Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 19
Sou egoísta, admito


Notas iniciais do capítulo

era pra eu ter postado ontem, mals :( BOM CAP PRA VCS =D



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Misty remexeu-se incomodada na cama de casal e abriu os olhos ao sentir o sol bater em seu rosto. Olhou para o lado e tentou tocar em alguma coisa – ou alguém –, mas suas mãos se depararam apenas com o lençol frio. Piscou os olhos e balançou a cabeça. O que esperava encontrar? Ash. Talvez. Há pouco mais de vinte e quatro horas acordara com o homem ao seu lado.

— Deixe de ser boba, Myst. – ela murmurou para si mesma. – Você não pode se deixar levar por besteiras.

Suspirou e olhou para o teto, fechando os olhos em seguida.

“Obrigada, Kami-sama, por ter me ajudado a guardar meu segredo naquela noite. Obrigada por não deixar Ash descobrir nada”.

Agradeceu a santos e Deuses nos quais nem mesmo ela acreditava, mas, mesmo assim, agradeceu. Porque tudo estaria bem mais do que perdido se tivesse revelado o que estava preso em sua garganta. Sentia-se presa na teia que criara com suas próprias mentiras. Suspirou, tentando afastar o assunto de sua cabeça. Estava em casa, finalmente, e Kira estava consigo. A menina não seria simplesmente arrancada de seus braços.

A mulher levantou e tomou um banho rapidamente, para logo sair porta afora.

— Bom dia – Brock saudou ao ver a cunhada entrar pela porta da cozinha.

— Bom dia.

A ruiva morava com Brock desde que fugira da ilha. Não poderia voltar ao ginásio, passara por lá rapidamente no dia anterior apenas para pegar suas coisas e seus Pokémons. Sentia medo de ficar por muito tempo e, acidentalmente, esbarrar em Rudy. A simples possibilidade lhe arrepiava todos os pelos do corpo.

— Dormiu bem? – Lily estava sentada na mesa, com uma xícara de café fumegante repousando em suas mãos.

“Não melhor do que ontem…”

— Aham. Cadê a Kira? – Misty desconversou, sem gostar do rumo que seus pensamentos tomavam.

Yuri, que chegava ao aposento, tratou de responder-lhe, enquanto ainda esfregava seus olhos. Trajava seu pijama comprido, o cabelo ainda bagunçado.

— Dormindo ainda. Não acordei ela quando eu saí do quarto, tia.

Misty sorriu e caminhou até ele, o pegando no colo e enchendo de beijos. Yuri ria e se contorcia no colo da tia.

— Que sobrinho mais querido que eu tenho. – ela o colocou no chão e lhe deu um beijo na testa. – Obrigada.

Misty saiu da cozinha logo após ver Yuri correr até Lily, que já tinha um copo de leite morno pronto ao seu lado. A ruiva subia a escadaria com um sorriso em seus lábios. Adentrou silenciosamente no quarto de Yuri. As paredes eram azuis e brancas, com as cores intercaladas. Nada demais, apenas uma cama de solteiro com uma gaveta com colchão embaixo. Observou Kira dormir profundamente sobre a cama de Yuri. Ele jamais deixaria sua princesinha dormir no chão. A gaveta já estava fechada e as cobertas, dobradas. Sorte que o sobrinho puxara o senso de organização de Brock, e não a desorganização da irmã.

Misty correu e pulou na cama, ao lado da filha, enchendo a menina de beijos e cócegas. Yukira acordou rindo.

— Para, mamãe – a menina pediu, contorcendo-se de gargalhadas ao lado da mãe.

— Minha preguiçoooooosa. – ela sorriu para a menina, beijando-lhe a bochecha novamente antes de parar com as cócegas. – O que quer fazer hoje? – a ruiva abraçou a menina e esta apoiou a cabeça no peito da mãe.

Sentira falta daquele contato. Sentira falta do calor dos braços dela e sentira muito medo de perder isso para sempre. O maior medo de Yukira sempre fora perder Misty. A pequena demorou alguns segundos para responder, enquanto simplesmente aproveitava o contato. O perfume de Misty estava ao redor dela, envolvendo-a daquele jeito protetor que apenas sua mãe conseguia.

Ela mordeu o lábio inferior. Sentia-se segura, finalmente, e queria perguntar logo tudo o que estava rondando sua mente. Há algum tempo uma ideia vinha florescendo em sua cabeça, e as conversas que ouvira entre Brock e os outros adultos apenas acabaram por confirmá-las. Sentia seu peito apertado. Tudo indicara que a mãe mentira para ela. E isso doía tanto que quase nem parecia uma alternativa.

— Quero que você me diga algumas coisas. – disse decidida, antes que voltasse atrás e não conseguisse se livrar das perguntas que perseguiam sua mente.

Misty sentiu seu coração acelerar. Dizer? O que poderia dizer? Soube qual seria o assunto antes mesmo que ela prosseguisse. E sentiu-se encurralada como há muito não se sentia.

— Lembra que eu fiz um trabalho na escola, com as nossas características? – como não recebera nenhuma resposta, Kira simplesmente perguntara.

Misty assentiu lentamente com a cabeça, encarando os olhos tão parecidos com os seus com certo receio. Acariciou algumas mechas dos cabelos negros de Yukira, que estavam jogados sobre o travesseiro.

Kira pensou por vários segundos antes de continuar. Seus olhinhos presos nos da mãe, sentindo que a resposta dela não seria a que desejava apenas pelo pavor que parecia vir da mais velha.

— Eu sei que o Rudy não é meu pai. O trabalho mostrou isso. Minha professora disse que estava errado – a cor sumiu do rosto da ruiva, que olhava em choque para a filha –, mas eu nunca erro nos trabalhos. As minhas características com você fecharam, mas com o papai não.

Misty ficou em silêncio, sem saber o que responder. Sempre soube que aquele dia chegaria – o dia da verdade –, mas nunca pensou que seria tão cedo. Sempre imaginara Yukira com dezesseis anos, ou mais velha. Nunca pensara que sua pequena filhinha de seis anos pudesse descobrir tudo aquilo devido a um trabalho idiota. “Sabia que ela não devia ter pulado duas séries!”, foi o pensamento estúpido que invadiu sua mente naquele momento crítico.

— Não vai dizer nada? – a menina perguntou.

Os olhos banharam-se em lágrimas e Misty sentiu que os seus próprios também o faziam. Não sabia o que responder. A verdade fora guardada com tanto afinco que parecia simplesmente presa em sua garganta. Depois de vários segundos, não conseguiu sussurrar mais do que uma palavra.

— Filha…

— É verdade, não é? O Rudy não é meu papai! – Misty não conseguiria mentir olhando nos olhos de Yukira.

A ruiva respirou fundo e, ainda sem desviar o olhar da pequena, assentiu com a cabeça.

— Não. – ela confirmou num sussurro.

— Nunca imaginei que você mentiria pra mim – a menina sussurrou também, sentindo as lágrimas escaparem.

Yukira saiu do abraço da mãe, sentando-se na cama do primo e abraçando os próprios joelhos. Misty também se sentou, mas não sabia como encarar a menina. Tudo estava errado. Não fora assim que planejara.

Kira queria estar errada. Queria que sua mãe dissesse que estava maluca, mas não. Misty confirmara. Sua vida era uma mentira, ou melhor, seu pai, era uma mentira.

Misty sentiu seu peito arder e seu coração parar ao ver a desolação nos olhos da filha, que encarava o nada enquanto chorava. Sentia que todo o seu mundo desabava. Que nada mais poderia fazer sentido. Nunca mais.

Sem se conter, aproximou-se, em desespero, e a puxou num abraço apertado, sem ser retribuída imediatamente.

— Não. – sussurrou. – Não me odeie.

Kira não demorou a responder. Apenas escondeu o rosto contra o peito quente da mãe e, com a sua voz marejada, respondeu:

— Não te odeio.

O silêncio entre as duas reinou por bastante tempo, causando ainda mais pânico à ruiva. Kira ainda não correspondia completamente ao seu abraço e a vontade de explicar simplesmente era forte demais para ser controlada. Precisava fazê-la entender que não tivera nenhuma outra escolha. Que, na época, a dor que sentia era simplesmente grande demais para ir buscar pelo pai certo.

— Você precisava de um pai – ela começou, em desespero.

Mas Kira, apesar de tudo, era uma Waterflower, e respondeu à altura dos sentimentos estranhos que a envolviam.

— Meu pai biológico não pode ser pior que o que você arranjou pra mim.

Misty sentiu seu coração apertar ainda mais ao perceber o quanto ela estava magoada. Kira nunca respondia daquela forma. Não para ela.

— Ele é ótimo. Teria amado você. – não conseguiu mentir.

Não poderia mentir. A resposta pegou a pequena de surpresa, e esta se afastou do abraço da mãe. Nunca houvera tanta confusão em seus olhos e, por mais que a cena da mãe chorando lhe quebrasse o coração, precisava de respostas.

— Então por que…?

— Ele não me amava mais – tentou explicar –, mas teria amado você. Fui egoísta, Kira. – sentiu o peito se apertar ainda mais ao perceber toda a dor que o sentimento causava em sua filha. – Se ele soubesse de você iria te tirar de mim.

O entendimento se fez presente e a confusão virou medo. O lábio inferior de Kira tremeu e ela voltou para os braços da mãe, permitindo que a ruiva a escondesse em seu seio. Dessa vez, o abraço era recíproco.

— Me tirar… de você? – perguntou temerosa, apertando-se à mãe.

Misty sabia que a interpretação que Yukira fazia não era exatamente a real, mas era como ela própria via a situação.

— Ele sempre quis ter uma filha – continuou –, ou um filho. Sonhava em ser pai, mas não me amava mais. Pensaria que eu era uma interesseira. Iria tirar você de mim. Eu não aguentaria Kira, perder você também, não.

Nenhuma das duas falou por um longo tempo. As lágrimas continuaram a escorrer, mas ambas permaneceram presas naquele abraço apertado, sem que a coragem para a separação aparecesse. Depois de um tempo, Misty sentiu que devia fazer a pergunta fatal.

— Quer saber quem é ele?

Yukira sentia as lágrimas da mãe banhando sua cabeça e percebeu que o assunto era tão doloroso para ela quanto para si própria. E, se o pai não amava mais sua mamãe, então também não merecia seu amor.

— Não. Não quero. – ela respondeu, sem permitir que sua voz tremesse. – Quero você.

Misty apertou o abraço.

— Desculpa a mamãe por ser egoísta – pediu, beijando a testa da menina.

Kira sorriu minimamente, finalmente entendendo tudo. Percebeu que fazia sentido, afinal.

— Não posso – sussurrou para a mãe –, porque eu também sou.

A morena apertou a mãe bem forte. Não queria um pai, por melhor que ele fosse. Se tivesse um pai, teria que dividir a mãe com ele. Era egoísta demais para dividir a mãe. As duas ficaram ali, naquele abraço reconfortante até que se acalmassem. Não conseguiriam ficar separadas, precisavam ficar juntas, apenas as duas. Kira não precisava de um pai. Rudy nunca fora um bom pai e não precisava de nenhum substituto.

— Tenho só mais uma pergunta – Kira murmurou depois de um tempo.

— O que é? – Misty se sentia pronta para revelar qualquer coisa. Ao menos, qualquer coisa que a pequena pudesse aguentar.

— Por que o papai parou de te amar? Você roubou o sorvete dele?

Misty riu e beijou novamente o couro cabeludo da filha, tentando encontrar uma maneira de responder à pequena.

— É um pouco mais complicado que isso, pequena. – sussurrou, limpando algumas lágrimas. – Os adultos são complicados. Prometo que entenderá quando for mais velha.

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Yukira e Misty passaram a tarde inteira juntas, matando as saudades do tempo em que Misty ficara na ilha de Rudy. Foram ao parque, à biblioteca, à sorveteria, ao cinema, para todos os locais preferidos das duas. Riram o tempo inteiro, abraçaram-se o tempo inteiro.

— Vamos pra casa, já está tarde, meu anjo – ela sorriu para a menina.

— Uhum. E eu vou dormir com você.

A ruiva apenas sorriu. Não era novidade, sempre que algo de diferente acontecia, dormiam juntas. E aquele dia fora bem diferente.

— Misty?

A voz era familiar, mas Misty não a reconheceu imediatamente. Curiosa, olhou para trás e abriu o maior dos sorrisos ao perceber quem estava atrás de si. Cabelos azuis presos em duas chuquinhas, carregando um Dito no colo.

— DUPLICA! – correu até a amiga e a abraçou bem forte. – Está linda, minha amiga.

As duas estreitaram-se ainda mais e, logo após separarem-se, Misty colocou uma mão sobre o ombro da pequena garotinha ao seu lado.

— Deixe-me apresentá-la, essa aqui é a minha filha, Yukira.

Kira observava a mulher com seus olhos curiosos, tentando compreender quem seria aquela estranha que roubara a atenção de sua mãe. Duplica abriu o maior dos sorrisos para a criança e comentou, com os olhos brilhando:

— Mas que linda, é idêntica ao pai!

Quase imediatamente, Duplica sentiu que falara algo de errado. O clima entre as duas ficou obscuro, e o olhar de Misty parecia culpado demais. Sem receber nenhum tipo de resposta ou reação, resolveu perguntar, para melhor entender do assunto.

— Não me diga que está brigada com…

— NÃO! – o grito apavorado de Kira fez Misty pegá-la no colo, enquanto que a menina observava, apavorada, a amiga da mãe a sua frente.

Será que todos sabiam que era seu pai, menos ela?

Misty percebeu o incômodo de Duplica e sorriu para esta, tentando acalmá-la.

— Kira não gosta de falar no assunto, depois te explico, ok?

A mulher apenas assentiu com a cabeça. Às vezes Misty se esquecia de como Duplica era isolada. Nem ao menos sabia sobre sua separação ao Ash.

Duplica, percebendo que começara do jeito errado, sorriu para a garotinha no colo de Misty e lhe acariciou os cabelos.

— Você tem os olhos da sua mãe, tão lindinha.

O comentário trouxe o maior dos sorrisos para o rostinho antes assustado e Duplica percebeu que encontrara uma boa forma de se redimir.

Misty sentiu algo dentro de seu estômago e estreitou a filha em seus braços, pegando-a no colo e afastando a menina da amiga.

— Estamos atrasadas, Duplica. Outra hora conversamos.

A garota concorda e as duas se despedem com promessas de manterem os assuntos em dia, mesmo que saibam que não o farão.

Misty saiu dali, criando a maior distância possível entre as duas. Sentia-se uma idiota, mas ficara com ciúmes ao ver a amiga fazer carinhos em sua filha. Tinha que conviver com isso quando quem estava com Yukira eram as irmãs, ou Dawn, ou May, mas, tirando elas, não gostava que chegassem perto da menina. Era sua menina. E a ruiva não tinha vergonha ou medo de admitir que tinha ciúmes demais dela para ver outras pessoas trocando carinhos com Kira. Sim, era uma mãe superprotetora, coruja, ciumenta e tudo o mais que quisessem dizer dela.

Mãe e filha caminharam por vários minutos em silêncio. Kira saltitava ao lado da mãe, que a ajudava a pular mais alto sempre que havia um pequeno buraco na calçada.

— Ela é legal, mãe? – Kira perguntou após algum tempo.

Misty sorriu. Caminhavam mais rapidamente a cada passo. Ambas tinham um sorriso no rosto.

— Muito legal, mas meio louquinha. – respondeu rindo.

Misty pegou a filha no colo e acelerou o passo. Kira não reclamou, suas pernas já doíam.

— Tá com pressa? – sabia que não era fome. Pouco antes de encontrarem com Duplica, haviam parado em uma lanchonete para comerem cachorros-quentes.

Misty sorriu e lhe beijou os cabelos negros. Negros como os de Ash.

Afastou o moreno de seus pensamentos e se concentrou em responder à filha.

— Preciso de um banho urgenteeee, e to com muito sono – ela fez uma careta para a menina, que começou a rir.

Kira também estava exausta. Já passava das dez horas da noite, e ela não demorou a adormecer no colo da mãe.

Misty não demorou na caminhada, e, quando chegaram, foi quase como se a filha recebesse novas pilhas. A menina acordou e voltou a saltitar ao lado da ruiva.

Brock os recebeu com um sorriso.

— Se divertiram?

A pergunta foi era tudo o que Kira precisava para começar a falar.

— Muito, tio! – ela ria, feliz. – A gente foi na roda gigante e…

Misty sabia que a pequena não pararia tão cedo, por isso a interrompeu brevemente e beijou-lhe a testa.

— Enquanto vocês conversam eu vou tomar um banho, ok? E depois é a sua vez, senhorita.

Kira assentiu com a cabeça e viu a mãe começar a subir as escadas.

Logo iniciou seu monólogo. Brock ria da animação dela. A menina não chegou a terminar de relatar todo o seu dia perfeito, porém Brock a interrompeu assim que a garota parou para respirar.

— Faz tempo que não te vejo tão feliz, menina – ele sorriu para a sobrinha.

Yukira retribuiu o sorriso e acompanhou o tio até o sofá, sentando-se ao lado dele.

— Faz tempo que eu não fico tão feliz! – ela admitiu. – A mamãe voltou e eu passei o dia inteiro nos meus lugares favoritos! Foi o dia mais incrível de todos!

Brock sorriu e então suspirou, fazendo a pergunta que ninguém tivera coragem de fazer.

— Não sente falta do seu pai?

A expressão da menina se fechou. Um beiço se formou nos lábios finos e a voz cheia de petulância foi ouvida bem claramente. Brock quis rir. Ela realmente parecia com Misty.

— Eu não tenho pai. Nunca mais diga uma asneira dessas.

Brock levantou os braços, em sinal de rendição. Não discutiria com a sobrinha sobre o assunto.

Misty tomou um banho rápido e relaxante, para logo em seguida colocar um short e uma blusa de pijama. Estava anoitecendo, mas nem por isso o tempo deixava de ser quente.

A ruiva desceu as escadas calmamente e torceu ao nariz do ver que a filha ainda conversava com o tio.

— E a mamãe fechou os olhos quando a gente tava na descida da montanha russa, mas eu não, porque eu sou muito corajosa – ela falou, com orgulho de si mesma.

— E agora a minha menina corajosa vai para um banho, não é mesmo? Sua tia já tá te esperando lá no banheiro.

Kira não entendeu porque a mãe não podia dar banho nela, mas não reclamou. Adorava tia Lily também.

— Claro, mamãe – ela saiu correndo da cozinha e foi até o banheiro do andar de cima.

Assim que a filha sumiu, Misty sentou-se em um banquinho ao lado da mesa de mármore. A ruiva tinha um sorriso enorme nos lábios.

Brock lhe ofereceu uma xícara de café, e ela aceitou de imediato.

— Que felicidade toda é essa? – perguntou ele, sentando-se em frente à ruiva. Sabia que ela queria lhe contar algo.

Misty fechou os olhos e soltou um suspiro aliviado.

— Kira não me odeia – revelou ao cunhado, ainda sorrindo. Ela abriu os olhos.

Brock a encarava confuso.

— Mas é claro que ela não te odeia, você é tudo pra ela.

Misty riu. Sua risada cristalina preenchia todo o ambiente. Brock não pôde evitar que um sorriso se formasse em seus lábios.

— Eu sei, mas fiquei preocupada hoje cedo, Brock.

O moreno franziu as sobrancelhas, removendo o sorriso de seu rosto.

— Por quê?

Misty demorou vários segundos para responder, mas depois o encarou e respondeu, séria:

— Ela sabe que Rudy não é seu pai.

Os olhos de Brock se arregalaram. O ar na cozinha pareceu rarefeito. O coração de Brock quase parou.

— Como ela pode saber disso? Misty, eu juro que não contei, não sei quem foi, mas não fui eu…

Ele estava desesperado. Quem poderia ter revelado tal segredo?

— Calma Brock. Ela descobriu sozinha. Com o trabalho que ela e o Yuri tiveram que fazer, lembra? – o moreno assentiu com a cabeça. – Então. As minhas características bateram, as de Rudy não.

O entendimento começou a se fazer presente na face de Brock. Ele sorriu ao ouvir aquilo e bebeu de sua própria xícara de café.

— Ela é mais inteligente do que imaginamos. – respondeu após alguns segundos.

Era como se o peso do mundo saísse de suas costas. O segredo de Misty o consumia um pouquinho mais a cada momento que passava perto de Ash.

— É minha filha, esperava o quê? – Misty perguntou com um sorriso convencido nos lábios, fazendo Brock rir.

— Tem razão. – o sorriso se desmanchou. – Então ela sabe que Ash é seu pai biológico?

A ruiva olhou para trás, conferindo se ninguém ouvira a afirmação de Brock. Estavam sozinhos, mas ela tinha medo de que até mesmo as paredes possuíssem ouvidos.

— Não. – ela negou com a cabeça. – Ela não quis saber.

O olhar de repreensão de Brock sobre si a irritou. Por que ele não podia simplesmente ficar feliz por Kira não odiá-la? Não era como se Misty já não estivesse envergonhada o suficiente pela verdade que dissera.

— O que disse pra ela? – indagou acusador.

— Nada. Eu falei que o pai dela era ótimo e que a amaria. – a ruiva se defendeu.

Brock suspirou, sabendo que havia muito mais naquela história do que ela estava dizendo.

— Então, por quê? – perguntou confuso.

Misty desviou o olhar por alguns segundos antes de responder. Sabia que a maior das repreensões ainda estava por vir.

— Ela perguntou se ele era pior que Rudy. Eu disse que não, mas que pelo menos Rudy não iria querer tirar ela de mim, coisa que o pai faria. Além disso, admiti que pra ela que fui egoísta.

Brock suspirou derrotado. Sabia que havia algo de errado.

— Isso é chantagem, Misty – Brock a repreendeu. – Você sabe que a menina não suportaria ficar longe de você, não podia dizer que o pai iria querer separá-las. Não pode ser tão egoísta.

— E o que você acha que Ash fará quando descobrir que tem uma filha? Acha que ele vai concordar em ver a menina só nos fins de semana e ir aos aniversários dela? Você sabe que não. E ela é minha filha. você também é egoísta quando se trata do Yuri – ela já se alterava.

Brock não soube como responder àquilo. Sabia que Ash iria querer a guarda da menina, mas antes que pudesse pensar melhor numa resposta para a ruiva, Lily adentrou na cozinha com vários envelopes nas mãos.

— Deixei Kira se trocando e desci. Misty tem um aqui para você, parece importante – a mulher falou, jogando um papel branco lacrado para a irmã.

Misty pegou a carta e começou a lê-la. Na medida em que seus olhos passavam pelo papel, a cor ia sumindo de seu rosto. Brock se preocupou ao vê-la tão nervosa.

— O que foi? – perguntou Brock, preocupado.

— Misty, o que aconteceu? – perguntou novamente, visto que a ruiva não respondera da primeira vez.

Misty atirou a carta para Brock, enquanto lágrimas grossas escapavam de seus olhos. Togepi correu para seu colo, ele recebera a notícia ao mesmo tempo em que a ruiva, visto que tinham uma Ligação Psíquica¹, fazendo com que ambos soubessem o que o outro pensava.

“Como ele pode ter descoberto? Foi só uma vez, e foi bem escondido… como ele pode saber, se não contamos pra ninguém?”.

Sentia a culpa invadi-la juntamente com o medo. Não sabia qual dos dois sentimentos era mais forte, apenas sabia que estava encrencada.

Por que, diabos, sucumbira a seus desejos mais primitivos? Se não o fizesse, talvez nada daquilo estivesse acontecendo.

— O que foi, Brock? Que cara é essa?

Misty ouviu vagamente a voz preocupada da irmã, mas estava perdida em seus pensamentos mais obscuros. Nunca sentira tanto medo como naquele momento.

O moreno deixou a carta na mesa. Seu olhar se desviou para a esposa e falou, com a voz ainda perplexa:

— O Rudy convocou uma audiência. Ele quer a guarda da Kira.

Continua…

¹Ligação Psíquica: eu vi num episódio em que uma menina tinha um Girafarig e daí ela queria ter uma ligação psíquica com ele ou algo do tipo, eu não sei se o nome está certo, mas significa que o Pokémon e o humano são um só e um consegue entrar na mente do outro, por assim dizer. Por isso o Togepi sabia antes de todo mundo, porque ele soube ao mesmo tempo que a Misty.


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Notas finais do capítulo

yoo
sei q falei postar ontem, mas n deu. Eu toh com um livro novo e fico meio fissurada e o livro é linddooo
jah leram as crônicas de fogo e gelo??
é tudo a coleção e eu toh viciadinha, então n postei ontem, mas hoje o cap tah ae ^^
eu vou postar amor eterno tmbm ok?
amo vcsss
=*
Bjs e teh + ^3^/



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