Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 12
Parabéns/Trégua/Meses Depois


Notas iniciais do capítulo

Hey gente!
Voltei o/
Espero que gostem do capítulo viu? Obrigada quem comentou, quem favoritou, quem recomendou!
CAPÍTULO EDITADO :)



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[Tris]

18 anos.

É o primeiro pensamento que tenho ao abrir os olhos. Por mais que eu saiba que não acontecerá, eu encaro a porta, esperando que meus pais passem por ela trazendo consigo um pequeno bolo circular com uma velinha e uma bandeja repleta de coisas deliciosas feitas especialmente por minha mãe. Era um costume, quase que uma tradição fazerem isso. E meu peito se aperta ao constatar que será quebrado.

Com um suspiro volto a realidade completamente.

Tinha se passado três dias após a sua ida. E Tobias ainda me tratava indiferente. “É seu aniversário, Tris, alegria!” Eu empurro todos os pensamentos negativos para longe e afasto a coberta saltando da cama. Finalmente alcancei a maioridade, ainda que para as meninas seja com 21, mas está valendo.  

Esse é o único dia em que permito paparicos, não porque me agrada, mas porque é impossível me esquivar deles quando tenho um dia centrado em mim. Meu celular vibra incansavelmente sobre o criado mudo, mas deixo para checar as mensagens depois.

Escolho uma roupa confortável antes — nada de especial — de ir para o banho. E lá demoro mais que o necessário, com a minha cabeça querendo ser encharcada de pensamentos novamente... Ao sair eu me visto e seco o cabelo, deixando-o solto e devidamente liso. Encaro meu reflexo no espelho e noto que as olheiras estão menos arroxeadas. Aninha vem dando uma sossegada ultimamente, dormindo a noite inteira. Consigo ver alguma diferença em mim, as maças do rosto estão mais cheias e rosas, apesar desse fato eu não ouso dizer que sou bonita. Porque não sou.

Dou um suspiro. “Hoje não, Tris.”  Me lembro.

Vou checar Aninha e cuidar dela como sempre faço pela manhã. Quando eu chego lá ela me encara com aqueles olhinhos azuis bem abertos, pidonhos. Eu dialogo um pouco com ela antes de pegá-la no colo, pois ela chora impaciente para que eu a segure logo. Como um ritual eu a despido e lhe dou banho com agua morna. Sempre falando coisas, comentando sobre o dia, que eu estou muito feliz por estar completando mais um ano, que eu estou feliz por ter a conhecido. Ela responde com gritinhos e balbucios, como sempre também. Porém são as ‘palavras’ ou os sons mais belos que já vira. Todas as pessoas ficam tão maravilhadas com bebês ou sou apenas eu?

Eu não me incomodaria de ser apenas eu. Nenhum pouco. Eu odiaria ser tão comum.

— Prontinho, minha menina. — eu digo, limpando o resto de talco que havia ficado na barra do meu suéter vermelho e depois olhando para ela.

Ela estava ainda mais encantadora com o conjunto lilás florido e os sapatinhos de amora. Prendo novamente a presilha em seu cabelo loiro. Ela está mais gorduchinha em seus sete meses. Apesar de ter mais conhecimento sobre bebês agora, nós a empanturrávamos de coisas sempre, nunca a deixando faminta. E ela é bastante impaciente quanto a comida. Portanto eu trato de transportar sua bolsa e ela escada a baixo para lhe alimentar.

Eu deixo sua bolsa no sofá e caminho com Aninha em direção a cozinha. Posso escutar passos e sons de utensílios tintilando, chegando à conclusão que Tobias está de pé e preparando o café. Então começa, meu coração de repente se transforma de batidas regulares para um pulsar eletrizante e descompassado. Uma parte bem mínima do meu cérebro se pergunta se isso tem a ver comigo, sobre meu aniversário no caso... Eu prendo a respiração por três segundos antes de finalmente entrar. O cheiro é maravilhoso e ao nos ver ele cumprimenta o bebê que se agita ao vê-lo, estendendo os bracinhos. Ele aparentemente não resiste e a pega no colo prontamente. Está vestindo calça jeans e uma blusa de mangas cumpridas cor verde escuro marcando um tanto seus músculos.

— Bom dia. — ele me cumprimenta, dando uma rápida olhada.

— Bom dia. — eu respondo, mas não reconheço minha voz. Está alegrinha demais. Sinto uma espécie desconhecida de alivio. Como se eu ansiasse um diálogo entre nós. Até porque ele estava agindo bastante estranho. Eu hein! “Controle-se, garota!”.

— Porque você não vai ali, enquanto eu alimento essa princesinha aqui... — ele diz num tom suave, mas ao mesmo tempo duro, indicando com a cabeça à mesa.

Meus olhos dilatam com o choque e minha boca se escancara num O extremamente gigante. Se eu ficasse assim por mais alguns minutos aposto que acabaria engolindo um inseto. Porém a coisa era tão inimaginável que não consegui esboçar qualquer outra reação.

— O que significa isso tudo? — indago ainda cética.

A mesa da cozinha, está coberta com uma toalha verde brilhante, a qual eu não tinha ideia que existia, e sobre ela um prato grande recheado de duas panquecas com cobertura de chocolate e morangos, um copo de leite e outro de laranja, outro prato com bacon e ovos mexidos, e duas rosas, uma vermelha e outra branca num vaso de cristal. De longe ainda, posso notar um cartão retangular com balões na capa e escrito “Feliz Aniversário”.

— Não dê todo o credito a mim, seus pais podem ser bastante persuasivos quando querem. — ele diz apenas, voltando àquele estado de espirito distante.

Sinto um calafrio.

— Hum, obrigada. – meu tom de voz agora é outro, mas não sei identificar.

— Não agradeça a mim, retorno a dizer que foram seus pais que tiveram toda a ideia. — ele diz naquele tom indiferente de novo.

Meu peito arde por saber que ali havia um dedo dos meus pais no meio. Sorrio. Embora eu sinta algo a mais, algo dentro de mim que incomoda. Queima, porém não é raiva. No entanto não dou importância.

— De qualquer forma, obrigada mais uma vez.

Ele dá de ombros.

Apesar de eu estar muito ‘mansinha’ para meu desgosto, meu sangue ferve com sua atitude. Eu queria dar-lhe uma resposta à altura. Ou talvez apenas um beliscão resolveria. Decido também por me calar por completo enquanto estivermos juntos no mesmo lugar.

Isso tudo é tão estranho. Eu poderia trata-lo como naquele dia em que fez piadinha do casamento com meus pais, ser grosseira... mas eu chego à conclusão que o dia de hoje é muito importante para eu me estressar com qualquer coisa. E se meus pais haviam preparado aquilo tudo para mim (em parte), eu não podia simplesmente ficar na defensiva, talvez amanhã.

Por um breve momento eu fico encabulada por ter tudo aquilo só para mim em comparação com o café da manhã dele: uma panqueca, ovos e dois bacons. Mas eu não ouso dizer absolutamente nada com medo de ouvir aquele tom gélido novamente. “Eu com medo?” Que ironia... Era meu aniversário apesar de tudo! Eu acho que merecia a ‘surpresa’.

Eu tinha certeza que viria mais por aí. Isso é apenas o começo, só de pensar em Christina e no que aquela mente perversa pode aprontar hoje meu estomago se revira.

Paro de pensar nisso e me concentro em minha comida. Olhando de vez em quando para a bolha que parecia envolver somente a Tobias e Aninha, a qual aparentemente não havia espaço para mim.

.

Christina decide por todos nós e cabulamos aula para comemorar meu aniversário. É claro que naquela altura eu já havia sido envolvida por diversos tipos de braços, assim como mimos. Porém, quando estou ajeitando a cadeirinha de Aninha no carro de Will, Al recebe uma ligação de seus pais.

— Pessoal, desculpem, mas não vou mais poder ir. Tris, sinto muito. — seu rosto transmite todo seu desgosto.

— Tudo bem, Al. Eu entendo. — eu aliso seu braço, segurando o bebê com o outro. Chris passa por perto e a pega no colo, a enchendo de beijinhos e falado arrulhamente.

— Qual é a treta? — Will pergunta ao se aproximar, segurando uma garrafa de agua na mão.

— Meus pais, querem que eu vá em um lugar para eles, buscar uma mercadoria para a loja. Estão ocupados. — ele diz.

— Você vai querer ajuda cara? — Urih pergunta prontamente.

— Yeah, nós podemos ir contigo... — Will diz.

— Mas e o aniversário de Tris? A comemoração... — fala Al incerto me olhando de forma cabisbaixa.

— Tudo bem, gente. Eu compreendo, não se preocupem. — eu digo para confortá-los. E no fundo a mim mesma, apesar de não me importar muito com meu aniversário, eu queria tê-los comigo, mas infelizmente não era possível. Porém, eu entendida perfeitamente bem.

— Certo. As meninas vão no meu carro e vamos no de Urih. — Will relata.

As meninas se despedem de seus amados e eu me vejo constrangida, pois enquanto elas os envolvem em abraços afetuosos, só resta Al e eu, totalmente perdidos naquilo tudo nos entreolhando. Não fazemos parte daquele mundo e nem sei se farei algum dia. Mas aquela é primeira vez que me incomodo. É como se faltasse algo.

...

Ao anoitecer decidimos por voltar. Por alguma razão não nos empanturramos de comida e Coca-Cola como achei que aconteceria, ou nos lambuzamos com as sobremesas deliciosas expostas nas vitrines dali, fazendo parecer como se estivéssemos num museu de arte comestível.    

— Nós vamos entrar com você... Vamos esperar os meninos aqui até voltarem. — diz Marlene, com a bolsa de Ana num braço e a sua no outro, assim que chegamos em frente à casa dos Eaton; ao pensar no seu nome posso perceber o quanto estou sentida por não ter recebido nenhum agrado de sua parte. O café foi uma coisinha bacana, porém fora ideia total dos meus pais, não tinha vindo dele. Não que eu estivesse mendigando sua atenção, jamais. Odeio como estou reagindo a isso, como me sinto a respeito de sua ausência naquela comemoração. Fora tudo muito descontraído, menos a parte em que me desafiaram a flertar com o garçom bonitinho, a única solteira do grupo, me surpreendi com o fato de eu o ter comparado à Tobias, manifestando uma escala injusta de beleza... E além de tudo o que mais me preenchia por completo era ter aquele bebê de olhos azuis tão meigos e inocentes. Eu não tenho dúvida alguma que ela já é parte de mim, eu a amo com todo meu ser... Meu coração arde de uma forma tão intensa me aquecendo que meus olhos lacrimejam.

As luzes da casa estão apagadas, um breu se alastra por cada canto dali. A brisa é fria e por um momento eu sinto calafrios, puxando as pontas do casaco do bebê para fechá-lo um pouco mais. Passo Aninha à Christina enquanto eu abro a porta. Uma vozinha irritante, aquela que me persegue sempre, indaga aonde o dono estaria e fazendo o que. Curtindo com os amigos em algum lugar, justamente hoje, no dia do meu aniversário!

Sacudo minha cabeça com força. E ignoro o fato de sentir uma pontada de decepção.

— Tudo bem aí Tris? — pergunta Chris.

Não. Não está nada bem.

— Sim. — eu sorrio de canto, virando meu rosto um pouco para “provar” à ela que sim.

— Então abra logo essa porta, Prior. Vamos congelar aqui!

Eu rio um pouco.

Giro a maçaneta e deixo que elas entrem primeiro, tiramos nossos casacos e penduramos nos ganchos atrás da porta. É impossível enxergar naquela proporção de escuridão. Por um instante não me lembro onde o interruptor se localiza... Aninha começa a chorar e eu a pego no colo a acalmando.

— Christina liga a luz para mim, por favor. — eu peço. Balançando o bebê de um lado para o outro.

Então de repente as luzes se acendem e eu tenho a visão de uma explosão de cores na sala, há balões, fios, decorações em corações. E uma faixa enorme tampando metade da parede escrito em letras douradas brilhantes e lilás: FELIZ ANIVERSÁRIO TRIS! Ao mesmo tempo em que gritam: SURPRESA!

Admito que minha vontade inicial é pegar Aninha e correr o mais longe possível, é então que eu noto a presença de Al, Will, Urih, Zeke, Max e ele na primeira carreira de pessoas ali, sorrindo com tanto carinho. Eles me engaram para preparar tudo isso. Eu vejo que eu cometeria um erro gravíssimo se agisse de forma negativa, embora ainda me parecesse tentador a ideia absurda de fugir, aquilo tudo fora feito para mim, imagino o grande esforço que tinha sido fazer aquela “festinha”. Olho para trás para minhas amigas fechando os olhos em fendas. Elas dão um sorriso amarelo. 

Então noto que o bebê havia se acalmado e estava chupando o dedo com gosto em meu colo.

Retribuo a gentileza dos meus ‘convidados’ com um sorriso singelo e verdadeiro, repleto de gratidão. Lutando contra meu lado resistente e orgulhoso.

Urih me puxa pela mão com cuidado e me conduz até uma mesa retangular com um bolo redondo de cor roxa de três andares no centro, Chris pega Aninha e a entrega para Tobias quando sou levada, percebo os detalhes que adornam o bolo, estrelas, florezinhas, e um B gigante encostado no primeiro andar, quase que ao lado da vela brilhante que indica a idade que estou completando.  Ha na mesa também cupcakes, doces, e outras guloseimas. Agora entendo o motivo de regrarem minha fome.

Al se aproxima e acende as velas do bolo. Dando-me um sorriso contente. Até demais.

— Vamos lá galera, parabéns em 3, 2, 1... – grita Will.

Sinto-me diferente, eu particularmente não suportaria estar ali, sendo o centro das atenções de todos, porém o sentimento de gratidão está tão elevado, se sobressaindo da indignação, ou da surpresa, que eu me permito ser envolvida por aquele momento especial, ninguém tem o poder de voltar no tempo, talvez no próximo ano eu possivelmente não estaria rodeada por aquelas pessoas tão importantes para mim.

Então eu sorrio sem ser forçado.

Encaro cada rosto sorridente, pessoas dos clubes que participava do colégio e umas cinco desconhecidas. E paro em um em especial.  Ele olha para mim de volta, de uma maneira leve, diferente dos que estava me acostumando, porém eu encaixo na minha mente que é apenas por ser meu aniversário hoje. Aninha brinca com um patinho de borracha em seu colo. 

Ao final da cantiga tradicional, estouram confetes de diversas cores com meu nome ainda soando na sala, tenho que balançar a cabeça para espanar os que caem em meu cabelo, todos aplaudem forte e eu sorrio mais uma vez.

Chega a hora das felicitações e mais abraços.

— Vocês me enganaram direitinho! — eu acuso Will quando o mesmo me abraça.

Ele ri.

— É claro, Prior. E você nem mesmo é uma pessoa tão esperta assim hein?

Dou um soco em seu braço. Mais uma vez rir.

— E vocês participaram! — finjo fuzilar as meninas com meu olhar. — Suas mentes cruéis!

— Eu sei que no fundinho você está adorando tudo isso! — Urih rebate apertando minha bochecha.

Faço careta. Ele rir envolvendo Marlene num abraço.

— Bem no fundinho! — concorda Chris.

Eles estão certos, porém não vou admitir isso agora. Não agora.

Mais abraços...  Após meia hora me fizeram cortar o bolo, com muita insistência, pois eu havia dito para Chris cortar. O primeiro pedaço eu ofereço aos meus pais, que claro não estavam e Will aproveitou para pegar e comer.

Sento com meus amigos para degustar, mas ainda assim tento atender à todas as pessoas e ser gentil, ainda que não conhecesse alguns de fato. Num cantinho com seus amigos está Tobias, Aninha no colo de Shauna e parecendo estar contente agora com um gatinho de pelúcia, resolvo deixa-la ali já que raramente ela tem contato com os amigos dele.

Todos que estavam presentes haviam perguntado sobre ela, além de a admirarem por ser um bebê tranquilo e bonita. Eu engatei uma história fictícia, não gostaria de ter pessoas cochichando sobre minha vida por ai. Disse que ela era uma prima minha que havia ficado sem os pais. Era uma meia verdade afinal. Isso já bastava, eles iriam comentar de qualquer forma.

A festa continua com música, comida e muito refrigerante. Aposto que se Eric e Peter tivessem ido acabariam com toda a graça. Àquela altura praticamente todos haviam me desejado coisas boas e me abraçado. Com exceção de uma, eu sinto uma inquietação agoniante dentro de mim por aquele ‘pequeno’ detalhe. Uma vez ou outra eu me pego pensando quando ele virá até aqui para me envolver num abraço aconchegante. Mas quando estamos limpando a casa e quando todos já tinham ido embora eu percebo que nunca acontecerá. Até mesmo seus amigos haviam ido ao meu encontro.

“Tris, deixe de ser ridícula...” minha mente me diz. Porque eu queria que àquilo acontecesse afinal? Que bobagem. Bufo. Meus amigos me ajudam a jogar fora o lixo e arrumar o local na parte externa também.

As únicas palavras que Tobias e eu trocamos foi quando eu pedi para que ele colocasse o bebê no berço e que a banhasse antes. Só. Foi algo meio estranho também.

— Bom, gente, obrigada por tudo. — eu digo, olhando para cada um.

— Eu sabia! — Urih e Will tocam seus punhos.

E todos festejam.

— Sua mente cruel você foi a cabeça de tudo isso não é? — acuso Christina.

Ela franze o cenho.

— Não se faça de desentendida.

— Mas eu não fiz nada! Quero dizer, só a parte de distrair você Tris. — ela diz levantando as mãos como se ela se rendesse. — Dessa vez não tenho culpa. Juro!

— Então quem planejou? — eu indago olhando interrogativamente cada um.

— Vamos deixar nos ar... – diz Will e gesticula como se estivesse jogando algo invisível.

Faço careta de novo, odiando não ter minha pergunta respondida.

Eu abraço-os mais uma vez naquela noite e os observo desaparecer em seus carros em frente à casa, pensando e pensando. Entro e tranco a porta, quando estou caminhando em direção à escada, o telefone toca. A faixa ainda está ali.

— Beatrice?!

Ouço a mistura das vozes dos meus pais juntamente com um instrumental animado no fundo. Cantando ‘parabéns para você!’.

— Eu sei que enviei mensagens e tudo mais... Mas queríamos falar que estamos sentindo saudades e parabéns por mais um aninho de vida, minha filha, oh querida, chegou a maioridade... — ouço minha mãe fungar.

— Obrigada mãe, e papai. — eu digo já com lágrimas nos olhos, eu queria que eles estivessem ali comigo. A dor da saudade aperta meu coração.

— Amamos você, filha, muito. — ela diz.

— Muito! — a voz do papai faz eco ao da mamãe, sorrio com os olhos.

Ela respira fundo antes de falar novamente.

— Você gostou dos presentes?

— Sim, estava delicioso! Obrigada. — eu me lembro do sabor e umedeço os lábios.

Escuto a risada dos meus pais do outro lado.

— Você comeu as rosas? Ou o cartão? E as roupas? — ela pergunta ainda com humor.

— O que? — confusão, é o que eu sinto no momento.

— Pedimos para Tobias deixar tudo em cima da sua cama, filha. Você ainda não viu?

Olho estática para minha frente.

— Vocês não pediram para que ele preparasse um café da manhã?

— O que? — minha mãe pergunta, e posso escutar o espanto vindo dela também.

De repente tudo se encaixa.

Não havia dedo nenhum dos meus pais naquele café da manhã.

E depois a festa surpresa.

Foi Tobias o tempo todo.

Mas porque ele não me disse a verdade desde o princípio? Talvez orgulho? Sinto um turbilhão de coisas ao mesmo tempo que é impossível distinguir. Ele não falaria, por mais que tenha sido ‘gentil’ hoje, ele ainda estava estranho.

Eu odeio admitir que a culpa de tudo é minha. Eu tentei esconder de todas as formas, porém está estampado ali na minha cara. Agora ele não me suporta, ou tenta, por Aninha.

—... Beatrice? Você está ai? Alô? — volto a prestar atenção em minha mãe. Nem tinha notado que tivera um devaneio.

— Desculpe mãe. Eu estou um pouco cansada. Obrigada por tudo.

— Tudo bem, meu bem, a festinha deve ter sido boa não é? — até ela sabia — recebi umas fotos de Christina.

Balanço a cabeça sorrindo um pouco.

— Eu aguentei! Mãe, eu gostaria de ficar falando com a senhora a noite inteira, mas tenho que ir checar meu bebê.

— Tá certo, querida, feliz aniversário mais uma vez! — ela diz e nos despedimos.

Minhas pernas estão um pouco bambas a cada degrau que eu subo. Torço para não encontra-lo ali. Não agora. Meu coração bate tão forte, que eu consigo escutá-lo em meus ouvidos.

Abro a porta vagarosamente e espio pela fresta. Ele está de costas cantarolando bem baixinho enquanto aplica batidinhas levianas nas costas do bebê. Piso num brinquedo de borracha, fazendo assim com que ele perceba minha presença. ‘Droga!’ digo mentalmente e entro no quarto.

— Ela já dormiu? — é uma pergunta retorica, pois eu a vejo ressonando tranquila. Mas eu não consigo pensar em mais nada para falar.

— Sim. — ele diz apenas. — e eu vou indo também. — ele deposita um beijinho na pequena bochecha de Aninha e se vai sem ao menos me olhar.

— Espera um pouco! — eu digo, e arregalo os meus olhos quando eu percebo que o pego pela mão antes que ele se vá por completo. Ao que parece o mesmo também se surpreende com meu ato e olha de mim para nossas mãos unidas. Eu a solto um tanto bruscamente.

— Sim? — ele indaga um tanto indiferente.

— Obrigada, por hoje. — eu digo apenas e estico um sorriso relutando um pouco.

— Não sei do que está falando... — desconversa e passa a mão entre as mechas do cabelo, desviando os olhos.

— Não precisa fingir mais. Eu sei muito bem que não foram os meus pais que pediram para que você fizesse aquilo tudo hoje pela manhã e também que a ideia da festa foi sua.

— Muito bem, e então? Se for reclamar ou me esculachar eu vou adiantando à você que não estou com pique para isso! — ele diz numa voz neutra, mas batendo o pé.

Eu reviro os olhos.

Já ficando irritada com suas palavras. Mas me freio. Porque pude ver que era só isso que ele recebia de mim sempre. Meu aborrecimento. Minha ira. Meus gritos.  

— Não, fique tranquilo. Eu quero apenas dizer: Obrigada.

A sua expressão é de surpresa e ceticismo.

— Mesmo? — ele indaga com as sobrancelhas arqueadas — não vai me dar socos, nem me insultar? Por eu ter escondido a verdade?

Mentido. — friso bem — Mas não. Eu não sei o que há, mas por hoje não quero bater em ninguém.

— Estou impressionado... acho que devemos fazer mais festas surpresas para amolecer mais esse coraçãozinho...

— Que engraçado! — eu digo fazendo uma careta — não é para tanto!

Rimos juntos por alguns segundos, antes de ele cortar e voltar à expressão séria.

— Muito bem, vou indo, pois amanhã tenho treino! — ele diz e se vai, mas volta colocando só a cabeça para dentro para dizer docemente: — por nada Tris.

Balanço minha cabeça para tirar o sorriso bobo que brota em meus lábios.

Repito o que Tobias fizera com Aninha e desejo boa noite acariciando seus cabelos, ligando a luz do abajur, saindo em seguida, querendo permanecer ali um pouco mais... Chego ao meu quarto, repleta de indagações, me sentindo confusa, avoada, e um tanto contente. Olho o presente dos pais, me emocionando com a dedicatória no cartão, cheiro as rosas, vejo rapidamente as roupas, guardo tudo no closet e ponho o buquê numa jarra com água... Me jogo em cima da cama, tirando meus sapatos com os pés e os lançando para algum lugar.

A pergunta que mais martela em minha mente é: porque simplesmente agora eu não consigo mais ser rude com Tobias? Certamente, ainda há momentos que eu desejo cravar minhas unhas na cara dele, mas hoje eu estou tão ‘mexida’ com tudo que ele fez por mim.

Ainda estando ressentindo comigo, ele provou que seu afeto e consideração era maior que sua ‘magoa’ de mim. E encontrar pessoas assim é raro. Chego à conclusão de que eu fora muito intolerante na última discussão, quando meus pais haviam acabado de chegar, é eu quem levanta a bandeira branca dessa vez. Um sentimento de gratidão soa gritante em meu coração.

Como conseguirei retribuir tudo? Tratando-o bem. A resposta veio em imediato.

Aumento um pouco mais o volume da babá eletrônica e derivo para o sono.

.

Estou descendo as escadas tranquilamente depois de fazer o bebê dormir, quando assisto assustada a porta ser aberta bruscamente e depois ser fechada, Tobias surge parecendo destruído e esgotado, com um saco de ervilhas descansando na bochecha direita.

— O que houve? — eu pergunto prontamente.

E eu apresso o passo, quando eu percebo isso eu me contenho e volto ao ritmo normal.

— Eu me machuquei no treino hoje. Dei de encontro à um ferro... que saiu não sei de onde! — ele diz entre dentes, talvez reprimindo algum gemido de dor.

— Eu posso ajudar em alguma coisa? — eu pergunto, tendo o cuidado de manter uma distância razoável da onde ele está no sofá.  

Ganho um olhar desconfiado e surpreso de sua parte. Fico constrangida quando ele permanece em silêncio a me encarar. Começo a bater os pés.

— Pode. Tem um kit de primeiros socorros no armário abaixo da pia...

— Eu sei... — não o deixo terminar e caminho até lá.

Pego a maleta branca com uma cruz vermelha e volto para a sala, analisando os ferimentos enquanto ele pega da minha mão. Percebo um fio de sangue escapando de sua boca e dou um pulo na cozinha pegando um pote pequeno o enchendo de agua e pegando um paninho de flanela.

Ele parece um tanto desnorteado ao tentar abrir o pacote de gazes e eu pego de sua mão.

— Fique quieto e deixa que eu faço isso ok? — eu digo terminantemente.

Ele levanta as mãos. Se acomodando mais no acento e fechando os olhos.

Me recordo dos cuidados que recebi dele quando estava doente. Ainda que não estivesse muito lucida naquele dia. Estava retribuindo o favor de certa forma.

Mergulho o pano na agua, limpando o sangue, recebendo um grunhido de dor seu. Percebo o roxo em sua bocheche ficar mais perceptível e maior. Mas não sei o que fazer para amenizar aquele hematoma.

— Eu acho que você deve ir à um hospital. — eu sugiro.

— Bobagem. Daqui a pouco estou novo em folha. Além disso só é fazer compressa e volta ao normal. — ele abre os olhos para piscar. — mas me diz, por que simplesmente agora você decidiu ser ‘bacana’?

Descubro que estou sem palavras. Apesar de saber o motivo, ou pensar que sabia. Eu não estaria ali, tão perto de Tobias Eaton, o rapaz que me causou tamanha dor durante tanto tempo, sem uma boa razão.

Porém, eu posso concluir que aquilo tudo passou. É claro que aquele receio ainda está ali, mas não existe mais raiva, não quando constato que ele não é o mesmo idiota de antes. Isso é graças à Aninha que o mudou, seu comportamento, sua forma de pensar, não somente à ele, mas a mim também. Eu sinto que eu posso ser diferente e dar-lhe uma segunda chance. Eu posso e quero perdoá-lo. De verdade agora. Pode parecer uma loucura total, mas é isso.

O ódio evaporou-se por completo. Me acho uma tola por ter perdido tempo com esse sentimento sem fundamento, certamente que tinha razão antes, mas antes. Na época em que aconteceu... Mas precisamos viver o presente, senão ficaremos presos às coisas passadas ou futuras. O que não é bom. 

Eu posso ter meu melhor amigo de volta... embora meu coração aperte com a palavra. Ela parece não ser certa. Chega Tris! Me censuro. Esses pensamentos são tão confusos para mim. O que eu sinto também. Nunca senti algo assim antes.

Ele espera ávido pela resposta.

— Porque eu quero que nos demos bem. Não somente por Ana, mas por nós.

Ele fica boquiaberto.

— Pelo o que tínhamos antes... Temos tantas histórias... — eu digo segura e sorrio um pouco passando remédio no ferimento de sua boca e limpando o excesso com uma gaze.

— Mas porquê? — ele persiste na pergunta.

— Porque o que? — digo devolvendo os remédios à maleta.

— ‘Por nós’?

— Porque sim Tobias! Quero que sejamos amigos de novo.

— Amigos. — ele repete com um tom desconhecido por mim — certo. Eu concordo. É bom não ter alguém te xingando ou insultando sempre sabe?

Eu sorrio um pouco.

— Desculpe.

— Mas eu entendo... — ele dá uma piscadela — obrigado pelo curativo. — ele sorri e pega minha mão, sendo cauteloso e me olhando enquanto deposita um beijo no dorso. Ela formiga, até mesmo depois de ele a soltar. E meu coração então, totalmente descompassado. — doce Tris.

Eu reviro os olhos.

— Essa é a Tris que eu conheço. — ele sorri abertamente.

— Certo. Agora deixa eu cobrir com a gaze para fazê-lo parar de falar! — ele rir.

.

Desde àquele dia o convívio entre nós melhorou a cada dia. É claro que ainda há as alfinetadas de vez em quando, porém não chegam a ser sérias, no final acabamos rindo de tudo. E Aninha que se diverte com as colheradas de comidas que voam pela cozinha.

Ainda é tão estranho para mim não querer esganá-lo sempre. Até mesmo relevo as piadinhas sem graça no qual eu sou o centro. A cada dia mais eu sinto que preciso ter Aninha e Tobias comigo.

Sorrio para a Christina que está com a máquina fotográfica e pede para tirar a foto, Aninha no colo de Tobias e a mesma olhando sorridente para ela. Como não estar contente? Fizemos uma festinha para comemorar seus nove meses. E claro o aniversário de Will. Depois de muitos cliques, batemos os parabéns e degustamos.

A formatura seria daqui uns dias e eu me matei de estudar com as provas. Agora era a hora de receber todo o mérito e meu canudo. Rumo a faculdade dos sonhos! Dar um bom futuro à Aninha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Deixem seus comentários hein ;)
Beijos e até o próximo