Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 35
O fim de todos os problemas


Notas iniciais do capítulo

Aee, não demorei um ano o//

~~enjoy



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Ash acordou com o sol entrando pela janela. Era incômodo e fazia seus olhos lacrimejarem, mas ele não se importou muito. Rolou na cama e sentiu um corpo pequeno aconchegar-se ao seu.

Yukira acordou com a movimentação, mas ficou sem se mover por alguns minutos. Era quente e bom ali. Estava nos braços de alguém, mas não eram os de sua mamãe. Não sabia exatamente quem a abraçava, mas a menina sorriu. Era bom sentir-se novamente protegida. Abriu os olhos devagar, tentando identificar quem lhe proporcionava tão agradável sensação, mas um grito escapou de seus lábios ao identificar Ash.

Aquilo não podia estar certo, não mesmo. Como Ash ousava ir dormir com ela? Como ousava fazê-la se sentir daquele jeito? Yukira sentiu-se assustada, e correu para longe dele. Não podia gostar de Ash, porque Rudy machucaria sua mamãe, e ela queria sua mamãe.

— Kira, por favor…

— É YUKIRA! SAI DAQUI!

Ash suspirou, sentindo toda a magia acabar. Sentou-se na cama, com a cabeça doendo. Sentara-se muito rápido, e seu corpo ainda estava mole.

— Se acalma, tá? Você teve um pesadelo…

— EU NÃO TE PEDI PRA DORMIR AQUI! SAI DAQUI!

— Kira…

— Eu quero ir pra escola.

Ela parecia mais calma, mas mantinha-se contra a parede, ao lado da janela, querendo pôr o máximo possível de distância entre os dois.

— Você quer?

Ela assentiu com a cabeça, e Ash piscou os olhos, confuso. No dia do teste de DNA, Misty alertara-o de que Kira não gostaria de ir para a escolinha; “[…] vai fazer todos os tipos de chantagem emocional possíveis para que você permita que ela fique em casa”, Misty dissera.

— Sua mãe disse que você não gosta muito de sair de casa.

— Mas eu detesto você, e não quero ficar nessa casa. Eu quero ficar com os meus amigos e com a minha mãe!

Ash suspirou, sentindo a dor de cabeça aumentar. Bagunçou os cabelos e caminhou até seu quarto; o relógio marcava quase onze horas da manhã. Dormira demais, assim como Yukira, e não tinha como irem à escola. Trocou de roupa e abriu as cortinas. Fechou-as segundos depois.

Não conseguiu identificar quantos jornalistas estavam ao redor de sua casa, mas eram muitos, com certeza. Eles começaram a gritar perguntas e a tirar fotos, mesmo que Ash já houvesse fechado a cortina novamente. O moreno correu até o quarto de Kira, e percebeu que ela tinha a cortina aberta, e que estava deitada no chão.

— Quem são eles?! – perguntou a menina, assustada.

— Gente que não tem nada pra fazer além de cuidar da vida dos outros.

Ash fechou as cortinas do quarto da garota e estendeu a mão para ajudá-la a levantar. Yukira simplesmente ignorou e levantou-se sozinha.

— Eu quero ir pra escola!

— Sua escola deve estar cercada por eles, assim como a casa dos seus tios e todos os lugares que você costuma ir.

— Mas eu não quero ficar com você!

Emburrada, Yukira caminhou até sua cama e sentou-se. Trajava um vestido cor-de-rosa que ia até os joelhos, e uma sapatilha da mesma cor. Os cabelos estavam bagunçados, mas a menina parecia um pequeno anjo.

— Infelizmente não tem outra opção. Quer que eu penteie o seu cabelo?

— Eu penteio sozinha!

Ash suspirou e ouviu a campainha tocar. O barulho do lado de fora aumentou, e ele saiu do corredor, indo até a porta da frente. Chikao e Masao estavam esperando para entrar, e pareciam bem desconfortáveis com a imprensa. Ash deixou-os entrar assim que os reconheceu.

— Acho que ainda não tivemos o prazer de conversar, senhor Ketchum.

Ash sorriu para o delegado e apertou a mão que lhe era estendida.

— Apenas nos vimos no julgamento, mas nunca conversamos. Sintam-se em casa.

— Kira está aqui? – Masao perguntou.

Ash assentiu com a cabeça.

— Ela estava no quarto. Vou…

— TIO MASAO!

A menina correu até o policial, que sorriu e a pegou no colo.

— Hey, garota. Papai está cuidando bem de você?

— Ele não é meu papai. Eu não gosto dele.

Ela escondeu o rosto na curva do pescoço do ruivo, e Ash suspirou. Tentou sorrir, mas as palavras continuavam tendo um efeito arrasador sobre ele. Não importava realmente quantas vezes ouvisse aquelas palavras, nunca se acostumaria com elas.

— E por que seria isso, Yukira? – era Chikao quem perguntava.

Ash simplesmente suspirou e apontou o sofá para eles, sentando-se na poltrona. Masao e Chikao sentaram-se no sofá; Kira ainda no colo do policial. Enquanto a menina pensava na resposta, o delegado buscava qualquer sinal de raiva ao ouvir tais palavras, mas Ash não aparentava estar irritado com a garota por ela dizer aquilo aos policiais.

— Porque ele quer me tirar da minha mamãe! – respondeu por fim.

— Eu já disse que não quero…

— Então me devolve! – interrompeu a menina.

— Kira, você…

— Yukira – corrigiu.

— Kira – Ash ignorou-a –, você sabe que não pode ficar com a sua mamãe agora. E eu não vou desistir de você. Você é minha filha também.

— Não sou não! Eu sou filha só da minha mamãe!

Ash não respondeu, apenas baixou a cabeça, cansado. Já haviam tido aquela discussão inúmeras vezes, e ele estava começando a ficar cansado.

— Chikao, eu vou fazer o leite da Kira. Não quer ir comigo à cozinha?

— Eu não quero leite.

Yukira estava no colo de Masao, e seus olhos verdes, presos em Ash, brilhavam em desafio. Ela queria que Ash passasse vergonha e desistisse dela.

— Quer o quê?

— Minha mamãe.

Ash suspirou – andava fazendo muito isso ultimamente.

— Hoje não é dia de ver a mamãe. O que você quer comer?

— Eu não to com fome.

— Você não come desde ontem de noite.

— Eu quero a comida da escola!

— Desculpa ter dormido demais, mas agora eu não tenho como te levar, ok? E a gente não pode pedir comida com toda aquela gente lá fora, então eu vou ter que cozinhar alguma coisa.

— Seu leite é ruim.

— Ok. Eu vou ver se consigo fazer alguma coisa pra gente comer, ok?

— Eu não quero a sua comida!

Mas Ash já lhe virara as costas e caminhava até a cozinha. Kira mostrou a língua para ele, teimosa e infantil, e Chikao seguiu o moreno. Na cozinha, Ash despencou em uma cadeira e suspirou, escondendo o rosto entre seus braços. Era ruim aguentar Kira quando estavam sozinhos, mas ver a filha menosprezando-o em frente aos outros era ainda mais doloroso. Mostrava o quanto ela o detestava. Mostrava que a menina não sentia qualquer respeito por ele.

— Ash?

Ash limpou as discretas lágrimas que marejavam seus olhos e abriu um sorriso de orelha a orelha, tentando não parecer tão triste quanto se sentia.

— Sente-se, senhor…? – Ash não se lembrava do sobrenome de Chikao.

— Apenas Chikao está bom.

— Sente-se, Chikao. Eu vou fazer o leite. Kira diz que não quer, mas ela tomou ontem. Acho que é só birra.

— Crianças na idade dela costumam ser birrentas, certo? Só não perder a paciência.

— Estou tentando. – Ash sorriu. – Com todas as minhas forças, estou tentando mesmo.

Chikao assentiu com a cabeça, mas ainda assim não se deu por vencido. Yukira parecia ser uma garota teimosa, mas precisava saber quem era Ash e o que planejava com ela. Misty dissera que ele jamais machucaria a garota, e ela era difícil de ser convencida, mas Misty já confiara em Rudy e, àquela altura, Chikao já não confiava mais no moreno. Não depois de tudo o que lhe fora relatado.

— Ela é teimosa, não?

— Yukira é quase impossível. – Ash desabafou, voltando a sentar-se na cadeira enquanto o leite esquentava. Ele sussurrava, não querendo que ela ouvisse. – É teimosa, birrenta e tem um dom quase sobrenatural de escolher as palavras que mais machucam. Mas… – Ash abriu um sorriso de canto – ela também é a criança mais dedicada que existe. Você não acha? Tão fiel à Myst… e tão… eu não sei… determinada, acho que é a palavra.

Chikao também sorria. Ele entendia perfeitamente o que Ash dizia.

— Ela realmente parece determinada, Ash. As coisas que ela fala pra você…

— Birra, eu espero. Ela quer ficar com Myst, e é natural querer ficar com a mãe, não é? E Kira também tem muito medo do Rudy, e eu acho que ela pensa que eu sou parecido com ele, entende? – Chikao apenas prestava atenção. Ash encarava a mesa. – Rudy era… ela achava que o Rudy era o pai dela, mas ele fez muitas coisas que a magoaram. Então algumas pessoas vêm e dizem que eu sou o pai dela. Acho que ela associou as coisas; que ela acha que eu vou fazer com a Myst o mesmo que ele fez.

Chegavam ao ponto no qual Chikao estava interessado. Ele queria exatamente saber aquela parte da história. Queria saber se a parte do sequestro era real, ou se Yukira simplesmente inventara tudo aquilo. O delegado também percebera que Ash não dizia o nome completo de Misty, mas sim usava um apelido. Sabia que ele era próximo a ela – tiveram uma filha juntos, afinal –, e estava interessado em saber o quão próximos eram.

— E o que o Rudy fez, exatamente?

— Misty não contou?

— Ela contou muitas coisas, algumas um pouco fantasiosas. Queremos saber o que você acha que ele fez.

Ash riu um pouco, e Pikachu entrou na cozinha, indo para o ombro do dono em seguida. O Pokémon parecia sonolento e não era ameaçador como o Gyarados de Misty, mas, por algum motivo, o delegado colocou-se em alerta. Aquele ratinho talvez fosse perigoso.

— Querem saber se as histórias são parecidas, né? Ela pode ser meio doidinha, mas Misty não inventaria nada. E eu não sei muito também. Sei que ela foi pedir o divórcio pro Rudy, e “digamos que ele não aceitou muito bem”, segundo disse a própria Misty.

Aquela frase, que ficara por muito tempo em sua mente, trouxe de volta todo o ódio que sentia por Rudy. Aquele imbecil ousara bater em Misty. Ele batera nela! Como podia?

— O que isso significa?

— Antes de ser sequestrada, Misty deixou uma carta pros amigos dela. Na carta, ela disse “digamos que ele não aceitou muito bem”, porque sabia que as crianças iam ler e não queria que soubessem que aquele desgraçado, filho duma puta, bateu nela. Quando eu cheguei na ilha, ele tava tentando estuprar a Myst. Você tem noção do que é encontrar a mulher da sua vida a ponto de ser estuprada pelo cara que você mais detesta no universo? Se Pikachu não estivesse lá, eu juro que teria invadido aquele quarto e pintado as paredes com o sangue daquele desgraçado.

Chikao arregalou os olhos. Estava um pouco confuso. Os detalhes que Ash deixara escapar batiam com o que ouvira de seus policiais – que Misty fora levada até uma ilha, e que Ash a salvara sozinho –, mas a parte em que Rudy quase a estuprara fora deixada de lado, provavelmente porque a pequena garota que estava na sala não sabia sobre aquilo.

— Mulher da sua vida? Pensei que você e Misty não estivessem mais juntos.

— Não estamos. – Ash provavelmente nunca ficara tão vermelho em toda a sua vida. – É complicado, mas não estamos. Ela e eu… Misty decidiu que… e eu fui um grosso e… é complicado.

— Eu pensei que você e Misty fossem só um caso.

Ash riu e caminhou até o fogão. As palavras anteriores simplesmente pularam de seus lábios. Ele nunca planejara admitir o quanto ainda amava Misty, mas agora que falara, não havia por que continuar a fingir que o sentimento não existia.

— Namoramos por algum tempo quando adolescentes. E eu realmente achava que ela era a certa, sabe? A gente viajava junto, dormia em florestas, Centros Pokémons ou mesmo em motéis. E, normalmente, o Brock dormia com a gente, então ficamos muito tempo num namoro muito mais sentimental do que físico.

Chikao acompanhou a história, curioso. Ash tinha um brilho no olhar. Alguma coisa diferente. Ele verificava a temperatura do leite; parecia quente.

— E então?

— E então o Rudy apareceu. Estávamos no parque, só eu e ela, e eu vi os dois se beijando. Misty já estava grávida, mas ainda não sabia. Eu terminei com ela, e só mês passado descobri que, na verdade, Rudy a agarrou.

— Rudy os persegue desde aquela época?

Ash assentiu com a cabeça.

— Ele é obcecado por Myst. A gente terminou, e eu fiquei um tempão sem ter notícias dela. Até me tornar Mestre Pokémon. Sabe, eu tinha decidido que ia perdoar a traição e ia voltar pra ela. Tinha mesmo. Tinha dito pro Pikachu: Amigão, eu vou me tornar o Melhor Mestre Pokémon do Mundo, e daí a Misty vai me amar tanto, que nunca mais vai pensar no Rudy. E nós vamos viver felizes para sempre.

Uma lágrima idiota escapou do olho direito de Ash, e ele limpou-a constrangido. Ash pegou a mamadeira da filha e começou a preparar a bebida.

— E por que não voltaram naquela tarde?

Pikachu pulou para os cabelos do dono, querendo mostrar seu apoio, e Ash sorriu ao acariciar os pelos amarelados e macios. Mas não estava feliz.

— Ela não apareceu. Naquela noite, na minha festa de comemoração, a imprensa divulgou que eles casariam. A minha Misty e o Rudy. Só uma vez eu fiquei mais bêbado do que naquela noite. Foi quando eles casaram. O casamento inteiro passou na televisão. Eu tava num bar, e gritei pra todo mundo que a minha mulher tava casando com outro, e que eu a amava, e que ia acabar com aquela palhaçada. Acho que até me levantei e saí do bar, eu não sei, mas sei que acordei na delegacia. Acho que me impediram de ir estragar com o casamento deles, ou algo assim. Se eu tivesse acabado com aquela merda naquele dia, as coisas seriam bem melhores.

Ash suspirou e limpou as lágrimas estúpidas que escorriam. Acabara de contar a um completo estranho toda a sua aventura amorosa com Misty, e sentia-se envergonhado por chorar ao falar nela. Chikao, apesar de tudo, era um ótimo ouvinte.

— Por que Misty casou com Rudy?

— Eu nunca entendi isso também. Eu não sei. Eu… Eu não sei. Acho que ela sabia que eu ia ser um desastre como pai.

Ash suspirou e voltou a sentar na cadeira, com a mamadeira ao seu lado. O leite estava quente demais para ser ingerido por Kira, e eles teriam que esperar esfriar.

— Você não é um desastre como pai, Ash.

— Minha filha me odeia. Ela simplesmente me odeia.

— Yukira parece ser uma menina difícil.

Ash suspirou e levantou-se, apontado com a cabeça para a porta. Os dois homens pararam no arco e olharam para a sala. Kira olhava televisão com Masao sobre o sofá. O ruivo fazia-a rir a cada instante, e a menina parecia confortável no colo dele.

— Ela não é tão difícil assim – sussurrou Ash, sem querer que Kira o escutasse. – Quando ela gosta de alguém, faz qualquer coisa por essa pessoa. E Kira gosta de quase qualquer um, menos de mim.

Ele voltou para dentro da cozinha, com Chikao logo atrás.

— Mas você não vai desistir, vai? Ela é sua filha, apesar de ser teimosa.

— Eu não desistiria de Kira nem se quisesse. – Ash, agora, sorria. – Eu amo a minha filha, Chikao. Amo muito mesmo. A Kira é minha vida agora, assim como Misty também é. Eu juro que tento odiar Misty. Com todas as minhas forças, tento odiar ela por ter escondido essa criança de mim, mas… Misty me faz feliz. Eu sinto muita raiva dela. Isso eu sinto. Mas ódio?

Ash balançou negativamente a cabeça, e conferiu novamente a temperatura do leite. Estava bom.

— Você ama Misty, não ama?

Ash não respondeu, apenas entrou na sala e viu, lentamente, o sorriso de Yukira desaparecer. A garota ofereceu a ele sua melhor expressão de indiferença e desgosto enquanto Ash estendia a mamadeira para ela.

— Eu disse que não queria leite. Você é surdo?!

Ash suspirou e deixou o objeto sobre a mesa.

— Desculpa, ok? Eu vou preparar um macarrão pra gente, porque é só o que eu sei fazer, e preciso terminar de conversar com o Chikao. Se sentir sede, beba o leite, sim?

— Eu não quero macarrão!

Ash suspirou de novo.

— Desculpa, Kira. É só o que eu sei cozinhar.

— Meu nome é Yukira!

Mas Ash já lhe dera as costas. Os ombros estavam caídos, derrotados; a voz dele era arrastada, resignada; mas o pior eram os olhos. Cansados e abatidos. Masao podia quase sentir o sofrimento que cercava o moreno.

— Ele tá fazendo o melhor que pode, Kira – repreendeu Masao.

— Eu odeio ele, Masao.

— Por quê?

— Porque ele quer me tirar da minha mamãe! Ele é burro! Eu não quero ficar aqui, porque eu odeio essa casa, e eu odeio o Ash! Eu só quero ficar com a minha mamãe, Masao. Eu não quero um papai.

Do arco, Ash conseguia ouvir a conversa entre os dois. E Kira continuava com a língua afiada, proferindo palavras dolorosas sem nem percebê-las.

— Ash? – chamou Chikao. – Será que você pode me falar mais sobre o sequestro?

Ash assentiu com a cabeça e começou a procurar pelo macarrão enquanto contava ao delegado quase tudo o que acontecera naquela ilha. A parte da caverna ele não precisava saber.

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— Ele é um irresponsável, Togepi! – reclamou Misty. – Nem levou Yukira para a escola hoje!

“Eles só dormiram demais…”.

— Ela não pode só “dormir demais”! Já perdeu muita aula por causa dessa loucura toda. Vai ficar atrasada na escola e chateada, porque todos os coleguinhas dela vão se formar e ela não!

“Você mesma disse que ela tá nova demais pra se formar, Misty”.

— Mas isso não significa que o Ash pode simplesmente ficar deixando que ela mate aula, certo? Ela precisa estudar!

Estavam sentados na cama da ruiva, e Misty parecia anormalmente inquieta. Mexia-se de um lado para o outro, e temia estar cometendo alguma besteira. Suspirou emburrada e voltou seu olhar para Togepi. Sabia que estava certa.

— MISTY!

Brock gritava enquanto subia as escadas. Misty desviou o olhar para a porta assim que ouviu a respiração esbaforida do amigo. Ainda mantinha a greve de silêncio, mas falou mesmo assim.

— Brock, liga pro incompetente do seu amigo e diz que a minha filha não pode ficar perdendo aula assim.

— Depois. Agora tem uma coisa que você precisa ver, anda!

Ele saiu correndo novamente, e Misty revirou os olhos antes de segui-lo. Estava cansada de Brock e as irmãs estarem sempre tentando arrumar novidades para removê-la do tédio eterno.

Na sala, a televisão estava ligada. Misty apoiou-se no sofá enquanto a jornalista falava. Tinham como fundo o tribunal em que a batalha por Yukira acontecera.

O turbulento julgamento pela guarda de Yukira Waterflower, filha da famosa atriz e treinadora Misty Waterflower e do famoso Mestre Pokémon Ash Ketchum, entrou em recesso. Rudy Ziggy, pai adotivo de Yukira, também quer a guarda da criança, porém um jurado, que preferiu se manter no anonimato, disse que ele subornou o juiz e todos os participantes da corte.

Misty sentiu sua boca abrir, e ela viu uma forma embaçada falar – a voz fora alterada eletronicamente, é claro:

— Rudy veio falar comigo dias antes do julgamento. Ele disse que me daria duzentos mil dólares se eu deixasse a guarda da menina com ele. Eu aceitei, porque normalmente, em casos como esse, a família é toda desestabilizada e a criança vai ficar mal, independente da pessoa com quem fique. Pensei que Rudy até fosse a escolha certa, já que estava disposto a gastar todo esse dinheiro pra ficar com a menina. Mas no julgamento… eu sei que Misty é uma atriz, mas ninguém atua tão bem. Ela já sabia que tínhamos sido comprados, e eu duvido que ele tenha dito alguma coisa, então eu acho que deve ser da personalidade dele. Mas, enfim, eu observei a família que eles são. Ash, Misty, Rudy e Yukira. A menina ama a mãe, e Misty obviamente é apaixonada por ela. Ash quer que Yukira goste dele, e provavelmente vai conseguir com o tempo, mas ele acabou de descobrir que tem uma filha. Mas o Rudy… ele me assusta! Eu não sei como Misty conseguiu conviver com aquele cara por tanto tempo, mas ele subornou todo mundo pra conseguir ficar com aquela criança, e eu não sei o motivo. Posso não saber quem é a melhor opção praa Yukira, mas Misty Waterflower não é louca. Rudy nos pagou pra dizermos que ela era. Eu acho que o louco é ele, e que Rudy devia ser preso ou internado antes que faça algo realmente ruim.

O resto era irrelevante. Misty ria.

— Eu não acredito! Alguém realmente mostrou pra todo mundo quem o Rudy é de verdade!

A jornalista seguia dizendo que todos os outros jurados haviam confirmado o suborno, assim como o juiz, e que Rudy deveria estar preso na manhã seguinte.

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela, de felicidade. Esquecendo-se completamente da raiva que sentia das irmãs e de todos que a cercavam, Misty abraçou Daisy, que correspondeu imediatamente, sentindo as lágrimas escorrerem por seus olhos também.

— Eu vou ter a minha filhinha de volta, Daisy. Eu vou ter minha Kira de volta, porque agora, com essa merda toda passando, a Kira vai ser minha de novo.

Ela chorava muito. Separou-se da irmã, e sentiu todos os familiares rodearem-na.

— Ah, ruivinha, eu sabia que ia dar tudo certo.

Misty enterrou o rosto no peito de Brock, e deixou que ele a consolasse. Ela soluçava de felicidade, e o mais velho também chorava.

— Você e Ash terão Kira agora.

Ela limpou as lágrimas que escorriam. O mais belo dos sorrisos enfeitava os lábios finos.

— Eu vou falar com ele. Vamos cuidar da Kira juntos, sabe? E, sei lá, ela mora comigo, mas ele pode vir quando quiser, e tudo mais. E, quem sabe, a gente não possa voltar, né Brock?

Brock sorriu ainda mais, sentindo as lágrimas aumentarem.

— Sério, Misty? Voltar com o Ash?

— Ele queria voltar. Eu não quis, porque o Rudy disse que mataria Kira se Ash voltasse para minha vida. Eu acreditei nele, sabe? E fiquei com tanto medo!

As bocas dos quatro presentes foram para o chão, e Misty sentiu Lily abraçá-la de lado, confortando-a. A caçula esquecera-se de dizer a eles o que acontecera na primeira noite em Esmeralda.

— Rudy disse que mataria a nossa princesinha se você voltasse com o Ash?

— Disse que mataria os dois, na verdade. Tanto Kira quanto Ash. E quando ele descobriu sobre a minha noite com o Ash naquela caverna… eu fiquei com muito medo. Mas agora ele vai ser preso, e tudo vai ficar bem, não vai?

Todos sorriram.

— Nada de mal vai acontecer, maninha. Porque Rudy vai ser preso hoje ou amanhã, e todo esse pesadelo vai acabar.

Misty riu e abraçou todos eles. Naquele momento, não havia mais brigas. Misty não se sentia mais infeliz ou algo parecido. Ela estava flutuando de tanta felicidade. Ainda chorando, pegou o telefone e discou o número da casa de Ash.

Ele atendeu no terceiro toque.

— Alô?

— ASH! – Ela riu. – ASH, LIGA A TELEVISÃO!

Do outro lado, Ash encarou o telefone com um sorriso surpreso. Masao e Chikao continuavam ali, e estranharam a felicidade do moreno, mas nada disseram. Ash ligou a televisão, sem desgrudar o telefone do ouvido, querendo ouvir o máximo possível da risada melódica de Misty.

Enquanto Ash assistia a um resumo da reportagem, os olhos voaram para Chikao e Masao, que também sorriam.

— Viemos apenas garantir que Rudy não chegaria perto de Yukira antes de estar preso.

— O Rudy vai ser preso? De verdade? – era Kira, que ria.

— Kira, o Rudy vai ser preso! – comemorou Masao.

A menina gritou de felicidade e abraçou Masao. O policial retribuiu ao abraço, e a menina encarou o telefone. Ash gritava de felicidade com a outra pessoa, e ela sentiu os olhinhos brilharem ao ouvi-lo.

— MYST, ESSE IDIOTA SAIU DAS NOSSAS VIDAS!

— É mamãe?

— Sim, princesa, é a mamãe.

Yukira riu e se jogou no colo de Ash, que a recebeu com o maior dos sorrisos. Colocou o telefone no viva voz e a voz de Misty preencheu toda a sala. A ruiva chorava.

— ELE VAI SER PRESO! Ash! Rudy vai ir pra bem longe!

— Mãe!

— Kira! Ah, bebê, a gente vai poder ficar juntas! Mamãe tinha prometido, não tinha? Vamos ficar juntas!

— Vou poder morar com você?

— Ainda não, meu anjo. Mamãe precisa comprar uma casa nova, só nossa, e depois você vem morar comigo. O que acha disso, hein?

— Aaah! Eu quero morar com você agora!

— Mas o papai está cuidando bem de você, não está? E ele ainda tem a sua guarda. Além disso, agora mamãe pode ir aí te ver quando quiser. Não pode, Ash?

— Pode vir sempre, Misty. Se Yukira puder morar comigo por mais um tempo, você pode vir morar aqui também, se quiser.

Era uma brincadeira, mas os olhos de Kira brilharam com ela. Ash riu. Aquela brincadeira tinha um fundinho de verdade. Se Misty quisesse, ele permitiria que ela morasse com eles. Era ouvir a voz da ruiva para Kira subir em seu colo e ficar ali, quietinha, feliz, conversando como se não o odiasse. Talvez ela realmente deixasse de odiá-lo se Misty viesse morar com eles.

— VEM, MAMÃE!

— Olha que eu vou, hein!

Misty ria, assim como os outros. Chikao e Masao também estavam felizes.

Afinal, parecia que tudo, finalmente, ficaria bem.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Heey o//

O Nyah! tá zoando com a minha cara e não quis postar isso antes, mas vamos de novo :3

Em novembro NÃO haverá nenhuma atualização, em nenhuma fanfic, porque vou participar do NaNo (https://nanowrimo.org/). O projeto é MUITO legal (tipo, sério mesmo); consiste em escrever 50.000 palavras em 30 dias (ou seja, começa dia 1º de novembro e acaba dia 30). É muito legal, e eu pretendo escrever um livro que tenho planejado desde o ano passado :33

Se gostarem, participem comigo o//

Então, tudo vai dar certo agora *O*
Gostaram do capítulo? Rudy receberá o que merece?

Opiniões e críticas construtivas são sempre bem-vindas! Quem não gostou, por favor, explique o porquê, ok? O mesmo vale pra quem gostou u-u.

Obrigada pelo carinho de vocês, pessoal. Onze recomendações *---*
Vocês me fazem a pseudo-escritora mais feliz do mundo



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