não merece. Sai daqui!

Ash suspirou e levantou.

— Se quiserem comida, a cozinha é ali do lado. Não precisa me chamar.

Ele foi até seu quarto e bateu a porta ao trancá-la. Pikachu ficou na sala, encarando a menina com seu olhar mais magoado.

— Pikachu, não fica triste… – pediu a menina.

Mas o ratinho apenas deu as costas às duas e seguiu até o quarto de Ash. O moreno abriu para ele e depois voltou a fechá-la.

— Kira, não fale assim.

— Mas eu não gosto dele.

— Meu anjo, não importa se gosta ou não. Ele é seu pai.

— Não é!

— Sim. Para de birra. Você sabe que o Ash é seu papai. Eu sei que Rudy disse que ia me machucar se você ficasse com Ash, mas Rudy é um idiota e ele está bem longe. Não pode deixar que ele te manipule assim.

— Mas eu não gosto dele!

Não era bem verdade. Kira gostava de Ash. Gostava, mas tentava não gostar. A simples possibilidade de ter sua mamãe machucada deixava-a tão apavorada que ela não gostava nem de imaginar. E, se tudo o que precisava fazer para manter a mamãe a salvo era odiar Ash, então ela o odiaria.

— Chame-o de papai, ok? Ele vai ficar feliz.

— Não quero que ele fique feliz.

— Kira…

— Mamãe, eu to com fome. A gente não se viu a semana todinha, não quero ficar falando do Ash. Quero só ficar com você.

Misty suspirou e assentiu com a cabeça. Desistiu e beijou o topo da cabeça da menina. Viu a mamadeira que Ash deixara sobre a mesinha e pegou-a. Provou de leve. Era quase igual ao que ela mesma fazia. Sorriu. Ash estava se esforçando tanto… Entregou a mamadeira à filha e foi à cozinha.

~~//~~//~~//~~//~~//

Misty dormiu ali naquela noite, e Ash só saiu do quarto depois que as duas já tinham deitado. Amava-as com todo o seu ser, mas não aguentava todo o desprezo de Yukira. Amava demais aquela menina para ser sempre desprezado por ela. Amava-a demais para simplesmente… aceitar aquilo.

Suspirou. Misty deixara um pouco de comida para ele. Sorriu e comeu. Ela melhorara com o passar do tempo… mas não era sopa. Se fosse sopa, negar-se-ia a comer. Riu consigo mesmo. Ouviu passos.

— Gostou?

Ash assentiu com a cabeça, mastigando mais devagar. Ainda doía. Ela o rejeitara, e doía como o inferno. Misty aproximou-se devagar, com receio. Ash nada disse. Queria que ela decidisse falar ou não com ele. Queria que ela sofresse como ele sofrera naquela semana.

— Kira ainda tá se adaptando… você lembra como ela tava naquele dia, não lembra? Quando ela ficou feliz… ela só tá tristinha agora…

Ash assentiu com a cabeça, mas depois acabou por dar de ombros. Sorriu triste, ainda comendo o arroz que ela fizera.

— Ela me odeia. Ela sempre vai me odiar. Ela sempre vai te amar.

— Não é verdade.

Ash ficou quieto. Perdeu a fome. Sentiu as lágrimas vindo, e virou-se para ela.

— Me promete uma coisa?

— Qualquer coisa.

Ash assentiu com a cabeça.

— Não deixa ela longe de mim. Ou ele.

Acariciou a barriga ainda inexistente da ruiva, que acariciou a mão dele. Ash não chorou, mas ficou ali, fazendo carinho na barriga que guardava sua segunda criança. Amá-la-ia desde o princípio, e nunca ouviria dela o que ouvia de Kira. Sabia que jamais deixaria sua pequena em segundo plano, mas precisava de amor. Precisava ouvir um “papai” sincero, e precisava sentir um rostinho pequeno a beijá-lo na bochecha, rindo. Precisava daquilo.

— Não vou.

Ash assentiu com a cabeça e não quis tirar a mão dali. Misty permitiu que Ash ficasse daquele jeito, e ele sorriu.

— Kira um dia vai me perdoar?

— Ela vai.

–-//--//--//--//--//

Yukira acordou com o frio. O corpo de Misty não estava mais cobrindo o seu. Esfregou os olhos, cansada.

— Mamãe? – chamou.

Não obteve nenhuma resposta.

Levantou, mas não colocou as pantufas. Não sabia onde elas estavam, e não queria procurar. Caminhou pelo corredor, procurando por ela. Viu luz na cozinha e bocejou. Parou ao ouvir vozes.

— Ela precisa de tempo, Ash. Só isso.

— Ela nunca vai me amar. Sejamos sinceros, ela sempre vai preferir você.

Era verdade. Sempre amaria Misty mais. Mas não era como se fosse impossível para si gostar de Ash. Ela gostava dele. Não admitia porque sentia medo. Porque ela não se sentia segura com ele, porque Rudy era perigoso e machucaria sua mamãe.

— Não é verdade. Yukira é complicada. Tente entender… Rudy a assusta.

— EU SALVEI VOCÊ!

Yukira ouviu um suspiro, e então algo que ela nunca achou que pudesse acontecer… aconteceu. Ela ouviu o pai chorar. Baixinho, como se não quisesse que ela ouvisse. Como se não quisesse nem que Misty ouvisse. Supôs que a mãe estaria ocupada olhando para Ash e espiou os dois. Ele escondia o rosto entre os dedos, e soluçava.

— Eu te salvei, Misty! Que maior prova ela quer de que eu sou mais forte do que ele? Eu sempre vou protegê-la. Eu a amo tanto, tanto! Eu morria por aquela menina sem nem pensar. E ela me odeia.

Yukira sentiu vontade de chorar também. Não queria que Ash chorasse. Ele era homem, e era grande… um adulto! Adultos não deviam chorar.

Sentiu vontade de andar até ele e dizer que não o odiava. De dizer que só fingia que odiava porque não queria que Rudy machucasse sua mamãe. Mas não disse. Ficou quietinha, porque as palavras dele soaram em sua mente como se Rudy as sussurrasse em seu ouvido naquele exato momento. “Não queremos que a mamãe se machuque, não é? E a mamãe vai se machucar muito se você não ficar com o papai aqui. Eu sou seu pai, e nós vamos viver juntos. Eu, você e a mamãe. Mas se o Ash se meter no caminho, a mamãe vai se machucar. E você não quer isso, não é, Kira? Eu não quero que ela se machuque também, porque eu amo a mamãe. Mas o Ash não ama a mamãe, só eu amo. Ele não vai conseguir proteger ela, sabia? Então não me irrite, Kira, porque não queremos que a mamãe se machuque, não é?”

E ela recuou um passo. Depois dois, três, e então correu silenciosamente de volta para seu quarto, e os pais nunca souberam que ela estava a ouvi-los.

Ash suspirou, parando com o choro.

— Precisamos falar com ela sobre Raki.

— Ash, ela vai sofrer tanto…

— Se contarmos só depois, ela vai ficar com raiva de nós. Eu ficaria. E é melhor falar agora, quando já tá tudo ruim, do que estragar a felicidade dela depois.

Misty suspirou e esfregou seu rosto, confusa.

— Ela gostava tanto daquela menina…

— Eu gostava também. Você teria gostado.

Misty assentiu com a cabeça. Os dois ficaram ali, em silêncio, por quase três minutos. Ash ainda tentava parar de chorar, e Misty acariciava a pele de sua barriga.

— Amanhã contamos a ela, ok?

Ash assentiu com a cabeça, tentando parar de chorar.

— Acha que ela vai me odiar mais se for eu a dizer?

Misty não sorriu com a brincadeira. Ela manteve seus olhos tristes sobre ele.

— Ela só precisa de tempo. Não desista.

— Eu não desistiria nem se quisesse.

Ela sorriu e colocou a mão sobre o ombro dele. Ash segurou a mão dela, sentindo o conforto que apenas aquele toque tão dela era capaz de lhe oferecer.

— Por que a gente não tá junto mesmo?

Misty suspirou e tentou afastar a mão, mas não conseguiu. Ash a segurava.

— Porque não dá, Ash. Rudy mataria Kira se soubesse.

— E como ele vai saber? Tem câmeras por aqui, por acaso?

Misty suspirou.

— Ele é capaz de tudo. Ele…

— Porque tem tanto medo dele? Ele não vai pegar Kira. Eu não vou deixar.

Misty suspirou. “Porque, se quebrar essa promessa, Kira não será a única pessoa de cabelos negros a morrer”.

Conseguiria ela viver em um mundo sem Ash? Provavelmente não. Sem Yukira? Definitivamente não.

— Eu sei que Kira ficará bem, Ash. Não é só ela que Rudy ameaçou. Ameaçou você, ameaçou Kira… ameaçou até esse filho que ele nem sabe que eu carrego. Ele vai fazer de tudo pra me ter, e se souber que estamos juntos…

— Ele não precisa saber. Ninguém precisa, nem Kira.

Misty suspirou e ele ficou em pé. Abraçou-a, escondendo o rosto no pescoço dela. Ash sentiu aquele cheiro tão Misty e sentiu-se bem.

— Eu preciso de você, Myst. Por favor…

Ela também precisava dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Entããão o//
Voltei :33

Estou viva ainda o//
Sei que parece mentira, mas não é o//

Assim, gente bonita, tenho o 38 pronto, mas quero trazer algo um pouquinho mais regular pra vocês. Então vou tentar postar domingo sim, domingo não.
"Tia, por que você não faz semanal? Em Obsesso é semanal"
Eu sei, mas minha inspiração pra Obsesso é maior e o meu tempo é curto, então manter duas fanfics semanais pra mim é incabível. Como vocês já estão um pouco mais acostumados com a demora e eu tenho mais dificuldades em escrever essa fic, ela fica assim. Ok? Desculpem mesmo.
Mas, pensamento positivo, pelo menos não ficaremos mais meses sem capítulo o//

Espero que tenham gostado ;33

Bjs e teh + ^3^//



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Em Busca da Verdade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.