– Não eu... – uma pausa repentina me segue. – Não poderia. Não posso.

– Mas iria? Digo, se não fosse pelo garoto ali?

– Iria, você sabe que sim.

– Diga que irá para a floresta. E venha ver ele. Ele precisava te ver e falar com você.

– Agora?

– Sim. Ande logo.

Assim possuída pela vontade de revê-lo e pela imensa vontade de voltar a ser tudo como antes minto para Peeta e vou para a floresta, ultima coisa que vejo é Peeta caminhar até a padaria.

O encontro parado em uma arvore.

– Gale? – falo.

– Oi. – ele responde.

– Oh meu Deus, Gale! O que você estava? E aquela carta? Eu não sei o que pensar quando olho para você.

– Talvez isso ajude. – ele me beija, tento me soltar, mas seus braços me cercam e me forçam a permanecer junta a ele. Um beijo desesperado e rude, mas o que seria isso? Eu estou gostando? Definitivamente. Sempre senti algo por Gale. Mas não como sinto por Peeta.

– Gale eu já disse que não quero mais isso. – falo me afastando.

– Desculpe. Sabe que eu ainda te amo não é?

– Sim, sei.

– Por que me trocou por ele? – ele fala virando de costas para mim.

– Não te troquei. Mas...

– Precisa dele e não de mim.

– Sim. É ele... Gale, eu te amo também, mas não é a mesma coisa.

– Me ama?

– Não da maneira que você espera que eu ame.

– Tudo bem... Desculpe por sua mãe.

– Eu estou melhorando. – digo limpando meus olhos inúteis e úmidos. Parece que eles só servem para derramar lagrimas. Grande utilidade deles. Ele vem até mim e me abraça. Me junto a ele e mais lagrimas se escorrem.

– Você está bem? – ele fala. Apenas um pensamento passa pela minha cabeça “Peeta não precisaria perguntar, ele saberia sem que eu precisar falar nada”.

– Sim – minto fazendo uma pausa e saindo de perto dele. – Agora que estamos cara a cara, preciso perguntar uma coisa que não tive coragem de falar na carta...

Ele me olha apreensivo.

– Gale, foi a sua bomba? – abaixo a cabeça chorando.

– Katniss... – ele faz uma pausa e a resposta vem a seguir. – Eu estaria mentindo se dissesse que não.

Me sento no chão e abraço as pernas escondendo minha cabeça no vão entre meu tronco e elas.

– Desculpa, eu não sabia que ela estaria lá...

– Mas sabia que ela poderia estar, e isso só piora as coisas... Mas... Deixa para lá. Quer jantar em casa? – pergunto me levantando e colocando as mãos nos bolsos.

– Mas... O Peeta não está lá? – ele diz com desprezo.

– Ele ta bem,não tem problema.

E partimos para casa logo quando o sol deitou-se no horizonte. Pessoas olhando para Gale e eu me faz ficar brava, o que passa na mente delas? Estou traindo Peeta com Gale? Provavelmente. E pensar que certa vez isso realmente aconteceu... Abro a porta e encontro Peeta sentado na mesa colocando os pratos.

– Mais um prato, Peeta. Temos visitas. – digo entrando.

Ele se vira para mim e seu sorriso se torna uma expressão de raiva com tristeza, obviamente, eu procurei isso. E como sempre, a culpa foi minha. - Muito inteligente da sua parte convidar ele para jantar... – ele diz pegando um pranto e jogando-o em cima da mesa.

– Peeta... Nao foi culpa dele. – digo para Peeta, mas ele ignora. A principio pensei que ele teria raiva apenas pelo Gale ter sempre insistido para eu ficar com ele e também por ele ter matado Prim, mas percebo que isso não é apenas sobre mim. Peeta acha que foi culpa do Gale sua família ter morrido. Ele acha que ele os deixou de propósito. Eu mesma tenho duvidas, seria crueldade demais isso, mas Gale passou dos limites antes e agora nada mais me surpreende de ambas as partes.

– Não foi? Ata. Como se eu acreditasse nisso.

– O que você ta falando? Aquilo foi um engano!

– Belo engano! Jogar bombas nas crianças. Isso é doentio, vocês iriam matar elas! Vocês as mataram! E mataram Prim também! E não só isso... – ele faz uma pausa. - Você é pior do que eu pensava.

– Doentio? Pelo menos não fui eu que matei Finnick! Foi você que gritou para os bestantes e matou ele! E depois eu sou o doentio? Você quase nos matou, metade do esquadrão morreu por culpa sua! E ainda tem a coragem de falar que eu sou pior que você? Você ia matar a Katniss!

– Você não sabe nem um terço do que eu passei!

– Sei sim! Injetaram em você o veneno e você matou todos.

– Eu estava fora de mim. Eu estava telessequestrado. Eu só soube o que era certo e errado depois. Não fui eu que estava conscientemente bem esperando os paraquedas explodirem na Capital. Era tudo o seu plano. Você estava com as cartas escondidas. Você pode falar o que quiser, mas você é bem pior do que eu sim. Você queria isso. Diferente de mim, já que eu não tive escolha. Eu não tive a escolha de morrer. Snow não me deu esse privilégio. Ele queria que eu sofresse. Você teve todas as escolhas que queria. Até a de ficar com ela, mas não. Era fácil demais para você. Só matando metade dos moradores da Capital que talvez você se tornasse digno de ficar com o Tordo... Você não teve coragem de falar que estava errado. Pelo menos, eu tive.