O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 17
Perdemos nosso lar.




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Nos aproximamos rapidamente em direção ao centro do pátio. Havia muitos destroços por todos os lados, felizmente as barreiras ainda estavam de pé. Não entendemos muito bem o que aconteceu, mas cerca de dois minutos atrás algo bem grande deveria ter saído do chalé de Hermes, pois o chão estava totalmente rompido por terra e não havia nenhum vestígio de grama nos arredores, numa distância de pelo menos quinhentos metros. O mais legal foi a circunferência formada, um círculo envolta de um chalé. Parecia obra do Tinhoso, suspeitando de um sacrifício em prol do que quer tenha se levantado dali.

Caminhamos até Lorenna e Malu. Elas, apreensivas, olhavam em direção da floresta, boquiabertas. —— Meninas, o que houve aqui? —— Bradou Nico, vasculhando o recinto, com os olhos abertos. Elas permaneceram imóveis. Ao longínquo, podíamos ver as gárgulas rodeando uma área repleta de árvores. Talvez estivessem no coração da floresta. O ponto positivo vinha devido a pausa gratificante dos ataques constantes. O céu já tomava um brilho alaranjado. Incrível como as horas passaram rapidamente.

O mar também estava em silencio. As grandiosas serpentes marinhas fizeram bem o trabalho contra os Ceteas, nenhum ousou a ir para a margem da praia, tampouco confrontarem aqueles monstros imensos. Vitória? Não, não cantaria isso ainda. Desde que descobrir ser um semideus, reviravoltas faziam parte da minha vida agora, e nunca se sabe quando a sorte vai cair para a revés se erguer.

Depois de alguns instantes, o choque das garotas cessou. Lorenna ordenou que a formação fosse refeita depois do descanso, conseguimos acesso ao famoso néctar na casa grande, e os feridos já estavam quase completamente recuperados. Julia (vulgo Jujubs), não descansou enquanto a ultima ferida fosse curada. O suor iminente em sua testa e camisa mostrava o tamanho esforço de suas perícias no campo de batalha, mas logo o sol nasceria e revigoraria os filhos de Apolo. Uma coisa que notei nos últimos dias aqui era a energia eufórica no chalé sete em plena seis horas da manhã. E essa energia ficava até o meio dia, interminável. O ambiente deles era o sol, a luz, sem dúvidas.

Em contrapartida, não poderia dizer que sentia algo menos parecido com isso, mas ao invés de levantar as seis, acordava aproximadamente as oito.

Juntamos o grupo ao redor de Lorenna, ela se esqueceu da nossa presença, assim como Malu. —— Oi? Estamos aqui ainda, sabe? Não é porque gostamos de sombras que somos invisíveis. —— Cody protestou, em busca de algumas faixas e um pouco de néctar. Assim que apanhou o que procurava, imediatamente começou a tratar das feridas de sua namorada. —— Cody, isso é hora pra bancar o cavalheiro? —— Batistão deu um soco fraco em seu ombro. —— Cala boca, e eu sei que você gosta disso. —— As bochechas delas se encheram com o nervosismo, mas de fato a vergonha foi maior. —— Desculpa. É que... Não podemos vacilar... —— Respondeu preocupada a filha de Atena com os cabelos longos e um pouco cacheados. —— Entendo. —— Respondeu Lucas, olhando a floresta, atento e com sua espada prestes a ser desembainhada, no menor ruído suspeito.

Nico foi até o asiático atento, e num sussurro, embora mais parecido com um balbuciar qualquer - sim, todos ouvimos, o garoto não sabia o que significa a palavra "discreto" -, iniciou perguntas mais óbvias do que imaginei. Havia me esquecido momentaneamente o suspense que fizemos outrora, antes de mergulharmos nas águas repletas de inimigos sanguinários. —— Então cara... Você é irmão do Marti? —— Indagou, impaciente e eufórico. Será que era tão emocionante assim encontrar um filho de um dos três grandes? Até porque... Ele mesmo era filho de um. —— Eu? Não, definitivamente não. Mas sim, ao mesmo tempo pode-se dizer que sim. —— Todos ficaram com aquela cara de "hãn? Buguei" literalmente. Eu e ele começamos a rir, quase perdemos o fôlego. —— Queria ter meu celular agora. —— Comentei. —— Verdade, seria hilário vermos essas caras quantas vezes quisermos. —— Yokota foi no embalo. —— Será que alguém pode me explicar de uma vez por todas esse mistério? —— Lorenna bradou, bastante invocada. —— Ok, só pra poupar a minha cara. Yokota não é filho de Poseidon, mas sim da Deusa Anfitrite, rainha dos mares e esposa de Poseidon, então... Digamos que somos meios-irmãos dos tempos atuais. —— O alívio cessou a curiosidade deles, foi tão gratificante para Nico, quanto uma criança prestes a colocar a ultima peça do seu quebra-cabeça de mil peças.

Papo vai, papo vem, mas a guerra continua e não podíamos esquecer dela só por uma revelação leviana. —— Ok, qual a situação? —— Batistão ajustou seus óculos, suas feridas já tinham sido totalmente curadas, devido ao curandeiro Cody. —— Thalles, Tomi e Thomas foram em direção de Joe e Adalberon dar suporte. Conseguimos eliminar todos os escorpiões até que nenhum mais veio. Descansamos um pouco, não adiantaria nada ir à guerra com esse cansaço. —— Assenti. —— Certo, o triplo T copiando o Triplo V, isso não é legal. —— Apesar de todos pensarem que fui quem falei aquilo, não foi. Atrás de mim, um garoto com uma camiseta totalmente roxa escrita "Hora do Pesadelo", pairou entre nós, e ele avaliava cada um, olhando nossas... Hm... Testas? Bom, sim. —— Vinicius? —— Sim, mais um chará, maspoxavida. —— Eu mesmo, e cara... Não sabia que você tinha medo de... —— Me alarmei e tapei a boca dele antes de revelar. —— Cara, seria legal poupar isso! E como? —— Ele descontou me interrompendo. —— Como eu sei? Ah... Esqueci de dizer, sou filho de Ícelos. Eu posso ler os pesadelos das pessoas. E se você já teve um pesadelo com o seu medo, eu descubro só de olhar pra sua cabeça. Legal, né? A Lorenna por exemplo tem medo de unicórnios. Tão durona com medo de uma coisa tão fofa. Hehe. —— Seu sorriso foi malicioso, notei que queria deixá-la envergonhada, e rapaz... Ele conseguiu. A princesa guerreira por alguns segundos virou a princesa ketchup. Todos encararam-na. —— Se mais alguém me olhar com cara de deboche, eu juro que parto esse alguém em dois. —— Rapidamente todos viraram e acharam o chão bastante interessante. —— E você me paga, Vinicius... Ah se paga. —— Para quebrar aquele clima e evitar que o meu chará virasse mingau, rapidamente me aproximei da semideusa. Digamos que, se alguém podia combater ela, seria eu. Por que? Bem... —— Lorenna, depois você se vinga, não ouse fazer eu atacar seu ponto fraco. —— Ela me encarou e sentiu minha mão em seu ombro. —— Ah Martinato! Isso é covardia! —— Ela sabia o que eu podia fazer. —— Eu sei, eu sei, mas é só pra deixar para depois. Prometo que não vou me intrometer. —— Ela arqueou a sobrancelha e me encarou com o semblante sádico.

Segundos depois seus passos foram aplicados e ela caminhou em direção dos guerreiros, e dentre os mais dispostos, ela começou a berrar, ordenando que eles formassem uma nova fila da mesma forma de antes, embora com leves alterações estratégicas. —— Bom, temos que descobrir o que está acontecendo na floresta. Ainda temos que achar Joe e o restante do pessoal. —— Incentivei eles com minha preocupação, mesmo que o cansaço fosse nítido nos rostos de alguns. —— Nos dê só um minuto, pode ser? —— Cody enfaixava alguns de seus arranhões com o auxilio de sua namorada. Mesmo sendo filha de Atena, ela tinha uma perícia sem igual em enfaixar ferimentos. Cada passada que seus dedos ligeiros davam, meu cérebro parecia decorar. Fiquei fascinado devido a velocidade e precisão, e parecia que um tutorial tinha sido impregnado na minha cabeça. —— Isso foi estranho. —— Sussurrei para mim mesmo, até Vinicius levantar sua voz e relembrar sua presença. —— Bom... Acho que deveríamos ir adiantando. Eu estou descansado já, apesar de ter alguns calos nas mãos. Fora isso, tudo em ordem. —— Me levantei e segurei o cabo de minha espada com firmeza. —— Bom, eu estou ótimo também. Depois que entrei no mar, todos meus devaneios se foram. Digamos que estou pronto pra mais algumas. —— Cody se virou, parecia abatido pela conversa. —— O que foi, cara? —— Perguntou Nico, indo em direção do seu irmão. Ele também não estava nada cansado. —— Eu me feri bastante, e vou demorar pra conseguir alcançar vocês. e se eu for, independente do meu estado agora, só servirei para atrasá-los. —— Batistão, para variar um pouco, lhe deu um tapa, fazendo sua realidade voltar aos olhos, agora esbugalhados e surpreendidos. —— Para de bancar o babaca, Cody. Você já fez muito, como todos. Marti, Nico, Vini, vão na frente. Nós os acompanharemos assim que possível. —— Assentimos ao mesmo tempo. —— Antes de ir, preciso de um escudo. —— Ponderei.

[...]

No meio da penumbra intimidadora, fomos obrigados a fazer uma formação um tanto constrangedora, mas o ápice do perigo não podia ser avaliado, tampouco questionável, portanto a segurança vinha em primeiro lugar. Fazíamos uma formação triangular, cada um pegando um ângulo razoavelmente grande, e com os três pares de olhos bem atentos, conseguíamos cobrir praticamente trezentos e sessenta graus completos. Nada viria de surpresa ao nosso encontro.

Se fosse para seguir nossos instintos, notavelmente já teríamos nos perdido. O que nos guiava naquele mar de escuridão era o som do bater de asas eufórico das gárgulas. Seus rasantes quebrando galhos e o tinir das espadas contra-atacando os demônios podia ser ouvido de longe, até mesmo próximo da margem da praia. —— Cara, odeio escuro. —— Disse Vinicius, segurando sua espada e fixando o escudo acima do peito perfeitamente. —— Filhos do senhor dos Pesadelos também tem medos? —— Questionou o filho de Hades, mais baixo, mas mantendo uma altura relevante do seu armamento de defesa. Apesar das desavenças, ele conseguia me proteger e proteger Vinicius caso houvesse algum perigo iminente. —— Claro que sim. Ainda não aprendi a controlar totalmente meus medos. Aliás, acho que nunca conseguirei. Mas por sorte, nunca tenho pesadelos. —— Ri baixo e eles me olharam. —— Vocês são bestas. O medo nunca vai abandonar vocês. O medo é um sentimento, como qualquer outro. Até os deuses não podem se livrar dele. Não que eu esteja os chamando de covardes, longe disso, mas, é inevitável não sentir medo. Até o deus do medo deve ter o seus medos. —— Eles ficaram quietos, refletiam sobre minhas palavras, às vezes eu era pior que filósofo.

Finalmente chegamos numa área onde o barulho estava insuportavelmente alto. —— Preparados? —— Perguntei, abandonando a formação, embora dando uma ultima verificada nos cantos repletos pelo breu. —— Com certeza. —— Afirmou o menor, no meio de nós. Ele sempre queria ficar no meio, impressionante. —— Então... Atacar? —— Vinicius pareceu hesitante. —— Que tal dar cobertura para aquele grupo de Sátiros ali? —— Apontei onde dois homens híbridos estavam cercados por cinco gárgulas sedentas pelo sangue deles. —— Pode ser... No três? —— Olhei ele, e depois o grupo. —— Três! —— E corremos.

Conseguimos uma arrancada perfeita, já que tinha uma leve inclinação no relevo, em direção dos inimigos e nossa posição era justamente no pico dela. Sem gritar, apenas com o barulho dos pés colidindo-se com o chão de terra, chegamos golpeando a cintura de três das feras, dando abertura pra uma chuva de sangue. Jorrou para todos os lados, chamando atenção das outras duas, burras, baixaram a guarda e logo foram perfuradas nas cabeças pelos sátiros. —— Obrigado pela força. —— Comentou um deles, se levantando e logo trotando para a zona de guerra. —— Não há de que. —— Disse Vinicius, limpando vestígios de sangue do seu rosto.

Enquanto ajudávamos os híbridos, pude avistar Adalberon com sua espada longe de quase dois metros, decepando alguns inimigos, e ao seu lado, o cavalo de Joe, sem meu irmão montado nele. Instintivamente, meu coração acelerou as palpitadas. Abandonei a formação, e no campo de batalha algumas gárgulas vieram ao meu encontro. Com ajuda do escudo, derrubei uma com a força do meu corpo, fixando meus pés no solo e jogando o ombro para frente. Não dei chances para o demônio. Logo em seguida, fui obrigado a dar um giro, e com consequência disso, a espada foi levada velozmente na horizontal, rasgando a barriga de outro. Me estabilizei com o peso do escudo e próximo da gárgula caída, pisei em seu rosto e com o escudo, desci com força a parte metálica em seu pescoço, arrancando-o. —— Estou sem paciência pra lidar com vocês! —— Urrava, e com o corpo inteiro dominado pelo ódio, corri até a gárgula desprotegida e com o ferimento exposto, chutei-a na altura do corte, e isso a fez cair no chão, choramingando seja lá como fazia isso.

A criatura arranhava a terra, e com isso, vários tufos de grama prendiam em seus dedos e a terra fincava em suas unhas longas. De costas e possivelmente implorando por piedade, levantei a espada e atravessei sua nuca até enterrar a lâmina no chão. Retirei-a do corpo imóvel, logo dissolvendo-se em pó. —— Ridículo. —— E nos murmúrios, corri até Adalberon, fazendo o que restou da criatura se espalhar pelo cenário.

O Centauro descansava, ao seu redor, haviam várias aglomerações de pó dourado empilhados. Uns eram maiores que os outros, julguei que mais de um inimigo pereceu pela lâmina cruel do amigo. —— Nada mal para um velho. —— Ele me encarou com os olhos semicerrados. O castanho de seus olhos era intimidador, mas já havia me acostumado com olhares nervosos desde que chegara aqui. —— Nada mal para um bebê, pelo que fez na praia. —— Arqueei a sobrancelha. —— Como sabe? —— Ele riu, da sua famosa forma escandalosa. —— Eu sinto. —— Rumei sério em direção do cavalo de Joe. "Onde meu irmão está?" Apesar de irritado, minha frase não soou como um assassino, mas sim como um irmão extremamente preocupado. "Senhor..." O corcel não ousou terminar a frase. "ONDE?" Desta vez elevei o meu pensamento, e isso fez o cavalo se afastar alguns passos de mim. Senti então uma mão tocar meu ombro. —— Ele não está mais conosco. —— As palavras de Adalberon soaram frias demais, como se a morte não fosse grande coisa para ele. —— Como? —— Me mantive monossilábico. Não conseguia digerir algo tão ruim como isso. —— Foi muito rápido. Eu consegui salvar seu corpo ao menos. Eles seria totalmente devorado. —— Apesar de bastante duro, as palavras dele continham compaixão, não que isso me fizesse melhorar o humor. —— E onde está? —— Ele cruzou os braços. —— Os sátiros levaram para o anfiteatro. Seu corpo será entregue ao mar. —— Contive as lágrimas, não poderia fraquejar agora, mesmo isso significando muito para mim. Joe sempre foi o irmão que eu sempre quis ter.

Afastei-me alguns passos e a primeira criatura que veio ao meu encontro, teve num mero segundo, seu pescoço degolado. Larguei a espada, estava sob a cobertura de Adalberon, e sabendo que nada me aconteceria, não que isso importasse, soquei algumas sequencias de vezes a casca da árvore na minha frente. As feridas surgiram rapidamente, assim como o sangue que estava marcado na região da casca esverdeada e um pouco desgastada. Quando estava prestes a quebrar a mão de tanto socar inconsciente, centauro me segurou e não pude conter o choro. —— Eu nem ao menos estava aqui. —— Limpava o rosto com o antebraço, sujando mais ainda ele de terra. —— Nem eu pude ajudar. Mas a morte dele não foi em vão, tampouco deixou de levar seus inimigos com ele. —— O centauro me explicou, e tudo vindo do seu corcel, ele tinha sido o único a presenciar a honra de meu irmão. —— Entendo... —— Me aproximei do cavalo, ainda assustado. Minha mão repousou em seu longo focinho, e acariciando seu rosto, nem ao menos precisei dizer uma palavra, ele se ergueu e deitou sua cabeça alguns instantes em meu ombro. O dourado de seu corpo reluzia na noite, mas agora com o céu já quase azul, sua cor ficava ainda mais radiante. —— Ele nem chegou a te dar um nome... Que tal Solaris? —— Não sabia como meu irmão gostaria de chamá-lo, mas no meu subconsciente, aquele era um ótimo nome. O cavalo não protestou, e mesmo que tivesse tido um nome antepassado, aparentou querer ficar com este à partir de agora.

[...]

O sol finalmente invadiu o céu. E junto com ele, os exércitos inimigos tinham sido varrido de todos os cantos. Semideuses e sátiros se reuniam e saudavam Isadora e Rasquel, fui entender o que tinha acontecido quando Marea me explicou que eles formaram uma aliança - talvez no momento em que eu estava inconsolável -, e juntos, destruíram inúmeros reforços de gárgulas com ventos cortantes e raios poderosos. Eu realmente fiquei desligado demais para não ter ouvido tudo aquilo.

Um pouco a frente, os filhos de Ares erguiam Marea, que foi agarrada sem ao menos eu notar. —— O que ela fez também? Eu realmente perdi tudo? —— Perguntei para a primeira pessoa que encontrei na minha frente. E essa era Mama. —— Ela só ordenou que um exército de javalis selvagens expulsassem as Dracaenaes daqui. —— Se Mama chamava aquilo de só, então eu não saberia como impressioná-la mais. —— Incrível. —— Ela sorriu. —— Não é? Mas com certeza não foi melhor do que o grupo de Afrodite. Seduzimos um escorpião e usamos ele contra seus ideais. Foi incrível! —— Ela se animou me contando, dizia como ela, Babu, Sofia e Mari fizeram o escorpião de estrutura idêntica que matei com meus primos se apaixonou por elas, e começou a desmembrar outros espécimes. Sem contar a parte dos ferrões. Ele tinha sido o último a ficar de pé e foi friamente assassinado pelas quatro num movimento sincronizado. Cheguei até ficar com dó dele. Ninguém merecia morrer assim.

Morrer assim.

Essas palavras invadiram meus pensamentos. Me virei e deparei-me com uma sombra enorme. Muitas aglomerações de terra estava em pé, no formato de um ogro, com cinco metros de altura e mãos em forma de massas medievais. Em cima dele, estava Thalles, banhando pelo suor. —— Então é isso que você fez? —— Perguntei. Ele sorrindo, mas cansado, respondeu ofegante até demais. —— Sim, e ainda tive que lutar, acredita? Mas esse grandalhão foi de uma enorme ajuda. Ainda bem que minha mãe me guiou. Sem ela, não teria conseguido. —— As palavras de Thalles foram compreendidas perfeitamente por mim, só não sei se havia sido da mesma forma com ele do que o ocorrido comigo.

Ele moveu-se com aquele ogro de terra e raízes, todos abriam espaço para sua mais nova criação e aplaudiam-no. Ouvi alguns sussurros de que ele sozinho, derrotou cerca de vinte mulheres cobras, mas ainda sim, tinha uma cobertura aérea, graças a Thomas. O filho de Hermes com ajuda de seus sapatos mágicos voadores, repeliu todas as gárgulas, mas também não estava sozinho, cada um tinha um reforço, e as esperanças da equipe vinham através de Tomi. Ele, apesar de preferir lutar com suas engenhocas, era um excelente espadachim, por isso, qualquer ataque na retaguarda de seus aliados, o filho de Hefesto rebatia e retalhava os inimigos.

Deixei com que o pessoal comemorasse a vitória. Todos mereciam, já eu, tinha que pagar uma divida interna comigo mesmo. Eu levaria o corpo de meu irmão ao mar.

[...]

O Anfiteatro estava vazio, os sátiros fizeram um excelente trabalho. O corpo de meu irmão estava coberto com uma capa azul, e nela um enorme tridente bordado em ouro jazia. Sua extensão era perfeitamente igual ao tamanho do corpo de Joe. Não me atrevi a desfazer um trabalho tão bem feito, portanto, simplesmente comecei a empurrar a canoa, sim, uma canoa extremamente bem construída, através de suas rodas, em direção da praia.

O caminho não durou muito e por sorte ninguém me viu fazendo isso. —— Sabe, irmão. Eu não vou deixar que isso aconteça. —— Iniciei um dialogo com o falecido, todos tem costume de fazerem isso, e eu não seria diferente, mas, no fundo, eu sabia que ele podia me ouvir, e eu queria que sua imagem jovial ficasse vívida em meus pensamentos. —— E você não viverá somente nas minhas lembranças. Eu vou fazer você voltar a vida. —— Claro, Martinato, agora você achou uma lâmpada mágica e com um dos desejos vai trazer ele de volta, né? Não, palhaço. Simplesmente na mitologia, três pessoas foram em busca da alma de seus familiares no submundo e dois deles conseguiram trazê-los de volta a vida. Obviamente, teria que ter a conscientização e a permissão de Hades para que a alma de meu irmão saísse do Submundo, duas coisas bastante perigosas. Mas eu não descansaria, e assim como Hércules e Dionísio, eu definitivamente traria a alma do meu irmão. Custe o que custar. —— Pai, cuide do corpo do meu irmão, seu filho... Até que eu possa por fim trazê-lo para o nosso mundo de novo. Te entrego ele agora e passo a proteção de seu corpo. Por favor, cuide bem dele. —— As águas salgadas ficaram um tanto incontroláveis. A maré aumentou e a força das ondas contra os corais ficou mais forte e audível do pátio. Alguns até mesmo acusaram uma provável tempestade vindo. A canoa finalmente começou a flutuar e em poucos segundos já estava em direção do oceano. Levou o tempo de eu piscar, para que ela fosse consumida pelas águas e finalmente levada aos domínios de Poseidon.

Satisfeito, caminhei em direção do pátio, até ouvir um grunhido ensurdecedor, vindo do céu. Não tive tempo para reagir, simplesmente uma sombra vermelha veio ao meu encontro e só senti uma pancada na nuca, minha visão escureceu e infelizmente não tive como lutar contra o desmaio.

Meus últimos pensamentos foram: "Um dragão...".


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