Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 34
#Team


Notas iniciais do capítulo

Que emoção postar mais um capítulo aqui *--*

~~enjoy



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Misty sentou-se no sofá, completamente confusa. Com os olhos de Togepi, observara o que esperava, em breve, ser seu ex-marido beber vinho calmamente por uma hora. Era como se nenhuma preocupação o afligisse.

“Como se tudo estivesse indo de acordo com seus planos…”.

— MISTY!

Violet invadiu a casa correndo e gritando. A ruiva apenas desviou o olhar para a irmã, sem possuir qualquer intenção de falar com ela. A noite chegava e, com ela, os jornais televisivos. Violet ignorou a falta de resposta da ruiva e ligou a televisão, sentando-se ao lado da irmã em seguida.

Uma jornalista japonesa estava em frente ao tribunal onde Ash conseguira a guarda de Yukira, e a atenção de Misty foi imediatamente capturada.

— O drama que a atriz e treinadora Misty Waterflower tem vivido apenas se intensificou no dia de hoje. Misty e Rudy passam por uma difícil separação, e ele deseja a guarda da filha do casal. Segundo Rudy, a atriz enlouqueceu e começou a colocar a garota contra ele. Mas e essa menina? Até poucos dias, ninguém sabia da existência dela. Por que a esconderam?

E ela continuava a falar. Misty sentiu raiva. Até mesmo na grande mídia Rudy a caluniava?! Seu rosto avermelhou-se, e ela precisou contar até três para se controlar. Sua atenção foi novamente captada quando a imagem de Yukira saltando do carro de Ash e fugindo para seus braços também foi exibida.

— E o Mestre Pokémon Ketchum? Ele também parece envolvido com toda a trama, visto que foi ele a levar a garota ao tribunal hoje. Há boatos de que Rudy não é o pai biológico da menina, e que Misty vem mantendo um relacionamento extraconjugal durante todo esse tempo. Será isso verdade? A atriz realmente enlouqueceu? Ela traía o marido durante todo esse tempo? Nossa equipe tentou entrar em contato com Misty Waterflower, porém ela nem ao menos nos atendeu. Estará ela escondendo mais alguma coisa? Misty e Ash pretendem assumir o relacionamento?

Misty não conseguiu segurar a risada ao ouvir aquilo. Um relacionamento? Ela e Ash?

Suspirou e apoiou a cabeça para trás, exausta. Acariciou descuidadamente a barriga, que mal podia ser percebida – na verdade, ela realmente pensava que o inchaço que via no espelho era fruto de sua imaginação. Sentia-se exausta, e sabia que não podia culpar a gravidez por isso.

Se fechasse bem os olhos, ainda podia sentir os braços dele ao seu redor. Podia sentir o cheiro amadeirado, e quase sentia os olhos castanhos a examiná-la. Sentia falta dos carinhos que recebia; sentia falta das palavras doces e das brincadeiras. Provavelmente sentia falta até das brigas. Mas há muito tempo não mantinham mais um relacionamento. Voltou o olhar para a televisão, perguntando-se se a jornalista apresentaria uma explicação para o casamento com Rudy, visto que ela mantinha um caso secreto com o “Mestre Pokémon Ketchum” desde antes de casar.

A mulher não falou nada a respeito, apenas continuou a divagar a respeito do que poderia ter acontecido para que a situação chegasse àquele nível. Não chegou nem mesmo perto da verdade.

“Em todas as suas teorias, Rudy é o injustiçado”.

Quase podia sentir o dedo do homem naquela reportagem, porém não queria fazer qualquer tipo de acusação. Ao menos estava em casa, e não presa. Realmente se surpreendera ao saber que poderia ficar com Lily e Brock naquele período conturbado, porém a notícia era agradável. Ainda que continuasse sem trocar qualquer palavra com eles, uma cama confortável era bem-vinda.

Violet observava a irmã com o canto do olho. Estava tão angustiada quanto irritada. Sabia que ela divagava a respeito do que a jornalista dissera. Ash e Misty… ela ainda se lembrava de ver a irmã escrevendo o nome do garoto no fundo de seu diário, e desenhando um coração ao redor das iniciais de ambos. Era um amor tão inocente e sincero. Por que acabara? Por que Misty não podia deixar de ser tão cabeça-dura?

— Misty, por favor, fale comigo!

A ruiva não respondeu.

— Misty!

A ruiva levantou-se e saiu da sala, indo para seu quarto e deitando-se na cama. Togepi acompanhou-a, porém a ruiva não prestou atenção a ele. Sabia que o pequeno estava ao lado de Violet, e ela não estava com paciência suficiente para aturar sermões.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Drew já saíra há quase meia hora, e tudo o que Ash fizera fora observar Kira dormindo. Ela parecia tão tranquila, que tudo o que ele queria era dar colo a ela, e permitir que a menina se aconchegasse em seus braços – da mesma forma que fizera quando estavam no Lapras.

Entretanto sabia que Yukira jamais aceitaria aquilo, e não queria acordá-la. Sua tolerância a palavras dolorosas estava no limite. Se ouvisse “eu odeio você!” novamente naquele dia, não sabia o que poderia fazer. Sentia-se exausto.

Pikachu dormia com a menina, e Ash encontrava-se no mais puro tédio. Caminhou até o notebook que ficava em seu quarto e o levou até a mesinha de centro da sala, não querendo ficar longe da filha. Sorriu ao pensar na palavra, e desviou o olhar para a garotinha adormecida. Independente das palavras que ela proferia, Ash sentia seu coração pulsar ao observá-la. Tão linda… tão… sua.

“Não minha. De Misty”.

Afastou o pensamento e olhou, com um pouco de inveja, o ratinho que tanto amava remexer-se um pouco nos braços dela; nada que acordasse qualquer um deles. Riu um pouco ao perceber que Misty estava certa. A menina dormia como ele.

A televisão – muda, para não correr o risco de despertar a garota adormecida – mostrava repetidamente a cena de Yukira correndo até Misty. Ash entrou na internet e começou a pesquisar, querendo saber se o assunto era popular. Quase derrubou o computador ao perceber que até mesmo blogs especificamente para aquilo haviam sido criados. Que tipo de brincadeira era aquela?

O título de uma das postagens mais populares lhe chamou a atenção: “O mestre e a sereia”. Riu e o leu. Enquanto seus olhos corriam pelas palavras daquela fã apaixonada, sentiu as lágrimas tentarem escapar. O texto trazia fotos de quando ainda eram desconhecidos – uma foto dele e de Misty aos doze anos, logo após uma de suas primeiras vitórias –; fotos do namoro – eles se beijavam, aos quatorze anos –; e fotos atuais. A atual fora tirada naquela manhã. Misty carregava Kira no colo, e ele estava ao lado delas, com os olhos presos nas duas. Reprimiu-se mentalmente ao perceber a expressão de retardado que tinha. A legenda indicava que não fora o único ao perceber sua expressão tola.

“Como podem dizer que eles querem apenas causar tumulto na mídia com o Ash olhando desse jeito tão apaixonado pra Misty?”

Corou. Era verdade, é claro, mas não queria que a ruiva colocasse os olhos naquela publicação. O que pensariam dele? Que era um completo idiota, é claro. O texto não possuía muitas informações, apenas aquelas que a mídia passara. A autora parecia crer que ele e a ruiva haviam mantido um relacionamento escondido durante toda a vida de Yukira, pois era o pai biológico da menina. Dizia também que Rudy obrigara Misty a casar com ele, e que agora se via sem qualquer escolha, pois Ash e Misty assumiriam para o mundo e criariam Yukira da forma adequada. Também mostrava o motivo de terem escondido a garota: qualquer um que colocasse os olhos nela, saberia que não era filha de Rudy.

Sentiu as bochechas queimarem ainda mais com aquelas palavras. Ele não percebera, mesmo que todos os outros o tenham feito. O texto continuava, apenas para deprimir ainda mais o moreno que o lia. Relatava uma história de amor utópica, e a autora realmente parecia crer que eles ficariam juntos no final. Sentiu uma lágrima escorrer e fechou a página sem terminar de ler. Aquilo parecia tortura; ler seus sonhos escritos por outra pessoa, sabendo que não se tornariam realidade.

Foi para um fórum e começou a ler os comentários. A garota que criara o tópico colocara: “Eu acho que Misty é uma louca desvairada que só quer aparecer, e por isso tá tentando usar os dois. O Rudy, coitadinho, é tão lindo e tá sendo enganado. Ele criou a menina, tem todo o direito de ficar com ela! E o Ash tá lá só pra fazer mídia mesmo, porque ele nunca procurou a tal Yukira. Por que aparecer justo agora? Aposto que é um truque publicitário, só porque a Sereia tá há um tempão sem fazer shows. Tenho pena dessa menina e do Rudy, os que mais tão sofrendo com isso tudo. O que vocês acham? #TeamRudy”.

Ash riu com aquelas palavras. Como assim “coitadinho do Rudy”? O desgraçado acabava com a vida dele, e ainda tinham a coragem de dizer “coitadinho”? A menina provavelmente nem ao menos pesquisara alguma coisa a respeito. Era de conhecimento geral que ele passara alguns anos viajando, então como poderia ter mantido um relacionamento escondido com Misty? À distância? E que porra era “#TeamRudy”?!

Surpreendeu-se ao ver que várias pessoas concordavam com as palavras escritas pela primeira garota, e comentários como: “Essa menina devia ser entregue pro Rudy. Ele criou, ele é o pai de verdade! #TeamRudy” ou “Pobre Rudy, tão lindo e tão injustiçado! #TeamRudy” passaram a ser comuns.

Um garoto parecia ser a salvação.

“Vocês tão percebendo as merdas que foram ditas aqui? Primeiro: a menina obviamente é filha de Ash, portanto ele tem o direito de ficar com ela. Ninguém sabe por que ela foi escondida, ou por que Rudy assumiu a paternidade. E se o Ash tiver acabado de descobrir sobre a existência dela, hein? Eu sou #TeamAsh, e acho que a Misty é uma completa maluca que obrigou o Rudy a casar com ela, e agora tá tentando manipular todo mundo pra parecer uma vítima em rede nacional. Eu concordo que o Rudy provavelmente não tem nada a ver com a história, e tá só sendo usado, mas também não vão descontar no Ash, né?! Ele é o maior dos Mestres Pokémon, e não faria esse tipo de coisa por publicidade”.

Ash riu com o texto. A parte em que Misty era uma louca manipuladora não era verídica, mas ao menos alguém estava ao seu lado. Percebeu que mais pessoas passaram a comentar com “#TeamAsh”, e percebeu que gostou daquilo. Continuou lendo, sabendo que, em breve, começaria a aparecer “#TeamMisty”.

Não poderia estar mais certo. Apenas alguns comentários abaixo, uma legião de garotas começou a falar.

“Misty não precisa dessas coisas! Ela é a Sereia de Cerulean, e seus fãs vão a qualquer lugar por ela! Ash e Rudy é que estão tentando difamá-la para conseguir fama! #TeamMisty”

“A Misty é só uma mãe lutando pela filha! #TeamMisty”.

Os comentários longos passaram por seus olhos sem que Ash se preocupasse em lê-los. Estava cansado da defesa da ruiva. Entendeu, então, que três teorias pareciam prevalecer. Cada uma era defendida por um “#Team” diferente.

#TeamRudy defendia que o moreno havia sido enganado naquilo tudo por Misty e Ash, e que apenas queria ficar com a filha que, assim como ele, era inocente em toda aquela história.

#TeamAsh defendia que Ash fora manipulado por Misty e Rudy, e que apenas descobrira sobre a filha há pouco tempo. O que, afinal, não deixava de ser verdade.

#TeamMisty defendia que Misty estava sendo difamada por todos eles, e que apenas queria criar Yukira em paz. Tirando a parte em que Ash estava envolvido entre aqueles que a difamavam, estavam perto da verdade.

O moreno riu de várias das teorias, e irritou-se com outras. Apesar de tudo, grande parte dos fãs de Misty eram homens, e Ash tinha plena certeza de que não a apoiavam por pensarem que ela era inocente. Não soube exatamente por quanto tempo ficou lendo sobre o que a população em geral pensava a respeito da situação em que eles estavam, entretanto escureceu e Yukira acordou.

— Do que tá rindo?

Ash sorriu ao perceber que ela falava com ele, e engatinhou até a menina.

— Tem várias teorias sobre o que tá acontecendo. Um monte de gente acha que…

— Não quero saber. – cortou a garota, espreguiçando-se. – Tô com fome.

Ash quase sentiu uma dor física ao ver a facilidade com a qual seu sorriso desapareceu. Por um ínfimo momento realmente pensou que poderia ter uma conversa com Yukira, porém, aparentemente, superestimara a habilidade dela de ser gentil. Suspirou e fechou o computador, largando-o sobre a mesinha de centro.

— Vamos pedir uma rámen, então. Você gosta de quê?

A menina piscou os olhos, e ficou sem responder por vários minutos. Ash revirou os olhos e sentou-se no sofá, esperando. Sabia que se a apressasse, a menina demoraria ainda mais.

— Eu tô em dúvida entre porco e legumes…

— Pediremos os dois. O que você não comer, eu como.

A menina não pareceu gostar da resposta dele.

— Não, vamos pedir um só!

Ash ignorou-a completamente e ligou para o número conhecido. A garotinha irritou-se e jogou uma almofada nele, correndo para seu quarto em seguida. Ash suspirou e fez o pedido – quatro rámen; dois de porco, um de legumes e uma especialidade da casa. Quando recebeu a confirmação de que o pedido demoraria aproximadamente meia hora para chegar, agradeceu e desligou. Tentando manter a paciência, Ash caminhou até o quarto de Kira, pensando que a encontraria destruindo tudo. Entretanto, o que encontrou foi bem diferente.

Yukira chorava, tentando abafar o som contra o travesseiro. A imagem fez Ash paralisar, tentando compreender o motivo de tal reação para uma simples negativa. Ele não soube o que fazer imediatamente, portanto entrou devagar no quarto.

— Kira…

— É YUKIRA! – gritou ela, jogando um travesseiro contra ele e voltando a chorar.

— Yukira… não precisa chorar. É só um rámen…

— EU TE ODEIO, SAI DAQUI!

— Eu sei que não gosta muito de mim, mas…

— EU ODEIO VOCÊ! EU QUERO A MINHA MAMÃE!

Ash sentiu aquele peso cair sobre os dois novamente. Não estava surpreso. No fim, sempre acabavam voltando a Misty. Sempre Misty.

— Sua mamãe não pode vir agora, mas…

— E A CULPA É SUA!

— Não é como se eu tivesse te arrancado dos braços dela, sabe? E eu tinha o direito de saber que você é minha filha.

— Mas não podia fazer isso sem me tirar da mamãe?

— Eu não estou te tirando da sua mãe.

— Então vai me devolver pra ela depois que esse mês terminar?

Ash ficou sem resposta por vários segundos, e desviou o olhar para o armário. Percebeu então que o quarto era muito apático para uma criança. Muito sem graça. Compraria tudo novo para ela no dia seguinte, sim. Tudo novo, com toda a certeza.

— VOCÊ QUER SIM ME TIRAR DELA! SAI DAQUI!

A garota bateu no braço dele e tentou se afastar, porém Ash a segurou pelo pulso.

— Kira, por favor…

— NÃO ENCOSTA EM MIM!

Ash soltou-a imediatamente, e a garota correu para longe dele, voltando a chorar com o rosto escondido no travesseiro. Ele tentou fazer alguma coisa, mas todas as suas tentativas de paz resultavam em mais gritos. Quando desistiu, observou-a da porta. Ela estava com ranho escorrendo do nariz, seus olhos estavam vermelhos de choro e os cabelos negros estavam completamente bagunçados. Ainda assim, ela era a criança mais linda que ele já vira.

Voltou à sala e jogou-se no sofá, sem saber o que mais poderia fazer. Yukira obviamente o odiava profundamente, e Ash não fazia a menor ideia de como mudaria isso.

A campainha tocou e o moreno foi receber o que encomendara. Quando tinha tudo arrumado, foi até o quarto da filha e encontrou-a a encarar o teto.

— O rámen chegou…

— Ok.

Ela se levantou e passou por ele correndo, faminta. Ash piscou e a seguiu, vendo-a jogar-se ao chão e atacar o rámen de porco. Riu um pouco e sentou-se ao lado dela, atacando o seu próprio. Encarou-a com o canto dos olhos, e ver aquela garotinha a deliciar-se com a sopa de macarrão o encheu de felicidade.

Não havia uma explicação lógica. A verdade era que Ash simplesmente adorava estar na companhia de Yukira – desde que ela não estivesse falando.

~~xx~~xx~~xx~~xx

O silêncio reinava na casa de um andar. Duas horas da manhã e quarenta minutos. Ash dormia tranquilamente, perdido em sonhos que não lembraria. Não roncava, apesar de costumar fazê-lo quando nervoso. Nem ao menos babava – outro de seus costumes toscos. Simplesmente dormia perdido em um mundo paralelo. Talvez sua paz durasse por mais tempo, porém o moreno foi despertado por um grito agudo.

Acordou de imediato e pulou da cama, tentando identificar de onde vinha. Sua mente sonolenta levou alguns segundos a mais para perceber que não morava mais sozinho, e que o barulho vinha do quarto da garota. Em pânico, ele e Pikachu correram até o lugar e invadiram, quase derrubando a porta. Contorcendo-se na cama, Yukira gritava e chorava ao mesmo tempo. Ash aliviou-se ao perceber que não era Rudy tentando sequestrá-la – aquela ideia realmente passara por sua mente.

Ash correu até a menina e a balançou, tentando despertá-la do pesadelo. Entretanto a menina se contorcia violentamente, e segurá-la era uma tarefa árdua.

— KIRA!

Ela pulou ao ouvir o grito, e sua respiração era ofegante. Chorava e gritava, porém pulou para longe ao ver o moreno.

— A MINHA MÃE, CADÊ ELA? EU QUERO A MINHA MÃE!

E o choro era compulsivo, nada parecido com o que presenciara no período da tarde. Não era apenas manha, a menina estava completamente apavorada.

— Kira, se acalma…

— SAI DAQUI E TRÁS A MINHA MÃE!

— Kira…

A menina apenas negou com a cabeça, lembrando-se com perfeição das palavras que Rudy lhe dissera naquele dia, no orfanato: “Não queremos que a mamãe se machuque, não é? E a mamãe vai se machucar muito se você não ficar com o papai aqui. Eu sou seu pai, e nós vamos viver juntos. Eu, você e a mamãe. Mas se o Ash se meter no caminho, a mamãe vai se machucar. E você não quer isso, não é, Kira? Eu não quero que ela se machuque também, porque eu amo a mamãe. Mas o Ash não ama a mamãe, só eu amo. Ele não vai conseguir proteger ela, sabia? Então não me irrite, Kira, porque não queremos que a mamãe se machuque, não é?”

Ash estava no caminho, e isso irritava Rudy. Ela não queria que ele machucasse sua mamãe. Sentiu as lágrimas escorrerem ainda mais. As imagens do pesadelo eram bem vívidas em sua memória. Misty estava machucada, e tudo estava vermelho.

O mais velho aproximou-se novamente, tentando voltar a tocar nela, mas Kira simplesmente afastou-se soluçando. Ash começou a entrar em desespero e observou Togepi voar em círculos. Tentou uma nova aproximação, mas a garota apenas gritava e chorava, afastando-se mais. Quando não havia mais como se afastar, Kira caiu ao chão. Ash correu para ajudá-la a levantar, porém tudo o que a menina fez foi chorar ainda mais e afastar-se dele.

Ash conseguia sentir todo o desespero que a pequena sentia, e aquilo era uma perfeita tortura para ele. Com os olhos marejados, gritou:

— TOGEPI, CHAMA A MISTY, POR FAVOR!

O Pokémon não precisou de um segundo pedido, e começou a balançar seus bracinhos. Ash chorava também, vendo a menina correr novamente e voltar a cair, dessa vez machucando o braço. Ele tentou se aproximar, mas ela gritou mais e se afastou. Segundos depois uma figura ruiva de shortinho e camiseta velhos apareceu no quarto. Imediatamente correu até a filha, segurando com força a garota que se debatia.

— Kira, é a mamãe – ela falava com calma. – A mamãe, Kira. Se acalma, ok? A mamãe tá aqui, meu amor. Eu tô bem, ok? Tô bem.

Aos poucos Yukira parou de se debater e agarrou-se à ruiva, soluçando contra o pescoço dela. Ash sentiu-se aliviado e limpou as lágrimas que ainda escorriam. Apavorado, caiu sentado no chão. Suas pernas tremiam, assim como suas mãos. Pikachu acomodou-se no colo do dono, igualmente assustado.

Calmamente, Misty foi até a cama e deitou-se com a menina ainda agarrada a si, sussurrando palavras calmantes e acariciando os cabelos negros. Ash ainda encarava a cena assustado, mas pulou ao perceber que Misty o chamava com a mão.

— Você já aprendeu a fazer o leite dela?

Ainda tremendo, Ash assentiu com a cabeça e foi para a cozinha. O longo corredor parecia ranger sob seus pés, e o homem apenas agradecia por Togepi ser tão rápido. Não fazia a menor ideia de como acalmar Yukira, e temia que ela batesse a cabeça em uma de suas quedas. Não demorou a fazer o que Misty ordenara, e encontrou a menina muito mais calma quando voltou ao quarto. Ela estava deitada com a cabeça nos seios da ruiva, e Misty lhe acariciava os cabelos.

— Aqui. – Ash entregou a mamadeira, e Misty conferiu a temperatura antes de dar a Yukira.

A menina começou a beber com tranquilidade, e parecia bem mais calma. Ash apenas observou as duas, sentindo-se um intruso novamente.

— Agora o Ash vai ler uma historinha bem bonita pra nós duas. O que acha, filha?

A menina assentiu com a cabeça, sem dizer nada. Não era a intenção de Misty fortalecer o relacionamento entre os dois, porém via-se sem alternativas. A menina não a soltaria, e a ruiva precisava acariciar os cabelos negros antes que o ataque voltasse.

Ash entrou em desespero novamente. Não tinha nenhum livro infantil ali e… Togepi depositou um livrinho nos braços do moreno, que sorriu aliviado, sentando-se com cuidado na cama. Era um conto de fadas qualquer, e a garotinha não demorou a dormir ao ouvir a voz do pai e sentir os carinhos da mãe.

Misty sorriu e continuou a acariciar os cabelos dela, mesmo depois de Ash terminar o conto. Ela beijou a testa macia, e suspirou aliviada.

— Ela nunca ficou assim antes. – sussurrou. – Fiquei apavorada.

Ash riu.

— Você? Parecia bem calma…

— Foi com Rudy que ela sonhou. – Misty sussurrou. – Rudy tinha me machucado. Foi o que eu consegui entender. “Tava tudo vermelho, mamãe”.

Ash engoliu em seco, sentindo o frio espalhar-se por todo o seu corpo.

— Acha que era sangue? – Quando Misty assentiu novamente, Ash perdeu o controle de sua respiração e esta se tornou ofegante. – Como pode uma criança ter um sonho desses?

Misty apenas voltou a beijar os cabelos negros que tanto amava; deixou uma lágrima escorrer.

— Ele não falou nada pra ela?

— Só no orfanato, um dia. Quando eu quebrei o nariz dele. – A frase saiu com um sorriso, e Misty sorriu também.

— Parabéns por isso, aliás. Eu mesma queria ter feito um belo estrago naquele rosto…

Ash sorriu, e seu olhar foi para a barriga da ruiva.

— Acabo de começar a terceira semana, Ash. A barriga ainda não aparece.

Ele assentiu e voltou a olhar para a menina nos braços da ruiva. Amava-a com todas as suas forças. Seus olhos subiram para os verdes-azuis que também o encaravam dolorosos. As palavras que ambos haviam dito naquele tribunal ainda eram lembradas. Misty beijou os cabelos negros uma última vez antes de se desvencilhar com destreza dos braços finos.

— Preciso ir. Como é noite, ainda conta como domingo, certo? – ela tentou fazer piada, porém Ash não riu. – Durma com ela, ok? Yukira não pode acordar sozinha no meio da noite, ou a crise será pior.

Ash assentiu com a cabeça e deitou-se ao lado da filha, puxando-a delicadamente para perto. Kira agarrou o peito do homem e escondeu seu rostinho ali. Ash riu e beijou os cabelos negros, sabendo que jamais poderia fazer aquilo com ela acordada.

Sorrindo, Ash voltou seus olhos para Misty, porém ela já sumira. Não permitiu que seus lábios desfizessem o sorriso e desligou a luz do abajur, dormindo contra o corpo delicado da filha que amava com todas as suas forças.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Heeey o//

Então, a demora foi porque eu estava reescrevendo a fanfic (como a maioria sabe)

Existem cenas novas em vários dos capítulos, e as narrações do Ash e da Kira mudaram completamente :33

Espero que estejam gostando. Sim, isso significa que a fanfic voltou, e que logo o 35 sairá :33

Eu sei que demorei, mas espero que compreendam que eu amo essa fanfic demais pra simplesmente não arrumá-la. O capítulo ficou bom?

Eu ia parar na parte em que o Ash chama a Misty por intermédio do Togepi, mas acho que já os deixei por tempo demais na curiosidade, né?

Obrigada a todos que ainda não desistiram desta fanfic, vocês são demais



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