O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 15
Uma boa estratégia pode vencer uma guerra.




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Desde pequeno eu sonhava em ser um herói dos contos mais tenebrosos que as revistas da D&D pudessem nos apresentar, sempre quis ser o ninja que salvaria a pele do Naruto no último golpe fatal do Madara, até mesmo ser o Ranger Vermelho com um Megazord único formado por um dragão rubro extremamente poderoso, mas nada, eu repito, nada se compara com o que eu estava fazendo agora, porque, por trás de tudo aquilo, só tratavam-se de contos, efeitos hollywoodianos e edições computadorizadas. Ser um herói ao vivo, com o vento soprando no seu rosto, as palpitadas aceleradas querendo perfurar o peito, o suor gélido mesclado com o do incomodo pelo calor e óbvio, os calafrios percorrendo a espinha... Mudava tudo.

Bloqueava minha visão com o porte circular do escudo, por sorte ele cobria bastante o meu corpo, mas não por completo, da cintura pra baixo ainda era um alvo fácil, mas sem ajuda da calda, podia contar com sua mentalidade de gato, ou de cabra, sei lá o que era a segunda cabeça um pouco acima, e torcia para que fosse burro o suficiente para cuspir fogo na altura do meu rosto.

E assim a fera o fez.

Louvado seja o deus que olhou para mim naquele momento. O fogo invadiu meu escudo, e o metal começou a emitir um brilho avermelhado. O couro esquentou, mas aguentei a dor, mesmo que a pele da minha palma parecesse começar a derreter. Cortava as chamas graças ao objeto esférico, ele me defendia e impedia que eu fosse derretido, mesmo encharcado pelo suor agora, percebi o ofegar da Quimera. —— Só tenho uma única chance... —— E com as minhas próprias palavras, tomei minhas próprias ações.

Ergui lentamente a tora em minha mão, próximo ao fogo, ela entrou em combustão instantaneamente. Ótimo, tinha uma mão queimada e uma tocha e você provavelmente deve estar se perguntando: Pra que isso serve? Bom, você já vai descobrir.

Lembram quando a Quimera destruiu a armadura do Tomi? Bom, o líquido nas pernas dela ainda estava intacto e todos sabemos que era altamente inflamável, e eu tinha uma tora flamejante... Vocês entenderam a ligação, né?

O ar faltou nos pulmões da fera, e no mesmo instantes os chalés começavam a ser atacados ou invadidos pelos seres híbridos que vieram pela costa marítima, foi então que num movimento muito além da minha compreensão, joguei o escudo fervendo na direção da boca da antagonista, ou do, não faço ideia, mas o que conta foi que o tiro foi certeiro, fazendo o imenso corpanzil do inimigo recuar alguns passos e erguendo suas patas dianteiras e se apoiando pelas traseiras. Mas não foi só isso, detrás, Agasias reaparecia, pisoteando os olhos da cabeça de bode, atordoando ainda mais o inimigo e deixando-o completamente sem foco. —— Queima, desgraçada! —— Urrei e pulei com a tocha em mãos, aplicando um golpe na coxa esquerda, com tanta força que a madeira não resistiu e partiu em vários pedaços, e algumas farpas entraram na minha mão canhota.

Ótimo, duas mãos ferradas no meio de uma guerra, mas ainda sim tinha um cavalo que sabia como entrar com estilo e surpreender o inimigo.

O líquido, sentindo o calor das chamas, rapidamente começou a arder e consumir todo o corpo da adversária. Os semideuses bradavam em comemoração vendo ela se derreter em pó e finalmente sumir, mas ainda não tínhamos motivo para comemorar. Sem pensar duas vezes e ignorando o fardo da ardência, saquei a espada, corri para a formação e visei onde o pouso de Agasias seria o mais próximo. Não poderia ficar desprotegido e nem ele vagando às cegas no meio do ataque.

Ele planou próximo de alguns chalés, e começou a pisotear dois ou três dos novos inimigos, e os coices não deixavam muita chance deles revidarem, pois imediatamente caiam inconscientes no solo, com dentes quebrados e fraturas no maxilar. —— Eu tenho o melhor Pégaso do mundo. —— Sorri, chegando próxima a outra formação tartaruga guiada por Batistão, ela se encontrava no meio dando as ordens, por isso os inexperientes conseguiam executar algo complexo tão fácil, e óbvio que também tinha ajuda de Malu entre duas formações, sendo a outra, liderada por Lorenna.

A filha de Atena, percebendo minha presença, pediu para que o mais próximo assumisse sua posição, e veio até mim irritada. Percebi isso porque seus olhos estavam num frenesi impróprio para saudações. —— Você matou uma Quimera, legal, mas alguma ideia de como destruir esse zoológico marinho de aberrações? —— Seu tom não estava nem um pouco amigável. —— A filha da sabedoria não é você? —— Retruquei e ela bufou irritada, batendo a espada no escudo, gerando faíscas. Realmente estava frustrada com a perda dos demais, suponho que ela tinha perdido um amigo no acontecimento com a gosma e o fogo da Quimera. —— Olha, não é hora de brigamos, e nem para eu dizer para se acalmar, mas vamos tentar agir com maturidade e evitar mais baixas, ok? —— Por mais irritada que ela estivesse, ainda conseguia raciocinar com clareza. —— Você tá certo. Ideias? —— Cocei levemente o queixo que tinha um resíduo de barba fina. —— Olha, Adalberon sumiu no meio das matas, e o número de sátiros está bem menor do que antes... Isso significa que eles devem estar retardando as frotas que vem pela floresta. Temos duas barricadas e vários semideuses espalhados, temos que nos reunir e formar uma divisa, a maior a meu ver, deve focar na praia agora, e a outra reforçar a segurança pelo pátio. Convoque os filhos de Apolo, temos muitos feridos, mas chame apenas os que sabem curar, como a Jujubs, deixem os demais cuidando das Gárgulas. Cody e Nico ajudaram bastante mas eu duvido que seja suficiente para aguentar o ataque daqueles demônios. —— Ela ouvia atentamente e parecia fazer anotações mentais. —— Nada mal para uma anêmona. —— Ela sorriu com desdém. —— Calada, cara de coruja. —— Sério? Cara de coruja? É... Talvez eu fosse melhor com planos do que com xingamentos inteligentes.

Mais escorpiões surgiram da mata, e em seus corpos haviam vários cipó, raízes e até mesmo algumas flechas. Meu raciocínio pelo menos indicava a certeza de uma linha ofensiva mais à frente. Foi então que tudo piorou. As Harpias caiam dilaceradas no chão e uma chuva de ossos estilhaçados caiu repentinamente. As Gárgulas venceram, mas seus números diminuíram drasticamente.

Numa luta épica, uma Harpia descia mordendo e arranhando com suas patas a barriga de outra Gárgula, mas ela agarrou o pescoço da mulher ave e o arrancou, fazendo ela explodir em pó depois que o sangue lhe cobriu todo o corpo. Seus olhos vermelhos vibrantes me encararam. Se ela queria um duelo, assim o teria. Segurei minha lâmina com as duas mãos, pois ainda era difícil almejar a espada com perspicácia, porém, nada que uma bela dose de boa vontade não resolvesse. —— Vem, criatura do satanás. —— Desafiei e ela enfurecida, bateu os braços em seu peitoral e correu ao meu encontro berrando enfurecida. Realmente pareciam macacos. Levei a espada na altura dos ombros e deixei as pernas bem firmes no solo, seria um golpe estilo samurai, numa curva debaixo para cima, um único movimento perfeito.

Ela se aproximava com velocidade e ira...

Restavam poucos segundos...

BAN!

Cortei o vento.

Um pouco a minha esquerda, ela estava caída com uma machadinha cravada na sua cabeça. —— Mas... —— Olhei em direção oposta, vendo Alex agora com uma calça, armadura de couro, mas ainda sim, sem camisa e descalço, correndo com uma lança de dois metros de extensão. —— Desculpa pelo ks! Mas aqui não tem xp! —— Ele riu e eu assenti negativamente com a cabeça, começando a correr do seu lado, e assim, André aparecia cavalgando seu cavalo, que mais trotava para nos acompanhar. —— Não sei porque... Mas isso é tão familiar! Chega até ser nostálgico, apesar de ser a primeira vez que faço isso. —— Mesmo ofegante, consegui rir. Alex também. —— Mas isso é fora do tabuleiro, primo! —— Disse, e André rapidamente desmontou do seu equino, erguendo sua espada longa. —— Como nos RPG's? —— Olhamos para ele ao mesmo tempo. —— Como nos RPG's! —— Respondemos uníssono.

[...]

A preocupação agora era eliminar os monstros no pátio e resgatar os perdidos no campo de batalha. Haviam vários grupos, e por incrível que pareça, mais Dracaenaes tinham aparecido enquanto duelava com a Quimera. Vários grupos estavam afastados, dentre alguns, se encontrava Anna com seu cantil de vinho e um martelo cheio de serras pontudas, junto dela estava Kokota, carregando uma espada comum, e as duas filhas de Afrodite, Babu e Sofia, com adagas na canhota e espadas curtas na destra. Pelo visto ambas deveriam ter treinado juntos e Sofs aderiu ao combate especializado de Babu. Nada mal, eu suponho.

Sobretudo, eles estavam mais uma vez empacados com um círculo daquelas horrendas e escrotas cobras mutantes. —— Vamos, a gente consegue acabar com elas! —— Babu incentivava o grupo, mas não tinha tanto efeito quanto o medo que os orbes dourados delas, encarando os rostos dele, os passava. —— Cansei de recuar... Cansei de toda hora fraquejar! Eu perdi muitos amigos... Ah! Chega! Vamos! —— Anna berrava enfurecida e tacou sua gargantilha na cabeça de uma, fazendo-a ficar ensopada pelo líquido vermelho. Vinho.

As meninas da deusa do amor contornaram as mais próximas, rebatendo suas lanças e com o uso das espadas, ao mesmo tempo, fincaram as lâminas no rosto da primeira, e com as adagas, lançaram bem no centro da testa de outras duas, cada adaga perfurou uma e consequentemente, três delas pereceram num único movimento. —— Boa! —— Kokota vibrou, aplicando uma rasteira em outra delas, e num movimento astuto, perfurou a barriga dela com a espada enquanto caia. Se fosse um filme igual ao 300, teria aquela cena desacelerada mostrando detalhadamente o movimento efetuado, mas como não era, simplesmente pisquei duas vezes rápidas e fortes, para me acostumar com os fatos.

Anna pegou seu armamento e agachou, desviando da estocada da inimiga. Ela colocou a mão no solo e franziu o cenho. De longe imaginava que ela estava conjurando alguma espécie de poder, e no ultimo instante, antes da adversária quase fincar a parte metálica da ponta da lança em sua cabeça, várias vinhas brotaram, enroscando no corpo da algoz e à amordaçando furiosamente. Aos poucos o sangue escorria nas raízes marrons, esverdeado e bem chamativo, por fim, terminou numa cobra fatiada e uma nova videira magnífica e com frutos bem suculentos. Anna se aproximou de sua criação, pegou uma uva, mostrou o dedo do meio para o pó da antagonista e mordiscou a fruta, indo em direção para uma próxima vítima.

Já eu e meus primos nos encontramos enfrentando um escorpião de uns cinco metros. Talvez aquele fosse o maior dos que já haviam invadido o recinto. Que sorte, não? Mas só de falar em sorte, me senti invencível, só por ter André do meu lado, ele sempre emanava uma sensação de vitória e de que tudo iria dar certo no final. —— Vai pelo lado, Vini, que eu vou pelo outro. —— Ditou ele, e nem precisou ordenar alguma coisa para Alex, devido ele já ter pulado na cabeça da fera, tentando agarrar o ferrão. André era um dos únicos que não tinha o hábito de me chamar de Marti, nem ele e nem Alex, talvez fossem as exceções. Mas sem delongas, fui pelo lado direito, desferindo alguns ataques contras as pinças enormes do oponente. Ele avançou com sua garra peçonhenta, mas eu consegui me esquivar no ultimo instante, jogando meu corpo ao chão, apesar de que, o escorpião era astuto, e não usaria sua garra só como uma tesoura. Ele a ergueu e eu sabia que se não rolasse rápido, seria esmagado.

Assim o fiz, sujando toda minha roupa com terra batida.

Sabe na liga Pokémon quando o Ash usa o Kingler? Então... O Escorpião usou um belo martelo caranguejo, ou deveria dizer, martelo escorpião? Pouco importava, o que valia: Eu tinha escapado.

Me levantei com pressa, pois a besta do Tártaro veio ao meu encontro, ignorando completamente os ataques de André. O maldito além de ser maior, tinha uma couraça mais resistente, portanto, cada golpe só rompia uma parte da casca, mas incapaz de imobilizar por completo sua pata.

Dobrando os joelhos, assim que me levantei já iniciei uma corrida, mas se eu achava que conseguiria correr mais do que um "oito-pés", bom, estava muito bem enganado. O escorpião simplesmente deu passos velozes, me ultrapassando e contornando meu corpo, parando na minha frente, e com seu ferrão, tentou me golpear, mas ao contrário disso, ele jogou o corpo de Alex em cima do meu, embora, por sorte, meu primo não desgrudou dela, evitando então eu ficar com o peso do seu corpo em cima do meu, e depois ser perfurado.

Alex foi erguido e eu me recompus. André veio por trás, desferindo com as duas mãos um potente golpe no inicio da calda, rompendo uma boa parte da casca e deixando um líquido verde musgo escorrer pelo metal. —— Temo que não tenhamos força pra conseguir perfurar a couraça! —— Berrou ele ao fundo. —— Bom, nós não... —— Respondi, olhando para cima. —— Mas ele tem! —— Apontei para Alex, onde sua mão jazia com uma faca atravessada próximo da calda do escorpião. Ele tinha fincado com tanta força que a lâmina a atravessou e deixou uma espécie de apoio para mantê-lo suspenso. —— Eu até posso ter, mas estou meio ocupado! —— Justificava-se meu outro primo um pouco acima de nós.

Ele estava aproximadamente sete metros acima do solo, já que a besta esticou toda sua calda ao limite. Se ele caísse, mesmo sendo filho de Ares, os hematomas não seriam nada leves. —— Aguenta! Tenho uma ideia! —— Berrei, ziguezagueando o inseto, que me perseguia com seus oito olhos negros. —— André, preciso de uma distração! —— Implorava, desviando de pinçadas, marteladas e até investidas com a boca cheia de dentes. E se me permite dizer, o pior foi ter que fugir dele cuspindo o líquido verde na minha direção. Um chegou tão perto que pude sentir o calor passar por mim e derreter o chão mais pra trás de mim.

O púbere de madeixas castanhas escuras emitiu uma aura na sua mão e tocou numa região qualquer do corpo áspero do escorpião. Sua palma emitiu um brilho dourado fraco, mas ao toque, pude perceber que o aracnídeo arregalou seus olhos e alguma coisa o incomodou, devido seus dentes rangerem e ele babar bastante. Aproveitei o momento de descontração e saltei na cabeça dele, despertando-o do choque. Para meu azar, exigia muito equilíbrio e eu sou um tanto desastrado, mas consegui me manter em pé, por outro lado, suas garras não tinha sustentabilidade para alcançar minha posição.

André se afastou, quieto e imperceptível. Sortudo como sempre.

Ajoelhei por ali mesmo, agarrando os relevos em sua couraça, ajudando a me estabilizar. —— Agora... Vai... —— Com uso da espada, comecei a perfurar os olhos da fera. Eles eram moles e não exigiam força para esmagá-los.

Enfurecida, a fera começou a se debater e desceu seu ferrão, junto com o corpo de Alex. Com a espada fincada, segurei com a canhota o cabo e com o uso da destra, agarrei o antebraço do meu primo, evitando que ele caísse no chão. —— É com você agora! —— Berrei e sem tardar, com sua lança, ele a ergueu e perfurou a cabeça do bicho venenoso, onde ao receber o ataque, caiu, rompendo a lança que tocava o chão, imóvel e sem um ruído sequer. —— Somos ou não somos a melhor família? —— Indagou Alex. —— Acho que somos! —— Berrou no fundo André. —— Não tenho como discordar. —— Respondi suspirando aliviado.

Quando terminamos, conseguimos nos reunir com os outros, cujo outrora estavam rodeados pelas dracaenaes. Sofia, Babu, Anna e Kokota se juntaram a nós e rapidamente fomos ao amparo dos demais, e com um grupo grande desta vez.

A floresta por hora não nos deu mais problemas, restava aqueles híbridos e a formação que combinei com Beatriz, e de mais importante, os que estavam feridos.

Dentre eles, consegui socorrer Mama, ela tinha se livrado de duas inimigas, mas sido golpeada com a haste metálica na testa. Estava roxo e inchado na região, por ela não ser tão grande, consegui carregá-la facilmente, ainda mais sob vigia do filho de Ares.

Juntamos as duas novas frotas, desta vez lideradas por Babu e Dudu, que cobriam os feridos. Tinham uns cinquenta a nossa frente e uns vinte desmaiados com diversos tipos de feridas atrás. A formação os defendia enquanto os filhos de Apolo não vinham.

Deixei com cuidado o corpo da garota no chão junto aos demais, não podia disponibilizar luxo ou bons tratos agora. Todos estavam assim. Dentre eles muitos conhecidos. Isadora, com uma ferida aberta na barriga. Marea, vários cortes pelo corpo, sangrava muito e corria risco de uma hemorragia. Clarisse tinha uma perna quebrada e se contorcia de dor. O atendimento não estava sendo um dos melhores. Rasquel mais atrás, tinha deslocado o ombro não sei como, mas dois sátiros enfermeiros já estavam o ajudando a colocar o osso no lugar, fora outros que nem me atrevi a identificar.

Nosso papel ali estava feito. A formação montada e um campo - não tanto - seguro em pé e firme. —— Que parada foi aquela da mão do E.T? —— Me aproximei do primo mais alto, e felizmente entendeu o que quis dizer. —— Ah! Sabe como é né? Tirei a sorte dela e substitui por azar. —— Arqueei a sobrancelha esquerda. —— Aaah... Não sabia que você moldava sorte e revés agora. —— Ele riu. —— Por isso eu sempre ganho. —— E assim ergueu o polegar esquerdo. No meio de muitos, eu tinha alguém que também era canhoto, não que isso significasse muito.

Um estrondo forte ecoou pelo chalé das caçadoras. Quando olhamos, só restava ruínas dele e aqueles bichos pisoteando tudo em seu caminho. —— Mas que merdas são aquelas? —— Um raio caiu sobre um dos bichos, o transformando em pó instantaneamente. Dudu saltou ao meu lado, largando a formação. —— Ei cara, não importa, eles viram churrasco de qualquer jeito. —— Respondeu o cozinheiro da turma, empunhando sua espada de ouro. —— Claro, pra quem tem raios como munição fica fácil. —— Ele deu de ombros. —— Mas você pode falar com cavalos. —— Não que isso fosse ruim, mas com o poder destrutivo nas mãos dele, falar com cavalos não era nada. —— Acho que no meio de uma guerra ter um raio é mais preciso do que falar com cavalo, mas que seja. Como faremos agora? —— Dudu mascou o chiclete em sua boca, fazendo ruídos com os maxilares. —— E eu que sei? Acho que o plano é atacar. —— Ele se preparava para correr, mas o impedir colocando meu braço à frente. —— O nosso plano é atacar, você precisa guiar a formação daqui. —— O mancebo começou a insultar, e explicar como estavam seguros e porque deveria ficar fora da festa. Francamente aonde ele via festa? —— Não posso deixar eles sozinhos e você não conhece meus primos tão bem quanto eu. Sem mais, Dudu, você é um líder por natureza, então deve guiá-los. Já eu... Bom, sou tão descontrolado e imprevisível quanto o Alex. —— Mesmo insatisfeito e bufando palavrões, o filho de Zeus admitiu seu erro e voltou para a formação. —— Por que não levá-lo? —— Quis saber Alex. —— Porque algo me diz que aquelas Gárgulas não vão ficar sobrevoando os céus por muito tempo, veja! —— Apontei ao céu e os inimigos rodeavam o campo dos feridos. —— Se elas vierem dos céus, o melhor a se fazer é abatê-las com raios, não acha? —— A cara do filho de Ares foi muito similar ao meme "not bad". —— Você nunca faz algo sem pensar? —— Olhei pro nada. —— Ah, quer mesmo que eu faça a lista? —— Rimos. —— Não. Vamos matar mais uns monstros! —— E assim, o trio se juntou novamente, correndo pelo campo de batalha e trazendo os perdidos para as formações.

[...]

Não tinha mais um semideus afastado ou solitário. Todos reunidos e os reforços médicos já haviam chego. A floresta era a de maior intensidade na batalha, mesmo não sabendo o que acontecia, o tinir dos metais vinham até nosso campo de batalha, dando uma noção do quão voraz a guerra acontecia por lá.

Aproximei-me do grupo da frente, eles rebatiam as feras e repeliam suas investidas, caso algum se ferisse, o segundo grupo trocava o soldado e alguns com funções mais específicas, levavam o companheiro à uma zona segura para atendimento. —— A organização está boa. —— Me dirigi a Batistão e Lorenna, o nosso reforço não era os mais vantajosos, no entanto, éramos bons no assunto: matar monstros. —— Sim, sua dica caiu muito bem. —— Respondeu a filha de Atena, ajustando seu óculos e ditando mais ordens em seguida. —— O que são essas criaturas? —— Perguntou André, pelo visto todos queriam saber. —— São Ceteas. Híbridos de animais terrestres com aquáticas. Carnívoros, perigosos e às vezes, venenosos. —— Lorenna aparecia no meio da frota, jogando um escudo de metal totalmente perfurado. —— Sem contar que são bastante fortes. —— A filha de Ares pegou outro e se juntou a nós, mas sempre avistando os confrontos, pronta para ditar caso houvesse falhas. —— Não vamos aguentar muito tempo aqui. Só nós não seremos suficientes para deter essas feras, além do mais, não sabemos quantas mais aguardam na praia... —— De repente, Batistão parou de falar e me encarou, assim como todos. —— Já sei o que isso significa. —— Engoli seco. —— E sei que não vai ser nada bom. —— Lorenna de repente começou a gritar, pois uma fera saltou sobre alguns campistas, abrindo uma falha no canto da barreira. Ninguém conseguiu deter a criatura híbrida de leão com tubarão. Patas ágeis do felino e uma face de tubarão com uma juba bem desproporcional. Ela veio correndo com a calda balançando e batendo nos semideuses, causando alvoroços e pânico.

Da perna canhota da princesa guerreira, uma machadinha estava fixada. Ela sacou e atirou no inimigo, que fincou em sua cabeça, atingindo até próximo do olho direito. Mas não foi suficiente para pará-la. —— Com licença. —— O brilho vermelho pairou na nossa frente e Alex com sua massa alterada, correu ao encontro do inimigo. Lorenna fez o mesmo, só que sem a aura. Alex deixou sua lança no chão e pegou a espada de oitenta centímetros presa a bainha. Lorenna carregava seu machado de guerra de uma mão e foi pelo lado.

Se você visse um Tubarão rugindo, qual seria sua reação? Fica ai a pergunta do dia.

Pós o urro do animal, Alex perfurou suas narinas - sim, ele tinha focinho -, mas não foi suficiente para penetrar o cérebro, pois a cartilagem impediu que a lâmina afundasse mais na carne dele. O corpo do semideus foi arrastado alguns segundos, mas ele praguejou alto, firmando as solas do pé no chão. A criatura parou forçadamente, e em contrapartida, ergueu seu pescoço, levantando a prole de Ares. —— Mas que filho da puta! —— Alex bradava suspenso no ar, mas para sua tranquilidade, Lorenna investiu empurrando o corpo do inimigo com várias machadadas sequenciais em suas costelas. A fera rugia de dor no momento em que o sangue cobria o rosto da semideus, e com a aura exaurindo catastroficamente, o ultimo ataque rompeu a coluna do alvo, que finalmente explodiu em pó. —— Eu já tô de saco cheio com essas criaturas dos infernos! —— Lorenna praticamente cuspiu as palavras.

Ninguém interrompeu ela quando voltou ao ataque e liderar seu pelotão, tampouco os que estavam seguindo as ordens. Batistão então olhou para mim, como se tivéssemos assuntos pendentes ainda a tratar. —— Eu sei que é arriscado... —— Coloquei a mão no ombro dela, tomando coragem. —— Eu entendo. E Joe? —— Olhamos ao redor e ele, com seu cavalo, tinha acabado de entrar na floresta densa. —— Mas que merda ele tá fazendo? —— "Joe!" Berrei tanto verbal quando mentalmente.

Não tive resposta.

"Mestre, ele está junto com Adalberon, fique tranquilo." Uma voz diferente pairou no meu subconsciente. Julguei ser o equino do meu irmão. Tínhamos um limite para irmãos, mas os cavalos pelo visto, era uma rede sem fim. —— Ainda bem... —— Pensei alto, todos me olharam. —— Ah, desculpa. Estava falando com o cavalo de Joe. —— Não sei porque, mas fiquei com vontade rir. A frase me pareceu tão engraçada, talvez fosse a anormalidade presente.

Respirei fundo.

Agora a parte mais importante cabia a mim resolver.

Ser filho de Poseidon tem suas desvantagens. Ainda mais igual aquela e ainda estando sozinho.

Com o espírito calmo, expirei, abri lentamente os olhos e busquei um escudo novo. —— Bom... Preciso de cobertura. —— Cody apareceu de repente, com Nico junto consigo e montados no seu cavalo de ossos. —— A ajuda chegou. —— Ponderou o asiático. —— Em dose dupla. —— Enfatizou o garoto menor. —— Bom, meus amigos filhos do pós-morte... Vocês gostam de praia? —— Indaguei, firmando o objeto esférico no antebraço. —— Não sou muito fã. —— Respondeu Cody, tirando a espada da bainha, pela sei lá qual o número de vezes. —— Precisamos de ajuda dos filhos de Apolo também. —— Afirmou Nico, por sorte, estávamos bem ao lado do chalé deles. —— LYU! ——Berrei.

O loiro com uma aljava mágica e um arco de ouro apareceu no telhado, seus olhos vidrados como se precisasse acertar um novo alvo. —— Que é? —— Curioso, mas ao mesmo tempo eufórico, esperou para saber o motivo de ter lhe chamado. —— Tá muito ocupado? —— Caçoei. —— Tá me zuando? Se for pra isso que me chamou, eu vou te mandar a mer... —— Sabia que ele ia ter um ataque histérico, por isso o cortei. —— Cala boca. Não é isso. Preciso que você me dê cobertura com suas flechas. Eu vou entrar no mar. —— De repente, ele paralisou. —— Você está louco?! —— O filho de Apolo se recuperou do choque. —— Não, mas é preciso. —— Assumi, mesmo sem ter pensado numa outra opção ainda. —— Não posso deixar você fazer isso. —— Ele se levantou, já que estava de bruços numa parte das barragens do telhado. —— Bom, então vai deixar com que eu morra antes de ir pro meu território? —— Minha pergunta o deixou vermelho, mas de raiva, claro. —— Ótimo! Mas se você morrer, eu juro que te mato! —— Mais uma vez neguei com a cabeça, mas ao mesmo tempo rindo. —— Claro, claro. Agora me proteja com essas flechas. —— A ultima visão que tive dele, foi de assentir e ficar com uma cara emburrada. Ele era o carrancudo que podia te foder a qualquer momento mais meigo que já existiu. E mesmo que isso esteja bem gay, é verdade, roubei essa frase do Dudu. Tá explicando o motivo da viadagem.

Cody e Nico estavam esperando, o cavalo se fora, e ambos empunhavam escudos, como eu. Iria pelo meio, assim evitando mais chances de ser pego. —— Vamos. —— Disse, mas logo fomos interrompidos por berros aos fundos. —— AEHOOOOOO! —— Kokota, todo desengonçado, se aproximou. —— Eu vou junto. —— Todos ficamos pasmos. —— Claro, e como você vai fazer isso, flango? —— Nico o interrogou. —— Não contei para ninguém ainda, mas vejam... —— Ele mostrou sua costela, nela jazia uma tatuagem estranha. Uma espécie de mar com a calda de uma sereia. —— Pera, você é... —— Kokota riu. —— Sim, sou. —— Rimos, e deixando os filhos de Hades confusos. —— Vai ser bom ter ajuda. Então vamos. —— Nico e Cody se entreolharam. —— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? —— Ponderou o asiático filho de Hades. —— Meu caro, você vai ver quando chegarmos na praia! —— Finalizei o diálogo, começando a corrida e sendo acompanhado pelos demais.


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