Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 36
A bolha é estourada


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, gente!
Mas aí está ;33
A ação está chegando o//

~~enjoy



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46672/chapter/36

Misty não conseguiria esperar em casa por muito tempo, por isso resolveu que não o faria. Caminhou até o quarto de Yuri e pegou uma malinha cor-de-rosa, comprada especialmente para Yukira. Colocou algumas das roupas da filha e viu a jaqueta que Ash deixara com ela ainda na ilha. Sorriu. O objeto não era mais motivo de tristeza, porque agora não precisava mais se preocupar com Rudy. Se tudo desse certo, talvez até retomasse algum tipo de relacionamento com Ash. Talvez. Colocou a jaqueta entre as coisas de Kira.

Finalmente a greve de silêncio acabara, e Brock cozinhava um bolo para comemorar a prisão de Rudy. Conversaria com Misty sobre absolutamente tudo no jantar, porque ficara dias sem ouvir uma palavra sair da boca da ruiva.

— Brock, eu to indo lá no Ash, ok?

Imediatamente, Brock parou tudo o que fazia.

— Como é?! Você vai…

Misty sorriu; o rosto levemente avermelhado.

— Rudy será preso, e agora eu posso ver Kira sempre que eu quiser… você sabe.

Brock abriu o maior sorriso que conseguia e caminhou até ela, acomodando-a em seus braços. Misty deixou o conforto dele envolvê-la, e depois depositou um beijo da bochecha do cunhado.

— Vai ficar tudo bem agora, Brock. A gente não precisa mais ter medo.

Brock sorriu também e beijou a testa dela.

— Vá logo. Depois eu apareço por lá também.

Misty assentiu com a cabeça e caminhou até o lado de fora. Poderia pedir a Togepi para levá-la, mas o Pokémon estava exausto, e fazer uma viagem tão longa carregando um humano era cansativo demais.

~~xx~~xx~~xx~~xx~~xx

Kira saíra do colo de Ash, mas não dissera nenhuma palavra negativa para o moreno, o que era um grande avanço. Na sala, todos comemoravam a vitória quase certa sobre Rudy, e Ash era o mais feliz. Estaria mais contente se tivesse podido quebrar a cara dele, mas aquilo também era bom. O desgraçado merecia apodrecer na prisão.

Chikao olhou para Ash e apontou com a cabeça para a cozinha, indicando que precisavam terminar a conversa há pouco iniciada. Ash assentiu e olhou para Yukira, que conversava com Masao ao seu lado.

— Vou terminar o macarrão, ok?

A menina o encarou por alguns segundos, e Ash teve quase certeza de que ouviria um “Mas eu não quero macarrão” ou “Não me importo com o que você faz”, mas ela apenas assentiu com a cabeça e voltou a prestar atenção ao policial ruivo. Não era exatamente um “Eba papai, eu to com fome!”, mas era melhor do que vinha recebendo nos últimos tempos.

Ash caminhou tranquilamente até a cozinha, sendo seguido por Chikao. Ele ainda tinha algumas perguntas a fazer, e Ash responderia o que fosse necessário.

— Então… vir morar aqui? – Chikao tinha um sorrisinho de canto ao falar, e Ash sentiu seu rosto esquentar.

— Bem… se ela quiser… é complicado.

Chikao riu. Parecia ser complicado mesmo.

— O que vocês vão fazer quanto a Yukira?

Ash suspirou, terminando de colocar todos os ingredientes na panela.

— Eu quero ficar com ela, mas sei que Misty também quer. E agora tudo parece ótimo, mas as coisas tendem a se complicar entre a gente.

Ash riu um pouco, mas não parecia feliz com a possibilidade.

— Como pode se complicar?

— Só pode. Misty e eu temos o dom de complicar tudo.

Chikao sorriu, pensando em como eles ainda eram jovens.

— Provavelmente ela vai ganhar a guarda da Kira, principalmente se conseguir dinheiro nas próximas semanas. Acho que Rudy tirou tudo dela, mas Misty vai conseguir. Ela sempre consegue. Só espero poder visitar Yukira sempre que possível. Uma guarda compartilhada, sabe? Uma semana comigo, uma com ela. Ou algo a mais do que apenas finais de semana.

Chikao assentiu com a cabeça, compreendendo o que o moreno queria dizer. Tinha uma filha também, mas ela era mais velha do que Kira. Bem mais velha. Adolescentes… riu ao imaginar a pequena garotinha aos quinze anos. Ash teria tantos problemas!

Foram interrompidos pela campainha, e Ash deixou o macarrão no fogão. Chikao caminhou até a sala e sentou-se na poltrona, que ficava ao lado do sofá. A televisão ainda estava ligada, e continuavam a falar sobre a inevitável prisão de Rudy.

Ash abriu a porta e inúmeros flashes incomodaram seus olhos. Quando perdeu a sensação de estar cego, viu a cabeleira ruiva à sua frente.

Foi inevitável.

O coração acelerou, as mãos começaram a suar, e um sorriso bobo apareceu em seus lábios. Ele não queria parecer um idiota na presença dela, mas Misty era tão linda e tão… Misty, que ele simplesmente não conseguia evitar.

— Oi…

Ela também sorria, e Ash a puxou para frente, enterrando o rosto na curva do pescoço cheiroso. Misty apertou os olhos e correspondeu ao abraço, deixando o calor dele levar embora todos os receios que ainda mantinha. Ash deixou duas lágrimas idiotas escaparem, porque ele estava tão incrivelmente feliz, que nem mesmo os repórteres estúpidos que continuavam a tirar incontáveis fotos deles conseguiam incomodá-lo. Estreitou-a em seus braços, e sentiu vontade de nunca mais deixá-la ir.

— MAMÃE!

O grito fez os dois voltarem a si, e Ash soltou Misty, que entrou na casa e se abaixou, deixando a pequena garota correr até seus braços. Ash fechou a porta, impedindo que os repórteres famintos pudessem continuar com os cliques. Tantas fotos lembraram-no dos posts que lera na internet. O que estariam os #TeamRudy pensando agora? Quase sentiu vontade de ir conferir o que os internautas pensavam. Quase.

Misty levantou-se com Yukira nos braços, e a menina parecia a pessoa mais feliz do universo inteiro. Apoiava-se no pescoço da ruiva, e parecia calma. Ash quis rir. Ela nunca ficaria tão tranquila em seus braços.

~~xx~~xx~~xx~~xx~~xx

Rudy sorriu. Queria ser uma mosquinha para ver a casa de Ash naquele instante. Se tivesse que adivinhar, diria que estavam todos pulando de felicidade, comemorando sua derrota. Imbecis.

Caminhou tranquilamente pelo aeroporto. Seus cabelos ruivos – ruivos como os dela – não mais balançavam ao vento. O novo corte não o agradava, mas não tinha muita escolha. Sua foto estava em todos os cantos. Olhou para o quadro, vendo quais seriam os próximos aviões a decolarem. Não comprara a passagem com antecedência, porque o juiz estúpido o dedurara antes que seus contatos na polícia pudessem avisá-lo do que acontecia.

Ser parente de um dos mais poderosos chefes da polícia japonesa tinha suas vantagens, afinal. Não pensara que precisaria pedir mais um favor a ele – o primeiro, convencê-lo a enviar policiais atrás de Misty, já deixara-o em débito com o homem –, mas nem tudo sai como o planejado.

A falta de passagem não era um problema. Os shows de Misty normalmente resultavam num bom dinheiro, e a ruiva não gastava muito, querendo deixar o máximo possível para Yukira. Ele pegara tudo, é claro. Precisava daquele dinheiro muito mais do que Misty, e ela o teria de volta assim que retirasse todas as acusações contra ele.

O avião para a Inglaterra partiria em vinte minutos. Sorriu, sabendo que provavelmente não havia mais passagens para vender. Precisava apenas subornar um passageiro e ir no lugar dele. Foi até o local de embarque, e sorriu ao encontrar um garoto ruivo que lia num banco. Se estivesse no voo que ele desejava, tudo daria certo.

E é claro que o garoto estava.

~~xx~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty acabou almoçando na casa de Ash, assim como Masao e Chikao. Fazia tempo que não comia o macarrão dele – realmente muito tempo –, e precisava admitir que Ash melhorara muito. Comiam tranquilamente, e havia aquele clima de flerte que apenas Yukira não percebia.

Olhares trocados por sobre a mesa, bochechas levemente coradas, borboletas incomodando o estômago… paixão. Amor. Masao e Chikao riam da situação, numa mistura de ansiedade e constrangimento. Sentiam que sobravam ali.

— Muito gostoso, Ash. Da última vez você não sabia temperar.

Ash riu. Era verdade.

— Em quase sete anos a gente aprende a colocar um salzinho e queijo por cima. Técnicas muito complexas, você sabe.

Misty riu também e voltou a comer.

— O que mais aprendeu a cozinhar?

— Hm… macarrão sem queijo, macarrão com molho de tomate pronto, macarrão com batata palha… você sabe, a lista é grande.

Yukira riu, e Ash sentiu que estava em uma bolha de felicidade, e nada poderia estragar aquele momento. Misty estava ali, almoçando com ele e rindo. Yukira não dizia uma palavra negativa a seu respeito há horas, e ela até o encarava quando ele falava. Às vezes respondia! E Rudy estava para ser preso. Ash não conseguia tirar o sorriso do rosto. A felicidade dele inundava a sala, e todos pareciam felizes também.

— Imagino que seja mesmo.

— Fala nada, porque a sua sopa é a pior do universo.

Misty fez sua melhor expressão de falso fingimento.

— Da onde?! Minha sopa é deliciosa. Conta pro Ash, Kira. Diz como a sopa da mamãe é boa.

Kira riu e desviou o olhar, constrangida.

— É boa…

Mas o tom de mentira era meio óbvio. Ash riu ainda mais, e Misty olhou indignada para a menina.

— Yukira! Como assim?

— A do tio Brock é melhor.

— Tio Brock sempre faz as melhores comidas, não conta. E talvez sopa não seja minha especialidade, mas eu cozinho bem, né?

Yukira se encolheu um pouco mais, mantendo um olhar distraído no teto. Ela parecia pensar, e Misty sentia-se cada vez mais falsamente ofendida.

— Seu leite é bom, mamãe.

Ash riu ainda mais, e Misty estreitou os olhos. A ruiva se levantou e caminhou até Yukira, para enchê-la de cócegas a seguir. A garotinha se contorcia na cadeira e ria como se nunca fosse parar. Conseguiu se desvencilhar dos braços da mãe e correu até Ash, escondendo-se no colo dele.

— Ajuda, papai, ajuda.

Ash sentiu o mundo inteiro parar naquele momento. Ele levantou-se com ela em seu colo e colocou-a sobre seus ombros. A menina riu.

— Agora a mamãe não pode mais fazer cosquinha!

Misty olhou para Ash por um segundo, e sentiu um aperto culpado no peito ao ver as lágrimas nos cantos dos olhos dele. Ash estava tão feliz! Tão incrivelmente feliz, e tudo por causa de uma palavrinha que Yukira dissera. Sorriu e correu até ele, tentando pegar os pés da garota.

— Eu acho que posso sim.

Ash corria devagar, tentando desvencilhar-se dos dedos longos de Misty, mas permitindo que a ruiva tocasse nos pés da garotinha de vez em quando. O celular de Chikao tocou, e ele saiu da cozinha para atender. Masao apenas observava a cena com um sorriso no rosto. Se antes ainda tinha alguma dúvida de que Ash era a escolha certa para a menina, agora não tinha mais.

— Mais rápido, Ash, mais rápido!

Agora o papai não viera, mas Ash continuava igualmente feliz. Ela falava com ele, e deixava-o tê-la em seus braços. Não podia pedir por mais nada no mundo.

— Ash, Misty, precisamos conversar.

Chikao interrompeu a cena com um tom de voz sério, e Ash parou de correr, assim como Misty. O moreno delicadamente desceu a menina para seu colo, e beijou os cabelos dela antes de colocá-la no chão. Yukira sorriu para ele e estendeu os braços para Misty, indicando que queria colo. Misty a pegou, mas seus olhos estavam no delegado. Ele não parecia nada tranquilo.

— Vamos pra sala – Ash falou.

Todos encaminharam-se naquela direção. Chikao primeiro, seguido por Masao. Ash indicou o caminho com a mão, e passaram pelo arco que separava sala de cozinha quase juntos. Ash tocou delicadamente com a mão esquerda nas costas de Misty, e aquela eletricidade gostosa que sempre os envolvia quando se tocavam se fez presente. Ela olhou para ele, e sorriu. Ash poderia tê-la beijado naquele momento. Ele quis, muito, mas não estavam sozinhos ainda. Sentaram-se lado a lado no sofá, com Yukira no colo de Misty. A menina encarou Ash por um segundo, depois encarou a mãe, e foi como se percebesse pela primeira vez como os dois estavam perto um do outro.

Antes que Chikao pudesse falar, Yukira escorregou das pernas de Misty e acomodou-se no sofá entre os dois. Olhou para Ash e mostrou a língua pra ele.

— Minha mamãe.

Ash estreitou os olhos e viu que ela parecia brincar. Mostrou a língua de volta, e ameaçou fazer cócegas.

— Nunca disse que não era. Você tá só provocando, né pirralha?

Yukira começou a rir quando as cócegas a atingiram, e Misty também sorriu com a cena. Pensou que ver Ash e Yukira interagindo a deixaria com ciúmes, mas a verdade era que não. Era uma boa sensação. Era como… uma família. Eles três eram uma família.

Chikao deixou que os três fossem felizes por mais um minuto, principalmente Ash. Lembrou-se de tudo o que o moreno lhe dissera, e percebeu que ele merecia esse momento de felicidade com a filha. Só mais esse.

Ash parou com as cócegas e apontou para os policiais. Yukira parou também, mas deitou a cabeça nas pernas do moreno. Depois olhou para Misty, que lhe acariciava os joelhos.

— To com soninho…

Misty sorriu e acomodou as pernas da filha sobre as suas. Yukira sorriu e encarou Masao, que também sorria. Chikao era o único sério ali.

— Meus policiais foram à casa de Rudy, mas ela estava vazia. Ele fugiu.

Ash sentiu tudo parar. Yukira saiu do colo dele e jogou-se contra Misty, escondendo o rostinho na curva do pescoço dela. Ash encarou Chikao, esperando que fosse tudo uma brincadeira. Não era.

Sua bolha de felicidade era de sabão, e Rudy acabara de estourá-la.

~~xx~~xx~~xx~~xx~~xx

O clima era tenso. Pesado. Brock chegara há poucos minutos, e quase não podia acreditar no que ouvira. O bolo repousava sobre a mesa, intocado. Yukira recusava-se a falar qualquer coisa, limitando-se a ficar agarrada a Misty como se fosse morrer caso a soltasse.

— O que isso muda quanto à guarda de Yukira?

A pergunta veio de Misty. A voz dela estava embargada, mas nenhuma lágrima escorria. Brock olhou para ela, mas a mulher continuava a encarar o chão, sem ter coragem de levantar o olhar. Ela sentia como se tudo fosse desabar se olhasse para os policiais. Ou para Ash.

— Fica como a juíza disse. Psicólogo, morando com o Ash e você a visitando aos finais de semana. Só até a próxima reunião. Ou até Rudy ser pego. Depois vocês podem decidir internamente como vai ser.

Misty assentiu com a cabeça, estreitando o abraço. Era segunda-feira, portanto teria que esperar vários dias recheados de tédio até poder ver sua pequena novamente. Sentiu raiva. Principalmente de Rudy, que não podia nem ao menos se permitir ser pego.

— Nós vamos ir. Temos muito trabalho a fazer, ok?

Ash e Misty apenas perceberam que Brock acompanhou Chikao e Masao até a porta, mas nenhum dos dois se mexeu. Estavam paralisados. Assustados, para dizer o mínimo. O choro de Misty começou, e Ash desviou o olhar para ela. A ruiva apertava Yukira contra seu corpo, e a menina parecia assustada.

— Mamãe, não chora…

— Kira, por que não vamos pro seu quarto? – Brock perguntou, levantando-se.

A menina se afastou de Misty, que começara com um choro quase compulsivo no momento. Ash sentiu seus braços coçarem. Tudo o que queria fazer era abraçá-la, mas não sabia se podia fazer aquilo. Não era como se estivessem resolvidos, ou qualquer coisa parecida.

— Mas a mamãe…

Yukira começou a chorar também, e Brock a pegou no colo. A menina escondeu o rosto na curva do pescoço do tio, e Misty escondeu o rosto entre suas mãos.

— Vamos, garota. Mamãe e papai precisam conversar.

— Ele não é meu papai.

Ash sentiu algumas lágrimas escorrerem por seu rosto também. Tudo recomeçava. O ódio, as palavras cruéis… não sabia por quanto tempo aguentaria aquilo.

Ash suspirou. Com Yukira daria um jeito de lidar depois. Havia outro alguém que necessitava de sua atenção mais urgentemente. Aproximou-se de Misty e a puxou para um abraço de lado.

— Não! Não.

Ela tentou se afastar, mas Ash segurou os braços da ruiva e a puxou para seu colo. Misty lutou e o empurrou, mas Ash não a deixou ir. Ele nunca mais a deixaria ir.

— Não, não, não. Ash, me solta!

Ela rosnava e chorava e gritava baixinho. Misty sofria, e lutou contra Ash até não conseguir mais. Lutou até o choro se tornar algo compulsivo e ela se agarrar na camiseta dele, abraçando-o em seguida. Ash a recolheu em seus braços e chorou silenciosamente enquanto acomodava Misty em seu colo.

Misty odiava chorar, mas não tinha um ataque daqueles desde que engravidara de Yukira. E agora estava grávida novamente. Por que coisas ruins sempre aconteciam quando ela estava grávida? Misty agarrou-se a Ash e soluçou contra o peito dele. Há muito se esquecera de como Ash era quente. De como o colo dele era o melhor do mundo, e de como ela se sentia segura ali.

–-//--//--//--//--//

Togepi e Pikachu estavam no quarto com Brock e Yukira. A menina estava assustada e agitada, mas parara de chorar. Caminhava de um lado para o outro, ansiosa.

— Tio Brock, eu quero ver a mamãe!

— Papai está cuidando dela, Kira. Os dois precisam conversar.

— Eu não acho que ele é meu papai, ok? Ele é um idiota, eu não gosto dele.

Brock suspirou, sentando-se na cama ao lado da menina.

— Kira, eu sei o que Rudy falou pra você. Mas Ash é forte, e ele vai proteger você e a mamãe, ok?

Yukira negou com a cabeça, negando-se a acreditar no tio.

— Eu odeio ele, tio. Se o Ash não tivesse aí…

— A mamãe ainda estaria naquela ilha. Você não existiria, e mamãe nunca teria te amado como ama.

— Mas ela não estaria lutando com ele por mim. Eu não quero que eles briguem, tio Brock. Eu não quero nada do Ash.

A menina parecia desolada, e Brock suspirou ao perceber aquilo. Ele a puxou para seu colo, e Yukira voltou a chorar.

— Eu só quero que o medo vá embora.

Brock beijou o topo da cabeça dela e olhou para Togepi, que chorava compulsivamente contra Pikachu. O medo e o desespero de Misty eram tão grandes, que Togepi não aguentava compartilhar daqueles sentimentos. Pokémons não sentiam como os humanos. Amor, talvez. Era diferente, mas igualmente forte. As emoções melancólicas e voltadas à tristeza eram as que menos compreendiam. Pokémons raramente ficavam tristes, apenas quando os motivos eram muito fortes; morte, separação, perda. E a dor que Togepi sentia era forte demais. O medo era imenso, e o pobre Pikachu não sabia o que fazer para dizimá-la.

Yukira ficou no colo de Brock chorando por vários minutos, até que ela parou. Brock afastou a garotinha apenas para poder ver o rosto dela, e percebeu que Kira dormira. Passara-se talvez meia hora desde que estavam no quarto, e fazia sentido. Ela estava cansada, e tantos sentimentos juntos podiam causar sonolência. Ainda mais em Kira, que, quando não estava correndo, comendo ou falando, estava dormindo.

Brock a colocou na cama com delicadeza, e a cobriu com o cobertor. A menina se acomodou, mas não acordou. O telefone do moreno tocou, e ele atendeu antes que o barulho incomodasse Yukira.

— Brock?

— Sim, quem fala?

Brock saiu silenciosamente do quarto, não querendo que Yukira acordasse.

— É a freira Leila, do orfanato.

— Ah, claro. Algum problema?

Alguns segundos de silêncio, e um suspiro.

— Raki morreu. Nós sabíamos que aconteceria. Liguei para avisar porque Raki pediu. Ela disse que Yukira queria conversar com seus pais sobre adotá-la, e Raki não conseguiu dizer a ela a verdade na época. O velório é amanhã.

Brock suspirou, sentindo que tudo estava dando errado ao mesmo tempo.

— Como… como ela…?

— Câncer.

Brock riu, sentindo a ironia. O riso passou, e ele suspirou. Era coisa demais para uma pessoa só. Tragédia demais.

— Não posso falar isso para Kira agora. Não sei se estão acompanhando os noticiários…

— Estamos sim! É ótimo que Rudy tenha sido…

— Ele fugiu.

Silêncio por mais alguns segundos. Leila pareceu fungar.

— Como ela está?

— Misty está pior, e Ash pior do que as duas, eu acho. Yukira vai ficar bem. Lamento por Raki, ela parecia uma boa menina.

— Ela era.

Conversaram por mais alguns segundos, e depois Brock desligou. O moreno esfregou o rosto, tentando compreender como tanta coisa ruim podia acontecer ao mesmo tempo. Suspirou, apoiando-se contra a parede. Tinha a sensação de que tudo estava para piorar.

~~xx~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty sentiu o calor de Ash e sorriu. Sabia que era errado, mas se sentia segura nos braços dele. Sentia que, se permanecesse nos braços dele, Rudy jamais seria capaz de incomodá-la novamente.

Suspirou, sabendo que nada era tão simples quanto parecia.

Rudy sorriu ao ver Misty parada na janela. Ela ficava tão incrivelmente linda naquela posição… era tão maravilhosa a forma como os cabelos ruivos ululavam ao redor dela. Parecia um anjo. O mais belo de todos eles.

Aproximou-se devagar, mas ela ouviu seus passos e se virou assustada. O medo nos olhos dela o magoou tanto quanto a raiva. Mas ainda era melhor do que o ódio. Tentou colocar seu melhor sorriso, mas ela não parecia feliz por vê-lo. Estava com os olhos um pouco estreitos, desconfiada.

— Misty, meu bem, relaxe…

— Relaxar?! Eu fui sequestrada e você quer que eu relaxe?!

Rudy bufou. Ela era tão dramática, às vezes.

— Não foi sequestrada, meu bem.

— E ser arrastada até aqui a força é o quê, hein?

O medo dera lugar à raiva e ao ódio novamente. E Rudy percebeu que a raiva não era tão ruim quanto o medo. Era bem pior.

Suspirou, cansado. Queria o amor dela, mas não recebia mais do que desconfiança e raiva. Exasperado, desistiu. Misty queria que ele fosse o vilão? Ótimo, Rudy estava disposto a aceitar o papel. E seria exímio neste. Se ele não podia tê-la, ninguém teria.

— AMOR, PORRA! – descontrolou-se.

Respirou fundo, observando o olhar cético que recebia. Sentiu raiva, mas controlou-se e aproximou-se.

Misty tentou escapar, mas Rudy a puxou delicadamente pelo braço e a prendeu em um abraço bem forte. Beijou a bochecha dela e começou a acariciar a cintura delgada. Misty se soltou com brutalidade, encarando-o enraivecida.

— Não me toque!

— Se eu fosse você ficaria bem quietinha, meu amor.

Ela o olhou com repulsa.

— Não tenho medo de você!

— Pois devia. – Rudy sorriu, e Misty estava pronta para responder, porém ele tocou na boca dela com delicadeza. – Vamos, querida, vamos dormir.

Ele a empurrou para a cama e os dois se deitaram. Misty tentou se afastar, porém Rudy a abraçou e, sorrindo, começou a sussurrar no ouvido dela.

— Você não quer que nada aconteça àquela pestinha que você chama de filha, não é mesmo? – Ele a viu começar a reclamar, mas continuou antes que Misty pudesse formular a primeira palavra. – Legalmente, eu sou o pai dela. E você pode ter alguns direitos a mais por ser a mãe, mas não sejamos tolos para realmente crer que isso mude alguma coisa.

— Fique longe dela.

— Oh, talvez eu fique, minha querida. Mas apenas se você me prometer que será apenas minha. Minha por todo o sempre.

Misty riu.

— Como assim? Acha que eu estou te traindo? – E o olhou irônica.

— Acha realmente que eu não reconheci Ash hoje?

Ela gelou, e Rudy percebeu isso. O moreno a acomodou em seus braços e a beijou delicadamente no pescoço. Deitaram de conchinha.

— Eu vi a forma como vocês conversaram. Não importa o que eu faça, não é mesmo? Você sempre vai escolhê-lo.

— Não escolhi ninguém!

— Mas queria – acusou. – Eu sei que sim. Eu vi, Misty. Agora prometa. Prometa que será apenas minha. Prometa que ele não voltará a fazer parte da sua vida.

Ele acariciou a cintura dela, mas sua mão não saiu dali. Rudy tentava ser carinhoso. Tentava mostrar a ela que tudo o que fazia era por amor.

— Rudy…

— Prometa, ou eu juro que vou tirar aquela garota de você. E vocês nunca mais irão se ver, Misty. Eu vou garantir isso.

E o tom de voz dele a fez gelar. Sabia do que Rudy falava. Sentiu as lágrimas invadirem seus olhos.

— Eu prometo.

Não era como se Ash fossm simplesmente voltar para sua vida, apenas porque o vira naquela manhã.

— Ótimo, querida. Porque, se quebrar essa promessa, Kira não será a única pessoa de cabelos negros a morrer.

E nunca, em toda sua vida, ela ouviria palavras mais horríveis. Naquela noite, Misty não dormiu. Não poderia dormir, em hipótese alguma. Porque tinha medo de acordar em um universo em que nenhum deles continuasse a existir. Ela não podia mais negar. Naquela manhã, seu coração batera novamente; batera de verdade, com vontade. Como não batia há mais de seis anos. Foi naquele momento que percebeu que nunca deixara de amar o estúpido e ridículo Ash Ketchum.

Mas parecia que nada realmente havia mudado. Estava nos braços de Ash, sentindo o calor e a proteção que dele emanavam, e não podia ficar ali. Ash voltara a fazer parte de sua vida, e continuaria sendo sempre parte dela, agora que sabia sobre Yukira. Misty não tinha controle algum sobre aquilo.

Mas ela tinha controle sobre a outra parte da promessa. Não sabia onde Rudy estava, não sabia o que ele tramava, sabia apenas que era ruim. E que ele nunca a deixaria ficar com Ash. Nunca deixaria que os três, Ash, Misty e Yukira, fossem uma família.

A ruiva afastou seu rosto do peito dele e tocou no rosto conhecido. As lágrimas ainda escorriam, mas ela não se importava mais. O que estava para fazer quebraria seu coração em milhões de pedaços novamente, e ela tinha o direito de um último toque antes disso. Aproximou seu rosto do dele e o beijou. Ash não ficou surpreso, porque ela o olhara daquele jeito conhecido. As lágrimas se misturavam às línguas que bailavam, mas o beijo não ficara ruim por aquilo.

Ash começou a chorar. Ele conhecia o gosto daquele beijo. Era um beijo de despedida. Não sabia como tinha tanta certeza, mas tinha. Aproximou-a mais, e sentiu que os corações batiam numa confusão de ritmos que até pareciam estar sincronizados. Ele não podia deixá-la ir. Não de novo.

Misty se afastou, mesmo que Ash continuasse a puxá-la para perto.

— Misty, não…

— Ash, nós…

— Não faz isso. Não… Misty, por favor.

Ele implorava. O orgulho era inexistente. O momento era desesperador, e Ash implorava. Aquilo apenas fazia com que Misty chorasse mais, mas ela não tinha escolha. Rudy a fazia escolher entre Yukira e Ash, e não havia muito o que pensar ali. Sempre seria Yukira. Se Ash estivesse em seu lugar, ele faria o mesmo. Yukira era filha deles, e ela sempre seria uma prioridade.

— Ash, a gente não pode ficar junto.

— Por favor, eu preciso de você.

Misty saiu lentamente do colo de Ash, mesmo que ele tentasse mantê-la por perto novamente. As lágrimas escorriam, e Ash soluçava. Misty também, mas ela tentava se manter bem o suficiente para falar.

— Não. A gente não pode, não daria certo. É o melhor, ok?

— Não, Misty, NÃO!

— Adeus, Ash.

Ela se afastou, e ele a observou ir. Ash se encolheu no sofá e chorou como uma criança. Misty saiu da casa e se escondeu em seu carro. Ligou para Brock, que ainda estava com Yukira. Ele atendeu no quarto toque.

— Por favor, vem me tirar daqui…

Brock desligou e saiu correndo. A cena que encontrou foi deprimente. Ash enroscado no sofá, chorando como Brock não o via chorar há muito tempo. O moreno caminhou até o amigo, mas Ash não pareceu percebê-lo. Antes de sair, Brock ligou para Paul e Drew. Ash não podia ficar sozinho naquele momento, muito menos com uma Yukira enfurecida e magoada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo não revisado.

Espero que tenham gostado o//

Comentários?

Bjs e teh + ^3^//



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Em Busca da Verdade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.