Sentei-me perto da lareira e refleti todos os acontecimentos do Fantasma do Passado... Aquelas lembranças que ele me mostrou que eu guardava à sete chaves dentro de mim, como algo que me ajudava em tempos difíceis e trazia a luz quando estava tudo escuro.

Passo tanto tempo mergulhado nesses pensamentos que nem percebo o tempo passar e acabo adormecendo.

Quando acordo, o quarto está totalmente escuro pelas chamas que agora não existem mais. Pela janelas de meu quarto a única luz que entra é o brilho prateado da lua lá fora, presumo que sejam 3h da manhã.

Passo a mão pelo meu cabelo e rosto para afastar o sono, quando alguém bate em minha porta. Vou em sua direção e a abro.

Tudo está em absoluto silêncio, a única coisa que escuto são as chamas dos lampiões nos corredores. Ninguém estava à frente da porta, talvez oque eu tenha escutado fosse somente minha imaginação. A fecho e vou em direção a minha cama. Estou quase dormindo, quando novas batidas em minha porta me interrompem.

Escuto gemidos e o barulho de algo se arrastando no chão. Caminho em sua direção e a abro.

Minha surpresa não é de muito agrado. Dou um pulo e tropeço com o enorme vulto gigante em minha frente.

Isso é alto com um rosto que não consigo descrever por estar “bagunçado”. Seu corpo possuía correntes em todo o lugar, já a sua roupa era toda rasgada e suja. Ele chiava e era azul.

– Quem é você? - Pergunto.

– Oras! Quem mais? O Fantasma do natal presente é claro! - Diz ele com exagerados acenos de mão... Ele é, de certa forma, muito espalhafatoso.

– Ah sim! Havia me esquecido do que o outro fantasma disse. - Viro os olhos. - Presumo que você também vai fazer algo para que eu me arrependa por não gostar do natal, não é?

– Certamente! É melhor irmos logo então - Diz ele com empolgação.

– Qual é o seu nome?

– Meu nome é...

– Pera, pera. Já sei... Você não tem um! - Digo o interrompendo.

– Aí é que você se engana meu jovem rapaz. Meu nome é Salomon. - Eu o encaro

– Onde está me levando então... Salomon?

– Me siga e verá.

Salomon me fez seguir diante a noite tempestuosa. A neve agora já havia passado, mas fazia frio e chovia. Apesar do mal tempo, muita gente andava nas ruas... Pois é, às três da manhã tinha gente nas ruas. Essas conversavam, riam e andavam com seus chapéus ou sombrinhas cobrindo-os da chuva pesada.

Possas de água se formavam nas ruas, cujo os quais espirravam nas laterais quando um carro em alta velocidade passava. Às vezes atigiam as pessoas que passavam pelas calçadas.

– Eles podem te ver? - Pergunto à Salomon.

– Não, só você pode.

– Hmmm.

Ele me leva até um pequeno bairro no oeste de Hillios, não muito longe de minha casa. Era bem sujo e pequeno. Havia pessoas lá, se esquentando em um pequeno círculo com mais pessoas e uma pequena fagulha de fogo.

– Essas pessoas não tem a sorte que você tem Jay. Elas tem que passar seu natal nessas condições, enquanto passa-o dentro de sua casa onde é quente e tem conforto. Agora eu te pergunto, mesmo sendo bem financeiramente e tendo tudo oque tem, você é feliz? - Sua voz não é que nem a do outro fantasma que me visitou. Era doce, mas ao mesmo tempo firme. A pergunta fica sendo repassada em minha mente.

– Não, eu não sou feliz... Satisfeito? Consegui o que queria, não é?! Me tire daqui. - Não o olho, eu não quero que ele me veja. Apesar de tudo oque eu tenho, eu nunca fui mais feliz depois da morte de minha tia. Na verdade, nenhum de nós foi... Ela era o laço que nos unia, a estrutura que segurava toda a casa... Só que ela se foi e tudo pareceu se desabar em nossas cabeças.

– Antes eu tenho mais algo para te mostrar. Venha.

***

A essa hora, o céu ficava cada vez mais claro. Diria que são 5h da manhã. Salomon me levou a um lugar mais longe do povoado que conheço desde que eu sou pequeno, era uma pequena vila fora dos limites do povoado. Havia algumas casas ali. Não eram grandes como se vêem em Hillios e sim medianas com decorações simples. Seguimos até um pequeno cemitério da vila chamado VALE DAS ALMAS, para um cemitério até que o nome não é tão ruim assim. Não gosto de lugares sombrios e cheio de magoas, decepções e tristeza.

O cemitério estava vazio, tirando por uma mulher de minha idade com cabelos grandes e loiros que iam até a altura de seus ombros. Pelo silêncio do local, consigo ouvir o seu choro.

– Conhece ela? - Pergunta Salomon.

– Não - Respondo com sinceridade.

– Seu nome é Natalie Kohls. Ela perdeu a única família que a restava em um dia de natal. Desde então, todos os dias 25 de Dezembro, ela vem ao túmulo de seus pai lhe entregar flores.

– Achei que vocês estavam tentando fazer eu me arrepender de não gostar do natal.

– E estamos. Você é que não me deixou terminar a história. - Um pequeno sorriso aparece em seu rosto, oque me surpreende. - Natalie assim como perdeu, ganhou algo no natal. No ano seguinte ela se casou com um homem que para ela era tudo, seu nome é Alex Kohls. - Ele aponta para um homem alto de pele pálida vindo em direção à Natalie. - Antes de morrer, o pai de Natalie adorava Alex e a coisa que mais queria era que sua filha fosse feliz, e foi exatamente oque ela fez. No ano seguinte a seu casamento, Natalie estava grávida de um lindo menino.

– Já sei... Do qual, também, nasceu no natal. - O interrompo.

– Não, ele nasceu em julho mesmo. - Ele dá de ombros. Levanto uma sobrancelha em sua direção. - Isso o vez mudar de opinião?

– Apesar de oque você me mostrar ser realmente tocante e com bonitas histórias, eu não mudei minha opinião sobre o natal. Como disse ao seu amigo, aconteceram coisas comigo que são duras de esquecer tão facilmente. - Ele suspira, obviamente se rendendo.

– Que pena! Vem, vamos embora então.

Caminho pelas ruas enquanto o sol nasce no céu aberto. Estou cansado e a única coisa que quero é dormir.