Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 11
Visita Inesperada


Notas iniciais do capítulo

Bem, olá! Quanto tempo né gente!
Primeiramente eu peço sinceras desculpas pelo atraso. Segundo, agradeço a todos que comentaram e em especial a linda da Fourtris que recomendou a fanfic ;) Um Seja Bem Vindo bem caloroso para aqueles que estão chegando agora! E meu muito obrigada pelos guerreiros fieis que não abandonaram a fic e nem a mim...
Achei esse capítulo bem importante. Espero que gostem.
CAPÍTULO EDITADO :)



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[Tris]

Minha garganta dói quando eu desperto pela manhã, o meu corpo está menos dolorido, então é algo tremendamente maravilhoso, a pior coisa que existe para mim é ficar de cama, ainda por cima doente, estar dependendo de alguém para praticamente tudo. Eu não entendo os motivos de eu ser assim, de não querer ser cuidada, mesmo com os paparicos dos meus pais em certas doenças quando criança. Talvez isso sempre me deu a devida impressão de ser sinônimo de fragilidade e é algo que eu não admito ser.

Por mais que já faça uma semana que eu permaneci enferma, ainda consigo sentir os braços de Tobias ao meu redor, como uma proteção quente e macia. Odeio admitir isso, mesmo que em pensamento. A ideia de que alguém pudesse por alguma razão sobrenatural ler minha mente me assombrava por completo. Portanto eu evitava pensar sobre isto. Até porque eu me sentia completamente insana. Eu o odeio ainda. Não é porque ganhei seus mimos – desnecessários — por alguns dias que isso mudaria. Sem chance.

Tem certeza disso?”  Desperto no mesmo instante depois que isso surge com uma vozinha distante e irritante. Para espantar de vez, eu meneio minha cabeça. Assim despertando também para a colher parada no ar, esperando o caminho até minha boca, sinto meu estomago roncar ruidosamente, e me apresso em engolir o cereal. Esses pensamentos ridículos ainda serão minha ruina!

De volta a rotina, retomei a casa, o bebê, e a mim própria. Assim como teria que estudar a mais se eu quisesse garantir minha vaga na universidade de Chicago, ou se quisesse ao menos passar de ano. Já que perdi bastante matéria, Chris e o pessoal me passaram os assuntos enquanto estive em cárcere privado. Eles quem me distraiam e me animavam. Apesar de ter Aninha comigo, era um tanto entediante.

Toc Toc.

Limpo a garganta com o suco de laranja e me levanto para ir receber quem quer que seja. Pelo trajeto até o hall, eu observo com uma pontada agoniante alguns brinquedos espalhados por ali. Bagunça. Tobias! Cuspo o seu nome. Ele passa a maior parte do tempo com Ana e faz essa baderna. Podia pelo menos arrumar tudo depois. Mais um item para a adicionar à lista que existe na última folha do meu caderno chamada “motivos que me fazem odiar o Quatrinho”.

Novamente escuto as batidas insistentes e grito:

— Já vai! — abro a porta e continuo rispidamente sem realmente fitar o impaciente. — sim?

Ou os ‘impacientes’.

Passados alguns segundos meus olhos captam as pessoas ali. Eu poderia esticar meus lábios em um singelo sorriso receptivo para dizer-lhes o quão estou feliz em vê-los, porém a única reação que eu consigo demonstrar é surpresa, meus olhos — grandes por natureza –— dilatados em susto. Sinto meu sangue gelar.

— Oh, minha filha. É tão bom vê-la! — minha mãe diz com lágrimas nos olhos, está vestida modestamente, com uma saia azul turquesa até os joelhos e uma blusa bege de magas até os cotovelos, me envolve num abraço terno, inspiro seu perfume docinho e noto o quão meu coração arde ao ter minha mãe por perto, eu não sei o quanto durará esse encontro, portanto devia aproveitar todos os segundos, eu a aperto de volta. Meu pai faz a mesma coisa que ela, exceção do beijo que deposita em minha bochecha e no nariz. Também fico imensamente ‘tranquila’ por vê-lo e tê-lo a minha frente.

— Você podiam ter telefonado... Teria feito uma recepção melhor! — passo as mãos em meu cabelo.

— Imagina, querida. Não tem problema nenhum.

Quando eu os encaro diretamente nos olhos, eu estou tentada em pedir para que me levem para longe — ainda mais quando eu me sinto aquecida pelos sorrisos direcionados a mim — que eu não me importo em deixar a escola para trás, ou meus amigos, ou a casa no qual eu resido agora. No minuto seguinte, eu me arrependo de tudo que havia pensado antes e sinto vontade de socar a mim mesma, há muito em jogo, eu ‘lutei’ para que um bebê órfão tivesse um lar — pelo menos temporário. O que se tornou ‘indeterminado’. — e agora eu quero ir? Largar tudo para o alto e correr? Que covarde! Essa não sou eu. E a faculdade?

Com um frio na barriga eu volto a mim novamente, meus pais, não sabem o que vem acontecendo atualmente. Não sabem que eu estou cuidando de um bebê. E que eu não pretendo abrir mão dela. Minhas mãos estão suadas e passo as palmas em minha calça de moletom para enxuga-las. 

— Tris, você não parece muito bem, está tão pálida! Onde está Tobias? Quando nós deixamos você sob responsabilidade dele estava corada e cheia de vida! — meu pai diz, com a testa vincada e com uma expressão preocupada. Ou quase cheia de vida, porque a partir do momento em que eu soube que ele seria meu ‘tutor’, e pior que moraria com ele, eu quis morrer. Eu até mesmo cogitei a ideia de cair ‘acidentalmente’ da escada.  

Por mais que eu gostaria de jogar a culpa para cima dele, eu decido por contar a verdade.

— Acho que o motivo é que há alguns dias eu estive adoentada, a virose maldita me derrubou! — faço a cara mais desgostosa do mundo.

— Céus, Beatrice! Olhe o seu vocabulário! — minha mãe repreende.

— Desculpe, mãe. — eu digo cabisbaixa, eu tinha certeza que se fosse qualquer outra pessoa eu revidaria, como por exemplo Tobias, porém aqueles eram meus pais, mesmo que tivessem me largado aqui sem ‘nenhuma’ consideração. Drama! É evidente que eles estavam pensando em mim quando decidiram meu ‘destino’ há um tempo. Mas é inevitável me sentir traída. Ainda que não soubessem o porquê de meu receio. Talvez jamais soubessem.

Nunca passou por minha cabeça falar sobre àquele acontecimento para eles, o mínimo que conseguiria era estragar uma amizade criada há anos. Eu não queria isso. Não queria que meus pais ‘rompessem’ este laço. Mesmo que isso significasse ‘martírio’. Já passou, fim de papo. Melhor manter isso guardado e não mexer mais. 

— Não vai nos convidar a entrar? — minha mãe pergunta. Eu pisco os olhos algumas vezes para voltar ao presente.

— Ah, é. Desculpe. Vamos então. — digo torcendo para que eles não notem nada por enquanto. Qual melhor maneira de prepara-los para essa ‘surpresa’? Por mais que meus pais fossem boas pessoas, caridosas, altruístas, a incerteza de suas possíveis reações e decisões me deixava agoniada. 

No momento em que viro para guia-los, me deparo novamente com os brinquedos espalhados pelo lugar, e com certa urgência eu vou catando pelo caminho sem deixar que percebam e enfiando debaixo de qualquer coisa que pudesse escondê-los, como cobertas, o tapete...

Os levo em direção ao sofá e pergunto se querem algo. Enquanto vou à cozinha pegar a agua, eu procuro me agarrar em algum conforto. Mas só a ideia de que Tobias descesse com o bebê agora, meu coração palpitava mil vezes mais rápido. Imaginava meus pais assustados e surtando.

De volta a sala entrego os copos para ambos, tremendo.

— Você está bem, minha filha? Parece nervosa. — indaga minha mãe ganhando rugas em sua testa.

Pigarreio.

— Sim, claro. Porque não estaria? — eu forço um riso no final.

Minha mãe assente.

— E os estudos como vão, Beatrice? — meu pai engata uma nova conversa e eu me sinto um pouquinho mais aliviada. Por hora.

— Nos atualize sobre tudo!

Conto que estava atrasada por conta da debilidade causada pela virose. Mas que iria recuperar tudo. A cada termino de frase eu encarava as escadas, e qualquer barulho me fazia sobressaltar. Quanto ao pedido de minha mãe, eu resisti um pouco.

Respiro fundo.

Então, num certo momento eu não aguento mais. Meu coração pulsa fortemente, minhas mãos continuavam suando, minha cabeça latejava. Enquanto eu os escutava sobre a viagem, sobre suas vidas em outra cidade, sobre o trabalho.

Para que eu adiar tanto? Uma hora ou outra eles saberiam, não achava que seria tão cedo. Eu nem havia ensaiado como contar. Eu não sabia realmente o que pensar sobre o que aconteceria depois de eu dizer sobre o bebê.

— Preciso contar uma coisa. — eu digo, querendo que meu tom saia neutro.

— Nós também, querida, é uma das razões de estarmos aqui. — minha mãe sorri largamente.

— Ah é? O que então?

Eu me sinto salva pelo gongo, é uma ótima deixa. Porém, ao mesmo tempo em que eu quero esconder, eu quero contar, é confuso até para mim. Talvez com eles do meu lado seja mais fácil. Ainda que eu não saiba de fato o que exatamente eu esteja fazendo. Eu quero Aninha comigo, nem mesmo suporto a ideia vê-la separada de mim.

— Primeiro você, querida. — é notável a felicidade de minha mãe quando ela diz.

— Por favor, vocês são convidados. — digo num tom estranho, talvez uma mista de magoa e gentileza.

É necessário ela pigarrear para continuar.

— Como quiser. — ela encaixa novamente o sorriso ofuscante nos lábios — seu irmão irá se casar!

Meus olhos arregalam-se.

— Como? — deixando meu egoísmo de lado, é a minha vez de sorrir. — não acredito, ele encontrou a garota! — eu rio maravilhada com isso. Caleb sempre foi bastante focado, o que o tornava muitas vezes um chato, a não ser para algumas garotas que o achavam atraente por causa de seu cérebro. Sua prioridade além da família, era os estudos e eu me lembro das noites de sono perdidas para conseguir sua bolsa na tão sonhada Harvard. Seu lema sempre significou ‘estudo e profissão’ e nunca garotas, muito menos casamento. Então a garota devia ser especial. Faltava alguns meses para concluir sua faculdade de Ciências Biológicas.

Minha mãe segura minha mão. Compartilhando o mesmo sentimento que eu. Assim como papai.

— “A garota”? O que isso quer dizer? — meu pai se pronunciou fazendo aspas.

— A garota! Aquela que fisgaria seu coração de pedra.

Eles riem.

— Muito bem, agora nos conte a sua notícia. — pede minha mãe olhando de dentro dos meus olhos.

Aposto que ela seria mil vezes mais surpreendente que a deles. E como.

No mesmo instante em que ela diz, escuto passos estrondosos vindos da escada, juntamente com gargalhadas infantis e contagiantes, sinto um frio em minha espinha tão forte que eu estanco no lugar. Meus pais se viram para encarar a cena, Tobias carregando um bebê de macacão verde claro, fazendo-a voar igual a um avião ou um pássaro, arrancando seus risos, e claro como o bobão que é também a acompanha. Eu li num livro o mal que faz jogar bebês assim. E eu já havia o alertado uma vez. Então eu me enfureço.

— Tobias! Eu já falei para você não fazer isso com ela! — eu ralho.

— Que mal isso faz, Tris? — ele retruca, ainda encarando-a e sem notar a presença dos ‘convidados’ na sala. — ela gosta! — ele está fazendo um zunido como aqueles de motor.

Os meus pais voltam a olhar para mim interrogativamente. Eu respiro fundo. E depois intercalam o olhar entre Tobias com Ana e eu. Eu demoro um tempinho para encontrar minha voz. Isso não estava nos planos. E eu estava com receio disso acontecer. Ele aparecer subitamente com ela.

— De quem é esse bebê, Beatrice? — meu pai indaga com um tom firme.

Tobias finalmente olha para onde estamos e assim como eu leva um susto, arregalando os olhos azuis.

— Era sobre isso o que eu ia dizer. — eu digo sentindo meu coração a mil por hora.

Ele ajeita Aninha, que reclama com balbucios, e caminha até nós.

Um silêncio sepulcral reina por pelo menos cinco minutos. Até que minha mãe é a primeira a esboçar sua reação. Ela sorrir quando Aninha a encara. Meu pai olha de Tobias para mim, vejo sua boca se mexer minimamente.

— Não é o que estão imaginando. — eu me apresso em dizer.

— Então nos explique! Não faz nem um ano que fomos para outra cidade, então não há como... — ele instiga.

Eu no mesmo momento balanço minha cabeça ferozmente. Assim como Tobias. Jamais.

— Papai, não! — da mesma forma que fico completamente constrangida, fico irritada com a suposição. — não é nada disso! Ela não é minha filha. — garanto mais vez.

Ele suspira aliviado.

— Bom, realmente, você não faria isso. Desculpe.

— Nós explicaremos absolutamente tudo, Andrew. — pela primeira vez Tobias se pronuncia.

— Certo. — ele diz, é evidente sua tranquilidade. — você teria um grande problema se fosse diferente, Quatro!

Tobias engole em seco. E eu encaro-os ainda receosa.

.

— Então, vocês decidiram cuidar dela? — minha mãe pergunta, depois de termos contado tudo, desde o dia em que ela chegou até agora. Ela agora está com Aninha em seu colo, o brilho em seus olhos é percebível. Mas porque ela age assim?

— Exatamente, mãe. — eu digo.

— Você nem ao menos concluiu o ensino médio, querida. — meu pai diz.

— Mas já está perto, quase no fim. Daqui a pouco eu irei para a universidade de Chicago.

— Sim, e depois? Você sabe que faculdade requer esforços, focos. O que pretende fazer? O que ambos pretendem? — meu pai e sua mania de complicar as coisas pelo menos um pouco.

Eu olho de soslaio para Tobias.

Meus pais estão de frente para nós dois. Como um interrogatório.

Não é como se eu almejasse ter Tobias sempre ao meu lado, até porque isso já acontece e é completamente difícil, eu o odeio. A questão é que inconscientemente eu atraí isso para minha vida agora. Desde o momento em que decidi ficar com o bebê, ele estava incluso no pacote.

— Como assim? — Tobias pergunta.

— Vocês pretendem se casar? — minha mãe quem pergunta, balançando as pernas para conter Aninha, que apanha a sua pulseira.

Eu me engasgo com a saliva.

Eu e Tobias nos encaramos, a minha resposta está amplamente estampada no meu rosto, porém intrigantemente a dele é misteriosa. Ele dá um meio sorriso, que me faz revirar os olhos. Enquanto isso, eu sei que meus pais estão nos analisando.

— Não. — eu respondo.

— Claro que sim!

— O que? — eu digo aterrorizada. A ideia é absurda.

— Eu pretendo me casar... Um dia. — ele dá uma piscadela e minha mão formiga para bater na cara dele com toda minha força.

— Porém, não comigo. — eu digo tentando ser civilizada na frente dos meus pais — vamos falar sobre Caleb, por favor.

— Beatrice, isso é importante. — meu pai intervém.

— Conversamos depois, pai. Olhe só como está cansado! — eu digo, levantando e pegando sua mão.

Ele solta um profundo suspiro.

— Tudo bem. — concorda a contra gosto.

 .

Meus pais ficam conosco durante o final de semana inteiro. Tento falar pouco sobre a situação que estou, colocando sempre Aninha na frente, para evitar. Porque nem mesmo eu sei o que fazer depois da escola.

Eles ficaram no quarto de hospedes que ali havia, me mostraram a foto da noiva de Caleb, Susan. Ela era bastante bonita, e parecia ter a intelectualidade semelhante a do meu irmão. Na foto ela segura livros grossos de capas coloridas, um vestido de veludo lilás até os joelhos de mangas cumpridas, e óculos quadrados.

Eu discuti com Tobias pela piada sobre o casamento. Alegando vezes incansáveis que isso jamais aconteceria. Eu o odeio. Estamos na sala, meus pais haviam saído há alguns minutos antes para tomar um ar fresco da noite. Uma deixa perfeita para arrancar sangue do Quatrinho. Ana está brincando no cercadinho, alheia à agitação ao seu redor.

— O que foi aquilo com os meus pais, seu idiota? — eu ralho apertando um patinho de borracha nas mãos.

— Ei, foi apenas uma brincadeira, em parte, pois eu expliquei depois. 

— Até porque isso nunca aconteceria. — eu garanto empinando o nariz.

— Porque está tão certa disso? Hein? Você pode muito bem se apaixonar por mim. — ele dá uma piscadela.

— Nunca! — apesar de estar com raiva, meu estomago gela com aquilo. Ignoro. 

— E além do mais você precisa de mim! Assim como Clara.

— Não preciso da sua ajuda. Nunca precisei! Suas atitudes do passado provaram isso.

— Ah é? — ele está sério e por incrível que pareça vejo lágrimas brilharem em seus olhos. Ele hesita em dizer algo. Fica um silêncio incômodo entre nós de repente até que ele quebra — Não tem problema. Não foi eu quem cuidou de você e da Clarinha quando você ficou doente. Que se esforçou ao máximo para te provar isso. Pelo jeito você não vê isso. Eu sei que eu errei, mas eu já estou arrependido. Você disse bem, atitudes do ‘passado’, eu não sou mais o mesmo, Beatrice. — pela primeira vez, o meu nome dito por ele apresenta um tom gélido e me causa uma sensação ruim. Mesmo quando ele começou a mudar antes andando com Erik e Peter, nunca tinha soado desse jeito.

Eu o encaro. Perplexa por não conseguir proferir uma palavra sequer. Eu que tinha tantas na ponta da língua, elas evaporam por completo. No instante seguinte em que eu pisco, ele faz como naquele dia em que discutimos por causa de Lynn – o qual ainda me indago por ter tido aquele ataque ridículo e desnecessário – pega Aninha em seus braços e se vai. Eu caminho atrás e o vejo pegando o caminho em direção a lanchonete que ficava no fim da esquina do quarteirão. Vislumbro meus pais e retribuo o aceno que me dão com um sorriso afetado. 

Desde aquele dia, Tobias, não me ignora, mas me trata diferente. Não que isso seja significante para mim. Eu não me importo. Apesar de tudo, não consigo enxergar sentido nenhum nisso... Ele parece chateado com algo. E vez ou outra eu me pego pensando...

Sacudo a cabeça. 

Aproveito o máximo que posso ao lado dos meus pais, usufruindo até mesmo dos segundos. Apesar de parecerem animados por ter um bebê por perto, eles estão preocupados. Porém não podem especular sobre isso. Foi isso o que deixei claro na véspera do seu regresso enquanto ajudava minha mãe com sua mala. Eles ficariam mais tempo, até o meu aniversário, mas tinham recebido uma ligação do hospital para que voltassem o mais rápido possível. 

— Minha filha, você tem certeza do que está fazendo? — começa ela enquanto dobra um pulôver bege para colocar num cantinho da mala laranja.

— Absolutamente. Eu não vou voltar atrás. — eu asseguro.

Ao voltar seus olhos para mim, ela me analisa atentamente, vasculhando alguma incerteza. Eu encaro-a de volta.

— Veja bem, nós podemos cuidar dela enquanto você conclui sua faculdade.

Ergo as sobrancelhas.

Embora saiba que Aninha ficaria melhor com meus pais, eu não aceito.

— Se a senhora soubesse o quanto isso é importante para mim, mãe... — eu digo num murmúrio. — é obvio que ela estaria muito melhor com vocês, mas se a senhora compreendesse o que ela me faz sentir. Eu não consigo me imaginar sem ela... Talvez essa seja a primeira vez que faço algo que preste realmente!

Quando olho para minha mãe, ela está com os olhos marejados, com a mão no peito.

— Eu só quero o seu bem, Tris. — ela sussurra.

— Então, deixe tudo como está. Por favor. — eu digo e ela ergue sua mão para que eu a segure.

— Tudo bem. Se é isso que você quer. Não serei eu que irei interferir. Mas não quero que você se decepcione.

— Como? — eu franzo o cenho.

— Quero ter certeza que fará as escolhas certas.

— Eu garanto, mamãe.

— Certo, filha. — ela sorri, um tipo de sorriso satisfeito e que também leva os olhos a fazerem o mesmo. — eu sempre disse a mim mesma que seria igual a minha mãe... — o seu olhar fita o nada e ela viaja no tempo.

— Mas ninguém é igual, mãe.

Ela rir.

— Digo na forma de agir, ela era doce, amável, e muitas outras qualidades. Deu todos os anos de sua vida para o meu pai e eu. E eu sempre a admirei. — ela olha para mim — e o meu pai era bem rígido, mas bastante amoroso comigo. Foi difícil para eles deixarem-me voar do ninho e construir o meu próprio... Porém sempre deixaram tomar minhas próprias decisões. Embora discordassem, eles me deram a oportunidade de errar, acertar, viver e eu sou grata a eles por isso.

— Agora eu entendo... a senhora e o papai fizeram um acordo?

— Basicamente isso.

— Obrigada mãe, por me entender e me dar a chance de seguir meu caminho.

Ela caminha para mim e me envolve num abraço maravilhoso.

— Eu a amo. Muito.

— Eu também amo você, Tris. Você tem meu apoio e sabe que sempre que precisar estaremos com você. Se as coisas apertarem e achar que não vai aguentar, pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas que precisa de alguém para sustenta-la. — ela diz contra meu cabelo.

— Tudo bem. Obrigada mãe. E a proposito você é a melhor mãe do mundo.

Ela rir um pouco.

— Obrigada. — ela desfaz o nosso abraço e põe as mãos em meus ombros — Você está tão adulta. Estou orgulhosa... E nos perdoe se passamos uma ideia negativa sobre isso, querida. Não era nossa intenção. Apenas ficamos preocupados, é uma grande responsabilidade.

— Eu consigo. — no fundo eu sei que eles temam que eu fracasse. Por mais que seja isso o que acham, confiavam em mim o bastante para terem fé. 

Depois que ela limpa o rosto nós duas voltamos ao que fazíamos antes.

— E quanto a Tobias? — ela indaga, empacotando seu perfume.

Sinto uma pontada no estomago.

— O que tem ele? — tudo volta a mim novamente. 

— Qual é o papel dele nisso tudo?

— Bem, como eu moro aqui agora, ele ajuda com o dinheiro e em tudo também.

— Hum, certo. Vê-los tão perto, isso me faz pensar que talvez...? — ela instiga gesticulando com as mãos sem me encarar.

— Não! Nunca ficaria com ele assim, mãe. Nunca. — eu digo terminantemente e inconscientemente amasso em minhas mãos uma caixinha de analgésicos. Se ela soubesse, entenderia... E eu penso em seu novo comportamento agora, o que me irrita. 

— Bom, eu só estava curiosa apenas... Vocês são amigos desde sempre certo? — ela pede.

Respiro fundo antes de responder.

— Oh. Amigos de coração. — eu digo com um sorriso forçado.

— Eu lembro de tanta coisa que vocês aprontavam na infância. E agora veja, ele se transformou num rapaz sensato e tão maduro... O que me conforta é que ele cuidará de vocês duas...

— Sim. –— é quase um murmúrio. Até minha mãe acha que eu preciso dele. Espero que meu pai não faça o mesmo, porém não tenho esperanças disso. Afinal partiu dele a decisão de Tobias ser meu tutor. — isso é reconfortante. — digo ironicamente, sem que ela note.

Um silêncio bom reina por pelo menos uns cinco minutos. Sendo quebrado pela voz suave da minha mãe.

— Desculpe a franqueza, querida. Mas eu ainda acho isso tudo muito complicado. — a sua careta é engraçada. — e esquisito!

Ela ergue as mãos e forma de rendição quando eu a encaro com as sobrancelhas arqueadas.

— Deixe tudo como está, já sei! — ela sussurra.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Comentem bastante! Ultimamente tem ocorrido queda de comentários. Façam uma autora feliz, gente, por favorzinho!
Ah e já selecionei a pessoa com o melhor comentário, que representará um personagem.
Beijos e até semana que vem (eu acho).