O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 1
I - Despertar da realidade.




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Os raios solares invadiram meu quarto pelas frestas da janela entreaberta. Raridade. O sol nunca nascia verticalmente, e foi à primeira controvérsia que pensei quando abri os olhos incomodados e com a visão turva. Finalmente acostumando com a claridade, pós esfrega-los, me levantei. Sabia que tinha algum compromisso naquele sábado, mas por incrível que pareça, só lembrava de que tinha de estar no parque Ibirapuera às onze horas.

Cansado de tentar lembrar, me cedi ao compromisso. Rapidamente me dirigi ao banheiro, propondo-me ao tabu de toda semana. Acordar e me lavar. Suava muito durante a noite, mesmo nas noites mais frias. E desde alguns dias atrás, isso tinha se tornado cotidiano. Confuso. Tinha sonhos repletos de vultos, todos inexplicáveis. Nunca via muito sentido nas coisas que sonhava, mas pelo menos conseguia entender o que acontecia, mesmo que repentinamente saísse do meu quarto e me deparasse com uma selva, eu sabia o que acontecia. Mas ultimamente apenas um mar de azul com pretos céleres e sem rumo pairava numa imensidão infinita... E cada vulto parecia uma coisa diferente, como se batalhasse e tivesse inúmeros inimigos defronte e aos arredores.

Refletindo sobre o sonho, me encontrava cabisbaixo, com a palma destra apoiada na parede, dando sustentabilidade ao meu corpo enquanto a água morna caia em minha nuca, me relaxando. Já tinha terminado de me lavar, e desde que pensar me tornou pertinente, tinha agregado ao monótono hobbie aos banhos diários. —— Isso é estranho... É a primeira vez que eu acordo e não sinto a boca seca, e pior... Não me lembro do que tinha que fazer. Por quê? —— Muitos ficariam curiosos em saber o porquê de mencionar a boca seca, mas como poucos sabem, eu sempre fui diabético, e todas as manhãs acordava com aquele incomodo. Era um saco, sem dúvida. E o que mais me surpreendeu foi ter medido a minha glicemia e ela ter pontuado “98”. —— Mas... Eu comi doce e esqueci de tomar insulina ontem. Estranho... —— Ignorando o ato sobrenatural do meu pâncreas, voltei ao meu quarto, me vesti, colocando uma camisa diferente. Havia uma em repouso no meu quarto, laranja com uma mancha preta, contudo, quando a visei, meus olhos perderam o foco de repente, como se tivesse ficado cego. Meio tonto coloquei a mão nos olhos e apoiei em seguida uma delas ao guarda-roupa, e quando os abri novamente, a visão tinha melhorado, e diria que bastante, como se tivesse usando meus óculos. —— Mas que bosta... —— Irritado, praguejei. E finalmente agarrei uma camisa vermelha com o símbolo do Flash. Sorri, pois adorava aquela camisa.

Finalmente trajado, tive uma sensação de que esquecia alguma coisa... Voltei ao cômodo pela terceira vez, olhando tudo, com exceção da cadeira onde a camisa laranja estava. Não queria aquela mesma sensação de novo. Pensando e vasculhando os cantos, percebi a espada que comprara a ultima vez no Ibirapuera, cujo não lembrava o motivo de estar lá, e o Arco, comprado ano passado, apesar de que fosse o primeiro mês de 2014 ainda. —— Deve ser isso... —— Os peguei, colocando como de costume: A aljava entrelaçada por um cinto, o arco entre o ombro destro e a espada fixada pela abertura do cinto que saia do feixe da aljava. Bastante complexo, mas muito simples de se fazer. —— Acho que finalmente aprendi a colocar isso. —— Dizia sentindo um alívio que normalmente não tinha na perna canhota. Sempre que colocava a aljava presa, a perna perdia bastante sua liberdade de movimentar-se. Todavia, era outro pensamento ligeiro que demorava mais pra explicar do que realmente acontecia. Segui rumo às escadas instantaneamente, até ser vetado pelo som da tranca da porta do quarto do meu pai, e vê-la abrir. —— Filho? —— Indagou ele. —— Sim? —— Respondi com outra pergunta. —— Já vai pro evento? —— Eventos... Quando aquela soou pelos tímpanos, uma tontura e silhuetas surgiram, como num flashback dos sonhos que havia tendo ultimamente. —— Você tá bem? —— Ele saiu ligeiro, me segurando. —— Mediu sua glicose? Comeu alguma coisa? O que você tá sentindo? —— Pois é, meu pai era bastante super protetor. —— Eu estou bem, pai... Foi só uma tontura. Minha glicose tá normal e sim, já comi. —— Mentia. Mas sabia que não tratava-se de uma hipoglicemia, saberia quando fosse. —— Tá, pega dinheiro na minha carteira se precisar, e cuidado, vê se não vacila. —— Ri com o canto dos lábios. —— Pode deixar, tchau. —— Desci as escadas então finalmente. Algo novo a reparar? Estava mais animado, entusiasmado. Parecia que cada segundo que ficava dentro de casa fosse uma eternidade. Bebi um copo d’água e finalmente consegui sair, e até esquecia de pegar dinheiro da carteira. Coisa que jamais aconteceu.

Fora dos portões, respirei fundo e me deparei com os olhares tortos. Óbvio, era um cara de dezenove anos, com aparência de quinze, carregando um arco com flechas e uma espada de mentira. Não o criticaria, sabia que era esquisito, ainda mais quando se usava uma camisa de um herói da DC.

Seguindo o caminho, notava que os olhares ficavam menos... Sutis. De uma leve observada, tornava-se um encarar assustador, de um daqueles mendigos que vagavam pela Avenida Santo Amaro. E o mais desconfortante era que seus passos partilhavam a mesma sincronia dos meus, mas tínhamos o equivalente a oito metros de distância. Já estava chegando em direção do Pão de Açúcar, quando olhei pra trás e o homem tinha sumido. O coração acelerou na hora, mas em contrapartida se aliviou. Nada restava além de outras pessoas caminhando ou tomando seus ônibus em pleno sábado as dez e pouco da manhã.

A corrida até o portão no qual nunca lembrava o número, mas sabia que ficava próximo do Bananal – sim, fui uma vez lá pra nunca mais –, não tardou. Quando puxei o celular, via que eram 10hrs45mins. —— Acho que vou chegar um pouco atrasado, pra variar. —— Eu e o meu péssimo novo costume de falar sozinho. Até questionar o porque daquilo também. Mas o que importava era que não tinha transpirado nem um pouco e o fôlego me parecia infinito, pois as pernas nem se incomodavam com o trajeto percorrido tão rapidamente.

Pelo menos uma coisa era certeza no meio de tantas surpresas. Iria ver meus amigos. E isso me deixava entusiasmado para chegar logo.


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