Love is Redemption escrita por fairylady N


Capítulo 4
Emptiness Is All You Know


Notas iniciais do capítulo

Um pouco atrasado, mas praticamente o dobro dos capítulos anteriores. Espero que gostem, esclarecimentos e outras coisas lá embaixo :)



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O garoto estava sentado no banco de madeira encostado na parede externa da sala do diretor. Quando Emma se aproximou o suficiente perto ele lhe concedeu um meio sorriso culpado erguendo suas sobrancelhas, mas não disse uma palavra para tentar se explicar. Emma havia escutado vagamente o que a mulher que se identificara como professora de Henry havia falado no telefone, mas sua cabeça tão cheia de pensamentos embaralhados e difíceis de digerir não conseguira absorver praticamente nada do que havia sido lhe dito.

Estava pronta para pedir que Henry lhe contasse de sua própria boca, quando uma mulher morena e esguia abriu a porta da diretoria com um sorriso contido em seus lábios. Emma ajeitou uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha e melhorou sua postura, tentando parecer mais como uma mãe de aluno deveria parecer. Sua aparência não lhe permitia muito isso e na maioria das vezes as pessoas a julgavam irmã de Henry em primeiro contato. Emma lamentava em parte por isso; talvez se sua figura soasse mais maternal, isto refletisse em seus próprios sentimentos sobre o assunto.

– Emma Swan? – Se dirigiu a ela. Emma concordou com a cabeça, e a mulher alargou ainda mais seu sorriso receptivo. Depois de uma olhada rápida de Henry para novamente para ela, a mulher abriu espaço para que entrasse na sala com ela. Emma ainda deu uma rápida olhada em Henry tentando detectar alguma expressão em seu rosto mas o garoto estava impassível, como quase sempre aparentava estar há meses; por fim entrou na sala e sentou-se na cadeira indicada pela mulher, enquanto ela se sentava na outra cadeira do lado oposto do móvel.

– Bem, senhorita Swan diria que estou surpresa que seja mãe de Henry. Não diria que são mais do que irmãos... – Começou a mulher tentando soar gentil, mas Emma já havia tido o bastante de questionamentos sobre sua maternidade por dia. Cortou-a desconfiando ter soado um tanto quanto rude quando tomou a palavra para si:

– Porque fui chamada até aqui? – O sorriso no rosto da mulher murchou consideravelmente, e Emma teve certeza que havia soado rude quando a professora pigarreou apoiando os cotovelos sobre a mesa e o queixo em suas mãos entrelaçadas.

– Henry tem tido desentendimentos com alguns garotos da classe. – Foi direto ao ponto. – Ele não se mistura muito com os outros alunos, nem com ninguém. Parece sempre distante...

– É só o jeito dele. – Defendeu Emma. – Ele é bem na dele. Me desculpe, mas Henry nunca me deu esse tipo de problema... Ele não é o tipo de criança que se mete em encrencas.

Emma tinha plena certeza disso. Agradecia todos os dias por seu filho não ter puxado seu temperamento tempestuoso e a tendência que ela tinha em se meter em problemas em sua juventude. Henry era brando e sensato; muito reservado até mesmo para ela. Em especial nos últimos meses sua característica se intensificara, e era muito difícil arrancar qualquer coisa que ele escondia por detrás de seus olhos pensativos.

– Estamos passando por uma fase difícil, acho que Henry está tendo um pouco de dificuldade para se adaptar. – Concluiu achando que isto seria o suficiente; Emma não tinha muita experiência em lidar com docentes. Na verdade, nas reuniões do último ano ela costumava apenas ir e ficar sentada escutando sobre projetos escolares e conferindo as notas de Henry, as quais ela nunca tivera problema.

– Vocês acabaram de se mudar? – A mulher perguntou absorvendo suas palavras e inclinando-se para frente. Ela parecia interessada, Emma poderia agradecer sua preocupação, mas naquele dia ela só queria que tudo terminasse logo e ela pudesse voltar à segurança de sua casa, onde tudo era normal e confortável, e ela pudesse esquecer todas as questões levantadas pela morena, mais cedo.

– Sim. – Disse, mas ao perceber que a mulher mantinha-se esperando mais detalhes, prosseguiu. – Viemos de Boston, nos mudamos há alguns meses.

– Henry tem alguma família lá? – Exclamou ela, interessada o bastante para Emma sentir-se desconfortável.

– Não. Somos só eu e ele. Sempre foi.

– Nenhum contato com os avós, os tios ou... – Continuou ela como se não tivesse ouvido sua última resposta, soando meiga, porém ligeiramente intrometida.

– Não. Por qu-

– Tem certeza disto?

– Bem, eu acho que não poderia esquecer uma coisa dessas, não é? – Aquilo havia conseguido deixá-la seriamente irritada, agora. Por melhores que pudessem ser as intenções da professora Emma não gostava de falar sobre sua vida pessoal, ainda mais interrogada daquela maneira.

Estava aturdida demais ainda com todas as revelações de Regina, por mais insanas que estas haviam sido. Por mais que se negasse a sequer considerar as palavras da mulher seu cérebro não conseguia somente descartar as coisas que falara, como seria sensato. Algumas coisas não haviam como ser explicadas, como Regina saber as lembranças de Henry pequeno, e por mais que isso a intrigasse Emma tinha quase certeza que preferia não saber mais nada sobre aquilo, porque quanto mais sabia mais a história de Regina, por mais impossível que aparentava, parecia ter cero sentido.

– Escuta, senhorita...

– Nancy. – Disse a mulher após um momento, seus olhos azuis estudando o rosto de Emma.

– Certo. Senhorita Nancy. Sei que a senhora deve ter percebido que Henry não é o tipo de menino encrenqueiro. – Seu tom claramente anunciava que Emma pretendia encerrar a conversa em breve. Queria ir para casa, queria seu filho, queria certezas em sua vida. – Não sei o que deve ter acontecido, mas eu lhe garanto que vou conversar com ele e lhe dou minha palavra que isto não irá se repetir.

– Eu posso ajuda-la senhorita Swan...

– Não, não pode. – Disse Emma com um sorriso educado, porém seu tom não admitia mais discussões. – Eu sou a mãe dele, eu vou resolver isso. – Esperava que ao verbalizar aquilo em voz alta, ela conseguisse diminuir sua própria insegurança sobre o assunto. – Muito obrigada por sua preocupação, é muito gentil da sua parte.

Emma se levantou ciente dos olhos insistentes da professora acompanhando cada movimento seu. Ela se sentiu desconfortável, mantendo um sorriso sem graça mesmo quando estava de costas para a mulher. Sentiu-se levemente culpada por não ser agradável quanto a mulher havia sido, mas Emma nunca fora; era péssima com as pessoas pra falar a verdade. Sempre desconfiada, sempre na defensiva, ironicamente suas defesas costumavam cair para as pessoas erradas. O pai de Henry o mais notável, responsável por quase ferrar toda sua vida de uma maneira sem volta, e porque não citar Regina mais recentemente que em apenas algumas horas transformara sua cabeça num caos ambulante.

– Henry é um garoto muito especial, vou ajudar como puder. Eu ficarei de olho nele. – Disse a mulher morena ainda, Emma estava distraída e não percebeu que a mulher já estava logo atrás de si. – Eu ficarei de olho nele e garantir que não arranje mais problemas.

Emma a fitou por um momento com as sobrancelhas franzidas de estranhamento. A mulher alargou ainda mais seu sorriso generoso; Emma tinha que admitir que as professoras das escolas públicas de NY eram altamente dedicadas aos seus alunos atualmente. Em sua época o máximo que ela ganharia por brigar na escola seria uma suspensão e um olhar de reprovação dos professores pelo resto do ano, como se precisasse de mais motivos para se sentir um erro.

– Obrigada, mais uma vez pela preocupação. – Emma lhe concedeu um sorriso agradecido. Enquanto estava atravessando a porta seus olhos varreram o chão distraidamente e ao passarem pelos sapatos da mulher Emma viu uma última e tardia oportunidade de retribuir alguma gentileza daquela mulher tão prestativa:

– Belos sapatos.

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Emma não era muito boa em lhe repreender. Ele nunca dera muitos motivos, no entanto, mas mesmo quando se esperava uma postura um pouco mais censuradora de sua parte ela não correspondia muito bem a estas perspectivas. Então o garoto não ficou muito surpreso quando ela saiu da sala do diretor seguida por sua professora que logo lhes deu privacidade – Provavelmente esperando que fosse este o momento em que o garoto levaria uma longa e boa lição de moral da mãe, como a maioria das crianças -, o mais próximo de ser uma reprimenda de sua parte foi a tentativa falha de um olhar severo em sua direção, e mãos postadas na cintura.

– Sério?

– Desculpe – Henry disse lhe dando um meio sorriso arrependido encolhendo os ombros, e isso foi o suficiente para Emma abandonar sua postura rigorosa como se livrasse de um peso; Henry suspeitava que ela se sentisse menos confortável do que ele quando tentava agir assim.

– Tudo bem, garoto. – Disse com um tapinha em suas costas. – Vamos para casa.

Andaram lado a lado no corredor em silêncio até Emma lhe pedir para que a esperasse um instante enquanto ela iria no sanitário feminino. Ele encostou-se na parede encarando o livro do topo do monte em que segurava. Henry havia lido boa parte da obra em sua detenção, e pra falar a verdade havia achado um saco.

Era apenas uma história muito infantil; do tipo que se liam para as crianças pequenas antes de dormir. Henry não costumava desprezar livros, na verdade a maior parte de seu tempo era ocupado com leitura sozinho em seu próprio quarto, mas já fazia algum tempo que Henry havia trocado literatura fantástica por obras policiais e de suspense. Do que adiantava ler histórias sobre garotos bruxos, ou filhos de deuses gregos com suas vidas extraordinárias quando sua própria vida era previsível e sem graça? Henry não acreditava em fantasias, não existia nada de fantástico na sua vida.

– E aí cabeça de vento. – Henry foi surpreendido pelo grandalhão ruivo, acompanhado por mais dois garotos altos de sua sala que costumavam andar com Bruce. O garoto estaria mentindo se dissesse que não se sentiu acuado, apesar de tentar o máximo não demonstrar isso para Bruce e seus amigos.

– Como foi a detenção?

Henry abriu ligeiramente a boca, prestes a soltar um comentário infame, mas não se permitiu tal coisa. Ele não era um covarde, mas também não era idiota. Não era sensato uma provocação direta aos garotos – todos maiores e mais fortes que ele –, não quando estava em desvantagem numérica e em um corredor deserto onde Bruce poderia fazer o que bem entendesse sem que ouvissem. Claro que tinha sua mãe há apenas alguns metros e algumas paredes, mas a imagem de sua mãe o protegendo era quase tão inadmissível do que ser espancado por eles.

– O que foi, hein Swan? Perdeu a língua? – Disse fazendo os outros garotos darem risadinhas e soltarem guinchos debochados. – Vou te ajudar a encontrar, quando eu for procurar meu cérebro...

– Hei, garotos. - Henry poderia prever muitas coisas desagradáveis que poderiam ter lhe acontecido naquele instante se sua mãe não tivesse saído do banheiro naquele momento e se posto ao seu lado. Ele estava agradecido por Emma não ter parecido notar o que se desenrolava à sua frente. Os garotos observaram sua mãe quase tão surpresos quanto o próprio Henry deveria ter aparentado quando os garotos o surpreenderam.

– Uh... Eu... Hã... A gente se vê cab- Henry. – Disse se afastando. Henry não fez contato visual com ela, mas sentia seu olhar insistente sobre ele. Depois de alguns segundos ela perguntou:

– São eles? – Ele não precisava que ela terminasse de falar para saber do que se tratava. Sabia que mentir para Emma era uma perda de tempo, então preferiu manter-se em silêncio, mas isto foi o suficiente para ela considerar uma afirmativa.

– Eu vou falar com eles... – Disse fazendo menção em mover-se na mesma direção que os meninos haviam seguido, mas Henry se pôs em seu caminho, bloqueando sua passagem com seu próprio corpo, suplicando-lhe com os olhos.

– Por favor, não. – Emma o encarou e tentou avançar por sua direita, mas o garoto previu seus movimentos e foi mais rápido. – Por favor, Emma não faça nada! Foi minha culpa! Fui eu quem provoquei!

Emma o escutou, mas tinha uma expressão que duvidava do que ele lhe dizia. Deu um suspiro derrotado, que Henry reconheceu como um sinal de desistência e fora a vez dele soltar um suspiro de alívio.

Henry agradeceu o fato de Emma não ter falado mais nada desde que saíram do colégio. Torceu para que esta conversa fosse definitivamente esquecida, mas se decepcionou: Emma escolheu retomá-la no bug enquanto estavam no caminho de volta pra casa.

– Sabe garoto, quando eu tinha sua idade eu costumava a ficar amiga da galera mais alta. – Henry que estivera concentrado olhando pela janela desde que entraram no carro, voltou-se encarando a loira que continuou a falar sem tirar os olhos do trânsito. – Assim eles não pegavam no meu pé, e me defendiam de outras galeras mais altas.

Henry não emitiu som algum. Sua mãe estava mesmo sugerindo aquilo que ele estava pensando que ela estava? Que ele se tornasse amigo de meninos como Bruce Mitchell? Qual era o problema dela? Porque ele faria isso? Bruce Mitchell era um completo babaca, Henry achava mais fácil se comunicar por sinais com um babuíno do que trocar duas palavras com o outro garoto.

– Por que não tenta isso? – Ela realmente estava. Henry lhe cedeu um olhar incrédulo que ela não percebeu. Poderia dar mil motivos que lhe provasse que aquela era uma ideia no mínimo absurda, mas como sempre escolheu a que lhe rendiam menos palavras.

– Eu acho que não.

Som do silêncio misturado com o motor barulhento do bug e as buzinas do lado de fora. Henry preferia assim, não tinha muito oque conversar com Emma; não tinha muito oque conversar com ninguém na verdade. Não tinha muito oque expressar, na maioria do tempo o tédio era quem dominava sua vida. Não havia grandes emoções, nem grandes sentimentos. Apenas um grande vazio; Henry as vezes se sentia tão seco e preto e branco como as páginas dos livros que lia, e também sabia que isso fazia Emma se sentir culpada. Ela era uma boa mãe, se esforçava muito para isso e fazia o máximo para estabelecer uma forte ligação com ele, o problema não era com ela. Henry era esperto o suficiente para saber disso.

– Quer conversar sobre isso? – Henry já estava absorto em seus pensamentos, quando mais uma vez Emma despertou-o. Ela o olhava pelo canto do olho com um sorriso fraco. Henry apenas negou com a cabeça, e ela assentiu parecendo chateada, mas não questionou sua escolha. Henry agradecia por isso, Emma não exigir nada dele, apesar de ele as vezes chegar a conclusão de que os motivos disso eram a própria Emma se encontrar em uma situação não muito diferente da sua.

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– O que é isso aqui? – Henry lhe chamou a atenção quando ela se arrastava nos últimos degraus até o andar de seu apartamento. Seu coração pareceu querer atravessar sua garganta quando ela viu o embrulho aveludado de formato retangular sendo avaliado por seu filho.

Emma adiantou-se tropeçando nos próprios pés e arrancou o pacote das mãos do filho com certa urgência. O garoto lhe lançou um olhar intrigado, Emma abriu a boca duas vezes buscando respostas que poderia lhe oferecer enquanto ela mesma buscava explicações em sua própria cabeça. Como aquilo havia ido parar ali? Bem, ela não era tola pra não presumir quem o deixara ali, mas quando e como? Não estava ali quando ela havia retornado para buscar as chaves do bug, antes de ir buscar Henry na escola. Regina devia tê-lo deixado lá neste intervalo de tempo. Algo se agitou em Emma, quase como se seu estômago estivesse se contorcendo em pensar que talvez Regina ainda estivesse por perto. Uma mistura inexplicável de ansiedade em vê-la novamente, com o medo do que aconteceria caso ela visse Henry, e as coisas que falaria para ele.

– Emma?

– Eu... Eu não sei! Devem ter deixado aqui por engano. Vai ver erraram o endereço. – Emma disse casualmente, enquanto abria a porta do apartamento.

– Mas não tem nenhum endereço de entrega. – Pontuou o garoto enquanto atravessavam o hall de entrada até a sala. Às vezes o fato de seu filho ser tão esperto chegava a ser um fardo para Emma.

– Bom, talvez seja de algum dos vizinhos. – Escorregou Emma, deixando o livro sobre a mesa de jantar. – Vou perguntar à senhora Tripplehorn mais tarde.

Henry assentiu. Já estava na direção de seu quarto como sempre, Emma já suspirava aliviada e ao mesmo tempo ainda intrigada. Deu uma olhada pela janela, tentando identificar a figura feminina pelos arredores do prédio, mas não encontrou nada. Suspirou aliviada, mas não pode impedir um ínfimo desapontamento.

– Você não vai abrir para ver o que é? – O garoto a surpreendeu ainda estando na sala. Parecia estar interessado, e Henry raramente se interessava por alguma coisa. Emma por um momento ponderou contar toda a história maluca sobre a estranha que batera em sua porta e toda sua história mirabolante. Poderia ser divertido, talvez render mais do que a maioria das breves conversas que tinham. Poderiam rir juntos do quanto tudo aquilo era insano. Emma nem sequer lembrava-se do som da gargalhada de seu filho, já fazia tanto tempo que Henry não sorria com vontade...

– Acho melhor não. – Respondeu ela. – Não acho que seja legal abrir uma coisa que não é nossa.

Henry apenas assentiu e desta vez se foi definitivamente em direção ao seu quarto. Emma se sentiu uma covarde e desonesta por não lhe contar a verdade, mas não se sentia segura o suficiente para tal. E se Henry acreditasse? Para ser sincera Emma duvidava muito disso, seu filho era esperto e não era muito impressionável, mas apenas pensar na possibilidade que ele a considerasse menos mãe, ou ainda despertar o desejo nele de que ela não fosse a assustava. Emma podia ter sido rejeitada por quase todos que entraram em sua vida, mas não por Henry. Nunca por Henry.

Sentou-se em uma das cadeiras dispostas em volta da mesa e trouxe o embrulho para si. Com um olho atento na direção do quarto de seu filho, Emma mais uma vez naquele dia desfez o laço que mantinha o embrulho fechado, e deslizou o tecido para se deparar com o grosso livro de contos de fadas que Regina havia lhe dado. Não sabia o que pretendia, quando mais uma vez folheou o livro, mais atenta as figuras do que realmente à escrita: Passou pela página onde seu suposto pai despertava sua mãe com um beijo do amor verdadeiro, algumas páginas depois ambos de pé, perto um do outro, mais algumas páginas Snow White com um bebê em seus braços e lágrimas de felicidade escorrendo por seu rosto alvo, e mais adiante a figura poderosa com seu olhar inabalável, e poderoso a Rainha Má. Ou Regina, no caso.

Emma esteve tão concentrada na imagem, notando cada traço da imagem e encontrando várias semelhanças curiosas com Regina que apenas depois de alguns minutos notou uma nota de roda pé escrita à caneta por uma caligrafia caprichosa no canto esquerdo da página. Números, uma sequência deles. Um número de telefone. Uma leve ansiedade lhe atingiu como uma brisa suave que escapa por uma fresta na janela, no entanto Emma não sabia o que fazer com aquilo – o sentimento e o número. Fechou o livro com maior força do que pretendia, fazendo o eco seco ressoar pela casa; Emma conferiu se a curiosidade de seu filho havia sido desperta, mas não notou nenhuma movimentação se quer na direção de seu quarto. Provavelmente estaria entretido demais lá dentro com Charlotte.

Decidida a deixar de lado todo aquele assunto que insistia em lhe perseguir, Emma levantou-se, e caminhou até a cozinha trazendo o livro consigo. Provavelmente a melhor ideia seria jogá-lo fora, no entanto ela não fez. Largou-o na bancada enquanto se ocupava em tirar a comida pronta do freezer e coloca-la sobre o fogão. Emma tentou o máximo afastar qualquer pensamento sobre o assunto, mas antes que se desse conta já se via olhando para o livro, por vezes quase abrindo-o novamente. Se viu irritada consigo mesma por ser tão convencível, por se deixar influenciar por aquela desconhecida e permitisse que ela plantasse incontáveis dúvidas em sua cabeça, por tê-la seguido em primeiro lugar.

No entanto não conseguia achar nenhum arrependimento dentro de si por isso: Por mais que viesse carregando uma tonelada de problemas e sacudido dúvidas em sua cara como se sacode um tapete empoeirado, Regina havia dado um certo movimento em sua vida estagnada. Às vezes Emma achava que poderia desaprender a ter grandes emoções como amor, raiva, ou até a preocupação. Tinha medo de estar convivendo tanto tempo com aquela indiferença a tudo e todos – exceto Henry, obviamente – que não conseguiria mais sentir nada relativamente forte por nada nem ninguém.

Regina viera provando que ela estava errada. Aquela história havia a perturbado fortemente, e estava incrivelmente curiosa e preocupada com tudo aquilo. Não havia uma único resquício dela que acreditasse naquele papo de contos de fadas, mas a parte de saber tanto sobre Henry havia sido impressionante. Antigamente Emma já teria se jogado de cabeça naquela história, seguido Regina, descoberto o nome de seu animal de estimação quando era pequena, mas não agora. Emma Swan era uma mãe, Henry deveria sempre vir em primeiro em suas decisões; e o melhor que ela podia pensar para ele era mantê-lo longe de toda aquela história confusa que talvez sua cabeça infantil não fosse capaz de discernir. Sim, era o melhor. Era o mais fácil.

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Eles haviam visto. Henry podia ouvir os passos pesados provavelmente um corredor atrás. O garoto apertou o passo ainda mais, segurando firmemente a alça da mochila: Era intervalo de aulas, ainda tinha alguns minutos se escondendo como fizera nas trocas de aulas anteriores. Ele evitara andar no meio dos corredores, e tentara se manter no meio da multidão de alunos nos corredores tentando ser discreto o suficiente para evitar a atenção de Bruce Mitchell e seus comparsas, até aquele momento, quando Henry se arriscara um pouco mais em busca da garota punk para que pudesse lhe devolver seu livro, e então foi enxergado pelos olhos pequenos e redondos, que fazia Bruce Mitchell ter uma leve aparência suína.

Não havia para onde ir, fugir era apenas uma maneira de adiar seu fim. Já podia ouvir os passos cada vez mais perto, e o corredor para onde ia não tinha saída, apenas uma sala que no momento deveria estar vazia, que seria um lugar ainda mais propício para os garotos acabarem com sua raça. Henry sentiu a adrenalina dominar seu corpo, a cabeça trabalhou rápido: Correu os olhos à sua volta procurando uma rota de fuga ou um lugar para se esconder. Não havia armários abertos, para que pudesse entrar nele, o que era irônico porque eles sempre pareciam estar quando eram para trancá-lo lá; salas vazias estavam fora de cogitação, havia um bebedouro na cena e um banheiro feminino...

Era uma emergência. Não tinha tempo para aquele tipo de pudor, nem vergonha. Mas pensando bem, se fosse pego fazendo algo do tipo, provavelmente levaria uma suspensão, poderá ser expulso. Antes que tivesse tempo de pensar mais sobre o assunto, ou que os garotos se aproximassem o suficiente para ele não ter nenhuma opção, ele prendeu a respiração como se entrasse em uma câmara de gás tóxico, impedindo que a coragem fosse expirada de seu corpo, ele se jogou dentro do sanitário, semicerrando os olhos em uma tentativa de amenizar sua própria culpa, e provar que suas intenções não eram espiar nada, nem ninguém.

Henry soltou o ar de seus pulmões. Para sua sorte o banheiro estava deserto e silencioso. Todos os reservados com as portas escancaradas, Henry respirou aliviado, agradecendo que a sorte estivesse sorrindo para ele pelo menos naquela vez. Mas o alívio durou pouco: Seu corpo todo ficou tenso quando ouviu a voz muito próxima de Bruce perguntando aos outros meninos onde ele – o próprio Henry – poderia ter se metido. Se sentindo ainda desprotegido onde estava, ele entrou em um dos reservados subiu em cima da tampa do vaso e trancou-se na cabine.

Henry não sentiu o tempo passando naquele lugar. Foram minutos, mas para ele poderiam ser horas: Seu coração batia acelerado, a ansiedade se misturando com o medo enquanto ainda conseguia ouvir a voz do menino que rugia lá fora ainda esperando encontra-lo, era quase torturante. Henry se sentiu um estúpido, não só pelo jeito que tinha fugido dos garotos, mas pelo dia seguinte, por ter enfrentado Bruce na sala de aula, por ter reagido. No mundo real não havia heróis, nem recompensa por se fazer algo bom; diziam que o bem sempre vence o mal no final, mas era tudo mentira. No fim a lei que regia o mundo era a do mais forte, e fazia meninos como Bruce dominarem garotos como Henry apenas por sua força. Era um saco.

Henry só se mexeu quando não conseguiu ouvir mais nenhum ruído. Ele desceu do vaso, pronto para destravar a porta e escorregar para fora do banheiro sem que ninguém o visse, seus dedos já tocavam na tranca quando o som fez seu coração bater mais forte do que quando entrara no banheiro. Henry foi tomado pelo pânico, mal conseguia respirar, quanto mais mexer algum músculo. Ainda não havia se decidido se preferia que Bruce entrasse e lhe metesse a porrada ou uma menina e lhe acusar de ser um pervertido e ele ainda sair com uma suspensão em seu histórico. Henry instintivamente se encolheu no chão aproveitando para ver quem havia entrado no banheiro. Henry só precisou ver os sapatos que calçava para ter certeza de quem se tratava: Sua professora Nancy estava de frente para o espelho e de costas para as cabines. Tinha as mãos agarradas ao mármore da pia, seus olhos azuis encaravam o reflexo no espelho com uma ira descontrolada que o assustou; o cabelo quase sempre impecável puxado para trás, estava um pouco bagunçado com fios caindo por seu rosto.

Em um momento Henry ouviu seu suspiro pesado, no outro um rugido inacreditável rompeu pela garganta da professora. O garoto tapou os ouvidos numa tentativa instintiva de proteger os tímpanos, mas os tímpanos foram a menor de suas preocupações quando seus olhos presenciaram o que sua cabeça negava-se a acreditar: O vento entrou tão forte que zumbia; mas não pela janela nem pela porta, parecia ser o efeito do próprio grito da Srta. Nancy que enchia o ambiente fazendo todas as portas fecharem-se e abrirem-se a própria atmosfera parecia um pouco trêmula, como se as ondas sonoras estivessem visíveis à sua volta. Com um estrondo cortante, o espelho à sua frente estilhaçou-se diante de seus olhos, fragmentos voaram em todas as direções fazendo Henry apertar os olhos como reflexo de proteção.

O grito cessou, assim como o vento. Mas Henry achou o silêncio mais perigoso ainda. Ele poderia até aquele momento tentar encontrar alguma explicação forçada que pudesse ser aceita por sua cabeça cética. Mas o que Henry viu a seguir não tinha como ser justificado: Piscou os olhos com força muitas vezes para ter certeza de que o que via não era nenhuma ilusão ótica. Mas não era, os fragmentos do espelho estavam realmente paralisados no ar, como se tivessem parado no tempo no momento em que o espelho quebrara-se. E quando Henry achou que isto era o máximo que sua cabeça poderia ser capaz de assimilar, a criatura que um dia achara ser sua professora ergueu a cabeça, tornando possível ver seu rosto através do cabelo crespo e volumoso que lhe encobria a face.

O rosto jovial da Srta. Nancy havia dado lugar à uma face pálida doentia, como leite azedo, veias azuladas se projetavam desde seu pescoço até as têmporas, como rios em um mapa, os olhos azuis eram fundos e coléricos carregados de ira. As mãos que seguravam a borda do mármore estavam compridas e cheias de veias assim como seu rosto, as unhas amareladas e sujas como garras compridas chegavam a encurvarem-se. Henry observou tudo aquilo apavorado, imóvel e quieto, sua vontade era de correr para muito longe daquele olhar, longe de tudo aquilo que não conseguia explicar, mas não conseguia nem ao menos se mexer. Henry se permitiu respirar.

Foi como se tudo estivesse em câmera lenta: O suave e quase inaudível ruído de sua respiração, os olhos frios e afiados como o aço da professora olhando diretamente para ele através do espelho. Henry perdeu o ar que acabara de inspirar, levantou-se silencioso, e se esgueirou até a parede no fundo do reservado. O pânico se espalhando como um veneno letal quando os sapatos vermelhos da mulher bateram contra o piso e apareceram sobre o espaço inferior da porta, Henry não podia vê-la, mas conseguia senti-la, assim como sentia que seria desagradável ser descoberto por ela. Fechou os olhos com força, preparado para o momento de seu encontro. Era o seu fim...

Mas nada veio. Em vez disso outro barulho mais distante, passos diferentes, provavelmente pertencentes a uma pessoa diferente, pareceu quebrar o momento de tensão. Henry se sentiu como se despertasse de um sonho – ou pesadelo, no caso – até o ar parecia mais leve, não precisou nem olhar para saber que a criatura não estava mais por perto. Sem pensar nem mais um segundo, apenas desejando sair dali o mais rápido possível, descobrir que tudo aquilo não passava de uma alucinação, e foi o que realmente pareceu quando Henry saiu porta a fora e notou o espelho intocável, assim como todas as coisas que haviam voado no meio do vendaval local. Henry estava tão distraído, piscando os olhos com força tentando discernir o que fora real ou não, seus olhos não capturaram nada de incomum, mas ainda sentia seu coração bater acelerado de medo.

– Henry?

A voz lhe despertou. Mais uma vez ela surgira enquanto ele estava perturbado demais para nota-la ao primeiro momento, Henry se virou percebendo agora a presença da garota ali, falando com ele como se achasse incomum sua presença ali. Henry no começo não entendeu seu estranhamento, mas depois de um segundo se lembrou do lugar inapropriado que estava, e sentiu as bochechas queimarem enquanto tentava verbalizar alguma coisa, mas as palavras lhe fugiam pelo nervosismo de ambos os acontecimentos recentes somados.

– Uh... Eu... Uh...

– Está tudo bem? – Ela não parecia realmente se importar com sua presença no local, como sempre seu tom foi animado e gentil. Henry só quis agradecer por ela ser tão adorável novamente com ele.

– Es-Está! Está eu acho... – Mentiu, mas ela era esperta para perceber.

– Não é o que parece. Aconteceu alguma coisa? Pode me contar qualquer coisa... – Disse tocando em seu ombro e Henry só sentiu-se queimar ainda mais. Ela era mais alta do que ele, e ele teve que inclinar a cabeça para encarar seus olhos azuis. Não azuis claros e doentios, como os da criatura que estava no banheiro há alguns segundos atrás, eram de um azul escuro acinzentado quente, amáveis. Ele tinha que admitir ela era bem bonita atrás daquelas roupas anormais: Hoje ela vestia uma meia com furinhos verde lima, com uma saia rodada vermelha e uma camisa esfarrapada azul-marinho. Sobre os olhos gentis tinha maquiagem de diferentes cores – laranja e azul – sobre cada olho. E os cabelos loiros ondulados presos em um rabo de burro alto, quase tão alto quanto o que a senhorita Nancy usava antes de se transformar em um ser demoníaco.

– Não, não aconteceu nada. –Não podia contar à ela. Mal a conhecia e apesar de simpatizar com ela – isto no mínimo – ele não podia lhe contar aquilo, só haviam se visto duas vezes, e ele não tinha como lhe provar. Tudo no banheiro estava intocável. Era como se nunca tivesse acontecido. Talvez não estivesse mesmo... Mas ele ainda sentia um arrepio toda vez que piscava os olhos e sentia a frieza dos olhos azuis cortantes.

– Então o que você está fazendo aqui no banheiro das garotas?

– Eu... Uh, eu não estava espiando! Eu não... Não estava! Só estava... Uh – Era difícil controlar o nervosismo ao mesmo tempo manter a mentira, e principalmente quando a presença da menina o fazia ainda mais nervoso. Mas de uma maneira boa, uma maneira engraçada. Principalmente quando ela riu como fez em seguida.

– Está tudo bem, certo. Mas acho que você deveria ir, Henry. O sinal já tocou e acho que sua mãe não ia gostar de você chegando atrasado na sua aula. – Henry assentiu, já partindo em direção à porta, quando se deu conta do que ela acabara de falar.

– Espera. – Voltou-se para ela novamente. – Como você conhece minha mãe?

– Eu não conheço! Como eu poderia conhecer? Eu sou só uma estudante, eu não conheço sua mãe, Henry... – Ela demorou um momento para responder, mas quando começara a falar desenrolara como um carretel. Se Henry não tivesse escutado ela falando de forma tão rápida e alta antes arriscaria que ela estava nervosa. – Nenhuma mãe gostaria que o filho chegasse atrasado, não é? Só falei isso porque, sei lá. Falei por falar.

– Certo. – Disse não totalmente convencido, mas concordou com ela. Não tinha como ela conhecer sua mãe, Emma só saía de casa à trabalho e nunca vira ela falando mais do que o essencial com ninguém desta cidade. No fim isto era apenas um pequeno detalhe estranho, perto do que presenciara.

Saiu do banheiro e andou pelos corredores ainda tentando digerir o que havia acabado de se passar. Nada fazia sentido, nada parecia real, mas Henry não conseguia se lembrar da última vez que se sentira tão vivo assim. Tanto seu instinto de sobrevivência e o medo real que lhe subiu pela espinha ao se deparar com a criatura, ou a sensação agradável e desconcertante que sentia quando estava perto da garota, apesar dela ser um tanto quanto excêntrica. Era como derramar café ou algum líquido quente em sua roupa, só que era dentro de si. Então algo lhe veio a cabeça, esquecera de lhe devolver o livro, esquecera de perguntar o nome dela; na verdade nem sequer se lembrava de lhe dizer o seu próprio, apesar dela chamá-lo pelo nome.

Correu de volta na direção do banheiro, faltando apenas um corredor para cruzar, quando esbarrou em uma figura grande e sólida. Olhando para cima ele viu os olhos suínos olhando para ele com muita satisfação, assim como soara sua voz lhe dizendo em seguida:

– Te peguei, Swan.

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Emma tinha jurado para si mesma naquela manhã que deixaria para trás toda aquela história. Que fingiria que nunca havia conhecido Regina, ela iria jogar o livro fora e ignoraria aquela curiosidade inquieta que sempre fazia seus pensamentos voltarem para aquela história sem o menor sentido. Emma seria adulta, Emma seria responsável e faria o melhor para o seu filho, Emma não sabia se já nesse momento ela sabia que estava mentindo para si mesma.

Claro que ela preferia encobrir seus interesses próprios com intenções sobre o bem estar de seu filho: Isso a fez pensar que talvez não fosse o melhor deixar tudo para trás e continuar a seguir sua vida normalmente com Henry, porque talvez Regina pudesse abordá-lo, ou bater em sua porta enquanto ela estivesse trabalhando. Sim, esta auto explicação a fazia se sentir muito mais altruísta e muito menos culpada; o que facilitou ainda mais suas ações.

Emma começou procurando o número que ela lhe dera na lista telefônica e surpreendeu-se quando achou mais fácil do que esperava. Era de um hotel, não só um hotel, mas um hotel que ficava há cerca de quatro quarteirões de sua casa. Emma não sabia se deveria agradecer por isso ou ficar ainda amis preocupada com a proximidade que se encontravam de Regina e do outro cara maquiado que talvez – ela supunha – estivesse com ela. Então como sempre, usando seu escudo de justificativas, no caso “É pelo Henry”, Emma partiu em seu bug amarelo e foi fazer o que sabia fazer de melhor: Revelar a Verdade.

Estacionou o bug do lado oposto da fachada do hotel, e apenas esperou como sempre fazia em seu trabalho de detetive particular. Ela tinha a vantagem de Regina não conhecer seu veículo, o que deixou as coisas muito mais confortáveis. Enquanto não houve nenhum sinal de Regina Emma pegou o livro que trouxera consigo dando eventuais folheadas, prestando mais atenção às figuras do que a escrita, como sempre. Conhecia aquelas histórias, e apesar destas serem um pouco diferentes suas essências eram as mesmas. Monstro, brigas, bem vencendo o mal, final feliz, fim. Já estava entediada e o chocolate com canela já acabando quando começou a questionar sua missão. E se o número fosse falso? E se Regina passara o número errado? Não encontrava sentido em Regina fazer algo como aquilo, mas talvez... Decidiu ir até o hotel e ao menos conferir se havia alguma reserva no nome de Regina, ou talvez do cara maquiado, apesar de não se lembrar de seu primeiro nome – a parte marcante e mais hilária foi Hook. Sim ela faria isso, para poupar seu tempo, e como sempre “Por Henry”.

Já havia destravado sua porta, pronta para atravessar a rua, quando a viu. A figura de Regina saindo pela fachada do prédio com seu inconfundível andar de rainha fez uma estranha sensação de ansiedade tomar conta assim como o medo de ser descoberta. Emma se enterrou desajeitadamente no banco, tentando evitar ser vista. Não tinha visão alguma do lado de fora, mas o que importava agora era não ser vista, depois quando estivesse segura ela poderia voltar a tentar espiar Regina...

– Miss Swan? – A cabeça de Regina se inclinava pela janela, ela não parecia sequer surpresa. Merda.

– Regina... Como você...? Como sabia que era eu?

– Sério Miss Swan, não sei como consegue ganhar a vida com um trabalho em que descrição seja fundamental. – Disse dando um risinho irônico. – Além do mais com essa sua banheira amarela ambulante eu conseguiria vê-la do estado vizinho.

Emma não sabia se ficou mais ofendida por ela mesma ou pelo carro. Perguntou-se quem Regina achava que era para criticar seu bug. Era um clássico, era vintage. E apesar dela parecer entender de estilo de andar, estilo de se vestir e mais algumas coisas ela COM CERTEZA não deveria entender nada de carros.

– O que você está fazendo aqui? – Perguntou com uma careta de desagrado, se endireitando no banco.

– O que eu faço aqui? Acho que não sou eu que estou fazendo sentinela na sua porta neste exato momento, Miss Swan.

– Quem disse que estou aqui por você? – Defendeu-se Emma.

– Pelo que mais estaria? – Retrucou Regina, como boa dona da verdade que ela demonstrara ser da última vez que se encontraram.

– Bom... Eu... Uh... Talvez só esteja dando uma volta. – Não pareceu muito convincente até para ela mesma, e pelo sorriso carregado de ironia combinado com as sobrancelhas arqueadas de Regina elas concordavam com pelo menos alguma coisa.

– Sério, se você pudesse ver sua cara agora veria o quanto é uma mentirosa terrível. Não soa amis convincente do que uma criança de cinco anos...

Emma abriu a boca para retrucar, mas Regina já havia abandonado seu posto do lado de fora do vidro do motorista, contornando o capô do carro e indo na direção do banco dianteiro do passageiro. Emma a observou sem reação, a boca abriu-se várias vezes para tentar falar alguma coisa, impedi-la, mas o máximo que conseguiu foi encará-la com indignação.

– Você nunca coloca essa jaqueta para lavar? – Comentou casualmente como se não tivesse acabado de invadir, sim, invadir sem nenhuma permissão seu carro, apontando para a jaqueta vermelha que usava.

– O que infernos?! – Expressou Emma o mais próximo do que sentia. Regina não se surpreendeu, nem se sentiu na obrigação de dar qualquer explicação, em vez disso bufou pesadamente e balançou a cabeça em um tom desaprovador.

– Francamente Miss Swan, ficaria grata se me poupasse de seu vocabulário largado e sujo.

– O-oque você acha que está fazendo? – Sua voz saíra aguda; Regina era muito boa em deixá-la nervosa, sem saber o que fazer ou como reagir. Era como uma tempestade em sua vida de clima ameno. Emma queria brigar com ela e expulsá-la de seu carro, e de sua vida, mas ao mesmo tempo se sentia desafiada a discutir com ela, a ouvir cada absurdo que falava só para retrucar e provar que ela estava certa, e que Regina estava errada. Qual era o problema com tudo aquilo?

– Estou aqui para conversar. Não foi pra isso que você veio? – Disse com convicção, até momentos depois que assumiu uma expressão convencida, levando o indicador à borda do maxilar. – Devo dizer que estou surpresa: Com toda sua personalidade intrometida, era óbvio que uma hora ou outra você viria, mas devo dizer que estou impressionada com a rapidez com que isto aconteceu.

– O que?! – Quem era Regina para falar daquela maneira como se a conhecesse tanto? Ela estava blefando, não. Não era possível prever aquilo, a própria Emma agira por impulso, nem ela mesma acreditava que estava ali. Regina falava como se a conhecesse melhor do que ela mesma, e isso a irritou.

– Não, eu não vim pra conversar! Eu vim... só... Eu quis saber... Tinha que manter um olho em você! – Regina não respondeu, franziu as sobrancelhas e estreitou os olhos em sua direção; era um bom sinal que ela estivesse com dúvidas, pois a própria Emma também tinha dúvidas das palavras que saíam de sua boca. Mentiras e verdades, tão misturadas que Emma mal conseguia distingui-las. – Eu não sei quem você é, ou como sabe aquelas coisas sobre o meu filho... Eu quero respostas, quero a verdade.

– Então você quer a verdade? – Ela disse séria, Emma assentiu com um suspiro tentando se acalmar. Em alguma parte sua, ela acreditava que começariam ter uma conversa calma. Que Regina falaria coisas mais sensatas, por um segundo Emma se sentiu próxima da verdade. Mas foi só Regina abrir a boca, para esse sentimento evaporar. – Leia o livro, esta é a verdade.

– Regina, qual é! Você e essa sua história de contos de fadas, bruxas e maldições... Como você espera que eu acredite em tudo isso?

– Simples: Porque é a verdade.

– Não, não é. Não tem sentido! Não tem nada de racional!

– Sinceramente, Miss Swan: Você me pede a verdade, eu lhe digo só para você nega-la veemente. Sinto muito, mas você não quer a verdade, quer algo em que possa acreditar. Quer algo que sua cabeça medíocre e fechada possa aceitar.

Emma bufou e preferiu ignorar os insultos. Aquilo havia sido inútil, não chegaria a lugar nenhum. Regina estava convicta em sua mirabolante fantasia, esquecendo-se de por um pingo de razão em sua teoria. Regina estava diferente desde a última vez que se viram; não estava mais tão complacente ou paciente, estava mais ácida e nervosa, mas a teimosia permanecera a mesma. E não havia como discutir como uma mulher tão teimosa quanto aquela, não havia como por um pingo de sentido em toda aquela confusão.

– Apesar de que para alguém que não acredita você parece bem interessada em minha história irracional e sem sentido. – Disse ela não precisou apontar para Emma notar que ela olhava para o livro ainda aberto esquecido em seu colo. Mais uma vez um sorriso vitorioso estampou o rosto de Regina, deixando Emma ainda mais irritada. Era como se ao mesmo tempo em que Emma buscava argumentos para provar à ela que tudo aquilo era insanidade Regina respondesse com um movimento querendo mostrar a Emma que ela estava dentro de tudo aquilo.

– Eu não...! Eu não estou interessada! Trouxe isso... Pra te devolver! – Mentiu nervosa. Odiava o modo como Regina parecia confundir sua cabeça. Era como se tentasse fazer Emma duvidar de suas certezas, e isso era extremamente desconfortável.

– Não precisa me devolver, isto não é meu.

– Nem meu.

– Tem razão, é do Henry. Entregue para ele e ele com certeza será bem menos resistente à verdade evidente.

– VERDADE EVIDENTE?! – Mais uma vez Regina rolou os olhos impaciente à toda sua reação e balançou a cabeça. – Eu não vou dar porcaria de livro nenhum à ele. Eu não vou fazer mais nada! Eu só quero saber como sabe tantas coisas sobre meu filho, quem te contou aquelas coisas...

– Estamos realmente tendo essa conversa de novo? Sinceramente, não temos tempo para isso. Quer o bem do nosso filho? Então pare com todo esse drama e vamos ao que interessa! Enquanto estamos aqui discutindo assuntos triviais como você acreditar ou não no óbvio, Elphaba está por ai procurando por vocês, e Miss Swan quando ela acha-los ela não vai ter toda a paciência que estou tendo para... Miss Swan?!

Emma não aguentou mais nem uma palavra, nenhum minuto. Não sabia onde estava com a cabeça de ir até ali, era como se uma parte surda e idiota de seu cérebro tivesse a dominado deixando a parte sensata no automático. Não era pelo Henry, apesar de Emma usar isso como um escudo que a defendesse de todas as burradas que ela seguia fazendo. Ela abandonou o carro aberto e com Regina ainda lá dentro, chaves e tudo mais. Só queria fugir de tudo aquilo, ao mesmo tempo em que algo descontrolável parecia atraí-la novamente para perto daquilo. Tinha que concordar com Regina, ela era uma intrometida.

– Miss Swan está sendo estúpida! – Regina gritou às suas costas, pelo som de sua voz à uma certa distância.

– Você quer parar de me ofender?! – Emma parou virando-se para Regina que a seguia com passos apressados, tentando alcança-la. Emma apertava os pulsos com força, seu coração batia acelerado tão incontrolável quanto ela mesma.

– Bom, talvez eu possa parar se você parar a agir de maneira condizente. – Disse quando a alcançou. Tinham apenas andado meia quadra, paradas na esquina em que a rua cruzava- se com outra rua.

Emma passou a mão pelos cabelos, tentando controlar a vontade que tinha de mandar Regina para lugares pouco agradáveis. Por condená-la por ser tão arrogante, por critica-la por sua teimosia e insistência nesta história absurda, mas estava tão cansada. Estar com Regina, discutir com Regina era como colorir sua vida com o caos do problema, e ao mesmo tempo em que à avivava também lhe esgotava.

– Olha, Regina eu...

– Miss Swan...

– Mãe?

Emma sentiu como se o estômago se sacudisse dentro de si. Olhou para o lado, e viu com surpresa e pânico o dono da voz infantil, ali parado diante as duas com a cabeça levemente inclinada para o lado e sobrancelhas franzidas.

– Henry... – A voz saiu como um suspiro, mas não fora sua voz. Ao olhar para Regina ao seu lado verificou que a expressão da mulher também não era das mais amenas. Seu olho tão concentrado no garoto, não notara que Emma a observava, parecia que naquele momento o mundo inteiro de Regina toda sua atenção pertenciam só a Henry, assim como o olhar úmido e cheio de ternura, os lábios torcidos em um sorriso agridoce. Quem era aquela mulher afinal?

O garoto olhou para a mulher que pronunciara seu nome com um estranhamento ainda maior. Pelo que conhecia de sue filho ele estava tão confuso quanto ela pela expressão da mulher, ou pela a maneira como disse seu nome. Ficou claro para Emma que ele não a conhecia: Isso por um lado a tranquilizou, mas por outro só a deixou ainda mais confusa de como ela sabia todas aquelas coisas sobre eles.

– Henry, o-oque você está fazendo aqui? – Perguntou ela nervosamente. Estava apavorada com a possibilidade de Regina começar a falar aquelas coisas perto do garoto, e que ele acreditasse na veracidade de suas palavras. Tinha medo de confundi-lo, de que certa forma o fizesse ficar ainda mais distante dela como estavam nos últimos tempos.

– Emma, eu passo por aqui todos os dias. É o caminho da minha escola, lembra?

– Claro! Claro que é! – Deu um leve tapa em sua testa acompanhado de um riso nervoso. O olhar de Regina não se movera nenhum instante, parecia que ela evitava piscar para não perdê-lo de vista. Apesar de temer o efeito da mulher sobre seu filho mais do que tudo naquele momento, Emma não pode deixar de se sentir penalizada pela mulher que olhava para seu filho com tanto amor que ela não compreendia.

– Henry, está é Regina Mills ela é uma... Uma conhecida minha. – Regina por um momento desviou seu olhar de adoração sobre Henry, e encarou Emma brevemente. Ela molhou os lábios inseguros, Emma jurava que a mulher parecia manter todos os seus esforços para não derramar as lágrimas que transbordavam sobre seus olhos.

– Oi, Henry. Uh, é um prazer conhecer você. – Regina disse cordialmente, inclinando-se sucintamente sobre ele, lhe dando um sorriso tão meigo e tão distante da Regina arrogante e teimosa que era reservado para ela. Era como se para ele fosse reservado apenas as suas qualidades.

Ele apertou sua mão educadamente, como era de se esperar dele. Henry era um bom garoto, Emma tinha muito orgulho disto. Sabia que por mais estranho que a mulher agisse com ele, ele não a trataria com diferença, ele tentaria parecer o mais normal possível como bom garoto educado que era.

– O prazer é meu, uh senhora.

– Regina. Pode me chamar de Regina. – Disse dando um sorriso radiante para ele, Henry só franziu ainda mais as sobrancelhas, mas acenou positivamente com a cabeça.

– Certo, Regina. – Emma sentia seu coração bater contra suas costelas. Era bonito e assustador ver a intimidade e afeto com que Regina o olhava; era como se cada momento que passavam juntos Emma se sentia ameaçada, mesmo que parecesse sem sentido algum. Queria sair dali com Henry o mais rápido possível. – Senhora, uh, Regina.

– Sim?

– Você não me parece estranha... Parece que eu já vi você, em algum lugar. – Aquilo surpreendeu Emma. Henry não costumava ser tão verbal ao menos que fosse necessário. E lá estava ele, falando com aquela estranha quando era tão reservado até mesmo para ela. Emma não soube explicar o ciúme infantil que tomou conta dela por seu filho e sua pequena comunicação com a morena, e que a fez agir da maneira como agiu.

– Oh, não Henry. Acho isso difícil. – Disse atravessando-se, fazendo tanto o garoto quanto a mulher lhe lançarem seus olhares. – Regina não está há muito tempo da cidade, ela se mudou há pouco tempo. De uma cidadezinha no Maine, não é Regina?

Mas Regina estava indiferente às suas palavras. Seu gesto pegou tanto Emma quanto Henry de surpresa: Ela levou a mão até a têmpora esquerda do garoto, e passou suavemente o indicador por ali, com cuidado e uma delicadeza; tão minucioso quanto cada gesto que fazia.

– Regina, oqu-...

– O que aconteceu com você, Henry? – Sua voz era toda preocupação. Emma chegou mais perto e inclinou a cabeça para ver do que se tratava, até que viu um suave hematoma arroxeado, perto do olho esquerdo de seu filho. Emma sentiu-se culpada por não ter notado primeiro, ela era a mãe dele, ela quem deveria ter notado em primeiro lugar! Quem era Regina para agir assim com seu filho?

– Eu... Isto não é nada. E-eu caí... foi só isso! – Regina não tinha um dom como ela, mas não parecera mais convencida do que ela. Henry se afastou de suas mãos, e Emma se sentiu um pouco mais confortável com a distância que o garoto pôs entre ele e a mulher.

– Isto não parece com nada. – Disse ela em sua postura, seus olhos estudando o garoto que olhou em outra direção, provavelmente estranhando tanto quanto Emma toda aquela preocupação e o tom que a mulher que acabara de conhecer usava com ele. – O que realmente aconteceu?

– Eu...

– Regina, o garoto disse que está bem. – Emma foi a socorro do garoto, segurando em seu ombro e trazendo-o para perto dela. Sabia que ela provavelmente estava certa, mas não daria o braço a torcer. Mais tarde conversaria com o garoto, mas agora, na frente de Regina ria se manter ao seu lado, tentando o mais rápido possível afastá-los. Mesmo que uma parte sua se sentia culpada, como se ela fosse a responsável por privar Regina da felicidade que esta demonstrava enquanto estava perto de Henry.

– Miss Swan, Henry está claramen-

Eu sou a mãe dele, eu sei o que é melhor para ele. – Emma sabia que havia soado infantil, parecia uma disputa de poder, mas não conseguia evitar. Assim como não conseguia controlar o sentimento de ciúme que envenenara seu tom contra Regina. Era inadmissível Regina agir como mãe de seu filho, ele era a única coisa que Emma tinha, a única coisa dela. Não íris assistir passivamente uma mulher exercer o papel que lhe pertencia.

– Miss Swan, me poupe. Você não sabe nem o que é melhor para si própria... – Disse Regina lhe retribuindo o veneno, com seu risinho de deboche.

– Regina... – Foi incapaz de controlar seu corpo jogando-se contra o dela, sua postura arrogante e seu queixo erguido lhe atiçando ainda mais a ira, poderia ter lhe agredido fisicamente se Henry não tivesse se posto entre as duas, e separado seus corpos.

– Hei, o que está acontecendo aqui? – Perguntou olhando para ela e depois para Regina, que desfez sua pose ao encará-lo. Emma tentou esfriar sua cabeça, aquilo estava sendo tão irracional quanto a história de Regina. Ela tinha que se controlar e parar de agir como uma besta movida por instintos irracionais de proteção. Henry era seu filho e nada nem ninguém nunca mudariam isso, ele só tinha acabado de conhecer aquela estranha. Não deveria estar sendo tão infantil.

– Nada, Henry. Não está acontecendo nada. – Disse lhe concedendo um sorriso fraco, depois desviando seu olhar para Regina que tinha no olhar um arrependimento pela situação quase tão evidente quanto o seu. – Nós já estamos indo, vamos Henry. Uh, adeus Regina.

Henry ainda olhou para a mulher por um momento e por uma fração de segundo ele pareceu preocupado com a expressão infeliz que ela tinha em seu rosto e tentava esconder com um sorriso fraco e conformado. Emma se sentia quase uma vilã por aquilo.

– Adeus, Regina. – Disse ele com um sorriso bondoso, se virando assim como a própria Emma para a direção da rua de seu apartamento. Emma tinha Henry ao seu lado, como quase sempre se mantendo reservado. Ela pode notar ainda o garoto olhando sobre seu ombro para trás, para direção onde haviam acabado de deixar; por um momento pensou que talvez Regina estivesse seguindo-os, preferia com todas as suas forças que não. Provar de seu rosto amargurado mais uma vez – sabendo que era ela a responsável por causar isso – não era algo que lhe agradasse. Não, era melhor que...

– Uh, Emma? – Falou Henry com a voz insegura e ela já se preparou para uma dezena de perguntas curiosas que ela teria que responder sobre Regina - das quais ela não tinha nem vontades, nem certezas o suficiente para responder - e o que acabara de se desenrolar diante de seus olhos. No entanto quando completou não era exatamente sobre isso. – Aquele não é o seu carro?

No meio da confusão e da pressa em afastar Henry de Regina havia se esquecido completamente de seu precioso bebê , que ela abandonara de qualquer jeito do outro lado da rua, em uma vaga proibida. Emma virou o pescoço bruscamente em pânico, antes de correr de volta onde o bug amarelo era rebocado por um caminhão da companhia de trânsito.

– Merda! Hei! Hei! – Insistiu, tentando ser ouvida em meio o barulho do caos nova-iorquino – ESSE CARRO É MEU!

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A sala era escura quando a mulher penetrou o antigo apartamento, a morena não ascendeu a luz. Caminhou guiada pela luz da lua quarto crescente que penetrava o ambiente através das cortinas floridas que dançavam com a brisa gélida noturna. Em um canto da sala uma modesta mesa de jantar redonda, onde um pano negro cobria um objeto esférico. As mãos de unhas excessivamente compridas agarrou o tecido e jogou-o no chão.

O objeto vítreo e esférico tinha em seu interior uma névoa esbranquiçada e de aspecto viscoso flutuando. A mão ossuda e azulada pelas veias salientes planou um pouco acima do objeto imóvel. A mulher fechou os olhos e soltou um profundo suspiro: Precisava de grande concentração para visualizar o objeto de seu desejo, ou neste caso a pessoa, a mão movia-se em movimentos suaves para cima e para baixo, fechando-se e abrindo.

– Irmã. – A voz não vinha do objeto ou de um lugar específico qualquer. Estava em sua cabeça, através das paredes, atravessando-as, dentro da própria morena que a convocara. – A capturou? Conseguiu? Onde ela está?

– Não. – Disse a contragosto, sabendo o quanto sua consanguínea iria se irar de não ter suas expectativas atendidas. – A salvadora não estava em sua casa. O lugar estava vazio.

Não houve mais resposta da voz. O silêncio era mais torturante do que qualquer represália ou maldições que Elphaba lhe lançasse: pois seu silêncio era imprevisível, Elphaba poderia estar tramando ou prestes a fazer o maior dos absurdos e ela só saberia quando fosse atingida. Até mesmo ela, que a conhecia melhor do que ninguém aprendera a temer sua irmã e seus silêncios. Uma porta no fundo do corredor tremeu, atraindo seu olhar azul; gemidos abafados e agudos juntaram-se com os barulhos secos da madeira.

– QUIETA! – Rugiu, e o barulho então o barulho da madeira gradualmente diminuiu sobrando apenas os gemidos lamentosos até estes desaparecerem também. A mulher comprimiu os lábios com satisfação, até a voz surpreendê-la, novamente.

– Está me dizendo que não conseguiu pegar uma mera humana que mal sabe quem ela realmente é? – Lenta e perigosa, como uma serpente digerindo sua presa. A morena engoliu a seco sentindo-se a própria presa. – Preciso lembra-la o quanto é importante para nosso plano capturar a Salvadora o mais rápido possível?

– Não, eu sei. Mas Elphaba há um feitiço naquela casa! Uma proteção! Era como se o ar me expelisse de lá! Não consegui aguentar muito mais tempo...

– Não me interessam suas justificativas, quero apenas resultados. Pensei que não fosse inútil completamente para lidar com uma mulher sem memórias e uma criança, permita-me corrigir meu erro se estiver enganada.

– Não são só eles, a feiticeira está aqui. Só ela poderia ter lançado aquele feitiço de proteção! Ela está aqui, está protegendo-os. – Estava exaltada, Elphaba tinha que entender, tinha que acreditar nela. Queria que acreditasse em seu potencial, ela era competente, queria mais do que tudo se redimir por suas falhas anteriores.

– Mesmo que esteja os poderes dela ai não são nada comparados com os nossos. Vai deixar-se subjugar-se por uma feiticeira como aquela? Vai envergonhar nosso nome desta maneira?

– Não, nunca faria nada que envergonhasse nosso legado, querida irmã. – A morena sentiu-se fraca, inútil, como sempre medíocre perto da irmã mais velha. Elphaba era a brilhante, ela era apenas uma sombra de seu brilhantismo, de seu poder. Queria mais do que tudo mostrar-se digna de seu parentesco, queria o orgulho e aprovação dela mais do que tudo. – Não sei como conseguir, como posso captura-la se não posso me aproximar de seu refúgio?

– Faça-a ir atrás de você. Atraia ela e faça abandoná-la esta proteção medíocre que você diz não conseguir suportar.

– Como posso fazer isso? – Soava fraco, mas perto de Elphaba ela era. Sempre fora assim, dependente e subordinada à sua adorável irmã.

– Pegue algo que ela estime, algo pelo qual se arriscaria. Algo que não consiga viver sem. – Disse sua voz fria e irritada.

Abaixou a cabeça por um instante absorvendo as palavras de sua irmã, então já tinha um plano. Um plano fácil de ser executado, e difícil de ser subjugado. Um sorriso de satisfação se espalhou por seu rosto, carregado de maldade e expectativas.

– Acho que sei o que posso fazer. Algo que pode... que vai funcionar. – Sentiu-se renovada, e confiante – Sim vai funcionar. Terá a salvadora em suas mãos em breve, irmã.

– O mais rápido possível. O tempo é fundamental para nosso plano, e ele está correndo.

– Não irei falhar.

– Para o seu bem, espero que não. Não tolerarei mais decepções vindas de você, Nessarose.


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Notas finais do capítulo

Primeiro aos créditos:
— O nome do capítulo é um trecho da música do Imagine Dragons "Bleeding Out", não sei se tem muita coisa a ver com o capítulo, mas eu escutei bastante vezes enquanto escrevia este capítulo;
— Em alguma parte perdida pelo capítulo coloquei uma frase ("Colora minha vida com o caos do problema") que pertence à música "The Boy With The Arab Strap" da banda Belle and Sebastian;

Explicações/Comentários:
— Sobre o Henry: Sim eu sei que ele está diferente, mas tenho motivos para acreditar que ele estaria meio "emo"; primeiro: porque ele perdeu muita coisa, mesmo que não se lembre disso acho que isto o afetaria de alguma forma, e segundo: o garoto está entrando na adolescência, atire a primeira pedra quem não teve/está tendo sua fase difícil, e nada mais justo do que ser a vez da Emma aguentar essa fase, Regina já teve o suficiente na série HAHAHAHAHA), e por último SIM, ele não chama a Emma de "mãe" na minha fic. Encaro a perda da Regina como a perda da figura materna principal dele, porque por mais que a Emma tenha sido mãe por 1 ano, Regina foi sua vida inteira, então é isso aí. Briguem comigo, mas acho bem isso.
— Sobre a Regina: Bom ela não podia ficar sendo paciente com a Emma o tempo todo não é? HAHAHAAHA' Acho que ela se esforçou o bastante, mas Regina Mills é Regina Mills e Regina Mills é irônica e impaciente e pra falar a verdade eu prefiro ela assim HAHA'
— Sobre a Emma: Sim ela tem atitudes de defesa quando se sente ameaçada pela Regina. Não é porque ela é boa que ela não pode sentir medo de perder a única coisa preciosa que ela tem (Henry), ela é boazinha mas é HUMANA, e isto é o que me faz gostar da personagem e não transformá-la em uma personagem previsível como a Snow (Eu ainda gosto da Snow, mas...)
— Sobre os sapatos: SIM, eu sei no livro eles são prata, mas eu comecei a escrever a fic ANTES de ler o livro (Sim, eu li pra ver o que poderia ou não usar) e já no primeiro capítulo fiz uma pequena menção à ele, então usei e permanecerei usando a versão do filme que eram de rubi (vermelhos);

Agradecimentos:
— Aos que comentam, um grande obrigado como sempre! Vocês não sabem o quanto me incentiva a escrever e o quanto fico animada cada vez que leio o comentário de vocês! Sou muito grata pelo tempo que gastam comentando, opinando (me critiquem se acharem necessário). Por favor continuem me dando esta satisfação! :)
—Aos que acompanham, obrigada! Ficaria agradecida de saberem quem são e o que estão achando da história também (BRASIL, MOSTRA TUA CARA! HAHA), isso me ajuda a ter um parâmetro a cada capítulo, e saber se estou melhorando ou quando estou enrolando, ou se a história está tendo um bom desenvolvimento!

Obrigada pela leitura, espero que gostem e se não gostarem por favor me deixem saber! Até o próximo capítulo (Obrigado por lerem a N/A quase tão grande quanto a fic HAHAHAHAHA)



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