Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 13
Ir ou não ir?


Notas iniciais do capítulo

sorryyy pela demora T-T



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ASH P.O.V

Quando mini voltou com todos eles, inclusive as crianças, apenas os cacos quebrados contra a parede provavam que eu tinha me descontrolado. Claro que os adultos viram, mas as crianças os ignoraram, quase como se nem estivessem ali.

Minha raiva não diminuiu, inclusive. Eu ainda quero quebrar a merda da casa inteira. Mas, pensando positivamente, pelo menos não sinto mais vontade de quebrar a cara de ninguém. Só do Rudy, mas ele não é importante.

Se eu puder colocar minhas mãos ao redor do pescoço dele… ah, e apertar bem forte, até o rosto dele ficar roxo… Ah, seria tão bom! E o ar iria embora, enquanto ele tentava gritar por socorro e por ar, mas sem conseguir. E eu estaria causando essa dor a ele. Eu. Ah… esse pensamento é confortante.

— Ash?

Merda, devo ter ficado com cara de retardado. Sacudo a cabeça e olho para Brock. Ele está olhando pro chão, envergonhado. Devia estar, mesmo. Não gosto de ser feito de idiota, e foi exatamente isso que ele fez ao trazer a filha da Misty aqui sem me avisar antes.

— Certo. Pikachu, vá chamar os Pokémons que você achar necessários; cuidado com quem escolher. Diga a Espeon que eu quero que ela fique. Depois de você, ninguém melhor para comandar isso aqui.

Pikachu assentiu com a cabeça. Ele provavelmente quebraria alguma coisa no caminho, também. Todos pensam que não, mas Pikachu é tão irritadiço quanto eu.

— Pika pikaaa “Pode deixar”

Ele saiu correndo em disparada, não podíamos perder mais tempo. Segundos depois ouvi o barulho de vidro se quebrando. As crianças olharam assustadas para a porta, mas eu sorri de leve. Foi apenas o Pikachu descontando a raiva dele.

— Não se preocupem, não é nada. – os acalmei. – Certo. O que vocês sabem do paradeiro de Misty?

Por favor, que ela esteja longe. Se estiver aqui perto e eu encontrar o Rudy meio logo… ah, não vai prestar.

— Infelizmente, nada. – Brock suspirou.

Nossos olhares se cruzaram, mas Brock voltou a olhar pro chão. Sinta-se culpado mesmo, imbecil. Sinta-se muito culpado por trazer a filha da Misty aqui.

Sorri discretamente. Eles não sabem, mas eu sei. Talvez devesse usar isso contra eles, fazer chantagem… ah, foda-se, preciso achar aquela Miltank desgraçada.

— Ok. Eles estão indo para o leste… – não termino de falar.

— COMO VOCÊ SABE?

Ah, Yuki, se você soubesse como é parecida com a sua mãe…

— Eu a vi ontem de manhã, com o Rudy, no carro. – falo devagar, tentando recuperar o meu autocontrole. É complicado, muito, mas não posso quebrar mais nada por enquanto. Nossa, aquele filho da puta vai pagar tão caro quando a gente se rever… – Eles estão indo para o leste, então temos poucas opções.

— Podemos descartar as ilhas laranja. – Violet acrescentou depressa.

Eu apenas assenti com a cabeça, enquanto esperava que eles fizessem as eliminações. Não me interessa onde ela não está. Quero saber pra onde aquele filho duma égua levou a minha ruiva.

— E Hoen. – May acrescentou.

Continuem descartando, pessoal. Pra onde será que ele levou ela? Precisa ser um lugar longe e seguro. Um lugar que nenhum de nós conheça, porque seria burrice levar pra qualquer lugar que a gente conheça. Um lugar que, de alguma forma, cause interferência na ligação entre Togepi e Misty.

Pera… o Rudy dificilmente deve imaginar que eles viriam até mim, até porque nem Misty queria isso. Talvez seja um lugar que eu conheça e eles não. Mas onde?

— Sinnoh também. – Dawn ajudou.

Ficamos um pouco em silêncio, apenas pensando. Um lugar que nenhum deles conheça? Talvez um lugar cheio de Pokémons psíquicos, o que impede Misty e Togepi de se comunicarem… E, talvez, um lugar que ninguém saiba que o Rudy conheça! É isso!

— Acho que Rudy a levou para a ilha Esmeralda. – quebrei o silêncio.

— Ash! Rudy nem sabe que essa ilha existe. – por isso o lugar é perfeito. Porque ninguém sabe que ele já foi lá! Só eu. Eu e Misty.

— Ele conhece sim, Brock. – imbecil! Por que nunca contei isso ao Brock? Se ele não tivesse vindo até aqui em casa, Misty ficaria lá pra sempre. Ninguém poderia encontrá-la. Só eu. – Eu e Misty o levamos pra lá alguns anos atrás.

Pare, Ash! Você não é um herói estúpido de contos de fadas!

— Que lugar é esse? – Dayse perguntou.

Misty nunca contou sobre Esmeralda para as irmãs? Por quê?

— Um lugar que ela jamais iria querer voltar. – Paul não poderia estar mais certo.

— Por que nunca me disseram que Rudy conhecia a ilha Esmeralda?

Porque eu sou um idiota, Brock. Só por isso. Fico com raiva apenas de me lembrar desse dia, mas Brock merece saber.

— Nós estávamos planejando viajar para lá, foi quando Rudy escutou e se autoconvidou para ir junto. Eu e ela ficamos sem reação e achamos que não faria mal levá-lo.

Doce ilusão. Como pude ser tão burro? Como pude me deixar enganar dessa forma?

— E quando foi isso? – Brock se sentia traído, eu sei, mas o que posso fazer? Não é minha culpa se eu era ingênuo!

— Dois meses antes de… você sabe – fiquei com vontade de sair correndo dali.

Respiro fundo. Lembrar o término com Misty realmente não é a melhor ideia que eu já tive.

— Vocês todos já foram lá? – Dayse pergunta novamente.

Lily e Violet estavam perdidas em pensamentos. As crianças sentadas no chão pareciam ser a única atenção delas.

— Não, só Ash, Misty e Brock. – May revelou.

Ah… sou um imbecil. Por que fiz isso? Por que mostrei nossa ilha pra ele?

— Mas como vocês sabem dela, então? – Dayse voltou a perguntar.

— Nós já ouvimos eles falarem muito dela, mas nunca quiseram nos levar lá. – Drew resmungou.

O problema da ilha é que é um marco da nossa amizade. Da nossa felicidade, na verdade. É por isso que nunca levamos vocês lá. Porque teriam que escolher entre ir com Misty ou ir comigo. E aquele lugar era nosso. Feito para irmos juntos, não separados.

— Pelo visto agora vocês vão conhecer. – resmungo de volta.

E a tradição será quebrada. A conhecerão apenas com Misty. Eu não posso ver ela de novo. Não posso ver a minha ruiva de novo, caso contrário tudo vai desmoronar. Eu não posso perder o controle.

— Não era exatamente assim que pretendíamos ir.

Eu sei que não, Dawn. Eu sei.

— Por que nós ainda estamos aqui? Já sabemos onde ela está, como chegar lá e que Pokémon usarmos, o que estamos esperando? – ela é hiperativa, exatamente como a mãe. Ah, Yuki, se você soubesse como é difícil tomar essa decisão.

— Concordo com a Ki… Yuki – percebo que Diego cora, o que será que há de errado? Diego não é tímido. Na verdade, acho que nunca o vi corando. – O que estamos esperando?

— Vamos logo! O tio Ash até já mandou buscarem os Pokémons dele! – Julia se levantou, estendo as mãos para Diego, que se levantou sozinho.

— Mamãe! Falta só nós passarmos em casa para buscar as nossas coisas! – Pietra falou, levantando-se junto de Paula.

Coisas? Elas acham que vão sair de férias?

— Só temos que pegar as coisinhas essenciais! – a irmã completou.

Aham, coisinhas essenciais, sei. Se forem filhas da Dawn mesmo, vão levar malas pra essa aventura. Ah, isso vai dar tão errado, as crianças não podem ir!

— Acalmem-se, meninas! Temos que esperar o Pikachu chegar! – Yuri é realmente o filho do Brock. Quem mais colocaria ordem na bagunça? Pikachu entra na sala nesse exato momento. – Agora sim podemos ir.

Poxa, Pikachu, por que não demorou mais? Eu ainda não raciocinei isso direito. Eu vou?

— Voltem aqui imediatamente!

Acho que quando você vira mãe, cria uma sintonia com as outras mães da sala. Porque, sério, não tem como elas terem falado juntas por acidente.

Emburradas, as crianças voltam a se sentar e ficam caladas, como as crianças obedientes que não são. Logo em seguida entram Charizard, Squirtle, Chikorita, Bulbassaur, Buterfree e um enorme Pidgeot.

Sorrio para meus amados Pokémons e digo:

— Gente, dessa vez não é nenhum campeonato e nem nada do tipo. Dessa vez eu vou mandar vocês para uma missão especial. Dessa vez vocês terão que fazer a coisa mais importante que vocês já fizeram.

— CHARIZA? *Equipe Rocket?*

O legal é que o Charizard tem que ficar meio deitado, porque é grande demais pra ficar aqui dentro. Pego as seis Pokebolas que sempre estão em meus bolsos e brinco em elas entre meus dedos. Ah, Misty, viu quem estou mandando por você? Até mesmo sem Pikachu eu vou ficar.

— Não. Dessa vez não são aqueles bobocas. – sorri para eles, mas recebi apenas olhares confusos em retorno. – Dessa vez vocês irão ter que salvar a Misty.

— Chiko, chiko? *Aquela idiota?*

Brock quase gargalhou e Drew segurou a risada, junto dos outros. Bati a mão na minha testa, incapaz de acreditar no que estava acontecendo. Ela realmente não sente mais ciúmes de mim, Pikachu.

— Não teve graça, Chikorita! – Drew a repreendeu, mesmo que ainda risse um pouco.

— O que ela disse? – mini Misty perguntou curiosa.

— Togepriiii “Você não vai querer saber” – Togepi desconversou.

— Pare com isso, Chikorita! – a repreendi. Ficar falando mal da Misty dessa forma não me ajuda em nada. – Se continuar, você fica!

— Chiko, chiko chikorita “Só falo o que penso”.

É, eu sei. Mas ter você falando o que pensa agora não é exatamente a situação mais interessante. Principalmente se alguém acabar traduzindo suas palavras pra filha briguenta da Misty.

— Então não fale essas coisas… já conversamos sobre isso muitos anos atrás.

E como conversamos. No início foi bom ter alguém com quem xingar ela, mas depois foi ficando incômodo. Eu percebi que não queria estragar as imagens que eu tinha da minha ruiva com palavras que eu sei que não eram verdadeiras. Por isso pedi pra ela parar. E eu parei também. Fiquei só com as memórias boas, e isso quase me fez voltar pra ela. Se Misty tivesse aparecido no dia da minha premiação, tudo seria diferente…

— Chiko riiita chiko chikoooo Rita chikoooorita! “Eu conheço o papo de você amar a Misty e blá, blá, blá!”

Ela fez de propósito, desgraçada. Fico todo vermelho de vergonha e olho para o lado. Ela tá só provocando! Isso não tem graça!

Todos que a entendem começam a gargalhar. Ou seja, todos os adultos presentes. Digamos apenas que eu passei tempo suficiente com Lily para ela compreender alguns de meus Pokémons e que as irmãs sensacionais possuem o dom de trocar informações na velocidade da luz.

— Parem com isso! – reclamei.

As crianças olhavam confusas para nós. Graças a Kami-sama nenhuma delas entendeu. Ah, Chikorita, por que tem que ser tão insensível?! Isso não é hora para brincar!

— Pare com isso, Chikorita! – a repreendi, mas ela não pareceu muito receosa. – Digamos que Misty está passando por momentos complicados, por assim dizer. – a expressão dela continuou a mesma. Revirei os olhos e continuei. – Vocês irão para a ilha Esmeralda – recebi apenas olhares confusos e respirei fundo, tentando controlar a minha raiva. – Rudy a levou para lá, mas digamos que ela não queria ir nessa viajem. – Chikorita entendeu e olhou para baixo, envergonhada.

Buterfree pisca confuso e pergunta:

— Buter, buterrrrrrrrrrrrrrrrrfre? “Ele bateu nela?”

Ah, amigo, que porra de pergunta é essa agora? Realmente não quero responder…

Apenas faço um sinal positivo com a cabeça e vejo até mesmo Chikorita se surpreender e irritar. Sorrio discretamente. No fundo, talvez ela goste de Misty. Bem lá no fundo.

— Yuki – continuei – é filha da Misty.

Recebi olhares solidários deles. Charizard desviou seu olhar para ela e o manteve assim. Os outros também a encararam. Não parecia fazer sentido para eles, assim como não fizera para mim também. A garotinha ruiva que conhecemos agora tem uma filha.

— Cuidado redobrado com ela! Vocês sabem do que ele é capaz. – nenhum deles respondeu. – Chikorita, sem falar mal de ninguém. Não fique com essa cara amarrada, pode ser um passeio divertido para vocês.

Tento sorrir, mas todos eles percebem a minha aflição. E também perceberam que eu não me incluí na viagem. Simplesmente não posso ir.

— Buter buterrrrrfre buteeerfrer freee! “Eu já estava com saudades da Misty!”

Eu sorri para Buterfree, mas não respondi. O que poderia dizer? Que eu também sinto? Todos eles sabem disso.

Os olhares voltaram-se novamente para mini Misty e Squirtle se aproxima dela e a cheira, antes de voltar correndo com um sorriso no rosto, para observá-la de longe. Yuki ri da reação dele e eu faço o mesmo. Squirtle sempre gostou de Misty.

Com um sorriso encabulado coloco todos eles, menos Pikachu, obviamente, dentro das Pokebolas e caminho até Brock. Pikachu sobe em meu ombro, sabendo que esse momento será complicado. Suspiro e estendo minhas Pokebolas a Brock, que me olha confuso.

— Desculpe, Brock, acho que não posso voltar lá. Tenho certeza que eles irão obedecer você. Já o conhecem muito bem e te admiram muito. Pikachu vai junto só por garantia de que Misty voltará sã e salva.

Brock suspira, mas faz que sim com a cabeça. Ele ficou chateado, assim como todos os outros. Drew e Paul batem quase ao mesmo tempo em suas próprias testas e May e Dawn desviam o olhar.

A verdade é que eu não vou conseguir ver Misty agora. Muito menos Rudy. Não vou conseguir olhar pra ela e saber que a culpa é minha, por ter deixado aquele filho de uma puta ir até a nossa ilha. Nossa. Minha, de Misty e de Brock. Apenas nossa.

— Imaginei que faria isso, mas esperava que você fosse junto conosco. – Brock comentou.

Demonstrei pra ele que fiquei chateado e voltei para o sofá. Pikachu ficou no ombro de Brock, mas logo foi para Lily. Ele tem uma quedinha por todas as Waterflower.

— Você não vai, Ash? – Lily apenas perguntou para ter a confirmação, mas ela já sabia a resposta. Todos eles sabiam.

— Não, Lily, mas espero de coração que vocês consigam encontrar Misty e que ela volte bem para casa.

De todo o coração. E que alguém mate Rudy no meio do caminho. Sinto as lágrimas idiotas aparecerem, mas não deixo que ninguém as perceba. Por que é assim tão difícil abrir mão de ver ela novamente? Por que é tão difícil deixar de ser o herói? Eu poderia ir até lá e salvá-la dele. E então ela voltaria a me amar…

Ou não. Misty não faria isso. E, mesmo que fizesse, não posso me iludir de novo. Ser rejeitado por ela pela segunda vez seria demais.

— Mas você tem que ir Ash! Só você sabe onde eles podem estar! – Dawn, por favor, para de tornar isso ainda mais difícil…

— O Brock também sabe. – retruco.

Minha voz tá meio rouca, eu sei. Dayse olha pra mim e sorri triste, com lágrimas nos olhos também. Por que, de todos eles, ela é a única que percebeu o quão mal essa situação me deixa?

Pikachu saiu do ombro de Lily e veio se acomodar no meu pela última vez antes de irem embora. Acariciei suas orelhas e ele esfregou seu fucinho contra meu rosto.

Não consegui olhar para Yuki.

— Você conhece essa ilha bem melhor do que eu, Ash. – pare, Brock. Por favor, pare de tornar isso tão difícil. – Posso até saber onde os lugares ficam, mas não garanto que irei levar todos em segurança por aquele lugar. A parte mais segura da ilha é a floresta, mas apenas você a conhece. Mesmo que nós consigamos salvar Misty vai ser difícil remover todos de lá em segurança.

— Mande alguns por terra, outros por ar e outros pelo subsolo. – falei rapidamente.

Talvez seja um exagero, mas, se eles perderem a vantagem da descrição, essa é a forma de ataque mais segura. E mais ofensiva, também.

— Certo. Mas ainda é mais seguro com você junto. – ele só quer que a gente se reencontre. Todo mundo sabe que não precisam de mim para resgatá-la.

— Pikachu conhece aquela floresta ainda melhor do que eu.

Não é uma mentira.

— Pika, pika, pika chuuu pika Chu pikaaa “Pode até ser, mas não vou conseguir abrir a caverna”.

Graças a Kami-sama. Fique bem longe daquele lugar, Pikachu. Bem longe… ah, merda! Eevee! Será que ainda está lá? Será que já fugiu?

— Não precisa levá-los para lá, provavelmente está em ruínas. – não está. Está em perfeitas condições, eu sei. Precisa estar. – Mas, se puder, passe lá e busque o Eevee. Mantenha os outros longe de lá, é muito perto da casa em que Misty está. – perto demais para que as crianças se aproximem. Minha mensagem para ele é clara: escolha alguns Pokémons e vá salvar Misty sozinho. Deixe as crianças e os outros fora disso. – É muito perigoso e não tem como se viver muito tempo lá, ainda mais agora que ficamos tanto tempo sem visitar, deve estar completamente destruído.

Não deixe que nenhum deles saia machucado.

Pikachu entendeu a mensagem. Ele sempre entende.

— Pikaaaa “Ta bom” – ele concordou.

Trocamos um olhar significativo. Ele sabe qual é sua missão. Me aperta o coração deixar Pikachu fazer isso sozinho, mas é preciso. Não posso ver Misty de novo.

— Que caverna, Ketchum? – Paul me olha acusador.

Com dificuldade, não desvio meu olhar do dele. Paul sabe que tem algo errado. Merda, ele não pode descobrir onde ela fica. Além de ser perigoso, ela é minha. Minha e de Misty.

— Nenhuma. Um lugar que, no momento, eu espero que esteja destruído. É muito perto de onde Misty está. – o aviso era claro. – Fiquem longe de lá e, Pikachu, não se atreva a levá-los para lá.

— Pika, pika “Pode deixar comigo”.

Ele faria tudo sozinho, como prometido. Sorri, levemente agradecido.

— Quer dizer então que você é um covarde? – mini finalmente saiu do transe.

O que essa pestinha quer? Ela não percebe como é difícil não ser o herói? Como me dói dizer que eu não vou? Como dói desistir, de novo, da mãe dela?

— Covarde? Você pirou?

Eu sei que é errado, mas começo a sentir raiva. Como ela pode me acusar dessa forma? Eu estou sendo corajoso ao abdicar de meus desejos para que Misty possa continuar com a vida nem mais tão perfeita dela.

— Só pode, né? Para você simplesmente desistir. Você sabe TUDO! – ela abriu os olhos e se levantou, de tanta raiva que sentia. – Onde ela está e como tirá-la de lá, onde devemos passar a noite, quais os caminhos seguros, mas mesmo assim você é completamente EGOÍSTA e MESQUINHO por não querer ir lá! – NÃO SOU! – E ainda mais por um motivo completamente RIDÍCULO, o que só pode significar que você é um COVARDE! E que você não está nem ai para a minha mãe.

Não estou nem aí para a sua mãe?! Acabei de entregar meu Pokémon mais forte e leal! Ele pode se machucar nessa missão de resgate e você tem a cara de pau de dizer que eu não me importo?!

— Não fale de mim sem me conhecer, pentelha. – não consigo segurar as palavras. – Não sou covarde, e se eu não quisesse que sua mãe voltasse a salvo não permitiria que vocês levassem meus Pokémons e já teria expulsado você da minha casa há muito tempo.

Menina idiota! Eu quero que a mãe dela fique bem! Não percebe?! A simples ideia de que ela possa estar sofrendo acaba comigo.

— Não me importo com as suas desculpas! Será que você não percebe que precisamos de você nisso? Minha mãe precisa de você, seu débil! EU preciso de você! Todos nós precisamos. – ela sussurrou o final. Não fale assim, mini, por favor. Não torne tudo tão mais difícil… por favor, mini. – Por favor. – ela tinha os olhos marejados, como eu. Tento olhar pra cima. Não posso vê-la chorando. Não posso ver a mini chorando, porque é quase como ver a minha Misty chorando. E eu não aguento isso. Ela respirou fundo e continuou. – Por favor, vá com nós, Ash.

Eu não consigo responder nada por vários segundos. Fico apenas encarando-a, tentando me controlar. Como ela consegue ter tanto poder sobre mim? Como ela consegue fazer com que eu me sinta um monstro, sendo que tudo o que eu to fazendo é o melhor?

Eu não posso ir. Se eu for, vou acabar espancando o Rudy. Vou… vou me iludir de novo, pensando que, ao ser o herói da Misty, ela vai me querer de volta. Por que ela não entende que eu simplesmente não posso me desiludir de novo com a mãe dela?

Como se não aguentasse ficar ali nem por mais um segundo, ela saiu correndo em direção ao jardim. Segurei as lágrimas que queriam sair com dificuldade. Como ela podia dizer tudo aquilo, se nem ao menos compreendia o que estava acontecendo?

Brock foi o primeiro que conseguiu ter uma reação.

— Crianças, vocês poderiam…

Ele nem precisou terminar de falar, todas correram porta afora atrás de Yuki.

— Ela nunca foi assim. Jamais perdeu o controle de suas emoções – Violet parecia completamente pasma, e percebi que estava louca para correr atrás da sobrinha.

Como uma criança não perde o controle de suas emoções? Crianças nem ao menos deveriam saber controlar alguma coisa.

— Calma, acho que ela precisava extravasar, deve ser muito ruim isso tudo que está acontecendo. Admiro-me que ela demorou tanto para gritar e chorar. – Paul respondeu, olhando diretamente para mim.

Acha que eu não sei? Acha realmente que eu não percebi que ela só tem seis anos e que o pai sequestrou a mãe dela… é… acho que eu não tinha pensado por esse ângulo.

Se meu pai voltasse quando eu tinha seis anos e simplesmente sequestrasse a minha mãe, acho que eu surtaria. Como ela aguentou até agora?

— Concordo, Misty é muito importante na vida de Yuki. – Dawn complementou, também olhando pra mim.

Parem com isso, por favor! São tão cegos assim que não percebem que as coisas que ela disse já me doeram o suficiente?

— Estou preocupada, não sei o que pode acontecer a partir de agora. Antes parecia impossível achar a Misty, mas agora que sabemos de tudo isso… tenho medo de que a encontremos, mas não consigamos salvá-la. – May também olhou para mim.

Parem com isso! Vocês vão conseguir salvá-la, eu estou mandando Pikachu junto! Ele vai salvá-la.

— Gente, pensamento positivo! – Dayse tentou ser a animada, visto que Lily parecia a ponto de começar a chorar. – Agora que sabemos, nós devemos ir! Imediatamente! Não entendo o que ainda estamos esperando. Ash você ainda tem o Lapras?

Parabéns, vocês venceram.

Querem mesmo que eu vá e estrague com tudo? Eu vou! Só espero que fiquem bem felizes depois, quando eu estiver em pedaços e a Misty também. Ou realmente acham que algo bom pode sair desse reencontro? Realmente acham que eu vá conseguir olhar pra Misty com Rudy? E se ele a tiver machucado de verdade, realmente pensam que eu vou conseguir deixar aquela porra de ilha sem fazer nada com ele?

Por que ninguém entende que, sem mim, tudo vai ser bem menos complicado? Que, sem mim, Misty ficará salva e feliz? E comigo ela será apenas salva e quebrada?

— Sim, mas não imaginei que iríamos precisar dele.

Demorei um pouco pra responder. Uma lágrima estúpida escorreu e eu a limpei com raiva.

May desviou os olhos, sabendo que a culpa também era dela.

— Será importante para nós. Assim poderemos ir por mar mais rapidamente… quantas pessoas ele aguenta? – Brock tentou ser objetivo, mas também não conseguia me encarar por muito tempo.

Espero que estejam felizes por terem me quebrado de novo.

— Ele aguenta três adultos e duas crianças, mas se vocês quiserem ir realmente rápido por ele o melhor é ir apenas um ou dois adultos. – pigarreei, tentando deixar a minha voz menos rouca. Tentei sorrir, mas acho que não deu muito certo. – Até por que não queremos ficar muito espremidos, não é mesmo?

— Queremos? Isso significa que você… – não deixei Drew continuar.

— Sim, Drew, eu vou junto. Não posso continuar fugindo do meu passado, afinal ele sempre irá me acompanhar… não importa quanto tempo passe – soltei um sorriso de canto. – Só tenham plena consciência de que as consequências são culpa de vocês. Eu nunca quis ir.

As garotas sorriram e pularam em cima de mim.

Elas ainda acham que tudo acabará como num lindo conto de fadas. Será que não conhecem Misty? Ou eu?

— Se eu soubesse que fariam isso eu mesmo diria que iria convencer o Ash a ir junto – Drew fez um biquinho.

Como todos conseguem brincar com isso? Como conseguem fingir que não sabem que essa merda de resgate vai acabar com a minha vida e, de quebra com a da Misty também?

May me soltou e mostrou a língua para ele, sorrindo, enquanto voltava a me abraçar.

— Certo, já chega. – Paul pegou Dawn pela cintura, provavelmente com ciúmes.

— Anda logo, ainda temos que pegar umas crianças ali fora. – comento com um pseudo sorriso.

Preciso ficar sozinho.

— Sim! – Lily me soltou e voltou a ficar ao lado de Brock.

— Enquanto que eu vou buscar Lapras vocês vão atrás delas.

Todos concordaram com o que eu pedi e saíram da minha casa. Ao vê-los fora, me sentei no chão.

— Pikachu, busque a pokebola do Lapras, por favor.

Ele saiu sem dizer nada e eu permiti que algumas lágrimas escorressem pelo meu rosto. Eu estou fazendo merda. Como eu posso fazer isso?

Mas, talvez, se eu realmente for o herói, ela volte a pensar em mim. Talvez tente me agradecer. Talvez…

Ah, não… eu já to me iludindo de novo! Isso não pode acontecer,

— Eu não vou ter a Misty de volta. Eu não quero isso. – sussurrei para ninguém, tentando convencer a mim mesmo.

Eu não posso querê-la. Não posso.

Limpei minhas lágrimas e me levantei. Pikachu apareceu caminhando; a pokebola em suas mãos. Ele veio devagar para me dar tempo de pensar. Sorri e peguei Lapras, deixando que Pikachu subisse em meu ombro. Parei na porta, quando eu saísse de casa não teria mais volta. Eu estava mesmo pronto para esse reencontro com Misty? Eu iria conseguir olhar novamente para Rudy sem quebrar a cara dele? Misty falaria comigo? Não. A resposta para todas essas perguntas era não.

Respirei fundo de novo e me recompus. Ela não pode me afetar assim de novo, não pode.

— Pika, pikaaaaa pika! Chu chuchu pikaaaaaa “Não se preocupe, tudo vai dar certo! Estarei sempre ao seu lado, Ash!”.

Sorri para Pikachu e lhe cocei as orelhas.

Sim, Pikachu sempre estaria ao meu lado. Com esse apoio de meu melhor amigo senti-me mais confiante e saí de casa. Uma nova aventura estava começando. E eu não conseguia ver nenhum desfecho em que meu coração saísse intacto. Em todos os finais para essa missão, ele estava quebrado. Quebrado, pisoteado e destruído.

Continua…


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Notas finais do capítulo

yooooo amoressss >
amoooo-os demaiiiiis
mandem reviews pliiiiiix
e se for sincera... aceito recomendações com mtaaaa felicidade tmbm ^-^
Bjs e teh + ^3^/

Obs: Acabei de reler esse capítulo, depois de reescrevê-lo, e me deu um aperto no peito... o Ash tá tão triste. Mesmo que eu tenha escrito, só depois de pronto que percebi o quanto ele tá sofrendo nesse momento da fic. E o quanto ainda vai sofrer. Quase senti pena.



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