– Desculpa. – ele diz e fico em silencio. -- Não vai falar nada? – ele insiste.

– Do que serve palavras quando não tem o que dizer? O que eu posso dizer quando a única coisa que sei é que estou me perdendo desse mundo e das pessoas a cada minuto?

– Você não vai se perder.

Entendo que o silencio em que fico todas as tarde, manhãs e noites da maioria dos meus dias seria a melhor demonstração das quantidades absurdas de gritos em minha alma. Que apenas preocupa mais os seres ao meu redor. Sou doentemente louca. E isso nunca foi tão claro. Sou uma humana perdida em pesadelos. Tudo isso em pensamentos aos berros em minha cabeça e chamados abafados de Peeta ecoando pelas paredes.

– Katniss! To falando com você.

– Desculpa... Peeta, eu não consigo. – fico nervosa com meu pensamento.

– Não consegue o que?

– Desculpa. – respiro organizando as palavras.

– Pelo o que?! - diz ele impaciente.

– Por ter tido pensamentos que a morte pode ser melhor que a vida. Mais fácil, simples e tranquila. Por ser silenciosa e calma. Sem surpresas. Apenas eu e eu mesma. Via isso pela minha mãe. Peeta vejo a cena de você morrendo no meu pesadelo toda vez que fecho os olhos. Perco você a cada piscada. Essa droga dessa vida. O que eu ganho? Um dia feliz a um ano péssimo! Uma hora sem lagrimas e berros no resto do dia! Eu não aguento mais essa droga! Me desculpa mas não dá! Já se sentiu assim? Como se estivesse apenas respirando? – digo nervosa.

E vejo pela segunda vez que não adianta tentar manter a pessoa viva se ela já morreu. Já estou morta. Posso ter ficado feliz ontem, mas a tristeza ainda predomina em mim. Estou depressiva, apavorada e com medo dos vultos que passam na minha frente varias e varias vezes. Eles voltaram.

– Você não está morta Katniss. Olha pra mim, Katniss. Você não está morta.

Dou uma pausa. Respiro fundo e os pensamentos escorrem juntamente as lagrimas. Sua mão direita vem em meu pescoço e me arrepio enquanto a outra alcança minha cintura. Sua respiração se mistura com a minha e minhas mãos o puxam mais para perto. Nossos lábios estão para se tocar quando ele para e me olha, cada parte de meu rosto, primeiro olhos. Um tempo a mais de ver o doce céu azul dentro dos dele. Depois bochechas e uma respiração quente cerca o ar. Quando seus olhos chegam a minha boca, os meus chegam à dele e antes que eu possa respirar, lábios estão colados aos meus. Conduzindo-me, me chamando para dançar. Puxo seu cabelo assim que ele vira a cabeça. Ele coloca a mão que estava em meu pescoço no meu rosto e a outra substitui a mesma em meu pescoço. Ele vai se afastando, inspira e expira com a boca. Mais um beijo e acaba com ele mordendo o meu lábio inferior delicadamente. E os gritos em minha mente cessaram, para se tornarem apenas uma frase em resposta para o feito de Peeta: não pare.

Mas infelizmente, meus desejos não se tornam realidade.

Beijo ele mais uma vez e escondo minha cabeça em seu ombro.

– Sinto a falta dela... Muita. De todos. - notas agudas de um aparelho de som preenchem o quarto. Derramando-se pelo chão e atravessando as paredes. E ficamos a manha inteira lendo as cartas. Depois de algumas horas, conto 23 cartas que foram entregues e roubadas por alguém.

Alguém... Quem poderia ser?

– Tem uma grudada na caixa. Ou melhor, duas. – diz Peeta.

Inesperadamente, a coisa mais improvável acontece. Finnick Odair seria então o ladrão de todas essas cartas.

"Katniss,

Faço esta carta no dia da invasão da Capital. Espero que ela chegue a você. Prezo que a levem para você mesmo que eu morra lá e que tudo seja perdido. Há uma caixa, de cartas que roubei da sala da Coin. Ela está embaixo da minha cama escondida dentro de uma mala que digo ser de coisas minhas antigas do 4 que eu amava, bom... Uma parte dela é, a outra são das cartas. Não me intrometi a ler, as peguei depois que ouvi eles falarem sobre sua mãe ir para a Capital e achei que seria importante se você soubesse mais. Não paro de pensar em Annie... Ela está grávida! Mas que milagre para minha vida é isso. Eu como pai... Não consigo imaginar, acho que irei pirar quando pegá-lo no colo e ver o sorriso de Annie em um outro corpo com meus olhos. A ansiedade de chegar logo em casa depois dessa operação está me deixando louco. Quero chegar, abraçá-la e dizer que a amo. Que estou novamente em casa. A vontade de ficar e não ir é imensa, mas não posso fazer isso. Espero que de tudo certo lá. Me prometa que ficará de olho no meu pequeno desconhecido caso eu não volte e que ajude Annie, sei que será duro demais para ela isso. Te desejo toda a felicidade que conheço. Estou a espera de ver você nos visitando no quatro. Quem sabe não ensino seus filhos a pescar e a gostarem de torrões de açúcar? Um abraço ao Peeta, que você entenda que ele nunca ousou pensar em “mas” quando pensava em você.

Finnick".

Sinto um aperto imenso em meu peito quando termino de ler. Coloco a carta junta a mim e respiro fundo. Olho para Peeta e ele me abraça, coloco apenas minha cabeça em seu ombro.

– Ele era um bom amigo. – diz Peeta friamente.

– Não foi você... Ele morreu porque não teve escolha! Poderia ser qualquer um lá! – falo impaciente.

Ele abaixa a cabeça e abraço ele da mesma maneira de antes.

Ele continua sério. Provavelmente pensando que se ele não estivesse lá, Finnick estaria aqui.

– Para de pensar que a culpa foi sua.

– Não dá, ta legal? Fui eu que revelei nossa localização no túnel. Fui eu que falei pra eles! – ele sai da cama e soca a parede. – Sai de perto de mim! Saia! Não fui apenas você que matou pessoas inocentes. Eu também matei. E se eu quisesse? Enquanto você tem pensamentos de suicídio eu tenho de culpa.

Seus olhos se viram para mim, apavorados e vermelhos. – Ele a amava não é? Annie? E o que eu disse no 13? “Cuidado, posso tirá-la de você.” Você lembra? E se eu queria que ele morresse! – ele bate na cabeça com a palma da mão fechada. – Que ridículo. Matei quem escolheu me deixar vivo.

Ele se vira batendo pelas paredes e me da um último olhar antes de entrar no quarto das pinturas.

– O que foi que Snow fez... – falo sozinha. Destruiu sua vida, Katniss. Apenas isso. Matou Finnick, fez Coin matar Prim, mudou Peeta e fez da sua vida um inferno. Apenas isso. Era tudo parte do plano. Tudo parte do sistema do qual derrubei.