Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 21
Presas


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA A DEMORA, MINHAS AMORAS (rimou hihi) ignore ¬¬'' at[e ali embaixo.



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No carro com o qual era levada para o ginásio de Cerulean, Yukira se mantinha encolhida contra a porta, abraçando o próprio corpo. As lágrimas eram ininterruptas, e o choro infantil parecia ocupar todo o espaço do carro.

— Não precisa se preocupar. Estamos te levando para o seu pai… – o guarda ruivo que estava ao lado dela tentou acalmá-la, porém tudo o que a menina fez foi chorar e se encolher ainda mais.

— Quero minha mãe. Quero o Toge. – soluçou.

— Não precisa mais…

— Quero minha mãe. Quero o Toge – ela repetiu.

— Menina, para de…

— Quero minha mãe. Quero o Toge. – o ignorou.

Os guardas não tentaram mais falar com ela, e Kira repetiu as frases o caminho inteiro, como se fosse um mantra. Assim que o carro parou, a garotinha se manteve o mais afastada que conseguiu dos dois policiais que a acompanhavam.

— Chegamos e… – um deles tentou começar.

— Quero minha mãe. Quero o Toge.

O guarda que dirigia saiu do carro e olhou para a casa. Na porta, Rudy e outro policial os esperavam. Acenou para o colega, e este se aproximou a passos apressados. O primeiro voltou-se para o policial ruivo que ainda tentava acalmar a menina.

— Pare de tentar, Masao. A menina só fica repetindo isso. Bem que o pai dela falou que a ruivinha tinha feito uma espécie de lavagem cerebral na menina.

Masao suspirou derrotado, afastando-se do carro. O choro dela já estava a lhe dar dor de cabeça.

— Ok. Vamos levá-la lá para dentro, Osamu.

Osamo assentiu com a cabeça e tocou no braço do terceiro policial, que acabara de se juntar a eles.

— Vamos, Akio. Quero acabar logo com isso – o guarda sorriu.

— Hai, hai. Minha esposa deve estar me esperando essas horas. – Masao respondeu pelo amigo.

Os três voltaram a se aproximar do carro, onde Kira continuava a chorar.

— Calma, menina. Você está segura agora. – Masao tentou acalmá-la.

Em todos os seus anos como policial, era a primeira vez que via uma vítima reclamar tanto ao ser salva.

— Quero a mamãe. Quero a mamãe – ela chorava.

— Calma – o ruivo entrou parcialmente no carro, pegando Yukira no colo.

A menina era leve, então não foi difícil. Ou não deveria ter sido, mas a morena começou a se mexer e a tentar chutar o ruivo. Masao tentou manter o rosto o mais afastado possível dos pés da menina, mas não conseguiu evitar que um chute acertasse uma de suas bochechas, fazendo-a ficar tão vermelha quanto seus cabelos.

Ele gemeu de dor, porém não a soltou. Quando saiu do carro, conseguiu prendê-la melhor entre seus braços, deixando-a incapacitada de chutá-lo.

— QUERO A MINHA MÃE! QUERO O TOGE! – a menina gritava em desespero. A mãe prometera que não deixaria nada acontecer consigo, então por que esses trogloditas não a deixavam em paz?

— Calma – Akio arregalou um pouco os olhos –, você não precisa da sua mãe.

— Preciso. Preciso. – ela chora mais alto. – Eu to com medo – sussurrou baixinho; apenas Masao conseguiu escutar.

O ruivo finalmente entendeu. A menina sentia-se assustada. Por isso o escândalo.

Ele a acomodou melhor em seus braços e todos observaram Rudy se aproximar. Ele tinha um sorriso ingênuo da mais pura felicidade em seus lábios.

— Ótimo. Ainda bem que chegaram com a minha menina. Fiquei tão preocupado com você, Kira.

Ele estendeu os braços para ela, fazendo os policiais sorrirem.

Masao colocou a menina no chão, esperando que ela corresse para o pai, mas, para o espanto de todos os guardas, a garota agarrou-se às pernas do ruivo e se escondeu atrás dele.

— Me tira daqui, tio. Me leva pra mamãe – ela pediu baixinho, agarrada às pernas do homem.

— Seu pai está aqui, menina. Vamos te deixar com ele. – Akio falou, tentando encontrar felicidade nos olhos verdes.

Mas estes demonstravam apenas medo.

— Não – ela começou a chorar –, eu não quero ficar aqui. Não quero, não quero, não quero.

Rudy suspirou teatralmente.

— Desculpem-me, mas ela foi muito manipulada por Misty. Aquela mulher consegue manipular qualquer um, acreditem em mim. Até mesmo eu fui manipulado por ela por muito tempo, desculpem-me pela minha filha.

— Tudo bem, senhor Rudy – Osamu respondeu meio desconfiado. Segundos atrás a menina chutava Masao, mas foi só ver o pai para ela correr e se esconder atrás dele como se sempre tivessem se conhecido e ele fosse um porto seguro para ela.

— Vamos, Kira – Rudy pegou na mão da menina, que começou a se contorcer, tentado soltar-se.

— EU TE ODEIO! – ela gritou. – A MAMÃE VAI VIR AQUI ME SALVAR. ELA VAI TE MATAR POR TOCAR EM MIM! ME SOLTA! – ela tentava desesperadamente se soltar do pai, mas o mesmo a pegou no colo e a segurou de forma que ela não conseguisse mais se mexer.

Yukira tremeu. Com um sorriso, Rudy aproximou-se do ouvido dela e sussurrou:

— Shiiii. – ele acariciou os cabelos dela. – Tá tudo bem agora, meu anjo. Sua mãe nunca mais vai te manipular, querida. Ela nunca mais vai chegar perto de você. Eu vou garantir isso, prometo. Vocês nunca mais vão se ver – a menina começou a chorar mais desesperadamente, e Rudy apenas a estreitou entre seus braços.

Todos os piores temores de Yukira estavam se realizando ao mesmo tempo. Sua mãe longe de si; ela morando sozinha com Rudy; Togepi também longe e a probabilidade de tudo o que conhecia se acabar ao mesmo tempo. Por mais inteligente que fosse, isso a assustava demais. Não conseguia pensar direito sem a mãe por perto para protegê-la de todo o mal.

— Então… estamos indo. – Akio informou.

Rudy apenas assentiu com a cabeça e se virou de costas para eles, levando a garota, que ainda pranteava, com um sorriso no rosto. Os policiais entraram na viatura e partiram, sem nem ao menos dispensarem um último olhar para os dois.

Assim que se encontraram entre quatro paredes, o sorriso de Rudy desapareceu. Ele soltou a garota, que caiu dolorosamente no chão. Yukira não esperou mais do que alguns segundos para correr até o outro lado da sala, mantendo a maior distância possível entre ela e o “pai”.

— Sua maluca! – ele acusou, deixando, finalmente, sua ira transparecer.

Estavam no ginásio de Cerulean. Yukira teria se sentido bem por voltar para casa, mas percebeu entristecida que, sem a mãe, o ginásio não passava de um grande aposento vazio e frio. Não era nem ao menos parecido com um lar.

— Você me odeia e eu te odeio, por que fez isso? – perguntou magoada.

Queria a mãe. Por que ele não podia deixá-las em paz? Por que não podia simplesmente manter-se longe delas, se era o que ambas queriam?

— Eu vou te contar uma coisa, menina. – ele sorriu. – Eu não sou seu pai. – se estivesse olhando para Yukira, teria percebido que ela não estava surpresa, mas o moreno parecia perdido em memórias do passado. – Você nem sonharia com isso, né?

Ele riu, caminhando pela sala como se estivesse sozinho. Suas pupilas estavam dilatadas, e a voz era instável. Insana.

— Mas a sua mãe mentiu pra você. – continuou ele. – Sua vida inteira é uma mentira. Ela veio me procurar quase dois meses depois de você já ter nascido. Ela disse que você acabou nascendo sem estar planejada, que não queria, mas havia acontecido e não podia mudar isso.

Yukira sabia que era mentira. Sua mãe sempre a amara, mas ainda assim as palavras atingiram-na um pouco. Ela tentou bloquear tudo o que vinha do pai, porém não conseguiu. A influência dele sobre ela ainda era grande. Yukira se afastou mais. Estava começando a sentir medo dele.

— Ela veio direto pra mim, pedindo a minha ajuda. Queria que eu me passasse por seu pai, pois não queria que você crescesse sem pai. Ela cresceu sem um pai, sabia? – ele riu mais. A gargalhada que saía de seus lábios preencheu todo o ambiente. – Então eu aceitei. Porque eu, diferentemente do seu paizinho de merda, sempre amei a sua mãe. Sempre.

— Meu… pai?

Ela tremeu. Sabia que o pai não amava mais a mãe – ela lhe dissera aquilo –, porém ouvir as mesmas palavras vindas de outra pessoa a magoavam. Queria ser como todos os outros: ter um papai e uma mamãe que se amassem. A gargalhada de Rudy se intensificou e ele se voltou para ela. Yukira sentiu as lágrimas invadirem seus olhos ao vê-lo tão perto. O olhar de Rudy era insano de uma forma com a qual ela jamais pudera sonhar.

— Não vou te dar o prazer de dizer quem ele é. Você gostaria disso, né? Ir correndo para ele, pra fugir de mim. Mas isso não vai acontecer. Eu vou ficar com a sua mãe. Ela não vai aguentar ficar longe de você. E admitir para o seu pai que você é filha dele nunca nem passou pela cabeça dela. – ele desviou o olhar, permitindo-se perder nos pensamentos felizes sobre um futuro que, ele esperava, não fosse longínquo. – Nós vamos ficar juntos e você é o motivo disso.

Algumas lágrimas escaparam, mas Yukira as limpou. Em um ato de coragem, encarou Rudy profundamente e, sem tremer ou recuar, prometeu:

— Nunca. Eu vou pedir pra ela ficar longe de você.

Foi o máximo que Rudy conseguiu aguentar. Ele caminhou, quase correu até ela e a segurou pelo braço, impedindo-a de fugir. As lágrimas aumentaram, porém Yukira jamais desviou seus olhos dos de Rudy. Sua mãe jamais desviava os olhos.

Rudy sorriu.

— Você pode assustar qualquer um quando está com os Pokémons da sua mãe, menina. Mas você está sozinha comigo aqui e eu quero respeito. Você não vai falar nada para a sua mãe, entendeu?

O som foi ressoou pelo ambiente por muitos segundos. Yukira mantinha seus olhos arregalados, sem conseguir acreditar no que acabara de acontecer. Rudy a batera no braço que não estava sendo preso.

Os olhos verdes flamejaram em ira e ela cuspiu na cara de Rudy. Jamais se renderia.

— Odeio você! – assim como a saliva, as palavras também foram cuspidas de sua boca.

O som voltou a ressoar pela sala. Dessa vez, era o rosto de Yukira que latejava. Era simplesmente inacreditável para ela. Nunca, em toda a sua vida, pensara que algo como aquilo poderia acontecer. Afinal, Misty sempre a protegeria. Então… como ele conseguira bater nela?

— Eu quero respeito, menina. Você sabe o caminho. Pro seu quarto. AGORA!

As palavras foram ouvidas apenas por metade de seu cérebro. A outra já estava desligada, chorando por antecedência. Assim que o aperto em seu braço se afrouxou, Kira correu escadarias acima e invadiu seu próprio quarto; as lágrimas escorriam ininterruptamente.

Ela trancou a porta e se jogou em sua antiga cama. O cheiro da mãe ainda estava impregnado no local. Agarrou o travesseiro e as lágrimas se multiplicaram. Era recém seu primeiro dia com o pai. Como seria o resto da semana? Por que a mãe a abandonara? Por quê? Nunca sentira tanto medo. Nem mesmo quando estavam fugindo. Porque, quando estava fugindo, Misty estava ao seu lado para aplacar seu medo; mas e agora? Quem aplacaria seu medo? Onde estava sua mãe?

“Por que ela deixou que eles me levassem?” a garota se perguntou chorando. Ela escondeu o rosto no travesseiro e se encolheu. Parecia ser ainda mais nova do que realmente era. Seu mundo estava desabando.

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Misty deixou-se levar pelo policial sem reclamações. Não sentia forçar para fazer nada. Sentiu que o policial a colocou sobre um colchão duro, mas não se importou. Simplesmente ficou ali sentada, olhando para frente. Nunca se sentira tão perdida.

“Não vai fugir?” Togepi perguntou em sua mente.

“Não” a ruiva respondeu. “Agora a Kira ta segura, pelo menos”.

“Por que acha isso?” perguntou o Pokémon.

“Que pergunta boba, Togepi. Longe de mim o Rudy não irá persegui-la. Pelo menos estará confortável e o Rudy não poderá tocar nela, visto que ela será vigiada vinte e quatro horas por dia” respondeu. Sua face estava impenetrável.

As lágrimas não escorriam mais por seu rosto, porém este continuava molhado. Marcas vermelhas marcavam o caminho pelo qual, antes, seu pranto escorrera. Misty nunca gostara de chorar na frente dos outros. Nunca mesmo, nem quando era apenas uma criança. E, naquele momento, não tinha forças nem mesmo para isso.

Kira estava segura. O fazer a seguir? Qualquer uma de suas ações voltaria a colocar a filha em perigo.

— Senhorita Waterflower, meu nome é Chikao. Eu estarei vigiando-a vinte e quatro horas por dia. Seu Pokémon será levado para o Centro Pokémon mais próximo, onde ficará sob os cuidados da enfermeira Joy.

Misty tentou evitar, realmente tentou, mas não conseguiu impedir a gargalhada que subiu por sua garganta. Chikao a encarou com os olhos arregalados, provavelmente pensando se teria que prendê-la com uma camisa de força. A risada jamais chegou aos seus olhos. Ela parecia estar delirando.

Com muito custo, Chikao não se afastou.

— Qual a gra…? – mas não chegou a terminar a pergunta.

— Desculpa, mas lamento informá-lo: Togepi não ficará em nenhum CP.

As respostas eram automáticas. Ainda não movera nem ao menos um músculo. Togepi mantinha uma expressão angustiada. Os pensamentos de Misty estavam tão confusos e perdidos que nem mesmo ele conseguia acompanhá-los com perfeição.

— E como a senhora pensa que vai impedir-nos de…

Mas Togepi desapareceu diante dos olhos de Chikao, deixando-o com as palavras na boca.

— Ele se tele transporta para onde quiser, Chikao. Lamento, mas Togepi não sairá de perto de mim. – e era um fato, simplesmente.

— Isso vai contra as regras, senhorita Waterflower.

Misty iria revidar quando percebeu que um pequeno filete de luz invadia o corredor que dava para sua cela. O medo que a invadiu trouxe de volta toda a sua força e vontade, fazendo-a empurrar Chikao para o lado ao correr até a porta que dava para o escritório da delegacia. Lá, os dois policiais que haviam levado Kira riam junto de um outro que não conhecia.

Sentiu seu rosto se avermelhar pela raiva, e Togepi apareceu ao seu lado. Precisava controlar a raiva da ruiva antes que Gyarados fosse libertado e a delegacia, destruída.

— O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?

Os três a olharam espantados e em seguida encararam Chikao, que apareceu ofegante atrás dela; estava tão assustado quanto eles.

— Você não…

— O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO AQUI, PORRA?! – gritou novamente, alternando seu olhar assassino entre os policiais e o delegado.

Akio recuou um passo, estreitando os olhos. A ruiva parecia ser ainda mais perigosa do que Rudy dissera.

— Qual o problema, senhorita Waterflower? – Chikao tentou acalmá-la, sentindo seus pelos se arrepiarem.

Há muitos anos não sentia um medo tão forte quanto o que o dominava naquele momento. Ela não se mostrara agressiva daquela forma nem mesmo quando a prenderam. Não entendia o motivo do alvoroço.

“Misty, respire. Eles esqueceram. Se acalme, antes que faça algo de que se arrependa”. – a voz de Togepi a acalmou momentaneamente, porém a raiva continuava impregnada em cada célula de seu corpo.

A ruiva voltou seus flamejantes e irados olhos esverdeados para Chikao, que ainda a encarava receoso. Como encarara Gyarados algumas horas antes.

— Fizemos um acordo. – ela o lembrou. – Eu viria sem reclamar e a minha filha seria vigiada vinte e quatro horas por dia. Por que não estão com ela?

Akio, Osamu e Masao encararam a ruiva com um pouco de receio. A imagem da menininha se escondendo atrás das pernas de Masao ainda estava fresca na mente dos três. Foi Akio quem teve coragem de falar. Tentava não demonstrar o medo que sentia, porém os olhos que o encaravam eram insanos demais.

— Não precisa mais fingir. Sabemos que não se importa com a menina e que apenas a manipula para…

Misty o cortou. As besteiras que Rudy contara a eles realmente não a importavam. Não naquele momento crítico. A ideia de sua pequena sozinha com Rudy a arrepiava e amedrontava de uma forma que jamais viria a revelar.

— Não me importo com o que pensam de mim. Togepi, vai ver como está Kira. – o Pokémon desapareceu, sem pestanejar. O medo da dona era seu. – Se ela tiver um arranhãozinho vocês vão se arrepender de tê-la deixado sozinha. Quero a minha filha vigiada. Se isso não acontecer agora, eu fujo daqui e eu e ela sumimos. Vocês nunca mais vão nos ver.

O tom dela não deixava dúvidas. Foi Akio o corajoso novamente.

— Se realmente fosse capaz de sumir com a menina, não estaria mais aqui.

Misty suspirou. Tentara fugir por terra, e esse fora seu erro. Ela sabia que, por mar, jamais seriam encontrados. E não poderia estar mais certa.

— Viver fugindo não é o melhor para uma criança. Quero que ela termine os estudos e comece uma jornada como todas as outras crianças, mas não vou deixar a minha menina com o Rudy.

Não conseguia pensar em cenário pior para a filha. A noite que tivera com Rudy ainda recheava seus pesadelos mais sombrios, e ele não tocara nela de nenhuma forma que não com… amor. Um amor doentio, claro. Mas Rudy não a forçara a nada. Ainda assim, sentia arrepios apenas de se lembrar. Não queria sua menina passando por nada parecido.

— Você tem medo do Rudy? – Chikao perguntou, confuso.

Misty não respondeu de imediato. Detestava admitir, mas sabia que não tinha outra alternativa. Não se possuísse alguma esperança de ver a filha novamente sem infringir nenhuma lei. Engoliu seu orgulho e respondeu. O início de sua sentença quase não pôde ser compreendido. Quase.

— Sim. Mas não me importo com o que ele fizer comigo. Isso é o de menos, sei me defender. – ela respirou fundo e continuou mais devagar. – Tenho medo pela minha filha. Sei que não acreditam em nada do que digo. Não culpo vocês. Fui enganada por Rudy por muito tempo também. Ele chegou a ser um dos meus melhores amigos.

Ficaram em silêncio por quase dois segundos inteiros. Misty afastou as lágrimas. Não mentia. Durante todos aqueles anos, quem mais a ajudara a superar a falta que Ash fazia fora Rudy. Aquele que aguentara suas crises. O amigo que segurava sua mão sempre que Kira ficava doente. Era Rudy quem a acudia sempre que Brock não podia. Não conseguia entender como a relação deles tinha se transformado no que era naquele momento. Quando começara a sentir medo dele? A sentir nojo e raiva?

— Peço apenas proteção para ela. Não é nada demais. Só dois guardas. Você escolhe, Chikao. – implorou.

Misty Waterflower detestava implorar. Ainda assim, o fez.

O olhar desesperado da ruiva deixou Chikao um pouco confuso. Misty não deveria se importar com a criança, Rudy dissera que a ruiva nunca ligara para ela e que a tratava como uma a escrava. Sabia que aquilo poderia ser um truque, mas também sabia que ela batalhava muito melhor do que eles quatro juntos. Uma batalha poderia acabar com todas as suas esperanças.

E seus instintos gritavam desesperadamente que havia algo de errado. Talvez aquela fosse sua melhor oportunidade de descobrir o quê.

— Certo. Masao e Osamu. Vocês dois vão vigiar a menina a partir de amanhã de manhã. – decretou.

— Agora. – Misty não pediu. Ela ordenou.

Chikao a ignorou. Em sua delegacia, apenas ele ditava as regras.

— Amanhã de manhã bem cedo quero os dois na casa de Rudy. Akio, você e Yasuaki os substituirão à noite. E assim consecutivamente.

Um silêncio momentâneo se instalou. Akio parecia querer discordar, porém acabou desistindo. Ninguém desafiava o delegado.

— Hai – os três afirmaram com a cabeça.

Repentinamente, o rosto de Misty se transformou. Ela não estava apenas irritada, parecia furiosa. Seus braços começaram a tremer e seus olhos, perdidos no nada, pareceram flamejar. Inconscientemente, todos eles se afastaram um passo dela. A mão voou para sua cintura, de onde a Pokébola de Gyarados foi retirada. Sua respiração era ofegante.

Togepi apareceu segundos depois. A expressão dele estava irritada também, porém não tanto quanto a de Misty. Ele circundou o corpo dela com uma pequena aura arco-íris, e todos os policiais se prepararam para a batalha.

Eles não sabiam que Togepi a continha, ao invés de incitá-la a avançar contra eles.

“Vou matar Rudy, Togepi. Anda, me solta, deixa eu ir buscar a minha Kira!”

“Misty, por favor, se acalma. Fala com eles primeiro, por favor.”

“FALAR COM ELES?! ESSES FILHOS DA PUTA TÃO DO LADO DO RUDY, CARALHO! ELES NÃO VÃO FAZER NADA, TOGEPI!”

“Se não fizerem nada, eu vou te deixar na porta da casa do Rudy, prometo. Te entrego a Pokébola que você quiser. Até seguro Rudy para que você o espanque, se preferir. Apenas dê uma chance pra eles, por favor.”

“Ah, você tá de brincadeira?! Como isso não te irrita?”

“Estamos perdendo tempo…”

Após os vários segundos de puro ódio sendo exalado, Misty sentiu Togepi soltá-la. Respirou fundo por várias vezes, apertando a Pokébola de Gyarados entre seus dedos. Todos os seus instintos a mandavam lançá-la, porém faria do jeito de Togepi. Apenas daquela vez.

— Vocês… – ela pausou. A voz doía ao sair, pois seus dentes estavam cerrados. – Têm dez minutos para ir para aquela casa antes que eu mesma faça isso.

— Senhorita… – Chikao começou, porém foi interrompido novamente.

Com uma força que nem mesmo Misty sabia que tinha, a ruiva conseguiu responder sem gritar.

— Não me interessa, Chikao. Vocês se atrasaram. Minha pequenina está machucada por causa daquele retardado. E eu quero que ela seja vigiada.

As palavras saíam com dificuldade. Togepi voltou a circundá-la a perceber que a dona estava a ponto de avançar no policial que estivesse em seu caminho.

— Machucada? – a pergunta veio de Masao.

Ele gostara de Yukira, porque lembrava-lhe de sua própria garotinha de sete anos. Seu doce anjinho arteiro, que deveria estar acordando para ir para a escola naquele momento.

— Sim. Aquele idiota… aquele idiota… ele… bateu… na minha menina.

A palavra quase não saiu. Com a frase, Misty quase conseguiu se soltar de Togepi, que usou mais de sua força para segurá-la.

Chikao finalmente percebeu que o Pokémon não queria atacá-los, e sim evitar que uma tragédia acontecesse. Estreitou os olhos. Apenas uma das informações que recebera parecia fazer sentido: “Ela é uma ótima atriz”. Rudy os avisara. Se aquilo fosse atuação, a informação não poderia ser mais verídica.

— Certo. – Chikao desistiu. – Masao e Osamu, verifiquem a informação e decidam quem fica de guarda essa noite. Não quero que a percam de vista nem por um segundo.

— HAI – os dois saíram da delegacia e um suspiro de alívio escapou dos lábios rosados de Misty.

A ruiva relaxou, e Togepi despencou em seus braços, exausto. Segurar Misty fora ainda mais difícil do que ele esperava. Além da raiva dela, a pressão psicológica que sofria era intensa demais. Ele nunca sentira tanta dor de cabeça.

— Obrigada, Chikao. – ela sorriu para ele, agradecida. Beijou o topo da cabeça de Togepi e lhe sussurrou baixinho. – Vá pra casa de Brock ou pra de Ash, querido.

Togepi assentiu com a cabeça e usou suas últimas forças para fazê-lo. Sabia que não suportaria nenhuma batalha e que precisava sair dali antes que o delegado percebesse o quão livre estava sua prisioneira.

— Espero que cumpra sua parte do trato.

Chikao se mostrava confiante, porém Misty sabia que não era bem assim. Ninguém se sentia confiante após conhecer Gyarados. Sorriu para o Pokémon e guardou sua Pokébola na cintura. Chikao encarou a ação dela com cuidado.

Akio observou a cena com atenção. Sabia o que acontecia, Rudy os avisara – ela sabe ser muito persuasiva, cuidado –, como Chikao não percebia que estava a ser manipulado?

— Tudo bem. Qual é a minha cela? – ela estava relaxada.

Assim que ela concordou, Chikao estendeu a mão. Misty sabia que ele queria suas Pokébolas – especialmente a do seu dragão –, e sorriu de leve ao entregá-las. Se as quisesse, ninguém a impediria de consegui-las. Era apenas pensar que Togepi as entregava.

— Cuidado com Gyarados. A Pokébola dele é frágil e realmente duvido que o queiram fora dela.

Era uma clara tentativa de ameaça. Chikao sorriu. Estava acostumado com elas.

— Ainda bem que sou cuidadoso, então.

Misty não sentia nenhum medo, sabia se defender. Qualquer coisa só precisava chamar Togepi com o poder da sua mente. Sorria. Sabia que a filhinha não estava gostando nenhum pouco da situação e queria fugir consigo, mas também sabia que isso não poderia acontecer. A vida de fugitiva não era para a sua pequena.

Misty seguiu para a sua cela, completamente relaxada. Não tinha medo. Por que teria? Yukira não se encontrava em perigo. Começou a pensar numa forma de ficar com a sua pequena. Iludira-se ao pensar que ela estaria segura longe de si. Não, Rudy arrumaria um jeito. O brilho em seus olhos se intensificou. Ficaria com Yukira, não importava como. Apenas sabia que ela não estaria segura em lugar algum que não consigo.

Continua…


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Notas finais do capítulo

yooooo
sei q demorei, mas tinha perdido o meu pen srive
imagine o desespero OoO
n disse q iam odiar ainda mais o Rudy nesse cap?
meus amorekos e minha amoras, mto obrigada pelo carinho de vcs *O*
o cap de Amor Eterno já começou a ser escrito, em breve eu posto
^^
mereço reviews?
obrigada pelo carinho de vcs ^^
=*
Bjs e teh + ^3^/



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