O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 2
II - Confusão. No que acreditar?




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Finalmente já caminhava pelos arredores. Lamentava não ter pegado meu skate, o tempo entre andando e indo de em cima do skate tinha uma leve consideração, entretanto, faltava pouco, bem pouco, e para minha lamentação, os olhares se tornavam cada vez mais rotineiros, porém, nada como outrora, com aquele mendigo perturbado. Eram apenas riquinhos ou pessoas entre famílias. —— Olha mãe! Ele tem um arco! —— Ponderava uma delas, fazendo todos os distraídos focarem em mim. Contive o nervosismo, sim, muitos olhares pra mim, se não fosse algo sério, me deixava bastante desconfortado.

Por fim, entrei na marquise, próximo do MAM e a aranha gigante. —— Por Zeus. Cheguei. —— Espera... Tinha dito “Por Zeus”? Estranho... Sempre brincava com isso, mas assim repentino, era duvidoso. Mas óbvio que não importei, talvez tivesse com foco nos Deuses esta manhã, pois desde pequeno tinha o hábito de pesquisar tudo sobre mitologia, mas os fatos ocorridos desde que estava em casa, me deixavam confuso e intrigado. Tinha alguma coisa faltando em mim, como se uma parte tivesse sido apagada da minha mente. Algo que realmente desse valor...

E para o dia ficar cada vez melhor, não tinha ninguém em frente à Aranha. —— Fala sério... —— Resmunguei, pegando pela segunda vez o celular. As mensagens no whatsapp não paravam, mas de suma, só queria saber as horas, e foi o que fiz. 11hrs23mins. —— Eles já devem ter descido... —— Por alguma razão, eu tinha plena ciência do que iria fazer e para onde ir em situações como aquela. E simplesmente segui meu instinto, coisa que nunca fazia, mas estava mais do que convencido, aliás, tinha plena certeza de que era isso, como se já tivesse feito isso várias e várias vezes.

Rumo ao bosque, tive a sensação de estar sendo observado. Foi estranho. Os olhares eram comuns, mas aquela sensação... Era como um sentido. E ridiculamente pensei no Homem-Aranha, mas sinceramente, era quase isso, como se algo tivesse vindo à minha direção, pelas sombras, sorrateiro e silencioso. Olhava pelos lados, nada. Pra cima? Somente o céu e as folhas das árvores farfalhando conforme o ritmo do vento aumentava ou diminuía... O que era isso? Do chão, apenas galhos e folhas secas acima da grama gasta, mas ainda bastante esverdeada. Apesar de avaliar tudo, aos poucos aquilo foi, diminuindo. —— Cara, o que tá acontecendo? —— Murmurava, apoiando a testa na palma destra aberta.

Finalmente, depois de piscar forte duas ou três vezes, me recompus, ergui a cabeça e voltei a caminhar. Algo a declarar? Estava com a espada em punhos. Se eu lembrava de quando tinha a sacado? Evidentemente que não.

A arma tinha cerca de cinquenta, sessenta centímetros. Estava mais parecida com uma adaga, em comparação as espadas que já tinha usado em brincadeiras no “Ibira”, mas mesmo que lembrasse de tudo, a mente me vetava informações. Tais como: que brincadeira? Sobre o que os eventos eram relacionados? Que mancha era aquela na camisa de muitos? Sempre... Sempre tudo se apagava num breu e por mais que eu tentasse vasculhar, ele ia mais fundo, ficando impossível de arrancar informações.

Outra vez ignorando o devaneio, descia o caminho um pouco íngreme, evitando escorregar na grama molhada. Finalmente meus olhos puderam avistar um grupo bastante grande, só que desta vez, poucos portavam camisas laranja, e os mais próximos, os que chamava realmente de amigos, pareciam ter tido a mesma ideia do que eu. Variar naquela manhã ensolarada.

Quando me avistaram, alguns mais empolgados saiam e gritavam meu apelido. —— Maaaarti! —— Eu apenas sorria e ia em direção. —— E aí, pessoal. —— Respondia meio sem empolgação, e percebia que todos ali presentes sentiam o mesmo. Por incrível que pareça até a Juliana Pimenta estava quieta e silenciosa. —— Nossa, que animação, ein? —— Comentei. —— Acho que é porque o evento não começou ainda... —— Explicou Thalles, embora bastante confuso. —— Entendo... Vamos esperar então. Vou ver quem mais chegou. —— Eles assentiram e voltaram a se sentar-se à mesa cujo uma árvore estendia-se logo atrás.

Vasculhando o recinto, percebia que estava mais movimentado por algumas mulheres velhas e emburradas, caminhando separadamente em direção das pistas que cercavam o bosque, área que nas atividades de luta era proibida utilizar. —— Isso é coisa da sua cabeça... —— Sussurrava, vez ou outra cumprimentava pessoas conhecidas, até me deparar com Joe, um dos amigos mais confiáveis dos eventos. —— Gêmeo! —— Brinquei, e ele retribuiu com o mesmo afeto. —— Meu gêmeo lindo! —— Abracei-o e percebi estar sozinho, vestindo sua típica camisa do homem de ferro, e usando seu boné verde da Tom Hill. —— Cara, preciso te falar! Hoje foi complicado... Acordei com uma sensação estranha, e pior... Eu não me lembro de nada! Nem porque nós frequentamos esses eventos... ——Joe me olhou surpreso. —— Sério? Mano... Comigo também. Eu só sei que tinha que vir pra cá, apenas. —— Um ar de dúvida pairou na minha mente. Será que todos ali estavam tendo isso? Seria uma epidemia de uma doença? Amnésia? Não, tinha certeza que isso seria impossível de se pegar no ar.

—— Não sei o que pensar sobre isso... —— Comentei, e ele confirmou com um aceno de cabeça. —— Eu vou ali olhar o rio... Preciso me acalmar, e estou ficando tonto, minha visão uma hora fica boa, outra hora eu quase fico cego... Estou tendo pressentimentos estranhos. Acho que estou enlouquecendo, gêmeo. —— Dei risada, e ele também. Apertou meu ombro suavemente, e em seguida me confortou. —— Relaxa! Isso deve ser só uma sensação ruim, logo passa, dá uma respirada, senta um pouco, se não melhorar volta pra casa, eu te acompanho. —— Me tranquilizei instantaneamente e por fim, apertei sua mão como numa saudação novamente, e fui em direção do lago. —— Vou ver o pessoal, a gente se tromba! —— Ele exclamou e eu ergui o braço demonstrando o dedão elevado. Sinal de confirmação.

Nas margens, percebia que um cardume de peixes se aglomerava, estavam inquietos, como se algo os perturbassem. Ajoelhei e fiquei olhando, e quando o fiz, sumiram tão rápido como um piscar de olhos, para o fundo daquelas águas, aparentemente poluídas.

Primeiramente pensei que eles se assustaram comigo, ou simplesmente não gostaram de mim. —— Eu sei que como sushi, mas não é pra tanto, né? —— Brinquei comigo mesmo, ajustando o arco e ainda com a espada em mão. Logo, na sequencia, algo inacreditável aconteceu. Apenas um peixe, emergiu, com seus olhos vidrados, parecia me avaliar. A principio fiquei perplexo, e tentei descobrir o que ele realmente estava fazendo, era evidente que não ficaria me olhando por achar uma figura interessante.

Nada que via podia me dar uma resposta concreta daquilo. Estava intrigado. Foi então, que de modo inesperado, ele saltou, como se tivesse medo e mergulho, então uma mão tocou minhas costas e antes de me virar, agarrou com firmeza meu ombro. —— Mas que... —— Antes de terminar o que ia dizer, me virei por completo, percebendo que era o mesmo mendigo de anteriormente. Afastei-me, com ajuda dos braços, e criando uma distância mínima, mas não pude mover as pernas, pois caso o fizesse, cairia no lago. E não estava nem um pouco a fim disso acontecer.

Ele sorriu, e quando imaginava uma visão de seus dentes podres, percebi que tinha uma fileira perfeitamente alinhada de presas brancas, mas com outras um tanto amareladas. Suas mãos eram quentes, mas continham luvas, o que me deixara duvidoso se seria sua pele ou o calor do próprio couro de tanto usá-las. Lamentavelmente eu não tirava os olhos daqueles dentes pontiagudos. E seu odor... Aquele bafo... Lembrava o cheiro do gato da minha mãe quando terminava de comer um pedaço de carne ou peixe. Repugnante.

Antes de dizer qualquer coisa, o homem começou a se abaixar, achei que estivesse passando mal, o que seria maravilhoso, mas a sorte não estava do meu lado àquela hora. Apertei forte o cabo da espada de Swordplay quando o homem virou seus olhos e pude notar um brilho amarelado, cobrindo-o por completo seus orbes. —— Tu é um exu, caralho?! —— Gritei, e infelizmente não foi suficiente para que alguém ali próximo desse atenção, ou sequer notasse alguém como eu. —— Você tem o cheiro... —— A voz áspera soava de suas mandíbulas, e só podia ver sua língua enorme umedecer os lábios, como se estivesse prestes a saciar a fome com um aperitivo delicioso. —— Cheiro? Cara, eu tomei banho não faz nem duas horas! —— Resmunguei, até ouvir o seu casaco surrado de couro rasgar. —— Acho que essa posição não é boa pra você, amigo. —— Balbuciei com desdém, até vê-lo fixar as mãos na terra. Parecia que estava prestes a atacar com um leão, e como você acha que eu sei disso? Animal Planet.

Ele respirou fundo, como se confirmasse uma ultima incerteza. —— É... Você tem mesmo o cheiro dele! —— Gritou e saltou tão rápido, que se não fosse pelos meus reflexos, ele teria me acertado em cheio com as... Unhas? Podia jurar que as vi rasgando o tecido da luva no momento em que saltara. Meu pulo foi para o lado, deixando meu jeans preto com marcas marrons, devido a terra. Atrás, um amontoado de água elevava-se, junto com o barulho de algo grande ter colidido.

Um rugido, medonho, bradou quando os braços repletos por um manto de pele alaranjada lutava para trazer a cabeça para cima, em busca de ar. —— Maldito! Eu vou te devorar! —— Relutante, mas ele ainda conseguia me ameaçar. —— Isso é canibalismo, cara. —— Dizia já correndo para o centro do bosque. Olhava para trás o tempo inteiro, e quando me virei, para precaver um trombo, infelizmente foi tarde demais.

Chocava-me com alguém que nem sequer conhecia. Não perdi tempo, pedi desculpas rapidamente e continuei correndo logo que me levantei.

Neste meio tempo, percebia que o pessoal dos secundários, secundários não sabia do que, estavam reunidos, com exceção de alguns, tiveram sorte. —— Galera! Melhor sairmos daqui... —— Tentava convencê-los, mas eles ficavam com o mesmo aspecto de que qualquer um iria ficar: “WTF?”. Parabéns, Marti, você conseguiu ser mais uma vez um louco e sem graça nenhuma. —— Por que isso do nada? —— Disse Lyu, como de costume, todo enrolando tentando ajustar sua toga envolta da camisa verde do Lanterna, o que me deixou mais uma vez, intrigado. —— Por que está vestindo isso? —— Indaguei, mesmo com o coração quase abrindo o peito de tão acelerado que estava. Ele olhou para si próprio, pensou por alguns segundos até formular uma frase. —— Eu... Eu não sei. Me pareceu ser tão familiar... —— Pensei por breves três segundos, até deixar a ideia de lado. —— Esquece! Gente, por favor, vamos sair daqui... Não é seguro. —— Todos me olharam. —— O que você tem, Marti? —— Disse Malu me olhando com cautela. Ela trajava uma camisa branca com uma jaqueta azul jeans regata e uma calça jeans comum. —— Isso é um tipo de brincadeira? —— Murmurou severamente Maria, mais conhecida como Mama, que também vestia outra camisa que poucas vezes veio ao evento, era toda trabalhada, então não dei importância para a imagem. —— Se fosse brincadeira, vocês acham que eu já não estaria rindo? —— Disse do modo mais convicto possível. —— Mas o que aconteceu, cara? —— Outra vez me faziam a mesma pergunta, só que dessa vez, tinha vindo do Nico/Vini. O que me deixou surpreso? Ele estava com uma camiseta de gola V branca, nada que lembrasse preto. Antes de perguntar alguma coisa ou questionar todas aquelas esquisitices, outro rugido, de uma fera colossal, enfurecida e dominada pelo ódio, alastrou-se pelo evento. —— Isso aconteceu! —— Gritei, empurrando eles e fazendo – se quisessem – pegar os seus pertences. Eu, por alguma razão, não larguei o arco, tampouco a espada.

Felizmente, depois de poucos momentos ainda ali, conseguimos sair correndo. Mas, algumas mulheres impediram o nosso caminho logo que completamos vinte metros de corrida.


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