Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 20
Desespero de mãe


Notas iniciais do capítulo

desculpem-me pela demora, mas eu queria deixar o próximo um pouco adiantado antes de postar esse ^^
nos vemos lá em baixo o/



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Era noite. Misty deixava várias lágrimas escaparem de seus olhos enquanto fazia suas malas e as malas da pequena Kira. Não deixaria Rudy colocar as mãos em sua filha. Jamais permitiria isso.

— O que você pensa que está fazendo, Misty? – Brock perguntou, olhando para a amiga que estava com os olhos inchados e vestia uma roupa preta.

A ruiva não respondeu de imediato. Tinha medo de perder a sua filha. Medo de perder a coisa mais importante da sua vida. Tornou a colocar roupas dentro da mala marrom que estava em cima da cama.

Tremia. O coração palpitava, mas ela não conseguia encontrar outra solução. Seus olhos estavam banhados pelas lágrimas. Nunca sentira tanto medo em sua vida.

— Ele não vai pegar a Kira, Brock. Eu nunca vou permitir que ele pegue a minha menininha.

Dizia aquilo por saber do que Rudy era capaz. Lembrava-se do dia que passara com ele, e tal momento sempre povoava seus pensamentos. Nunca pensara que o homem gentil com o qual casara pudesse possuir um lado tão sombrio quanto o que fora revelado naquela noite.

— Misty, você não está pensando em fugir, está? – Lily indagou, mesmo que já soubesse a resposta.

— É exatamente nisso que estou pensando, Lily. – respondeu.

Yukira adentrou no quarto, tremendo. A mãe lhe explicara rapidamente o que estava acontecendo, porém ela apenas entendera que Rudy queria separá-las. Não precisava de mais do que isso para seguir Misty até o inferno, se fosse necessário.

— Quando fugimos, mamãe? – perguntou inocente.

Misty sorriu, tentando ser tão corajosa quanto a filha. Ah, se Kira soubesse do perigo que ambas corriam…

— Agora.

Misty colocou as duas mochilas nos ombros, uma em cada um, e pegou a mala que andara preparando. Por mais que estivessem pesadas, a adrenalina era tanta que a ruiva quase nem sentia o peso. Só pensava em fugir. Em enviar Kira para o mais longe possível.

— Não pode fugir, Misty. – Brock tentou fazê-la recuperar a razão. Algo lhe dizia que aquilo daria muito errado. – Em um tribunal você tem a chance de contar a todos as coisas que o Rudy fez, e pode salvar a Kira sem precisar correr esse risco. Nenhum juiz em sã consciência deixaria sua filha com Rudy, Misty.

Misty riu nervosa, tentando parar de tremer. Kira se aproximou e parou ao lado dela, tentando não se assustar. Nunca vira a mãe tremendo tanto.

— Brock, eu não estou trabalhando, não ganho dinheiro, não tenho nem mesmo uma casa, enquanto Rudy tem tudo isso e muito mais.

Brock revirou os olhos. Era justo demais para encontrar motivos razoáveis para Rudy ficar com Kira. Ele sabia que o moreno jamais seria um bom pai para sua pequena princesa. Sim, Kira também era sua. Sua sobrinha mais querida. A filha que nunca tivera.

— E daí? Você mora aqui conosco, e problema resolvido. Já falei Misty, nenhum juiz decente vai dar a guarda da menina ao Rudy.

E isso era claro em sua mente. Misty bufou. Como Brock podia ser tão ingênuo?

— E um juiz subornado, Brock? Você acha que um juiz subornado não daria a guarda a ele?

O moreno não soube o que responder. Nunca vira Misty num desespero tão grande. Olhou para as duas, para a cunhada e a sobrinha, e as abraçou. Não culpava Misty. Se alguém tentasse tirar Yuri de si, ele mataria. Mas sentia que devia haver outra forma. Não queria acreditar que alguém aceitaria dinheiro para remover uma filha de sua mãe, porém não voltou a tentar persuadi-la.

— Mas mamãe… eles nunca vão conseguir me tirar de você. Você é a maior treinadora do mundo. Derrota todos eles muito facilmente.

A menina sorriu. Não queria fugir. Queria ficar com Yuri e os tios. Com os amigos. Queria voltar à escola e continuar a viver como se nada tivesse acontecido.

— E sou presa por desacato à autoridade cinco segundos depois. – ela sorriu para a filha, que não entendera o que aquilo queria dizer. – Se não fugirmos, Rudy vai tirar você de mim, e nenhuma de nós quer isso, né?

A menina negou com a cabeça e abraçou as pernas da mãe, que lhe sorriu e lhe beijou a testa.

Lily suspirou, tentando controlar o choro. A irmã não ficara nem mesmo por uma semana consigo e já estava indo embora novamente.

— Para onde vão? – perguntou com lágrimas nos olhos. A rosada se aproximou das duas e abraçou-as também.

Sentiu algumas lágrimas escaparem por seus olhos e Misty olhou para cima, mordendo os lábios. Não queria começar a chorar na frente de sua filha.

— Para longe, Li. Eu mando uma carta ou algo do tipo quando chegarmos.

Brock observou a cena com o coração apertado. O medo apenas crescia em seu peito.

— Quem está levando? – o mais velho perguntou. Precisava ter certeza de que ela estava bem protegida.

— Togepi, Starmie, Staryu, Gyarados, Poliwhirl e Psyduck.

Todos sorriram ao ouvir o último nome. Foi Lily quem perguntou o que passava pela cabeça de Brock.

— Vai levar Psyduck também? – perguntou rindo

— Claro. Qualquer coisa, é só dar uma pancada na cabeça dele. – os risos aumentam. – Por mais estranho que pareça, não conseguiria ficar longe do meu patinho.

Brock relembrou-se da vez em que Misty quase o dera para um treinador qualquer. Lembrava-se da raiva que ela sentia. Lembrava-se de como ela parecia querer distância do Pokémon. No fundo, todo o ódio era amor.

— Quando nos conhecemos você o odiava. – comentou com o sorriso ainda em seus lábios.

Psyduck não era o único amor da vida de Misty que começara com ódio. Ela sentiu o coração ainda mais apertado ao pensar em Ash. Se tudo saísse como planejado, nunca mais o veria.

— Nunca. Eu o achava idiota, o achava estúpido e tinha vergonha dele, mas sempre o amei. – talvez nem sempre. Admitiu, mas apenas em pensamentos.

Brock e Lily entenderam o que a ruiva quis dizer. Um dos laços mais fortes do mundo é o laço do treinador com o seu Pokémon.

Foi Kira quem quebrou o silêncio que se formou.

— Tchau tio Brock. Tchau tia Lily. Amo vocês – a meninou abraça pela última vez os tios, que sentiram lágrimas acumulando-se em seus olhos. Como ficariam sem a pequena Kira? Ela já fazia parte de suas vidas.

Eles desceram as escadas até a sala, onde Yuri os esperava. Estava com a face avermelhada e os olhos inchados. Com a voz embargada, perguntou:

— Tia Misty… vocês não podem mesmo ficar?

Misty sentiu seu coração ser quebrado mais um pouco após as palavras dele e se aproximou, largando a mala.

— Não meu anjinho – ela o abraçou –, e você não pode contar a ninguém que nós fugimos, ok? Tem que dizer que nunca vimos aquela carta, pois já tínhamos ido embora há muito tempo – eles se separam –, ok?

O menino assentiu com a cabeça, limpando os olhos com a manga da camiseta.

— Vou sentir saudades…

Misty beijou a testa dele.

— Nós também, pequeno. Nós vamos sentir muitas saudades, mas isso não é um adeus – a ruiva sorriu –, é um até mais.

O menino sorriu um pouco e Kira pulou em cima de si, chorando. Ele retribuiu o abraço desesperado da prima com lágrimas escorrendo por seus olhos também. Sentiria muitas saudades da maluquinha morena que morou com eles por alguns dias. Muitas saudades mesmo.

Quando Yuri conseguiu controlar os próprios soluços, perguntou:

— Você jura que vem me visitar assim que der?

Kira soluçou duas vezes antes de conseguir responder.

— Claro que sim, primo.

— Se precisar de mim, liga – ele falou, apertando-a mais. Kira era quase uma irmã mais nova pra ele.

— Então me empresta o seu telefone – ela começou a rir, mas ainda soluçava. – Eu sempre preciso de você, Yuri. Sempre.

Yuri começou a rir um pouco, sendo acompanhado pela prima. Ele beijou a bochecha dela, recebendo um beijo na bochecha como retribuição.

— Vamos, Kira – Misty chamou. A menina mordeu o lábio inferior e soltou o primo.

— Boa sorte, prima. Vai precisar.

— Brigada, Yuri.

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Duas pessoas entravam calmamente na rodoviária. A mais alta das duas olhava várias vezes para os lados, carregava duas mochilas nas costas e mais uma mala em uma das mãos. Na outra segurava a pequenina mão da filha. Uma pequena criança que se escondia parcialmente atrás da mais velha.

— Mamãe… eu to com medo – sussurrou baixinho.

— Calma, bebê. Eu to aqui com você. Ninguém vai te fazer nenhum mal, a mamãe promete.

Yukira apenas assentiu com a cabeça e apertou mais a mão da mãe, que sorriu e a puxou para mais perto. Elas chegaram até uma cabine, onde uma mulher loira mascava um chiclete.

— Eu quero duas passagens para Sinnoh.

A mulher a olhou e entregou as passagens. Misty as pagou e caminhou com a filha até um banco, onde as duas sentaram-se e observaram ao redor.

— Tem alguém aqui, mamãe? – a menina perguntou, tentando encontrar quem quer que a mãe estivesse procurando.

— Não. Estamos seguras. – ela sorriu aliviada, puxando a filha para o seu colo. – Estamos seguras, meu anjo.

O ônibus delas não demorou a chegar e as duas embarcaram calmamente. Misty manteve a bagagem consigo o caminho inteiro. Estava disposta a abandoná-la, caso fosse necessário, mas não perderia Kira. De jeito nenhum.

Estavam sentadas bem na saída de emergência. Kira, sentada sobre suas mãos, balançava suas perninhas.

— Eu to com medo – sussurrou baixinho, sem saber se queria ou não que a mãe ouvisse sua confissão.

Misty sorriu confiante.

— Não precisa – ela abraçou a menina e a puxou para se acomodar em seu colo. – Eu vou te proteger, amor. Juro que nada no mundo vai te machucar. Nada mesmo.

— Aham.

A pequenina sorriu mais tranquila. Não precisava sentir medo quando a mãe estava por perto. Nunca precisava sentir medo quando a mãe estava por perto. Sabia que Misty a protegeria de tudo e todos, pra sempre. Adormeceu sem demoras.

Misty acariciou os cabelos de seu anjinho por boa parte do caminho. A preocupação a invadia. Como viveria? Ficaria fugindo pelo resto de sua vida? “Não. Fugirei até quando a Kira precisar de mim” decidiu.

“Uma filha sempre precisa de uma mãe, não pode ficar fugindo pra sempre” A voz fininha de Togepi apareceu em sua mente. Restava apenas uma opção.

“Quando ela atingir a maioridade, nós voltamos” nada a faria mudar de ideia.

Togepi não pareceu gostar muito da ideia, porém não respondeu.

Misty suspirou, apoiando sua cabeça no vidro. Lembrou-se da noite em que fugira de Rudy, e um sorriso escapou por entre seus lábios sem a sua permissão.

“Ash…”

Sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. Por que ele precisava voltar justo quando ela pensava ter superado a falta dele? Por que tinha que voltar justo quando sua vida virava de cabeça pra baixo, e o controle que mantivera por tantos anos escapava por entre seus dedos? Ainda sentia os dedos dele passeando pelo seu corpo. Ainda sentia os beijos cálidos que recebera pelo corpo.

Ainda se lembrava da frase escapada sem permissão. Fora ela quem dissera as palavras? Não sabia. Não importava.

Ainda o amava? Também não sabia. Tinha esperanças de que fosse apenas desejo, porém não poderia ter certeza. Queria que fosse apenas desejo. Precisava. Se fosse algo a mais, o que a impediria de voltar para ele? Kira.

Olhou para a menina em seus braços e a estreitou contra seu corpo, beijando a testa clarinha. Kira a impediria de sucumbir. Kira a manteria sã, porque a vida de sua princesa dependia disso. Dependia de seu autocontrole. Rudy deixara bem clara as opções que Misty tinha. E ela escolhera Yukira. Sempre escolheria.

Chegaram e a ruiva acordou a filha. Saíram rapidamente dos bancos. Misty pegou sua bagagem e segurou na mão da menina. Caminharam apressadamente pelo corredor, quando chegaram à porta, porém, Misty paralisou.

— Misty Waterflower, você está presa por fugir da cidade antes de um julgamento.

A cor começou a desaparecer do rosto da ruiva e instintivamente ela colocou a filha trás de si. Ele sabia. Rudy sabia que ela fugiria. Tentou recuperar o controle da situação. A mala caiu ao chão. Sua mão foi instintivamente até um Pokébola, e Togepi se postou em frente a ela, sobre sua cabeça. O Pokémon apenas esperava as ordens de Misty para agir.

— Não sou nenhuma…

— Calada. Sou o agente Chikao e exijo que saia do ônibus com as mãos para cima.

Alguns passageiros começaram a se aborrecer, mas Misty realmente não se importava com eles. Sentia o medo a invadindo. Como Rudy podia saber da fuga?

A ruiva desceu devagar, com a menina escondida atrás de si, mas não levantou as mãos. Estas continuavam prontas para defender Kira com todas as suas forças.

— Yukira, venha para cá imediatamente – ele ordenou.

As dúvidas que Misty ainda pudesse ter desapareceram. Se os policiais sabiam o nome da menina, era claro que haviam sido enviados por Rudy. Misty continuou na mesma posição, sabendo que a menina não iria.

Kira começou a chorar e se escondeu novamente atrás da mãe. Sentia que aqueles homens queriam separá-la da mãe, e a sensação era dolorosa demais.

— Calma, Kira. – ouviu a voz da mãe e olhou para cima. Misty não a olhava, porém estava tranquila o suficiente para que o choro da garotinha parasse. – Vai ficar tudo bem. A mamãe vai proteger você.

Yukira abraçou as costas da mãe e esta acariciou as mãos que a rodeavam.

— Não se preocupe menina, iremos tirá-la de sua mãe e… – Chikao não conseguiu terminar sua sentença.

— NÃO! – gritou em desespero, agarrando-se mais à mãe. Não poderiam separá-las. Não de novo.

Como aquele homem mau podia dizer uma coisa daquelas como se fosse algo bom? Kira sentia medo novamente.

— Não se preocupe, seu pai nos avisou sobre os perigos que a sua mãe representa e…

A menina ignorou o oficial e, com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, soluçou.

— Mamãe. me tira daqui. Me tira daqui, mamãe. Ele é mau, mamãe. Muito mau.

Kira queria que a mãe percebesse que o homem mau tentava separá-las. Porém Misty continuava calma.

— Ta tudo bem, eles não vão te machucar. – a ruiva prometeu.

— Peguem a criança – Chikao ordenou para dois homens atrás de si.

A reação de Misty foi imediata. Os policiais não puderam nem mesmo dar dois passos.

— GYARADOS, PSYDUCK! – os dois Pokémons saíram das Pokébolas e se colocaram entre as duas. Seus olhares eram ferozes e a mensagem era clara: “Fiquem longe”. Mesmo que o olhar de Psyduck ainda fosse um pouco perdido.

Yukira suspirou aliviada ao vê-los e parou de chorar. Soltou a cintura da mãe e abraçou sua perna, que era mais fácil de ser alcançada. Chikao recuou um passo, mas logo voltou a usar seu tom de comando.

— Recolha esses Pokémons. Você será presa por desacato se…

Mas Misty o interrompeu.

— Nenhum de vocês toca na minha menina. – os olhos perigosos deixavam claro que o aviso era real. – Não preciso dos meus Pokémons para protegê-la e ninguém toca na minha menininha.

Kira não mais chorava. Alguns curiosos pararam na calçada para observarem a cena. Um deles a filmava.

— Vamos voltar para Cerulean e ela ficará sob a guarda do pai, enquanto você ficará numa cela. – Chikao avisou.

Misty riu, porém percebeu que não conseguiria fugir com tanta facilidade. Togepi não conseguiria levar as duas até muito longe, e ela sentia que havia bem mais policiais atrás das duas. Amaldiçoou Rudy em pensamentos.

— Não com o pai. – Não com Ash. — Não com Rudy. Deixe-a ficar com as tias ou os tios.

Yukira pulou ao ouvir a mãe. Estava realmente pensando em voltar? A menina sentiu as lágrimas queimarem atrás de seus olhos e olhou assustada para Misty.

— Não. – Chikao negou.

— Não vou permitir que a minha menina fique com aquele monstro. – ela cuspiu as palavras.

Os Pokémons ainda mantinham uma barreira entre a ruiva e os policiais.

— Ele não é um monstro, você que é por submeter uma criança inocente às suas mentiras. – um dos policiais atrás de Chikao cuspiu de volta.

“O que será que Rudy disse a eles?”

A ruiva sabia que os policiais já haviam escolhido um lado. Abraçou a menina ao seu lado com uma das mãos. Seu estômago parecia congelado. As lágrimas subiam em seus olhos. Sentia que aquele era o fim da linha.

Kira gritou para eles, ainda escondida atrás da mãe:

— Minha mamãe não é um monstro, vocês que são!

Misty sorriu com as palavras da filha e acariciou os cabelos negros que tanto amava. Depois sussurrou, apenas para ela ouvir.

— Está tudo bem.

Kira não respondeu, apenas se apoiou sua cabeça contra a perna da mãe. Os curiosos não compreendiam o que acontecia, apenas sabiam que a Sereia de Cerulean estava para ser presa. Algumas das mães pegaram seus filhos no colo, comovidos com a cena. O silêncio se prolongou por quase um minuto. Psyduck olhava confuso para a dona, e Gyarados mantinha seu olhar nos policiais. Nenhum deles ousou dar um passo para frente. Era quase como se o dragão estivesse rosnando.

— Eu e minha filha voltamos sem nenhuma resistência – Misty falou, sentindo Kira congelar ao seu lado –, desde que ela seja vigiada vinte e quatro hora por dia, por policiais especiais, e não por homens contratados pelo meu ex-marido.

— O quê? – Chikao perguntou confuso.

Aquela frase não parecia combinar com o que Rudy lhe dissera.

— Eu deixo a minha princesa com o Rudy. Desde que policiais fiquem-na vigiando, se não, eu fujo daqui com ela. – a voz de Misty era clara.

Ela sabia que conseguiria, porém também sabia que mais policiais a estariam esperando na próxima cidade. Policiais como eles; policiais de Rudy.

— Você não conseguirá… – Chikao tentou começar, porém Misty riu.

— Acha que eu fui chamada para fazer parte da Elite dos Quatro à toa? Sei batalhar, e se vocês pensam que eu vou entregar a minha menina sem ter certeza absoluta de que ela vai ficar bem, eu luto e mato vocês.

Nunca matara ninguém, porém sabia que o faria. Por Kira. A menina ao seu lado se assustou com as palavras da mãe e se encolheu mais contra ela. Não conseguia mais acompanhar a conversa dos adultos, e percebeu que não se importava. Yukira só queria sair dali com Misty.

— Isso é desacato à autoridade. – Chikao avisou.

— Não ligo. Prometa-me que ela será vigiada por homens escolhidos por você, e não por Rudy.

Chikao ficou em silêncio por bastante tempo, pensando. Conhecia as habilidades de Misty – todos conheciam –, e sabia que não teria chance nenhuma contra ela. Principalmente por saber que jamais conseguiria tocar em sua Pokébola sem ser atacado pelo Gyarados que continuava a encará-los com o rosnado mudo em seus lábios.

— Certo. – o melhor seria evitar um confronto.

— Prometa. – Misty ordenou.

— Dou minha palavra. Agora vamos. – queria acabar logo com aquilo.

Misty assentiu com a cabeça e estendeu a mão. Psyduck voltou para a Pokébola, porém Gyarados conseguiu desviar. Seu olhar ainda estava nos policiais. Ele não parecia disposto a deixar que a dona e Kira fossem levadas pelos homens.

Misty suspirou.

— Entre agora. Em qualquer sinal de perigo, eu tiro você daí.

— Gyaaa, ra gya? “Como da última vez?” – referia-se ao dia em que a ruiva fora sequestrada e não demonstrara nenhum sinal de retirar seus Pokémons.

— Dessa vez a Kira tá comigo, esqueceu?

Gyarados se virou para ela e observou a pequena ao seu lado. Sabia que Misty a protegeria com unhas e dentes. Voltou-se para os policiais e se aproximou. Eles tremeram.

Gyarados contornou-os e parecia pronto para atacar. Sua respiração tocou na nuca de cada um deles, e fez com que todos sentissem o poder de sua cauda ao forçá-los a se reunirem em um círculo estreito. Seus olhos deixavam clara a mensagem que queria passar. Mataria cada um deles se algo acontecesse à sua dona. Voltou-se para Misty e abaixou a cabeça, permitindo que a ruiva o colocasse novamente na Pokébola.

Dois dos policiais suspiraram aliviados. Chikao não deixou que a ruiva percebesse o medo que sentia. Por um momento, todos os três pensaram que morreriam.

Após alguns segundos do mais puro silêncio, Chikao pareceu recuperar sua voz.

— Yukira, aqui conosco…

A menina sentiu as lágrimas voltarem e se escondeu completamente atrás da mãe.

— Não! – gritou, sentindo que sua voz era abafada pelos soluços que lhe escapavam pela garganta.

— Deixe-me ficar essas últimas horas com ela, pelo menos – pediu Misty num suspiro.

— Eu não…

— Por favor. – implorou a ruiva, com uma lágrima escorrendo por seu rosto. – Ficarei dias sem vê-la. Ficarei até o dia do julgamento… isso é mais tempo do que já passamos separadas a nossa vida inteira.

Misty não chorava na frente dos outros. A menos que quisessem tirar sua pequenina de si. Aí as coisas eram muito diferentes. O choro de Yukira era tudo o que podia ser ouvido. Os curiosos que observavam a cena mantinham-se em silêncio. Muitos haviam fugido ao perceberem o Gyarados se aproximar dos policiais. A maioria sentira medo demais para ficar. O vídeo da prisão da Sereia de Cerulean estaria na internet em poucos minutos.

— Certo. Mas faça a menina parar de chorar – Chikao pediu incomodado. Não conseguia observar crianças chorando. No fundo, tinha um coração de manteiga.

Misty sorriu, limpando uma lágrima que ainda escorria por seu rosto.

— Pode deixar. – prometeu.

A ruiva pegou a filha no colo, que se agarrou à mãe o mais forte que conseguiu. Misty acariciou seus cabelos e murmurou palavras de conforto pra ela, que parou de soluçar. Os policiais pegaram a mala que a ruiva deixara cair ao chão. Misty realmente não se importava mais com ela.

Entraram na viatura policial e a menina ficou em seu colo o caminho inteiro. Chikao não se dirigiu a elas e as mesmas também não o fizeram. Ficaram apenas conversando entre si. Talvez, sua última conversa.

— A gente vai ficar juntas, né? – a mais nova perguntou com a voz embargada, encolhida no colo de Misty.

— Pra sempre – prometeu –, mas terá que passar um tempo com Rudy.

A frase saiu a contragosto pela boca de Misty. Sabia do que o moreno era capaz, porém tinha esperanças de que os policiais pudessem contê-lo.

— Não quero ficar com ele. Ele é mau. – a menina respondeu, com a voz agora magoada. Não queria ficar com ninguém que não com Misty.

— Não ficará sozinha com ele. – Misty prometeu. – Haverá policiais por perto o tempo inteiro. Se não houver, eu sequestro você e dessa vez eles não nos pegam.

Kira sorriu.

— E se tiver? – a menina perguntou, desejando de antemão que não houvesse.

— Daí você fica com ele. Estará segura lá.

— Tomara que não deixem nenhum policial comigo. Aí você me sequestra e a gente fica juntas.

Misty sorriu e beijou-lhe o topo da cabeça.

— Vai ficar tudo bem. Ninguém vai me tirar de você. Eu vou dar um jeito nisso tudo. Não sei como, mas vou.

— Promete, mãe? Promete que nunca vai me abandonar e que vamos ficar juntas pra todo o sempre? – a voz estava embargada. A menina ainda tinha medo.

— Sim. Prometo.

— Posso ficar com o Toge?

— Claro.

Kira teria tudo o que quisesse. Absolutamente tudo.

O Pokémon saiu do ombro da ruiva e acariciou a morena. Nunca ficaria longe de Misty, eles conseguiam comunicar-se telepaticamente e nunca ficariam afastados. Mas sabia que a pequenina e a mãe sofreriam demais ao se separarem. Não interferira anteriormente, pois sabia que não era necessário. Vira o plano da ruiva o tempo inteiro e sabia que um Pokémon de pequeno porte como ele não ajudaria a colocar medo nos policiais.

— Já estou com saudades – sussurrou Kira.

— Sempre que sentir saudades, pensa no dia que teremos quando você voltar pra mim.

Kira a olhou curiosa, já não chorava mais. Misty sorriu e continuou. À frente, os policiais escutavam cada palavra com os ouvidos atentos.

— Vamos ir ao parque. Depois, faremos compras. Vou comprar um livrinho por cada dia que ficarmos separadas. – os olhos pequeninos brilharam, e Misty beijou o narizinho vermelho dela. – Depois vamos numa sorveteria, e vou te deixar escolher quatro sabores de sorvete.

— Quatro?! – os olhos esmeraldinos brilharam e a risada infantil preencheu o carro.

Chikao tentou evitar, porém um sorriso gentil lhe enfeitou os lábios. Ele pensou no próprio filho, que agora já estava em jornada. Ele também adorava sorvetes quando era criança.

— Quatro. – Misty confirmou. – Mas só naquele dia, ok? E então iremos numa locadora, escolheremos dois filmes bem legais e vamos pra casa. A mamãe vai fazer pipoca e passaremos a noite toda comendo pipoca de chocolate e vendo desenho. Dormiremos no sofá e, durante a noite, eu te levarei pra minha cama. Vamos dormir juntas e eu vou te proteger a noite toda. Ninguém vai te fazer mal.

A menina sentiu os olhos brilharem ainda mais e beijou a bochecha da mãe.

— Pode ser um filme da barbie?

— Pode.

— E pode ser três filmes?

— Hm… mamãe vai ter que pensar. – Misty se fez de difícil.

— Deixa, vai, mãe. Por favorzinho! – a menina pedia, com as mãos juntas e os olhos desejosos.

— Tudo bem, tudo bem.

Misty riu e Kira se empolgou.

— Quatro filmes? – a menina tentou aumentar.

— Pode! – Misty riu ainda mais.

— Cinco?

— Pode!

— Seis? Sete? Oito?

— Pode, pode, pode, meu amor! Pode tudo!

Misty começou a fazer cócegas na menina e o riso infantil preencheu o carro novamente. O policial ruivo ao lado delas não conseguiu evitar o sorriso com a cena que presenciava. O outro, sentado ao lado de Chikao, fechou a expressão. Sabia que Misty estava apenas atuando para enganá-los. Rudy os alertara.

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Chegaram à delegacia e Misty sentiu as lágrimas começarem a escorrer por seu belo rosto alvo. Abraçou sua pequena. Sabia que era ali que se separariam. Kira voltou a chorar. O momento de felicidade parecia ter sido há séculos.

— Togepi pode ficar com ela? – perguntou a Chikao.

Estavam fora do carro. Yukira, no colo de Misty, convencera-se de que, se abraçasse a mãe suficientemente forte, ninguém as separaria.

— Não. – ele não conseguiu encarar a ruiva ao responder. Todos os seus anos de experiência gritavam que algo estava errado. A mulher que prendiam não podia ser a mesma descrita pelo pai da menina.

— Mas… – ela tentou protestar.

— Não. Seu Pokémon pode intimidá-la e…

— Mas eu quero o Toge! – Yukira protestou, agarrando o Pokémon que voava sobre o ombro da mãe.

Misty a acomodou melhor em seu colo, de forma que Kira conseguisse abraçar Togepi sem precisar soltá-la.

— Não precisa… – Chikao ia começar a responder, porém, novamente, foi interrompido pela menina.

— Quero o Toge, quero o Toge! – ela olhou ferozmente para o policial, que começou a perceber que o olhar era de família. – Vocês tão tirando a minha mãe de mim, não podem tirar o meu irmão Toge também!

Chikao suspirou.

— Ele não é seu irmão, é um Pokémon.

— É meu irmão! Não solto o Toge!

Misty acariciou a cabeça da filha e voltou a olhar para o policial. Os olhos da mais velha pareciam suplicar.

— Por favor, pra protegê-la.

— Ela só precisa ser protegida de você. – porém as palavras não saíram com toda a entonação desejava.

Chikao suspirou. Todos diziam que ele era enganado com facilidade demais. Tentou esquecer a imagem da garotinha birrenta rindo no carro.

Yukira soltou Togepi e voltou a se agarrar na mãe. O comentário do policial a incomodara. “Se eu abraçar a mamãe bem forte, ninguém vai me tirar dela”.

— Não deixa, mãe. – a voz embargada deixava claro que ela voltara a chorar. – Não deixa eles me levarem.

Misty sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu próprio rosto e retribuiu ao abraço apertado que recebia. Seus braços se encaixavam com perfeição ao redor da filha. Seus corpos haviam sido feitos para que ficassem juntas.

— Vai ficar tudo bem. – prometeu.

— Você prometeu que íamos ficar juntas – chorou mais a pequena.

Misty limpou as lágrimas que saíam de seus olhos com uma das mãos e depois voltou a abraçar a filha. Separou-se dela e a encarou. Verdes nos verdes. A sinceridade era sentida no ar.

— E vamos. Mas não agora. Agora você vai se comportar e vai ir com eles. Ok?

A menina assentiu com a cabeça, ainda chorando. Sentia como se seu mundo começasse a desabar. Sentia que nada mais daria certo, nunca. Kira tremia.

— Te amo – sussurrou, como que para tentar convencer a mãe a não deixá-la.

Misty pressionou seus lábios um contra o outro, sentindo o choro aumentar. Beijou a testa da filha e voltou a abraçá-la.

— Te amo mais. Muito mais.

Com delicadeza, Misty tentou colocar a filha no chão. Kira não a soltou, e foi preciso que um policial retirasse a menina do pescoço da mãe. Yukira começou a gritar assim que se sentiu ser arrancada da mais velha.

— MÃÃÃÃE! NÃO, EU QUERO A MINHA MÃE! MAMÃÃÃÃE!

Ela era arrastada para longe, e Misty sentia as lágrimas aumentarem. Estendeu as mãos na direção da filha, e Chikao se aproveitou da oportunidade para prendê-las com as algemas.

Assim que as mãos de Misty não mais podiam tocar suas Pokébolas, todos os policiais soltaram um suspiro de alívio. A imagem de Gyarados cercando-os, como se fossem a presa do dragão, jamais sairia de suas mentes.

Misty soluçava. Com esforço, ela conseguiu se controlar. Kira ainda gritava tentando alcançá-la, e o policial ruivo tentava controlar a menina.

— Cuidado com ela. Se eu ver um arranhãozinho nela, acabo com vocês – ameaçou.

Os olhos de Misty estavam inchados e a voz, embargada. Ela ainda chorava e o rosto estava vermelho. Ainda assim, conseguiu fazer todos os policiais tremerem e o ruivo, que segurava Kira, afrouxou o aperto na menina, mesmo que não o suficiente para que ela escapasse. Kira continuava a gritar.

Misty fechou os olhos, incapaz de aguentar a cena. Togepi pousou nos ombros da ruiva e chorou. Kira ainda gritava, causando apenas mais dor à mãe. A ruiva tentou se manter forte e voltou a olhá-la. Tentou sorrir, mas não conseguiu.

— Eu te amo. – disse novamente, vendo a menina continuar a chorar.

— Levem-na para o pai. – Chikao quase implorou. Sentia seus olhos arderem. A dor que a garotinha sentia era tão evidente que ele se perguntou se não estava cometendo um erro.

“Não irão levá-la para Ash” foi a coisa boba que Misty pensou. Sua vida inteira ficara com medo de que o moreno lhe tirasse a filha. Agora quem o fazia era Rudy, justamente a pessoa que pensou que jamais o faria.

Porque Rudy jamais amaria Kira como Ash. Ela sabia que ele já sentia um carinho enorme pela filha, tudo apenas pela cena que vira na ilha. Kira abraçando Ash e dizendo que ele era o herói dela. Sentiu as lágrimas aumentarem ainda mais. Nunca se arrependera tanto das escolhas que fizera.

Misty e Chikao ficaram parados até a menina ser posta para dentro do carro, junto do policial ruivo que se sentou atrás, provavelmente para cuidar dela, e do outro. Ficaram em silêncio até o carro sumir de vista. Depois disso, Misty caiu. Chikao se abaixou para ajudá-la a levantar, mas ela não parecia capaz de tanto. Era como se tivesse perdido toda a força que tinha no corpo. Chikao suspirou e voltou a levantar, esperando que ela resolvesse segui-lo.

Ficaram em silêncio, parados na rua, por quase um minuto inteiro antes que Misty voltasse seus olhos nublados pelas lágrimas para o delegado.

— Sua promessa ainda está de pé, não?

Chikao quase não compreendera suas palavras, de tão rouca que estava a voz dela. Olhou-a confuso por vários segundos, antes de finalmente indagar:

— Que promessa?

Misty suspirou, mas manteve seu olhar firme. Ela limpou a voz e sentiu Togepi acomodar-se em seus braços. O Pokémon ainda chorava baixinho. A dor que Misty sentia era tão grande que não conseguia mantê-la afastada de Togepi. E ele era pequenino demais para suportar tamanho sentimento sem chorar.

— Quero-a vigiada. A partir de agora.

A voz dela ainda estava quebrada. O policial abriu um mínimo sorriso, convencido de que ela estava apenas atuando. Ele não se deixaria enganar tão facilmente. Assentiu com a cabeça e viu a mulher abaixar a própria, aliviada.

Chikao se abaixou novamente para levantá-la, porém a mulher que levou para dentro da delegacia não parecia, em nada, com a ruiva que o ameaçara de todas as formas possíveis. A mulher que praticamente carregou até uma cela estava tão pálida que parecia morta. Os olhos, antes tão brilhantes e ameaçadores, pareciam vazios.

Chikao se arrepiou. Sabia que ela era uma atriz, apenas não esperava que fosse tão boa. Sentiu seu coração apertar. Em algum lugar de sua mente, sua intuição gritava que ninguém conseguiria atuar daquela forma.

Continua…


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Notas finais do capítulo

n sei se esse cap tah boom >.
spoiler: no próximo haverão leitores qerendo invadir a fic e matar o Rudy u.u
sim, farei vcs o odiarem ainda mais no próximo >
gente, eu tvaa vendo aqi... tenho 5 recomendações *O*
CINCO!!!
muuuuuuuuuuuuuuuuuuito obrigada
BugKillah (Bug malvaaado, sumiu TT.TT s2)
Androide 18 (Nessa-chaaan, to com saudade de vc .-. s2)
Anônimo (Se eu n me engano é da May_L, q excluiu a conta e criou uma nova com um nome qeu nunca lembro .-. amo vc amigaaa s2)
Ash Ketchum (muuuuuuuito obrigada *O* de verdade fiquei super emocionada com a sua recomendação, e com os seus reviews tmbm, obrigada por estar sempre presente *--*)
Misty_Love (seeeeeeeeeem comentários, quase chorei lendo, muuuuuito obrigada lindaaa *--* achei muuuiito linda a recomendação, e obrigada pelos reviews tmbm *O*)
desculpem por isso, mas eu precisava a agradecer *--------*
cap dedicado pra todos vcs *O*
mereço reviews?
desculpaaa pela demora >.
=*
Bjs e teh + ^3^/

Obs: Para aqueles que reclamam que eu não estou atualizando: acrescentei 3000 palavras nesse capítulo. É um capítulo novo, praticamente, não? /apanha (07/06/2014)



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