Eu passei muito tempo lembrando do que tinha acontecido comigo. E eu sofri com isso. Não quero mais isso para mim. Então decidi seguir em frente. Sabe, existem milhares de caras no mundo, não preciso me prender a ele, porque ele só quer o que não tem.

Bem, ele não me tinha mais. Percebi que tinha sido muito dura comigo mesma, uma hora eu iria me apaixonar de novo, não tem como evitar. Por mais que eu tente, não consigo controlar meus sentimentos.

Era metade de janeiro e eu estava indo de volta para minha casa. Por mais que eu tenha amado passar um tempo com meus avós, ter um tempo para pensar e tomar algumas decisões, eu amava a minha cidadezinha. Não era uma grande metrópole, não tinha grandes shoppings mas eu tinha meus amigos, que valem muito mais que qualquer coisa material.

Cheguei no final da tarde, minha mãe e meu pai vieram me receber com abraços. Desarrumei minhas malas e decidi passear com minha cachorrinha, Lola. Fazia um bom tempo que não fazia isso. Enquanto eu percorria o caminho, alguém me encontrou.

–Oi Mel. - Guilherme disse.

–Oi. - Falei. Eu ainda estava magoada, essa dor iria demorar para passar. Mas pela nossa amizade, por tudo o que passamos, eu decidi o perdoar, não o suficiente para algum dia sermos como fomos mas para seguir minha vida sem culpa.

–Nossa, você sumiu. - Como ele tinha coragem de dizer isso? Não me aguentei e falei.

–Não, eu não sumi. Continuo morando no mesmo endereço. Ainda continuo com o mesmo número de celular. Não parei de frequentar os meus lugares favoritos e muito menos troquei de e-mail, assim como não deletei nenhuma rede social. Eu apenas parei de me importar com “você sumiu”, “sinto sua falta”.

–Nossa, mas eu realmente senti sua falta, eu ainda gosto de você. Mas você não me chamava mais pra conversar. - O que? Agora eu que tenho que chamar ele para conversar? Ele simplesmente pode ficar lá parado horas na frente do computador e eu tenho que falar com ele. Como se depois que nós brigamos, ele tivesse alguma vontade de conversar comigo.

–Por isso não te procuro, não vou atrás e nem mando notícias. Sentir falta, eu sinto. Sinto falta de fazer falta pra você. Sei que o que você fala são só palavras, eu soube que nesse meio tempo você arranjou outra namorada.

–Eu te amo, Mel. Por favor acredita.

–Amar é mais do que resmungar três palavrinhas antes de dormir. O amor é sustentado por ações, pela constante dedicação às coisas que um faz pelo outro diariamente. No começo você fazia isso, mas depois, parecia nem se importar comigo, eu demonstrei tudo o que eu sentia para você e você, GUILHERME ,não estava nem ai.

–Ok, eu fiquei com uma outra garota. Mas eu to aqui agora pra você, não estou? É isso que importa. O que te ama sempre volta. - Só que não foi só uma. Foram várias.

–O que é verdadeiro volta? Não. O que é verdadeiro não vai. O que é verdadeiro, permanece. Se você me amasse, você estaria comigo.

–Vai dizer que não me ama mais... é isso? - Odeio esse jogo de palavras. É claro que eu amava, mesmo ele me fazendo sofrer eu amava. Mas eu aprendi a viver, ou conviver, com a falta, a perda, a ausência… Certas coisas, não vale a pena ter de volta.

–Não sei, você me iludiu.

–Mel, sentimentos não mudam! Por favor, diga que me ama. - Ele tentou.

–É claro que os sentimentos mudam. As pessoas fazem com que isso aconteça. - E ele fez com que eu mudasse. Talvez tenha sido bom para mim, talvez eu não acredite mais em qual quer garoto.

–Okay, então a culpa é toda minha. Você vai continuar negando o que aconteceu entre a gente. Então se prefere esquecer, esqueça.

–Há momentos em que desejo fazer o tempo voltar e apagar toda a tristeza, mas tenho a sensação de que, se o fizesse, também apagaria a alegria. - Por mais que eu odeie admitir, nós tivemos momentos felizes.

–Viu, nós tivemos momentos felizes, eu quero ter mais momentos como aquele com você.

–O engraçado é que você pode sumir, desaparecer. E eu tenho que ficar aqui, sempre disponível pra você. Você pode dizer que não me quer, e quando não tem mais ninguém voltar, eu tenho que te aceitar?

–Agora, eu sou aquele cara mau que ilude e você a mocinha. - Falou ele com raiva.

–Não. Eu também sei iludir, sei colecionar corações. Eu sei fazer com que as lágrimas caiam. Eu sei enganar, sei brincar de ilusão.Só que interpretar esse papel, não vale a pena. Tchau Gui, não temos mais nada para conversar. - Eu dei meia volta e voltei para casa. Por incrível que pareça, eu não me senti mal depois daquela discussão. Mas aquilo me fez lembrar dos momentos felizes que tive com ele, de como tudo começou.

"Relembro como tudo começou, pois agora essas memórias são tudo o que me resta."