12 anos em 12 escrita por 12 anos em 12


Capítulo 84
Capitulo 82




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Durante o caminho Vitor a observa conversar com os sobrinhos e pensa em como ela reagiria se ele tivesse uma filha que não fosse dela.

– Tudo bem? - coloca a mão sobre ele.
– Acho que sim! - respira fundo.
– O que aconteceu?
– Eu te amo! - olha para ela. Muito!
– Eu também! - sorri.
– Matheus...?
– Oi tio...
– Hoje você será o homem da casa até seu pai chegar!
– Ai tio... A verdade é que você não sabe onde fica nada, né?
– Paula... Olha isso! - riem alto. Que abusado esse menino...

Chegam na fazenda e Paula desce todas as crianças do carro.

– Segura a bolsa aqui para titia...- entrega para o Antônio.
– Vou levar lá dentro, tá?
– Tá bom...- fecha a porta.
– Quer ajuda? - se aproxima.
– Não... Obrigada!
– A senhora é muito mais bonita pessoalmente!
– Qual seu nome?
– Vitor...
– Vitor... Como o meu Vitor! Prazer, Vitor...- o cumprimenta.
– Cuido dos cavalos, se a senhora quiser é só chamar!
– Obrigada Vitor! Chamarei sim...- sai.
– Conheceu meu chará?
– Conheci! - tira o óculos e observa o rapaz saindo.
– Paula... Fiquei pensando que poderíamos comer um pouco enquanto a lancha não chega ou você quer cavalgar? - olha para ela dispersa. Paula...? - respira fundo. PAULA! Você está olhando para aquele rapaz comigo aqui?
– Que? - vira-se para ele.
– Você está olhando para ele! - fica nervoso.
– Estou!
– E tem coragem de...
– Ah... Pelo amor de Deus né Vitor! - entra na casa e ele a segue.
– Não acredito que...
– Eu que não acredito! - vira-se. Estou olhando para aquele homem porque parece que já o vi em algum lugar!
– Ele trabalhava para sua ex sogra.
– Ah...- se lembra. Batata! Sabia que já tinha visto... Cadê Vitória?
– Está com a baba dos meninos...
– Vou colocar meu biquíni...
– Vai para a piscina?
– Não! Vou aguardar a lancha chegar... Vamos dar uma voltinha hoje ainda, né? - sorri.
– Não sei! - se retira.
– Deixe de ser ciumento, Vitor...- o acompanha. É um absurdo você pensar isso. Só pensei que já conhecia o rapaz... Ok?
– Me deixe um pouco sozinho, Paula...- observa as crianças correrem rumo a casa na árvore.

Ela respira fundo e sai pisando alto. Enquanto se troca, Vitor não para de pensar na reação dela quando descobrir tudo.

– Vitor! - um funcionário se aproxima.
– Oi...
– A lancha chegou!
– Obrigado! - acompanha o funcionário.

Vitor recebe sua lancha que é descarregada diretamente no rio que corta a fazenda de Leo. O instrutor que acompanhou a entrega avisa Vitor sobre manusear alguns comandos e trinta minutos depois já se vão. Paula observa tudo com os sobrinhos da casa na árvore.

– Vamos descer... Devagar...- ajuda eles.
– Tia, a gente já vai andar?
– Não sei...- passa a mão nos cabelos dele observando Vitor se aproximar.
– Querem ir?
– Sim! - sorriem.
– Podem subir, mas com cuidado! - eles correm. Você não vem? - se aproxima de Paula.
– Não!
– Pulinha...- a toca.
– Eu disse não...- se afasta dele.
– Ok... Vou andar com as crianças e depois a gente passeia sozinhos! - pisca para ela.
– A Vitória está lá?
– Sim! - olha para ver. A baba segura ela...
– Não demora muito!
– Não vou...- vai para a lancha.

Ela os observa assim que a lancha ganha vida e as crianças se divertem. O passeio não demora muito por conta do sol, Vitor desce os sobrinhos e pega Vitória no colo indo se encontrar com Paula.

– Gostaram? - coloca o copo de suco ao lado.
– Muito! - riem. É muito irado tia... Já quero ir de novo!
– Depois...- senta-se com Vitória.
– Vou cavalgar agora tio...
– Tudo bem... Só não vá para as outras fazendas, fique por aqui mesmo.
– Você não quer via tia?
– Agora não! - sorri.
– Tá...
– E eu tato?
– Você fica!
– Matheus... Leve Antônio junto!
– Mas...
– Leve!
– Afff! - sai com Antônio atrás.
– E não é para resmungar, Matheus! - grita.
– Vou acompanha-los Vitor...
– Lizi, leve Vitória por favor? - pede para baba.
– Claro! - sorri.
– Ela não pode ficar muito tempo no sol...
– Ok!
– Tchau filha...- beija-a, entregando.
– Até mais...- saem.
– Por que mandou Vitória junto? - bebe seu suco.
– Vamos dar uma volta...- levanta-se.
– Não quero...- respira fundo.
– Paula, por favor...
– Você desconfiou de mim!
– Você vive desconfiando de mim! É ruim a sensação, né?
– Eu...
– Está vendo? - interrompe. É péssima a sensação... Agora vamos! Esqueça isso e vamos. Esqueça como eu sempre esqueço!
– Acho melhor eu fingir que esqueci...- se levanta. Porque você finge que esquece...
– Tanto faz! - estende a mão para ela.
– Onde vamos? - pega na mão dele.
– Vou te levar para conhecer um lugar...- coloca o óculos. Coloque os seus...- retira do biquíni dela.
– Olha o atrevimento hein, Vitor! - puxa da mão dele e coloca.
– Como se você não gostasse! - sobe na lancha. Venha! - estende as mãos para ajudá-la.
– Opa! - se segura nele e sobe.
– Senta lá! - aponta.
– Que linda! - sorri.
– Se segura! - sai.
– Nunca imaginei que você iria querer ter uma lancha!
– Estou testando...
– Testando? - se aproxima dele.
– É... Já tinha uma, mas não dava muito certo para Angra.
– E o que você quer fazer em Angra? - ri.
– Ué... Reabrir aquela casa!
– Vitor...- olha para ele. Você tem uma casa em Angra?
– Eu não... Você tem! Esqueci de avisar.
– Vitor eu já te proibi de fazer isso!
– Mas não fiz nada! A casa era minha e do Leo e então ele resolver vender a parte dele... Eu comprei. Mas isso foi antes de nos casarmos... A família vai muito pouco lá... Mas como você adora uma praia, pedi que reabrissem e comprei a lancha para deixarmos lá.
– É incrível... O tempo vai passar e eu nunca vou saber nada de você!
– Paula... Deixe de besteiras! Quase nunca vou para Angra... Acho que tem uns dois anos que não vou lá!
– Isso que não entendo! Você não compra coisas que não usa, mas imóveis você tem em todo lugar e não vai a nenhum!
– São investimentos! Leo tem os negócios dele e eu os meus.
– Você ainda ajuda sua irmã em São Paulo?
– Você sabe que sim...
– Não, eu não sei!
– Como você não sabe se você assina os papeis?
– Eu não leio, Vitor! - senta-se.
– Então não tem como saber mesmo...
– Enfim... Não quero uma casa em Angra.
– E vai ficar alugando as dos outros quando for para lá?
– Nós nunca vamos a lugar nenhum! - olha o rio. Você nunca quer viajar!
– Não é que eu não queira...
– É você que não quer mesmo!
– Olha... Não importa! Temos uma casa lá e pronto.
– Lá e onde mais? - encara ele.
– Em mais lugar nenhum...
– Sei...
– Agora você também não me conta suas coisas!
– O que não te contei?
– O apartamento em Miami!
– Para que vou contar? Você já sabe...
– Porque descobri...
– Pois então... É um apartamento simples. Comprei quando fui em turnê e achei que seria bacana investir em algo para lazer mesmo. Mas vou vender...
– Por que? Você gosta de lá...
– Mas você não! E se você não gosta de algum lugar é difícil eu ir... A não ser que eu vá sozinha!
– Nunca te prendi!
– Mas não quero ir sozinha Vitor. Sei lá... Ás vezes você não entende que quero fazer certas coisas com você. A nossa vida vive resumida a esse espaço que é Uberlândia. Não estou reclamando... Sou muito feliz assim! Tenho que quero e mais um pouco. Mas às vezes eu só queria sair com você, viajar... E não dá.
– Sinto muito! - para a lancha devagar.
– Por que parou? - se levanta assustada.
– Não quer nadar um pouco? - tira a camiseta.
– Não...
– Paula...- vai até ela. Sei que posso fechar a gente em um cubículo muitas vezes sem perceber. Estou tentando abrir meus horizontes e estou fazendo coisas que eu jamais fazia. Tenha paciência...
– Não estou reclamando! Só não quero que a nossa vida pare.
– Não vai parar! - a beija.
– Você quer entrar na água mesmo? - sorri.
– Vamos lá! - tira a saída de banho dela.
– Vai você primeiro...- caminham até a borda.
– Ok! - pula.
– Gelada? - ri.
– Um pouco! - riem. Vem...- a observa pular.
– Meu Deus! - se agarra nele. Um pouco? - ri.
– Eu te amo! - olha para ela.
– Vitor... Vou começar a desconfiar que alguma coisa está acontecendo! Eu sei que você me ama e independente do que seja eu quero saber.
– Eu te amo e pronto...- beijam-se.
– Os seus olhos já estão vermelhos! - olha ele.
– Estão ardendo mesmo...
– Tão delicados! - abraça ele.
– Abraça forte! - se aconchega nela.
– Você está me escondendo alguma coisa...- abraça. Mas vou fingir que não é nada... Até chegarmos em casa. - se solta dele e volta para a lancha.
– Paula...
– Vamos! - sobe. Vamos voltar!

Ele faz o que ela pede, retornando a lancha. Seca-se e senta ao lado dela.

– Vai me contar aqui mesmo?
– Pulinha eu...
– A nossa vida nunca vai ser tranquila! Sabe... Eu até pensei que poderia ser, mas não vai. Vai ter sempre um problema, sempre uma...
– Desculpa! Desculpa se do meu lado a vida não dá para ser tranquila.
– Não quis dizer isso! Não insinuei que do seu lado a vida não é tranquila. Só disse que muitas coisas acontecem com a gente... Mas se não deixarmos que ela nos separe, por mim pode ocorrer o que for.
– Você não vai deixar que as coisas nos afaste?
– Vou segurar até onde puder Vitor... Seja o que for.

Ele respira fundo e traz ela para perto de si. Beija sua cabeça e silenciosamente pede perdão.

– Vamos... Vamos voltar...- ela se afasta e olha para ele.
– Tudo bem...- levanta-se e vai pilotar a lancha enquanto ela o observa de longe.

Ao chegarem na fazenda, as crianças observam eles desceram e correm quando se aproximam.

– Você nem me levou, tio!
– Eles foram namorar, Matheus! - ri.
– Antônio! - Vitor o adverte.
– Crianças, crianças... - riem. Cadê Vitória?
– Dormiu...
– Tadinha... Vou ver ela! - sai.

Passam o resto da tarde na fazenda e vão embora assim que Leo chega para ficar com os filhos. No caminho o silêncio é inevitável... Paula pega no sono e ele dirige apenas com os olhos atentos da filha. São recepcionados pelos cachorros e por Diva...

– Paula? - a acorda.
– Chegamos?
– Sim! - abre a porta do carro. Tudo bem?
– Sim...- pega a bolsa e o celular. Pegue Vitória...
– Vou pegar...- sai do carro e pega a filha.
– Oi...- sorri para os cachorros. Cadê o algodão?
– Está lá dentro...- se aproxima.
– Oi diva!
– Como foi o passeio?
– Foi lindo!

Entram em casa e Diva os serve. Lucy chega e já leva Vitória para o banho, Paula as acompanha enquanto Vitor termina seu café.

– Está tudo bem?
– Está...- deposita a xícara na mesa.
– O que faço pro jantar?
– Eu... Eu não sei.
– Depois pergunto para Paula então...
– É melhor! - levanta. Vou tomar um banho! - sorri e sai.
– Povo estranho! - Diva observa ele sair.
– EU OUVI!
– ERA PARA OUVIR MESMO! - riem.

Entra no quarto e Paula o aguarda sentada, enquanto observa a fazenda pela janela.

– Vou tomar banho... Quer vir?
– Se a gente transar o assunto deixa de ser ruim?
– Não...
– Previa isso. - vira a poltrona para ele. Então não... Não quero te acompanhar no banho.
– Tá...

Se retira e ao retornar ela continua no mesmo lugar, fazenda a mesma coisa.

– Ainda assim? - seca o cabelo.
– Alguns bichinhos destruíram os morangos...
– Que pena...- senta-se na poltrona ao lado. Os funcionários vão resolver.
– É...- continua olhando a janela. Na verdade isso não é bom! Ás vezes penso que deixei isso acontecer... Deixei que destruíssem os morangos.
– Pau...
– Deixei que pudessem me dizer para onde ir, o que fazer, como fazer... Talvez eu me acomode demais. Assim como os morangos... Talvez eles se acomodaram aos bichinhos.

Vitor a observa sem entender, mas evita falar e deixa que ela continue.

– A gente tem mania de se acomodar aos problemas e acaba deixando que eles apareçam sempre.
– Alguns problemas fogem do nosso controle!
– Não! - olha para ele. Nós temos sempre o controle das nossas vidas.
– É...- pensa no passado, quando saiu Camila.
– Não tinha amigo nenhum no hospital... Você se encontrou com a Camila. - ele a olha. Percebi ela te chamando desde o início...
– O que você sabe dela?
– Só que ela fez parte da equipe que cuidou de mim quando Vitória nasceu. Não entendo o que ela possa querer com você.

Ele observa Paula esperando as respostas por longos segundos.

– O que ela te falou que te deixou tão...- teme.
– Já sai com a Camila...- ela se assusta quando ele diz. Foi por pouco tempo... Uns dois meses no máximo. Minha vida corrida de shows e... Minha pouca paciência de ficar tanto tempo com uma pessoa só fez com que tudo acabasse logo.
– Quando foi isso?
– Há quatro anos e meio...
A família dela tem uma empresa nos Estados Unidos e ela veio para cá para passar uma temporada.
– Mas sempre foram daqui?
– Sim... Foram para o exterior depois.
– Continua...
– A gente não se viu mais e ela saiu com um outro rapaz poucas semanas antes de retornar aos EUA. Quando ela chegou lá descobriu que estava grávida!

Paula sente o coração acelerar devagarinho, não diz nada, na transparece emoção alguma.

– Há seis meses a filha dela apresentou uma diagnóstico de uma doença no sangue e eles não acham doadores compatíveis. - Paula tenta dizer algo, mas desiste. Ela me procurou porque...- pega a mão de Paula. Ela não sabe quem é o pai da criança! Ela nunca quis saber, nunca procurou ninguém para ter certeza...- olha para ela que não o encara, não diz nada. Está desesperada porque a filha pode morrer sem receber ajuda!
– Você é o pai? - olha para ele.
– Não sei... Amanhã preciso fazer uns exames.

Paula tira sua mão da dele e levanta-se. Ele espera que ela diga algo, a observa sair do quarto mas evita impedi-la. Ela passa pela cozinha e antes que Diva possa dizer algo, cruza a porta de saída. Vai até o estábulo e se encontra com Elias.

– Pode me levar até a cidade?
– Claro!
– Te espero no carro. - retorna a sede e aguarda Elias já dentro do carro, sentada no banco do motorista.
– É...- Elias se aproxima sem entender. A senhora vai dirigir?
– Sim! Entre. - abre o carro e ele entra.
– Dona Paula... Eu não lembro de algo que eu tenha feito errado... Mas, se...

Ela liga o som do carro e sai. Elias observa ela acelerar cada vez mais e não consegue entender o que está havendo.

– Os morangos já estão bem?
– Os morangos...?
– Que os bichinhos comeram.
– Já... Quero dizer... Vão nascer novamente.
– Você acha que eles vão nascer novamente?
– Acho! - sorri. Não importa o mal que ocorra a plantação, ela sempre renasce! Basta a gente saber como cuidar que tudo renasce melhor do que era. Mais vermelhos, mais suculentos, maiores...
– Demora para renascer?
– A senhora pediu que não usássemos produtos nas plantações... Então a gente tem que esperar o tempo necessário para que renasça. Não podemos acelerar e temos que saber que após uma destruição daquela tem que haver a recuperação da terra, das folhas... E se a gente respeitar isso, pela ordem natural dos morangos logo renasce.

Ela continua dirigir olhando a estrada fixamente.

– Não precisa ter medo...
– Não...- tenta sorrir. Não estou não...- mente.
– Está! - desacelera.
– A senhora está bem?
– Não sei...- freia o carro, o parando.
– Quer que eu dirija?
– Por favor...- retira o cinto e vai para o banco de trás.

Elias entra e ela se deita atrás. Fecha os olhos e evita pensar em qualquer coisa.

– Para onde nós vamos? - sai.

Ela não responde e ele a olha pelo retrovisor chorando em silêncio. Desvia o olhar para a estrada e segue caminho. Na fazenda Diva vai até o quarto de Vitor e ele autoriza ela entrar.

– Vitor...- encosta a porta. Paula saiu sem avisar nada...
– Sozinha? - se preocupa.
– Elias foi junto, mas ela saiu dirigindo.
– Ela precisa de um tempo, Diva...
– De um tempo? Paula precisa de um tempo? Talvez ela não queira tempo, mas sim viver em paz. - sai do quarto.

Deita-se na cama e começa chorar, sem saber para quem ligar, o que falar. Pega um dos medicamentos de Paula na gaveta e toma. O efeito não demora a acontecer. Elias para em frente ao prédio de Dulce e aguarda Paula se movimentar.

– Você é muito sensível...- seca o rosto. Volte para a fazenda e diga que estou bem. - sai do carro e entra no prédio.
– Boa tarde Paula! - sorri.
– Boa tarde, José! Minha mãe está aí?
– Sim!
– Estou subindo...

Paula vai para a cobertura e Dulce a atende sem entender o porquê daquela situação.

– Paula...- a abraça.
– Mãe...- chora.
– Entra...

A leva para o sofá e deita a cabeça em seu colo. Não fala nada e deixa que a filha chore até se sentir melhor.

– Mãe! - chora, apertando as mãos no vestido.
– Está tudo bem...- passa a mão nos cabelos dela. O que aconteceu?

Paula senta-se e conta para Dulce o que está acontecendo. A mãe fica em silêncio sem saber o que dizer, até que questiona...

– Você o ama?
– Se eu o amo?
– É...- olha para ela. Você ama o Vitor, Paula?
– A senhora sabe a resposta...
– Não! Estou perguntando agora... Você ama o Vitor?
– Não estou entendendo...
– Paula... Você ama o Vitor para aceitar uma criança na vida de vocês que não seja de vocês? Uma criança que vai ter o sangue de outra mulher misturado ao dele, que vai lembrar a mãe nos traços, que vai falar da mãe dentro da sua casa, que vai abraçar e ter o tempo e a atenção do seu marido. Uma criança que não vai te chamar de mãe e conforme for crescendo você estará envolvida nos problemas dela, nas pirraças, nas birras. Você ama o Vitor a ponto de amar essa criança? Porque ele vai amá-la... A partir do momento que se envolver mais com ela, ele vai amá-la tanto quanto ama Vitória. E você não poderá, nunca, NUNCA, competir com essa criança porque se fizer isso perderá seu marido. Eu sei... Sei que é difícil ter esperado tanto tempo, ter suportado tantas coisas para estar ao lado dele e simplesmente a vida se encarrega de colocar uma criança que pode acabar com tudo! Que pode enfraquecer vocês dois, que pode esfriar a relação de vocês... Aceitar o filho de outra não é fácil, Paula! Nem que se tenha todo o amor do mundo por alguém... Mas aceitar um filho que não é seu dentro da sua casa é como lidar de perto com o que pode ceifar sua vida ao lado dele. Talvez você olhe para ela e jamais consiga aceitar... É isso vai doer, vai maltratar você e se Vitor tiver que escolher entre você e a filha, ele vai escolher a filha! - se levanta. Vou buscar um chá... Quer? - vê a filha paralisada. Paula? Paula...- senta e segura a mão dela. É difícil, mas não impossível! - ela olha para a mãe. Quer um chá?
– Quero...

Dulce busca o chá para as duas e senta-se novamente ao lado dela.

– Você não precisa ter respostas agora...
– Ele me ama...- olha para ela.
– Ele te ama! - bebe seu chá.
– Não vai ser fácil...- coloca o chá na mesa de centro.
– Paula, é isso que você quer? Viver ao lado...
– Por que eu viveria com outra pessoa?
– Eu...- fica sem resposta.
– Sabe mãe... A resposta é tempo quando penso em mim e em Vitor vivendo com uma criança que eu não sou mãe! Tempo para vermos como nossa vida será moldada, como o nosso tempo vai funcionar. Se a gente quiser de verdade um ao outro, o tempo vai ajudar a gente... E já fico sem resposta quando penso em viver com outra pessoa... Em tentar minha vida com outro alguém. Em construir uma família com outro alguém. Em viver no mesmo teto, dormir na mesma cama com outro alguém. Eu tive a oportunidade de experimentar isso e eu não quis... Eu não quis viver com outro alguém que não fosse o Vitor! - se emociona. Não quis continuar uma vida com outro que não fosse o Vitor. Não me sentia amada, não tinha segurança que teria uma futuro...- gesticula com as mãos. Entende? Fui capaz de amar o Vitor quando o coração dele parecia ocupado por outra mulher. Eu o amei enquanto ele dormia com outra mulher... Enquanto ele cantava para outra mulher ouvir. Enquanto eu aparentemente não tinha espaço na vida dele, eu o amei. Por que agora eu conseguiria deixar de amar? - chora. Se meu espaço como mulher continua lá como sempre esteve! Se eu sou uma coisa e aquela criança é outra! Não vou mentir que não esteja doendo muito... Que vou conseguir aceitar tudo com naturalidade tão cedo. Mas deixar de amar eu não consigo... E se ela é filha dele, é parte dele... E eu o amo por inteiro. Sou capaz de amar essa criança mesmo sem ser mãe dela! Eu só preciso de tempo...- deita-se no colo de Dulce novamente.
– Vocês serão felizes...- acaricia ela.

Paula adormece no colo da mãe, que a arruma e a deixa sozinha na sala. Ao despertar já passam das nove da noite e ela se levanta a procura da mãe.

– Chamo um taxi...? - encontra-a na cozinha.
– Por favor, mãe.. Preciso ver Vitória!
– E o Vitor?
– Ele está assustado... Nós perdemos um filho recentemente e ele recebe a noticia de que pode ser pai novamente de uma criança que pode morrer se não conseguirem arrumar um doador.
– Quando ele fará o teste...?
– Parece que amanhã...
– Você vai com ele?

Ela não responde e observa a mãe chamar o taxi que não demora chegar.

– Vou indo...- se despede.
– Vá com Deus... Me mande notícias.
– Mandarei, mãe...- sai.

Retorna a fazenda e ao chegar Vitor está na sala sentado sozinho, como se estivesse a aguardando.

– Paga o táxi para mim?
– Sim...- levanta-se e pega sua carteira próximo ao sofá.

Ela vai para o quarto e ele chega em seguida. Apronta-se para o banho e ele a aguarda na cama lendo. Ao sair coloca o robe e o observa até ele perceber a presença dela.

– Não vou perguntar se está tudo bem, porque sei que algo não está!
– Onde esta Vitória?
– Dormiu... Dei comida, Lucy brincou com ela e a colocou para dormir.
– Que parte do livro você está?
– Ah...- olha para o livro e estranha.
– De ponta cabeça é difícil saber, né!? - vai até ele e pega o livro de suas mãos, o guardando. Sei que não está sendo fácil para você... Que deve ser assustador receber uma noticia dessa de um dia para o outro. Você é forte... Você é a força que tem nessa casa! Vai ficar tudo bem. - sai rumo a porta e ao abrir ele a interrompe.
– Você está enganada! - olha para ela. Nunca fui forte e tão pouco sou a força dessa casa! Sempre coloquei a gente em problemas e você sempre fez ficar tudo bem...

Paula se retira sem responder, vai para a cozinha e prepara um chá para si. Senta-se no sofá e pega um retrato dos três que está próximo de si. Observa e sorri automaticamente... As horas passam e ela aproveita para falar com alguns fãs nas redes sociais. Vê alguns vídeos de shows, lê alguns textos, escuta algumas canções e adormece.

– Paula...? - sussurra sentada ao lado dela. Paula?
– Diva? - abre os olhos.
– Oi...- sorri. Vá se deitar...- sussurra.
– Por que está falando assim? - senta-se ainda tonta.
– Shiu...- aponta para o lado.
– Eles estão aqui faz horas? - olha-os.
– Quando cheguei já estavam! - sorri.
– Os amo muito, Diva...
– E eles te amam! - segura a mão dela.

Levanta-se e vai até eles. Pega Vitória do colo de Vitor e a deita em seu colo.

– Meu bebezinho...- beija-a. Vitor...- mexe nele. Vitor...? Vitor, acorde...- sussurra para não assustá-lo.
– Oi...- coloca a mão no peito.
– Vitória está aqui! - sorri. Vem se deitar...- estende a mão para ele.
– Vamos...- levanta e saem.

Entram no quarto e ela coloca Vitória no berço. Retira o robe e vê que Vitor vai até a gaveta dela.

– O que vai fazer? - vai até ele.
– Nada... Só pegar um remédio.
– De jeito nenhum Vitor! - tira da mão dele e guarda. Esses remédios são muito fortes! Só tomei quando perdi o bebê... Você não tomou nenhum, né?
– Só um quando chegamos...
– Vitor...- respira fundo.
– Preciso dormir! Estou...- senta-se.
– O que mais te preocupa? - senta ao lado dele.
– Não sei! - olha para ela. O que mais me preocupava antes era sua reação... Não quero te perder! - emociona-se.
– Você não vai me perder! - segura a mão dele.
– Estou assustado, Paula! - deita no colo dela. Muito assustado! - chora.
– Tenha calma...- o acaricia. Tenha calma, por favor...
– E se eu for o pai? Se a Maria for minha filha...
– Maria?
– O nome dela é Maria...
– Você a viu?
– Não...- senta-se. Só em uma fotografia...
– E como ela é?
– Uma criança linda! - olha para ela. Muito linda!
– Deite-se...- levanta para ele colocar os pés na cama.
– Me ajuda a dormir? Fica aqui...
– Farei isso...- deita-se ao lado dele e começa acariciá-lo.
– Ela disse que se eu for o pai não contaria a ninguém... Que era só eu ajudá-la e ela mandava a menina de volta aos EUA!
– Vitor...- sente-se mal ao vê-lo assim. Não vamos falar disso... Durma!
– Não saia daqui! - aperta a mão dela.
– Não sairei...
– Sei que não é nada fácil para você! Que deve estar doendo e... Eu sinto muito! Sinto muito em te causar tudo isso! Sinto muito em não te trazer paz...
– Não diga mais isso... Você me traz paz!
– Você não precisa se envolver... Jamais pediria isso! Você não precisa fazer nada por mim... Quero que esteja bem!
– Durma! Por favor... Se acalme e durma.
– Paula...- chora.
– Sem limites para sonhar...- sussurra. Rosa e ouro em teu olhar, passa o tempo o tempo passará, essa luz contigo irá...


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