Love is Redemption escrita por fairylady N


Capítulo 5
The Deep Breath Before The Plunge


Notas iniciais do capítulo

Sério estou tão animada com esse capítulo! Eu escrevi ele tão rápido, mas consegui ficar MUITO satisfeita com ele! Espero que gostem de ler, tanto quanto eu gostei de escrevê-lo!

Boa leitura, nos vemos lá embaixo!



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Um calafrio tomou seu corpo fazendo-a estremecer. Apesar de saber que o evento nada tinha a ver com a brisa gélida noturna que entrava pela janela na qual ela estava de frente, Regina abraçou o próprio corpo tentando conter a sensação de agonia que lhe dominava. Não se fora: Era como mãos invisíveis apertando seu coração, seus joelhos pareciam feitos de gelatina e o ar muito denso para ser respirado com facilidade. Aquilo era muito mais do que um mal estar, Regina reconhecia a sensação: Era um pressentimento.

Atravessou a sala com os passos apressados chamando a atenção dos outros dois presentes, suas mãos tremiam quando agarraram a corrente de prata e seus olhos acompanhavam com expectativa a obsidiana pender sobre o mapa. Estava convencida de que este seria o momento, a pedra iria anunciar aquilo que ela já acabara de sentir, seria apenas uma confirmação. Sua atitude atraiu Hook para mais perto, sentou-se na poltrona mais próxima da mesa e da própria Regina, por um momento quando seus olhos se encontraram , um relâmpago de cumplicidade estalou sobre eles; a parceria que tinham acima de toda a rivalidade, a causa em comum pela qual lutavam.

Regina sentiu-se mais forte, revigorada da sensação de vazio em que estivera mergulhada desde seu encontro com Henry. Mesmo que já esperasse aquele tipo de reação senti-la em sua própria pele foi mais doloroso do que qualquer coisa que já tivesse provado desde que tivera que abrir mão de tudo para salvá-lo. Ver o quanto havia crescido, e o quanto estava diferente sem que seus olhos estivessem perto para acompanharem cada movimento seu como sempre estivera. Se um dia a rejeição de Henry lhe ferira, o desconhecimento em seus olhos a dilaceraram. Voltara para o hotel sem esperanças e quebrada, com nada em suas mãos que a fizesse acreditar que conseguiria mudar esta situação. Nada em que pudesse se agarrar, ou que pudesse fazer para ter seu filho de volta. Até agora.

O pêndulo era arrastado, Regina prendia a respiração tamanha era sua ansiedade, a cada movimento que fazia. Ele balançou-se um pouco mais frenético, viu os punhos de Hook se apertarem e Tinkerbell se juntar à eles com um sorriso cheio de expectativas, a própria Regina já se permitia um sorriso efêmero surgir em seus lábios, mas o momento passou. Assim como a expectativa de todos na sala, o movimento cessou, não restando mais nada além de decepções e o suave e comum balançar da obsidiana.

A respiração pesada de Hook encheu a sala quase no mesmo momento em que Regina jogou a pedra com violência na parede. Teve a impressão ainda que Tinkerbell fosse lhe dizer algo quando se afastou batendo o pé com força contra o piso se sentindo mais frustrada do que nunca. Voltou-se novamente para a janela, uma lágrima pendeu sobre a bochecha esquerda, uma lágrima de raiva, pelo seu sentimento de fracasso. Afastou-a quando sentiu um movimento suave às suas costas, a mão gentil da fada segurou seu braço reconfortante. Quando esta se pôs ao seu lado um sorriso amigável lhe enfeitava a face.

– Nós vamos conseguir. Você sabe que vamos. – Disse otimista e Regina quis soca-la naquele momento. Não havia nada que a fizesse acreditar em suas palavras, sempre ouvira sobre como o bem vencia o mal, que as coisas sempre davam certo no fim. Mas para ela parecia que não importava o lado em que estivesse as coisas nunca dariam certo para ela. Era sua sina ser infeliz, perder tudo o que amava.

– Vamos fazê-los se lembrarem de tudo, de todos nós. Vamos protegê-los, você vai ter seu filho de volta...

– Meu filho?! Sou apenas uma estranha para meu filho, mal posso tocá-lo sem parecer uma completa maluca! Emma Swan me odeia e não acredita em um suspiro que dou, não consigo nem ao menos me aproximar sem que ela fique na defensiva, como vou protege-los?! – Ela explodiu, soltando palavras ásperas como uma metralhadora, Tinkerbell ouviu tudo em silêncio com a cabeça levemente abaixada, parecendo ainda mais uma garota do que realmente era.

– Não temos a mínima ideia de onde Elphaba está, então NÃO, eu não acho que vamos conseguir, a não ser que você e seu pozinho mágico e resolva todos os nossos problemas em um piscar de olhos nós não estamos nem perto de conseguir resolver alguma coisa! Qualquer coisa!

Quando terminou Regina ainda estava ofegante. Tinkerbell ergueu a cabeça com um sorriso resignado ainda em seus lábios. Regina a encarou espantada, ela havia acabado de “soltar os cachorros” sobre ela e, no entanto, o olhar penalizado era em sua direção. Ela suspirou fundo e voltou seu olhar para a noite, incapaz de sustentar aquele olhar por mais do que alguns segundos. Interiormente sentia muito por sua explosão injusta, mas foi incapaz de verbalizar isto. Mas não foi necessário, Tinkerbell a conhecia bem para perdoá-la mesmo sem nenhum pedido formal.

– Eu sei que você está acostumada com a derrota, e em ter uma vida miserável – Regina se perguntou se aquilo era para melhorar a sua situação, porque se era não estava sendo muito eficaz. – mas tudo é diferente agora, você está diferente. Você só tem que acreditar, e acreditar em si mesma. Coisas boas acontecem com pessoas boas Regina.

– Talvez eu ainda não seja boa o suficiente. Talvez nunca seja. – O antigo medo lhe atingiu, uma vez fracassara por não ser má o suficiente, era irônico que nem mesmo com a situação invertida ela ainda assim não fosse o bastante. Talvez Cora estivesse certa em um dia lhe tratar como uma imprestável.

– Não existe alguém completamente bom ou completamente mau. O que nos define são nossas escolhas, Regina. E você fez sua escolha, você escolheu Henry, e isto vai ser o suficiente para você fazer qualquer coisa por ele. – Regina a encarou pala primeira vez baixando sua guarda, ela falava com tanta convicção que ela quase acreditava em Tinkerbell. – E eu sei que vamos conseguir, porque eu acredito. Acredito no seu amor por ele, e no amor dele por você. E acho que você devia acreditar mais nisso também.

Por mais fraco e inseguro que fosse um sorriso se formou em seus lábios. Por mais que isto não ajudasse muito a resolver nada no momento Regina se sentiu feliz por tê-la ali. De uma certa forma faziam as coisas parecerem menos difíceis, e o peso de todos os problemas menores. Por mais que no início a vinda da fada deveria ser um insulto à sua pessoa – obviamente a imaculada e ética fada azul não confiaria uma missão de suma importância como aquela nas mãos de um pirata imoral e uma mulher que um dia só não só estragara mais com as coisas por falta de oportunidade, então insistiu em mandar um dos seus para manter um olho em ambos e garantir que não fizessem nada que reprovasse – se sentia grata por ter sua companhia, e seu apoio. Tinkerbell acreditava nela, mesmo quando ela mesma parecia duvidar, era reconfortante. Bell era o mais próximo que Regina tinha para poder chamar de amiga.

– Henry estava tão diferente... Era o mesmo, mas seus olhos... Ele... – Disse insegura, ao menos falar em seu nome era o suficiente para as lágrimas transbordarem seus olhos; Regina respirou fundo tentando manter-se inteira.

– Ele realmente parece um pouco triste. – Concluiu a fada, encolhendo os ombros.

O corpo de Regina virou-se totalmente na direção da fada, mostrando interesse exclusivo em suas palavras; qualquer pedaço de Henry era merecedor de toda sua atenção. A fada entendeu o gesto, e prosseguiu:

– Não convivi muito com ele antes da maldição ser quebrada, mas é o que parece. E ele é um garoto esperto, muito esperto, e gentil. – A cada palavra sobre ele Regina não conseguia impedir que seu coração inchasse de orgulho a cada elogio lançado sobre seu filho. Antes que percebesse sua boca contorcera-se em um sorriso satisfeito.

– É, ele é. Sempre foi.

– Talvez não seja só isso que permaneça igual. Talvez... Talvez ele sinta sua falta. – Regina encarou-a com braços cruzados, duvidando que o que acabara de dizer fosse apenas para agradá-la. Que Tinkerbell estivesse agindo como amiga e lhe lançando aquelas palavras para fazê-la se sentir melhor, não porque fossem realmente verdade. Não era possível, Henry sequer se lembrava de sua existência.

– Você não está falando sério. Como isto poderia acontecer?... Ele nem lembra que eu sou a mãe dele. – Disse, mas a possibilidade fez algo agitar em seu peito, uma sensação boa. Já estivera tão acostumada com sua rejeição que a ideia dele sentir sua falta, mesmo que de uma maneira inexplicável lhe proporcionava uma sensação maravilhosa. Não queria se iludir com as palavras de conforto e pouco imparciais de Tinkerbell, mas já parecia tarde demais refrear este sentimento.

– Estou falando sério! – Insistiu sorrindo para Regina, a perspectiva mesmo que distante a fez sorrir também. – Você apagou as memórias, não os sentimentos. Talvez ele tenha esse amor dentro dele e... Só não sabe direcionar isso, nem pra quem dá-lo.

– Você está mentindo! – Disse balançando a cabeça descrente, mas não deixava de estar animada com a ideia.

– Eu não estou! – Soltou exasperada, mas ainda rindo. Era um momento confortável, quase como se fossem realmente amigas, e não só companheiras naquela missão. – Tudo bem, não quer acreditar não acredite! Eu disse minha opinião.

– Certo. E o que mais? Conte-me mais sobre seu encontro com meu filho. – Aquilo de uma maneira inexplicável reviveu sua felicidade, lhe devolvendo a fé que tinha naquela missão, em trazer seu filho de volta. A fé que tinha em si mesma.

– Bom, não teve nada demais. Na maioria do tempo tento observá-lo a uma certa distância, eu dei o livro para ele e...

– Espera! Você o que? – Disse ao mesmo tempo em que a fada se encolhia, seus olhos arregalados indicavam que havia se traído ao fazer aquela revelação. – Como assim? Que livro?

– O livro, Regina. Aquele que eu falei. Achei que era bom ele saber algumas coisas do que pode enfrentar, Henry é um garoto esperto, ele...

– Pensei que já tínhamos tido esta discussão...

– Nós tivemos Regina, eu sei. Mas aquele livro pode nos ajudar...

– Ou poderia nos confundir ainda mais. – Rebateu inflexível, Regina. Sabia que havia muitas discrepâncias entre as histórias escritas e o que realmente acontecia. Era melhor trabalharem com o que tinham, mesmo que pouco do que se encherem de informações que poderiam ser falsas e atrapalhar ainda mais em seus planos, mas Tinkerbell não havia desistido pelo jeito.

–... E já que nenhum de vocês me dá atenção eu resolvi buscar alguém que possa!

– Isto é estupidez, não podemos confiar nestes livros. – Pelo menos nisto ela concordava com Hook, quando ele opinou do sofá onde estava jogado de qualquer jeito.

– Você só está falando isso porque não se conforma que te colocaram com aquele bigode ridículo e ainda fizeram você apanhar para o Pan! - Gritou ela e Regina não conseguiu evitar um riso irromper por sua garganta. Hook havia mesmo ficado indignado pelo modo que fora retratado em vários filmes e até animações. Havia se queixado por dias, alvo das provocações de Tinkerbell que tinha prazer em implicar com ele.

– Não é só isso...

– E você, Regina só quer fazer as coisas do SEU jeito! – Regina piscou os olhos surpresa, pela afronta direta à ela. O indicador de Tinkerbell balançava perto de seu rosto, e seu rosto estava vermelho quando ela continuou – Não sei se vocês esqueceram, mas eu TAMBÉM faço parte desta equipe! E se o Hook teve a chance de colocar em prática o plano idiota dele – se referiu aquilo com desdém, soava bem parecida com a própria Regina quando se referia ao fato. – eu também tenho o direito de colocar o meu!

Regina não retrucou, não conseguia ver nenhuma maldade na ideia de Tinkerbell, nem nada que isto pudesse complicar ainda mais a situação que se encontravam, apesar de também não imaginar como aquilo poderia favorecê-los de alguma maneira. Mas se esta era a maneira de Tinkerbell se sentir incluída na missão, ela aceitaria. Pelo menos esta não incluiria sair por aí, beijando Emma Swan... Não que ela se importasse com isso, sua preocupação era a missão. Deveria ser... Por Henry.

– Onde ela vai? – Hook soltou ao mesmo tempo em que ela atravessava a porta de entrada, e a batia descontando toda sua raiva.

– Provavelmente na Dunkin’ Donuts. – Respondeu dando de ombros. Sabia do deslumbramento que Tinkerbell adquirira pela cultura e costumes americanos. Ela passara pouco tempo da última vez que viera para este mundo, e estivera em Storybrooke uma cidade pequena e com nada mais animado do que a Granny’s. Ali, a fada ficara encantada por todas as luzes, cores, sons e sabores que a cidade grande poderia lhe proporcionar. Comprara roupas sem a mínima combinação, comera tudo o que via na sua frente e adquirira seu vício pelos famosos Donuts.

Mais uma vez Regina olhou pela janela se lembrando da sensação que havia lhe dominado, não era nada no fim das contas, mesmo que a mera lembrança fazia suas entranhas se contorcerem. A sensação inquieta voltou a se instalar, tudo parecia calmo demais para que ela ficasse desconfiada. Elphaba teria ficado para trás? Perguntou-se se havia superestimado a força e as habilidades da bruxa, mas a lembrança da suíte de Snow e Charming lhe provava que não. Regina sentira em suas próprias mãos, sabia que aquilo era algo grande, apenas uma pessoa já tivera uma áurea maligna comparável a dela. E ele não estava mais entre eles.

Regina sentia a expectativa de algo grande estar se aproximando, e ela não podia fazer nada. Era como silêncio antes do trovão, o último suspiro profundo antes do mergulho. O cristal poderia até não ter indicado nada, mas sua intuição lhe dizia o contrário. E Regina nunca torcera tanto para estar enganada.

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A primeira coisa que Emma viu quando acordou foi Regina. Curiosamente, também havia sido a última coisa que havia visto antes de acordar. Tinha caído no sono na noite passada sobre o livro aberto na página onde a Rainha Má terminava de lançar a maldição sobre todo o reino, que daria um final trágico para todos eles, e a rainha Snow White havia acabado de colocar a filha – na teoria de Regina, a própria Emma – no guarda roupa já que ela era a única capaz de desfazer a maldição e trazer de volta todos os finais felizes.

A leitura fantasiosa provavelmente havia sido a responsável por incitar sonhos confusos e estranhos como os que acabara de ter. Lembrava-se de algumas coisas realmente confusas, como a maioria dos sonhos, mais alguns detalhes eram tão vivos em sua memória como lembranças: A primeira coisa que Emma se lembrava era de um lobo com um olho de cada cor lhe encarando em meio à escuridão, tudo à sua volta era feito de névoa, e perdida e sem direção ela ouviu uma voz chama-la, não uma voz qualquer mas a voz rouca e insistente de Regina lhe chamando, como poucas vezes fizera, pelo primeiro nome. Correu em sua direção, nem ao mesmo sabendo a razão pela qual fazia, seus pés pareciam terem vida própria, correndo às cegas ela tinha vislumbres de várias sombras lhe cercando à sua volta, acompanhando-a em sua corrida, não emitiam som algum, mas Emma sabia que não deveria se aproximar.

As arvores estenderam os galhos como garras agarrando suas vestes e a impedindo de prosseguir, a voz de Regina continuava ecoando em sua cabeça, e ela sabia que tinha que prosseguir. Lutou com os galhos com a força bruta, a única coisa que tinha para usar em seu favor, um nevoeiro verde tomou conta de tudo, e de repente não havia mais galhos com os quais lutar contra, nem lugar qualquer para ir, nem nada que pudesse escutar. A voz de Regina havia cessado em sua cabeça, estava de pé incapaz de ver um palmo à sua frente. Emma não viu se aproximando, mas pode sentir a presença se deslocando em sua direção, e em seguida um objeto brilhar uma luz vermelha própria flutuando no ar. No meio da névoa a silhueta surgiu, primeiro meros contornos e sombras deu lugar a detalhes mais destoantes: Os olhos de chocolate por mais recente que conhecia não poderiam ser confundidos com nenhum outro. Regina estava há cerca de um metro de distância, e a lembrança do sonho vinha tão clara e concreta que ela podia, mesmo acordada, sentir o calor de seu olhar em contato com os seus e a tristeza que transbordara junto com as lágrimas que caíam com volúpia. Emma nunca havia visto Regina chorar, e não esperou como a cena imaginada por sua cabeça lhe pareceria tão real e familiar como realmente foi.

O objeto brilhante não flutuava no fim das contas, estava ali bem guardado na mão esquerda de Regina, que lhe estendeu com um sorriso carregado de angústia, coberto pelas lágrimas que escorriam livremente pelas maças do rosto. Emma por fim se deu conta do que era: Um coração, literalmente um coração humano que batia e brilhava independentemente nas mãos da morena. Algo em sua cabeça dizia que precisava ir, que não podia ficar onde estava nem alcançar Regina, só lhe restava voltar. Emma não obedeceu, mesmo a Emma dos sonhos nunca fora boa em obedecer qualquer coisa.

Emma lembrava-se como se jogou para frente na direção de Regina, mas o solo parecia ser feito de areia movediça, dificultando e atrasando cada passo que tentava dar em direção à mulher. Não sabia o que a movia em prosseguir, mas sentia que não poderia deixar Regina, não poderia simplesmente deixá-la ali, ou perde-la de vista. Emma reforçou seus esforços em sua caminhada, conseguiu ganhar um pouco mais de velocidade mas não fora o suficiente; não quando mesmo sem se mover Regina parecia se afastar cada vez mais dela. A neblina se tornara mais densa, desta vez roxo e verde se mesclavam no ar, encobrindo ainda mais a figura de Regina. Emma tentou gritar seu nome, mas nada saía de sua garganta, nenhum som por mais que forçasse. Estendeu a mão caminhando às cegas, tentando tatear algo que pudesse guia-la, mas o passo seguinte foi em falso e a última imagem que se lembrava do sonho era estar caindo em um buraco fundo e largo, rodeada pelas trevas, sem nada que pudesse agarrar para impedir ou refrear a queda, apenas caindo no que parecia o infinito, então ela acordou. Mesmo depois de desperta ainda persistia em seu peito uma dor incômoda, como se a perda de Regina e algo realmente importante fosse real, e não apenas um sonho.

Decidira na noite anterior que esta seria a última vez que tocaria no livro, ou pensara sobre esta confusa história antes de superá-la de uma vez por todas e focar toda sua dedicação no que realmente importava: Henry. Então naquele dia, ao se levantar da cama Emma se sentia determinada em pensar nas melhorias que podia fazer em sua vida e na do seu filho, principalmente depois do dia anterior. Aquilo havia sido o tapa em sua cara, lhe mostrando que a vida que vinha tentando levar naturalmente com Henry estava prestes a ruir à qualquer momento, assim como a indiferença de ambos – tanto ela quanto Henry.

Não, se queria que as coisas começassem a funcionar verdadeiramente, as coisas teriam que começarem a ser mais francas entre ela e seu filho antes de qualquer coisa. Nada mais de fingir que as coisas estavam boas quando realmente não estavam Emma Swan ia dar um jeito em sua vida e na de seu filho. Ela seria a salvadora, não a espetacular e heroica que Regina lhe apontava, mas a salvadora de sua própria vida, e isto parecia ser o suficiente para ela.

Ligou o rádio em um volume alto, tentando encher a casa de animação assim como ela havia se autoconvencido que sentia. Abriu a porta do quarto de Henry colocando apenas a cabeça para dentro do cômodo, lhe lançando seu melhor sorriso.

– Dia, garoto! – Henry a surpreendeu já estando acordado. Estava debruçado sobre o aquário de Charlotte na cabeceira de sua cama quando virou sua cabeça em sua direção.

Foi ideia da própria Emma que Henry arranjasse um animal de estimação quando se mudaram para NY. De certa forma, Emma queria compensá-lo por esta abrupta mudança de vida, assim como também achou que seria bom para ele ter uma companhia enquanto ela estivesse trabalhando, e uma ótima maneira de Henry se socializar e se envolver de uma maneira com algo. Emma esperava um cãozinho, um gatinho, talvez um papagaio mas obviamente Henry arranjou algo tão diferente e especial quanto ele. E lá estava Charlotte, sua melhor amiga de oito patas.

– Dia, Emma. – Ele disse com um sorriso débil se arrastando até estar sentadona beira da cama. Emma encarou o hematoma ao lado de seu olho esquerdo, e por um momento a animação que se forçava a sentir se esvaiu.

Quando havia chego em casa no dia anterior Emma conversara, tentara por mais de uma hora convencê-lo a abrir a boca enquanto fazia compressa com uma bolsa de gelo, lhe pedira e quase implorara para ele lhe contar o que estava acontecendo, mas Henry era teimoso quando queria, e não lhe disse uma palavra sequer sobre o assunto. E fora aí que Emma percebeu que não podia mais ignorar aquilo, não podia continuar vivendo naquela mentira toda, fingindo que tudo estava bem e sobre controle quando na verdade nada estava bem.

– Estou preparando um café da manhã especial. – Retomou sua animação ensaiada, entrando em seu quarto. – E tem algumas coisas que precisamos conversar, tudo bem?

– Claro. – Disse dando um sorriso débil, balançando a cabeça. Emma o encarou dos pés a cabeça, examinando o seu garoto. O tempo passava rápido e o garotinho travesso que se lembrava. Agora era um rapaz que quase lhe alcançava, Emma gostaria de ter aproveitado melhor todas as fases pelas quais ele passou, gostaria se de se lembrar melhor de fatos de infância que eram como vultos em sua cabeça. Se pudesse, Emma gostaria de voltar no tempo e viver tudo de novo, ter tirado mais fotos as quais ela recorreria quando sua memória distraída falhasse.

– O que? – Ele tinha um semblante confuso, com as sobrancelhas franzidas provavelmente pela expressão que Emma lhe lançara. Estranhamente, isto a fez inevitavelmente se lembrar da expressão que Regina lhe lançara dentro de seu bug na noite passada, mas tratou de afastar o pensamento com rapidez.

– Você cresceu rápido, garoto. Muito rápido. – Emma estava ciente do sorriso bobo que devia estar em seus lábios, e como aquilo deixou Henry sem graça quando ele esfregou a própria nuca e desviou o olhar para o chão. Demorou mais um momento para Emma quebrar aquele momento repleto de nostalgia. – Bem, eu vou estar preparando o café na cozinha. Quando terminar de se arrumar me encontre lá.

– Certo. – Ele disse já quando ela havia lhe dado as costas, e caminhava em direção ao corredor quando sua voz chamou-lhe a atenção. – Emma?

– Sim? - Ela se virara novamente para ele com as sobrancelhas erguidas, esperando que continuasse a falar. O garoto abriu a boca por um momento e Emma esperou, mas no fim nada veio. Henry tinha realmente um sério problema em se comunicar, mas ela aceitou aquilo, assim como aceitou quando ele resmungou que não era nada.

Emma decidiu aquela noite, assim como havia decidido todas as outras mudanças que faria sua vida que não se questionaria mais pelo que os levara até ali, nem se culparia mais por qualquer coisa. Não seus planos estavam focados no presente e no futuro, agora sua principal preocupação era em como mudaria e transformaria aquela situação. E era nisso que ela apostava todas suas fichas, e seria com isso que preencheria sua vida, ao invés de preocupações com histórias absurdas e pessoas que mal conhecia.

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Henry assistiu a mãe atravessar a porta de seu quarto e voltou a se esticar na cama mais alguns momentos antes de começar a se arrumar. Por um momento passou por sua cabeça lhe falar a verdade sobre o acontecimento do dia anterior, não sobre Bruce e os outros garotos, e sim sobre o que realmente lhe preocupara e assombrara o resto do dia e a noite inteira – Não conseguira dormir direito naquela noite, custara a cair no sono e todas as vezes que o fizera bastava apenas fechar os olhos para reviver toda aquela cena aterrorizante em sua cabeça. – mas no fim duvidava que ela acreditasse nela. Provavelmente isto só a faria achar que seus problemas sociais haviam se expandido para problemas psicológicos, e ainda se culparia por isso, como sempre fazia com tudo o que lhe acontecia. Henry não queria lhe dar esta preocupação, ela não merecia isso.

– O que você acha disso Charlotte? – Disse voltando a tamborilar o dedo no vidro, a tarântula não se mexeu. – Será que você acha alguma coisa, Charlie? Consegue me ouvir?

Depois de Henry terminar de se aprontar para a escola, saiu corredor à fora com o cheiro suculento do café da manhã impregnando o ar da casa. Emma não era muito boa cozinheira na maioria das ocasiões, e quase sempre seus jantares eram comida congelado e pizza, não que ele se queixasse disso, mas sua omelete de queijo feito com manteiga e bacon era imbatível. O som alto enchia o ambiente com alguma música agitada, e seu cabeleira loira era visível enquanto estava de frente para o fogão provavelmente terminando a refeição.

Henry sentou-se à mesa antes que ela notasse sua presença ali, esperando o momento em que ela provavelmente começaria a conversa que teriam. Henry esperava arduamente que isto não fosse mais uma de suas tentativas de pressioná-lo a explicar o que acontecera com seu olho, porque se fosse ele teria que decepcioná-la mais uma vez. Não tinha a menor chance dele contar a verdade sobre isso, não quando sabia que ela estaria a caminho da escola no momento seguinte querendo tirar satisfações com os garotos que fizeram aquilo. Henry já havia sido humilhado fisicamente, não precisava de mais um vexame.

Emma trouxe-lhe um prato, igual ao dela assim como duas canecas de chocolate iguais.

– Voc-

– Eu sei, a canela. – Piscou confiante depositando o recipiente ao lado do café, Henry sorriu agradecido, enquanto ela se deslocou até o lado oposto da mesa e ocupou a cadeira de frente a dele.

– Está uma delícia. – Elogiou ele, arrancando um sorriso inibido dela.

– É a especialidade da chefe internacional Swan, garoto. – Brincou com um sorriso, e Henry não pode evitar sorrir também. O café da manhã era um dos momentos mais descontraídos do dia, onde era só ele e a mãe e ainda não haviam saído para o dia e encarado suas vidas vazias e insatisfatórias. Era o mais próximo de quando Henry conseguia realmente se sentir bem.

Bom, isso antes dele tropeçar na garota punk, ele realmente se sentia muito bem quando estava perto dela, e de toda sua empolgação que o contagiava.

– Que cara é essa? – Ela perguntou estreitando os olhos em sua direção com um meio sorriso no rosto. Henry se fez de desentendido e balançou os ombros com a boca ainda cheia de omelete. – Você estava com uma cara engraçada!

– Não sei do que você está falando.

– Não tente me enganar garoto, já tive a sua idade. – Apontou o garfo em sua direção com um sorriso pretencioso. – Vai, me diz: Qual o nome dela?

– Eu não sei do que você está falando. – Disse colocando mais uma grande porção de bacon em sua boca para que evitasse falar sobre o assunto, mas suas bochechas queimando já haviam o denunciado.

– Você está mentindo! – Disse ela com um sorriso largo. – Você está gostando de alguém!

– Não, não estou!

– Está sim! – Disse cada vez mais divertida com sua consternação, Henry estava ficando irritado, pois sabia que não poderia mentir pra ela. Emma era um detector de mentiras humano, e dificilmente ela estava enganada. Pelo menos ela entendeu seu silêncio como aquele assunto encerrado. E Henry estava muito grato por isso.

Quando terminou seu café, Emma colocou o prato de lado e seu semblante assumira uma um ar mais sério; o garoto já previa o que viria, e terminou seu café da manhã o mais rápido que pode também, encarando os olhos insistentes de Emma sobre ele.

– Então... Sobre o que temos que conversar? – Apoiou os cotovelos na mesa, ao mesmo tempo em que Emma dava um longo suspiro.

– Eu estava pensando... Na verdade, eu acho que temos que estabelecer novas regras nesta casa. – Disse suavemente.

– Regras? Tipo o que? - Henry franziu as sobrancelhas não entendendo exatamente o que ela queria dizer com aquilo.

– Não regras exatamente. Sabe, eu só acho que seria bom se nós conversássemos mais sobre as coisas que acontecem com a gente, sobre o nosso dia...

– Isto tem alguma coisa a ver com o que aconteceu ontem?

– Não. Bom, também na verdade. – Henry apenas esperou enquanto ela se remexia desconfortavelmente na cadeira. – A verdade é que sabe Henry, eu sei que as coisas não estão sendo fáceis para você ultimamente, e acredite, nem pra mim. Eu tentei mudar de cidade porque pensei que de certa forma isso fosse ajudar, isso fosse amenizar essa “coisa” que há entre nós, mas eu estava errada, e acho que não podemos ficar fugindo mais disso.

– E você acha que conversar vai ajudar a resolver isso? – Perguntou duvidando realmente daquilo, mas Emma não se abalou. Estava decidida.

– Sim. Na verdade eu não posso te dar nenhuma certeza, mas eu estou disposta a tentar se você também estiver.

Henry entendia o que Emma estava falando, exatamente para ser franco. Só não via no que conversar sobre aquilo poderia ajudar a preencher o sentimento de vazio entre eles, mas ela pareceu tão esperançosa e tão aflita por aquilo que ele não podia fazer outra coisa além de concordar com sua sugestão.

– Claro. Por que não? – Disse dando de ombros, e assistiu um sorriso largo se projetar nos lábios de sua mãe.

– Sério?

– Sim. – Disse com um meio sorriso que a fez se remexer na cadeira, Henry não se lembrava de vê-la tão empolgada com alguma coisa há muito tempo.

– Podemos começar agora? Você sabe só para treinar. – Isto era exatamente o que Henry estava esperando. Sabia que a mãe não desistiria tão fácil de tentar arrancar dele algo sobre o dia anterior, mas ele estava decidido demais a não abrir o bico. Henry estava disposto a cooperar francamente com aquilo, mas não imaginava como poderiam conversar sobre todas as coisas estranhas que havia acontecido ontem. Para começar a criatura no banheiro, com garras e o tufão local que parecia ser causado por ela, depois a garota excêntrica que o fazia se sentir de modo engraçado, depois a surra que levara de Bruce e sua gangue, para terminar a estranha mulher com quem sua mãe conversava no meio da rua e a estranha maneira como ela lhe parecia extremamente familiar, ou a maneira como olhava para ele, ou como sua mãe estava agindo perto dela. Não, Henry não tinha nenhuma condição de conversar sobre qualquer um desses assuntos com sua mãe.

– Uh, pode começar você. – Escapou ele, e ela concordou com a cabeça sem se deixar abalar. Depois de alguns segundos com o olhar fixo na mesa e mordendo os lábios de maneira pensativa sem qualquer resultado, ela desistiu.

– Acho melhor começarmos hoje a noite. – E Henry concordou, enquanto levava os pratos até a lavadora. – Hoje a noite teremos um jantar especial. – Henry já podia apostar: Pizza ou pediriam comida chinesa, mas pela expressão de Emma Henry arriscaria Pizza.

– Pizza!! – Disse ela sorridente. Henry fingiu surpresa para não desapontá-la quando soltou uma expressão animada.

Quando ele andou até a porta pronto para ir para a escola Emma o chamou, e quando se virou para ela para atender o chamado ela o pegou de surpresa, envolvendo seus braços em volta de seu pescoço em um longo e apertado abraço.

– Eu te amo, garoto. Não se esqueça disso nunca, tudo bem? – Disse depositando um beijo no topo de sua cabeça. Henry retribuiu o abraço esperando o momento em que Emma o soltaria, mas não veio.

– Uh, Emma você está me sufocando...

– Oh, desculpa. Vai lá garoto, boa escola, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa me liga.

– Certo. – Disse mais uma vez lhe dando as costas, mas ainda sentia o olhar dela sobre suas costas. Andou até o primeiro degrau, antes de se virar novamente para ela. – Eu também te amo, Emma.

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– Você não vai pra escola hoje?

– Não – Ela gemeu se remexendo no sofá, abraçando febrilmente o estômago. – Dói tanto...

– Você não devia ter comido tantas porcarias ontem à noite. – Hook respondeu da cozinha americana onde estava. Tinkerbell bufou pesadamente, cansada daquele sermão idiota de Hook.

– Onde Regina está?

– Trancada no quarto com o mapa, desde ontem à noite. – Disse ele soltando um suspiro cansado. – Ela está convencida de que Elphaba já está agindo, aparentemente nem o sinal do cristal faz ela desistir desta ideia.

– Ela está assustada. Ela tem muito a perder com isso... – Disse com uma pontada aguda no estômago e o barulho de sua digestão sendo audível claramente. Doía tanto, e mesmo assim ela não sabia se lamentava ter comido todos aqueles doces maravilhosos; tinha que aproveitar enquanto podia todas aquelas coisas extraordinárias do mundo humano antes que voltasse para a floresta encantada para sua vida de antes.

Não que estivesse insatisfeita. Tinkerbell passara tantos anos desejando suas asas de volta e o reconhecimento como uma fada novamente, viveu tantos anos idealizando tudo o que poderia fazer, que seria injusta se falasse que estava decepcionada com tudo aquilo que sempre sonhara. Mesmo que depois de viver tantas aventuras em Neverland, percorrer inúmeros reinos lutando para sobreviver a vida como fada soava um pouco tediosa, principalmente quando tinham Azul para ditar suas missões e regras. As vezes ela admitia que sentia um pouco de falta de ser independente. De ser livre.

– Ela só esquece que todos nós também temos. – Disse lhe entregando uma caneca de porcelana.

– O que é isso? – O nariz franziu-se ao sentir o cheiro desagradável do líquido amarelado, tinha cheiro aguado e enjoativo.

– É um chá. – E sentando-se no braço do sofá onde ela antes apoiava os pés, Hook lançou um daqueles sorrisos orgulhosos de si mesmo. – Fiz para você melhorar.

– Isto parece horrível. – Disse encarando mais uma vez o líquido fumegante. – Eu não vou tomar isso.

– Bom se você quer melhorar eu sugiro que você tome. – Repreendeu-a, depois virando o pescoço para a direção da porta do quarto de Regina com um olhar reprovador naquela direção.

Tinkerbell às vezes tinha a impressão de que se não estivesse presente já teria acontecido um homicídio entre os dois. Além dos antigos desentendimentos trazidos do passado, Regina e Hook pareciam estar em uma constante disputa imaginária, que nem eles mesmos pareciam capazes de definir. No começo ela estava convencida de que nada mais era do que uma competição infantil de quem era o “ex-vilão” mais redimido, mas pelo jeito que Regina costumava fuzilar Hook com os olhos sempre parecendo prestes a derreter seu cérebro, Tinkerbell apostaria em algo mais sério do que isso.

– Nós temos que trabalhar juntos. Temos que parar de brigar entre nós, e sermos uma equipe. – Disse tentando suavizar a raiva que ele guardava naquele olhar para a porta.

– Diga isso para ela. – Hook soltou em sua direção. – Ela nos trata como se fôssemos imprestáveis, e só quer fazer as coisas do jeito dela.

Na verdade Tinkerbell achava que Regina tratava somente Hook como um imprestável, mas resolveu ficar quieta e deixá-lo incluir ela para não piorar ainda mais a situação entre eles.

– Sabe, a sua ideia do livro, eu na verdade achei muito legal. – Ela encarou incrédula: aquilo era uma grande e deslavada mentira. Regina não era a única a querer fazer as coisas do seu próprio modo, Hook não ficava muito atrás. E os dois pareciam ignorar qualquer opinião sua como se na maioria do tempo ela não estivesse no time; agindo um contra o outro como se eles fossem um o inimigo do outro. Pelo menos os planos de Regina tinham um pouco mais de seriedade do que sair por aí batendo na porta alheia e beijando gente que nem sequer se lembrava dele.

– Eu estava pensando. – Tinkerbell encolheu as pernas para que ele se sentasse enquanto vinha em sua direção se aproximando ainda mais como um predador. A garota desviou os olhos ligeiramente, e recuou o corpo sentindo-se desconfortável com seu avanço. – Acho que nós devíamos nos unir mais, eu e você. Fazer as coisas do nosso jeito também.

– Você está me propondo um motim? – Perguntou incrédula com a atitude dele. Precisava realmente do chá depois daquilo, pois sua atitude era a deixou quase tão nauseada quanto sua dor de barriga.

– Se você prefere encarar desta forma. – Ele estendeu o dedo indicador tocando em seu queixo, e disse com seu ar insolente de conquistador barato. – Eu prefiro chamar isso de cumplicidade, amorzinho.

A revolta que sentia foi substituída por nojo no momento em que o líquido atingiu seu paladar. Só deu tempo para virar a cabeça para o lado e cuspir todo o líquido amargo que ingerira. Hook se afastou um pouco, seu olhar tinha uma leve preocupação sobre ela, mas foi logo substituído por um resguardo, quando ela se virou para encará-lo novamente.

– Você está mesmo vindo aqui me fazer uma proposta dessas? – Exclamou indignada, Hook tentou se defender, mas ela atropelou-o em suas palavras. – E ainda por cima vem querer comprar a minha lealdade com esta porcaria nojenta?!

A caneca voou pelo chão até quebrar-se há alguns centímetros de distância de onde estavam. Tinkerbell se ergueu em pé no próprio sofá, irritada enquanto apontava o dedo acusador para o rosto do pirata.

– Quem você acha que eu sou pra vir aqui e achar que pode me corromper com essa sua lábia barata e esse seu veneno nojento? – Gritou com ira, mas no fundo muito mais decepcionada do que realmente com raiva. A verdade era que Tinkerbell costumava ver muito mais do que um pirata galanteador barato e egoísta em Hook, ela realmente acreditava que por trás de seu ar arrogante ele tinha um bom coração e no fundo era uma pessoa digna, mas cada vez que ele provava ao contrário ela se sentia uma idiota ingênua por acreditar nisso.

– Eu não fiz o chá para comprar você, fiz pra que você melhorasse, estava com dor eu só quis ajudar!

– Você não faz nada por ninguém sem que tenha qualquer intenção, pirata! – Disse e parecia que estava escutando Regina em suas palavras, mas não conseguia evitar naquele momento toda aquela fúria se esvaindo através de palavras. – Você é realmente um maldito egoísta que só pensa em si mesmo!

– Hei, você pode se acalmar um pouco! Foi só uma proposta!

– Pro inferno você e sua proposta! Nós somos uma equipe, não temos que ficar um contra o outro, temos que nos unir! – Disse descendo do sofá com um pulo suave e indo decidida em direção ao quarto que dividiam quando sentiu seu braço ser agarrado por sua mão direita.

– Escuta, me desculpa. – Disse com seus olhos azuis suaves, realmente demonstrando o que estava falando. Mas ela não baixou sua guarda, continuou com sua expressão irritada. – Eu sei, foi uma coisa idiota a se dizer, é só que Regina não é a única que está nervosa com esta história...

– Bom, pelo menos ela não veio me propor apunhalar você pelas costas até agora. – Tentou se soltar, mas ele não afrouxara o aperto. Mais uma vez seus olhos a encararam profundamente quando se dirigiu a ela.

– Escuta, por que em vez de brigar comigo você não me ajuda? Não é isso que as fadas fazem?

– O que? A me virar contra Regina? Não, obrigada.

– Não estou falando disso! Estou falando com Emma. – Tinkerbell rolou os olhos e bufou já sabendo o que viria a seguir. – Porque você não pode me ajudar a trazer meu verdadeiro amor de volta? Porque o beijo não funcionou? Porque você não usa seu pozinho e me ajuda que nem ajudou a Regina?

Ela já estava cansada de Hook e toda aquele papo sem fim e enjoativo sobre Emma Swan, as vezes achava que os Charmings haviam concordado com a ida de Hook na missão para que ele parasse de enchê-los de bajulações tentando convencê-los de que poderia ser o genro ideal para sua princesa. Era patético de se ver. E desde que chegaram ali, Hook parecia estar confundindo-a com um jarro do desabafo, e todas as seus lamentos vinham parar em seu ouvido– Provavelmente porque se ele tocasse no assunto perto de Regina ela provavelmente arrancaria sua cabeça usando as próprias mãos – e ela já estava cansada de lhe explicar milhões de vezes as mesmas coisas.

E ele só se tornou mais insistente ainda quando a ouviu comentar com Regina um dia sobre o homem com a tatuagem de leão, em mais uma tentativa incansável de fazê-la se interessar por sua felicidade. Então em sua cabeça Hook não conseguia entender as razões dela não ajuda-lo já que havia conseguido encontrar até mesmo o verdadeiro amor da Rainha Má. Uma parte sua duvidava que Emma Swan fosse seu verdadeiro amor, outra parte desejava que realmente não fosse, só para Hook deixar de ser tão babaca com esse assunto, e uma outra parte sua – esta que se importava com Hook, mesmo que ela negasse veemente a si mesma – não queria ter que encarar seu desapontamento caso estivesse enganado.

– Primeiro: eu sou uma fada, não um gênio! Não vou trazer seu amor de volta em 3 dias nem nada disso! – Disse arrancando bruscamente o braço de suas mãos. – Segundo: eu já disse mais de mil vezes que se ela não lembra quem você é o beijo de amor verdadeiro não funciona! Terceiro: Se você se esqueceu, neste mundo meu pozinho mágico é só pó! A única coisa que vou conseguir se jogá-lo aqui é uma alergia!

Ele ainda tentou retrucar, mas desta vez ela não se deu nem ao menos o trabalho de escutá-lo. Bateu a porta com força, esperando deixar de fora tudo o que queria evitar: Hook e seu chá nojento, e a sensação de estar sendo usada cada vez que ele a usava para desabafar sobre Emma Swan.

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O garoto não a encontrou por nenhum lugar. Havia andado por todos os lugares daquela escola – exceto os banheiros femininos, Henry já achava que sua experiência única havia sido demais – e não a vira por nenhuma parte. Esteve tão ocupado na busca pela garota punk, e com a decepção em não conseguir acha-la que havia se esquecido de que sua última aula no dia seria a aula de inglês com a senhorita Nancy.

Pensar no fato fazia seu estômago se revirar e Henry não podia estar menos ansioso para o encontro. Já havia convencido a si mesmo que aquilo não bastava de uma ilusão criada por sua cabeça, em meio ao nervosismo e o medo que sentia naquele momento, mesmo assim quando fechava os olhos e visualizava o olhar frio e mortal da “criatura Nancy” os pelos da nuca se arrepiavam da mesma maneira do que no dia anterior.

Quando entrou na sala estava tão intimidado pela professora que nem os olhares mal encarados de Bruce e dos meninos fizeram efeito nele. A professora por outro lado, estava como sempre com seus sapatos vermelhos, e roupas recatadas com o cabelo puxado rigidamente em um rabo de cavalo alto. Não havia veias em seu rosto, nem mãos parecidas com garras. Tudo continuava a ser da mesma maneira, a não ser pelo seu bom humor destoante aquele dia; ela passou um de seus textos enormes na lousa para que todos copiassem e sentou-se na sua cadeira na frente da sala com um bom humor destoante de seu normal.

Henry não podia evitar não desgrudar os olhos dela por um segundo sequer. Cada gesto que fazia, cada olhar que lançava ele tentava buscar traços da criatura que vira no dia anterior, e para seu espanto a professora parecia ter o olhar bem insistente em sua direção no canto inferior da sala. Henry ponderou que pudesse ser apenas paranoia de sua cabeça, que as atitudes da professora poderiam ser nada menos do que respostas ao seu próprio olhar insistente sobre ela, sim era o que ele tentava pensar racionalmente, mas o que verdadeiramente sentia era que ela havia visto ele, ela sabia que ele estava ali a espiando no banheiro em sua forma bestial.

Quando o sinal tocou anunciando o fim da aula, Henry estava mais aliviado do que o normal por ir para casa. Jogou as coisas de qualquer jeito na mochila e já estava andando quando a jogou em suas costas, indo em direção à porta, e já estava quase do lado de fora se sentindo muito mais tranquilo quando a voz chamou seu nome. Henry congelou onde estava: o corpo se tornou rígido e seu coração batia forte. Foi só uma ilusão, nada disso é real. Ela só é sua professora.

– Henry Swan? – Chamou mais uma vez, já que Henry continuava de costas, nervoso demais para se mexer. Lentamente ele se virou, tendo noção do quanto parecia assustado a cada passo que a professora deu para mais próximo dele. Quando já estava próxima o bastante – próxima até demais na opinião de Henry – ela lhe deu um sorriso largo antes de começar a falar:

– Henry Swan, podemos falar um minuto? – O garoto assistiu nervosamente os últimos colegas de classe saírem da sala deixando apenas ele e a Srta. Nancy no local, o pânico crescente tomando-o mais uma vez.

– Srta. Nancy... Talvez outra hora... Minha mãe está me esperando, eu preciso realmente ir pra casa... – Disse recuando, dando-lhe as costas, pronto para fugir dali o mais rápido que as pernas lhe permitissem, mas o máximo que conseguiu foi virar as costas antes que suas mãos segurassem firmemente seu ombro. Não eram garras, mas foi assustador o suficiente para Henry engolir à seco, quando ela se pôs ao seu lado com o mesmo sorriso largo e intimidador estampado.

– Eu posso acompanha-lo, então.

– Até a minha casa?! – Perguntou espantado, a professora jogou a cabeça para trás e riu.

– Até onde for necessário, Henry. – Disse e caminhou com ele pelo corredor lado a lado.

Henry torceu para que ela começasse logo a falar tudo o que tinha que ser dito, para então ele encurtar o máximo que conseguia o assunto e ela deixá-lo em paz, mas nenhuma palavra sequer saiu da boca da professora. As vezes parecia que ela havia se esquecido de que estava do seu lado e andava com os olhos frouxos mas o aperto em seu ombro firme, impedindo-o de pensar em qualquer outra coisa. Para ele não havia dúvidas: Não havia o que conversar, não havia nada o que falar. Não sabia o porque da professora querer acompanha-lo, nem conseguia pensar em nada a não ser em sua forma maligna.

– Preciso ir no banheiro. – Tentou ganhar tempo enquanto passavam em frente ao sanitário masculino. A professora franziu as sobrancelhas, mas não o impediu. Se não havia um motivo lógico para ele impedi-la de acompanha-lo, também não haveria um para que ela o deixasse ir no banheiro.

Henry molhou o rosto, tentando acalmar as batidas descompassadas de seu coração. Não fazia sentido sua reação, mas a da professora também soara bastante suspeita para ele. Olhou para a porta e cada célula de seu corpo gritava para não fazer aquilo. Henry respirou mais uma vez, encostando as costas na pia, tentando acalmar o cérebro e a centena de pensamentos que fervilhavam em sua cabeça. Não soube ao certo dizer quanto tempo ficou ali imóvel tentando se acalmar, só foi despertado quando a voz da professora chamou-o pelo nome do lado de fora do banheiro. Foi só o que precisou ouvir para saber exatamente o que tinha que fazer.

Henry deixou-a chamando seu nome, e correu até o último reservado – que era grudado na parede com uma janela alta – subiu apressado no vaso, e se debruçou sobre a janela tendo uma visão do que teria que enfrentar caso levasse seu plano à diante: O telhado era levemente inclinado, mas nada com que ele não pudesse lidar. Um pouco à sua direita, uma calha poderia ser usada para ele conseguir descer até o térreo. Não pensou se estaria encrencado caso o vissem fazer isso, nem pensou no que a senhorita Nancy pensaria quando ele não voltasse do banheiro, seu instinto de sobrevivência falava mais alto do que tudo, distribuindo toda adrenalina por seu corpo, impedindo-o de sequer pensar duas vezes antes de agir.

Primeiro jogou a mochila, e depois impulsionou o próprio corpo através da janela retangular que era espaçosa pouco mais do que o suficiente para que seu corpo a atravessasse. Henry primeiro apoiou as mãos no telhado, fazendo delas o ponto de apoio para impulsionar a travessia do resto do corpo, e já tinha quase completamente atravessado quando olhou para trás e viu os olhos azuis da professora entrando no lugar, sua visão focada diretamente nele. Henry se apressou ainda mais quando a viu vindo em sua direção com o rosto coberto de ira; ela já estava próxima o suficiente quando todo seu corpo terminou de atravessar o buraco.

Henry ainda olhou para trás uma vez, enquanto jogava a mochila em suas costas e quando as garras – sim, literalmente garras desta vez, amareladas e curvadas – da professora se projetaram pela janela o garoto não conseguiu conter o pulo que dera, o desequilibrando e fazendo-o rolar pelo telhado levemente inclinado. Henry sentiu o mundo girando junto com ele, e por fim a visão do chão sólido e duro esperando pro sua queda à uns 3 metros de altura quando no último momento conseguiu agarrar a borda do telhado. Henry suspirou fundo, segurando sua punica esperança de não se esborrachar no chão com veemência, tentando articular um rápido plano que o fizesse melhorar aquela situação.

Olhou para o lado e viu a calha, estava há cera de um metro e meio de distância do lugar para onde ele rolara, e parecia sua melhor chance e menos dolorida de escapar. Lentamente, moveu os braços para o lado tentando não perder a firmeza que segurava nem que a gravidade fizesse seu dever, e isto foi ainda mais difícil de ser feito com a palma das mãos raladas pelo choque que tentara prevenir quando caía pelo telhado. Lentamente ele fez seu caminho, com dificuldade, seus olhos as vezes virando-se para espiar a janela onde vira as garras da professora uma última vez, outras vezes olhavam para baixo para verificar a altura que teria que enfrentar caso caísse e talvez os membros quebrados que isto poderia lhe render.

Quando finalmente escorregou pela calha, se permitiu respirar aliviado. Pelo jeito ele realmente havia demorado um bom tempo entre sua caminhada e a tentativa de acalmar os ânimos no banheiro, já que a fachada da escola se encontrava deserta, sem nenhuma viva alma por perto. O garoto pousou os pés no chão, sentindo agora com a queda de adrenalina de seu corpo os arranhões nos joelhos e nos cotovelos arderem, mas Henry não permitiu que nenhum dos dois o atrasasse. Antes que tivesse tempo de ser seguido, ele correr para longe da escola – não pelo caminho habitual, e sim pela lateral, onde quase ninguém permanecia – e correu o máximo que conseguia, cada vez mais sentindo-se livre daquele pesadelo.

Olhou para trás para certificar-se de que não estava sendo seguido e permitiu um sorriso antecipado sair junto com sua respiração, mas foi só por um momento. Até trombar em algo adiante, antes mesmo antes de olhar para frente e poder encará-la. Olhando-a debaixo, Henry estremeceu. As escoriações arderam ainda mais quando ele foi de encontro com o chão; apesar da professora estar em sua forma humana, a expressão de seus olhos, e o sorriso maléfico em sua boca eram bestiais. Henry não se deu ao trabalho de tentar imaginar como ela aparecera ali tão rápido, ou como havia conseguido alcança-lo. O máximo que tentou foi se arrastar para trás tentando adiar o inevitável.

– Rápido, Henry. – Disse com um riso de desdém que o fez estremecer. – Mas não rápido o bastante.

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Emma largou a assadeira rapidamente na pia de mármore, e largou o pano de prato logo que pode sacudindo a mão que quase chegara a queimar. Olhou para sua obra: Não estava bonita como havia visto no site, mas era realmente uma pizza caseira! Estava feliz, Henry ficaria surpreso. Provavelmente havia pensado que iriam pedir pizza como sempre faziam, mas desta vez ela iria realmente o surpreender.

A lembrança dele na beira da escada dizendo que a amava aquecia seu coração cada vez que se lembrava disso e fazia um sorriso bobo florescer em seus lábios antes que ela mesma se desse conta. Não que duvidasse, mas em tempos difíceis pelo qual eles estavam passando era reconfortante ser lembrada disto. Dava-lhe segurança, e a encorajava ainda mais nas melhorias que planejava para suas vidas. E depois de saber que tinha a colaboração de Henry, ela estava bastante otimista sobre o futuro.

Havia arrumado a casa naquela tarde, já que não tivera nenhuma chamada para o serviço. O livro havia sido colocado no fundo do armário, e por pura superstição boba colocara o apanhador de sonhos que guardara desde a época de Neal perto de sua cama, não acreditava muito naquilo, mas não tinha nada a perder, então lá estava. No fim olhou a casa orgulhosa de seu próprio trabalho, sorrindo e apenas esperando que Henry chegasse da escola para que pusessem seu plano em prática. Foi uma decepção quando ele se atrasou, e se tornou uma preocupação quando o atraso aumentou.

Emma já pegava as chaves do carro disposta a percorrer todo o caminho que o garoto fazia na volta da escola, com o coração apertado. Henry nunca se atrasava, Henry não tinha amigos para ficar conversando até tarde na porta da escola, e assim cada hipótese era descartada fazendo-a ainda mais nervosa sobre a situação. Andou pelo corredor apressada, quando o toque do telefone a fez parar, suas mãos ainda tremiam quando atendeu, tendo um pressentimento horrível sobre aquilo:

Estou com seu filho, salvadora.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? *-*

Créditos: O nome do capítulo foi tirado do filme "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei" dito pelo MAGOvilhoso Gandalf para o Pippin, e retrata bem esse capítulo, BEM DEMAIS na minha opinião!

Sim, eu poderia dizer que AQUI começa a fic de verdade, antes havia sido mais para se situar e montar tudo o que começa AQUI, eu não revisei nem nada (por isso: PERDOEM algum erro grotesco) mas de primeira olhada eu fiquei bem satisfeita com o capítulo até porque, foi escrito em um pouco mais de um dia, e eu estava tão empolgada com todo ele que saiu com uma tremenda facilidade. Teve de tudo nesses, momentos fofos, momentos de briga, teve trio Regina+Hook+Tinkerbell (amo demais, sério acho que qualquer parceria entre eles poderia ser hilária e muito interessante!), teve friendship Regina e Tinkerbell (coisa fofa, porque Fairy Queen BFF é lindo), teve momento de tensão, enfim... foi de longe meu capítulo favorito de escrever, mesmo que não tivesse SQ realmente :/

Obrigado ao pessoal que sempre comenta, e obrigada aos novos leitores que comentaram! Façam esta pseudo autora feliz e continuem me dando esta satisfação mesmo que seja para criticar, ou sugerir QUALQUER coisa!

P.S: Provavelmente o próximo capítulo vai sair um pouco atrasado (tenho mantido um ritmo de quase sempre postar na terça-feira, mas a semana que vem vai ser corrida pra mim, por isso resolvo postar mais este essa semana, pra não me embolotar nem deixar de postar) Obrigada por aqueles que acompanham, não desistam de mim poooor favor! hahahahaha

Sério animação tá tanta que parece que eu tomei energético, ai ai... HUIHADSUIHADSUIHADSUIAD' *-*