A Arma Escarlate - O Muiraquitã. escrita por NahHinanaru


Capítulo 9
Capitulo 9 - Volta ás aulas. A cientista.


Notas iniciais do capítulo

Bom, quero pedir desculpas pela demora e atraso, semana de provas, muitos trabalhos de faculdade, e minha mãe precisando da minha ajuda para produção de ovos de pascoa.
Enfim!!!
Espero que gostem desse capitulo!!!! :D



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–--Narrativa Virgilio---

Quando desci as escadas do quarto de Nádia todos me olharam esperando eu falar algo, dei de ombros:

–Ela sumiu.

–C-c-como? – esganiçou a mãe dela subindo as escadas correndo.

Enzo ainda chorava, mas agora segurava minha varinha que tinha sido jogada no chão.

–Vai ficar tudo bem. –disse eu, como se imaginasse que fosse isso que a Nádia falaria pra ele.

–A Nah virou uma bruxa do mal? – perguntou ele para mim com os olhos ainda mareados.

–Não, ela só estava com medo, aquele homem ali no chão é um bruxo malvado. – respondi, passando a mão no cabelo dele. O menininho entregou a varinha em minhas mãos e me abraçou.

–Eu quero minha irmã. – ele choramingou no meu ombro.

–Ocê vai ver ela nas férias de novo.

–Eu quero agora. – ele então soluçou, eu fiquei com o coração partido. Eu sabia que ele estava com medo, mas eu não podia mais ficar aqui, não agora com tudo isso acontecendo.

–Fique tranqüilo, ela vai voltar. Ela sempre volta, não é? – eu disse sorrindo. Por que era verdade da Nádia.

Ela sempre voltava, não importa quanto tempo demore. Ela sempre volta. A maioria das vezes atrasada, mas volta.

Quando o pequeno Enzo se acalmou, eu fui embora, levando Aloísio arrastado junto comigo com Marine junto tentando me ajudar, mas só atrapalhando.

–--

Devo admitir eu estava realmente zangado e furioso com a Nádia, mas não a ponto de odiá-la,eu simplesmente não conseguia sentir ódio por ela. Mesmo me sentindo traído e humilhado. E não odiar alguém que fez o que ela fez, me deixava furioso comigo mesmo.

Quando cheguei em casa joguei Aloísio em qualquer lugar com Marine e fui direto para meu quarto, a primeira coisa que reparei ao entrar, era a taça de sorvete vazia ainda em cima do móvel ao lado da cama.

–Afff, além de tudo é desorganizada. – burfei irritado para mim mesmo, quando meu olhar reparou em outra coisa, logo embaixo da taça. O caderno dela.

Inacreditável! Ela esqueceu o caderno aqui!!! Aff... Completamente irresponsável, mentirosa, falsa, desorganizada e desatenta! Inacreditável!

Peguei então o caderno e o abri mais uma vez.

“Todos são inocentes até que se prove o contrario.”

–Tá mais que provado! – resmunguei.

Virei a página: “Virgilio OuroPreto ♥”

–Mentirosa.

Logo li um dos textos que ela havia escrito: “Me encontrei com ele está tarde, ele parecia cansado, estava sumido, algo me diz que tem algo haver com o novo pixie”

–Garota esperta. – sabendo exatamente do que se referia.

Então virei mais uma página. E mais algumas fórmulas e as beiradas das folhas preenchidas com meu nome, ou mini rostinhos parecidos com o meu.

Era simplesmente estranho, quatro anos fingindo que me amava, só para cumprir a tarefa do muiraquitã.

“Os olhos dele brilham de uma forma diferente quando sorri, mas os de fúria são bem mais atraentes.”

Ela é a pior muiraquitã do mundo.

Então virei mais uma página, o desenho. Senti a angustia em minha garganta, meus olhos começavam a arder. Ela nunca gostou de mim?

A verdade era que eu não sabia o que pensar. E se ela gostasse de mim mesmo, e isso só acontecesse por causa do laço do muiraquitã?

Se ela gostasse de mim não teria recusado meu pedido de namoro.

Eu vou enlouquecer desse jeito!

Me joguei na cama, quando senti algo no meu bolso incomodando, tirei o muiraquitã do bolso e o olhei atentamente, ele havia algumas machas leitosas que faziam parecer um corpo humano em posição fetal.

–Será que ela está bem?

Foi então que notei que ela não queria sair da minha mente! Eu só pensava nela.

Revoltado, levantei-me para ler o livro que eu não havia terminado. O livro que ela me dera. Ao lembrar disso fiz questão de fechar o livro. Resolvi então deitar, mas minha mente fazia recapitulações das ultimas semanas. Como pude deixar tudo isso acontecer comigo? Foi culpa do maldito amuleto?

O resto das minhas férias continuaram no mesmo ritmo, auto questionamentos, questionamentos de como Nádia abrira aquele portal maluco, para onde ela teria ido? Comecei então a andar com o amuleto dela pendurado ao pescoço.

Em uma das minhas refeições matinais, veio a coincidir encontrar minha avó, Aloísio e Marine, que agora morava com meu primo, sentados a mesa.

–Bom dia Virgilio! – disse Marine sorridente.

–Oi. – respondi.

Minha vó então levantou o olhar para mim, pronta para me cumprimentar, quando seu olhar pousou sobre o amuleto em meu pescoço.

–Tudo bem? – perguntei preocupado, quando reparei a testa dela franzindo.

–Ond’ocê arrumo isso? – questionou minha avó apontando preocupada para o colar.

–É o muiraquitã da Nádia. – respondeu Marine.

–Ela está bem? – perguntou minha avó.

Olhei estranhando a preocupação repentina e perguntei cauteloso:

–Vó, possui algo que ocê gostaria de compartilhar conosco?

–Não exatamente, a ultima vez que eu vi um desses, foi quando seu avô voltou da guerra. – ela disse me olhando preocupada. – A garota te explicou a lenda?

Então eu me lembrei sobre a perda de memória dele, o modo como ele se agarrava a qualquer informação que poderia ser da tal guerra, como aquilo era realmente importante para ele, sabe o porquê de ter sido o único sobrevivente, e como ele perdera a memória dele.

–Meu vô possuía um muiraquitã? – perguntei desconfiado para minha avó.

–Sim, ele tinha um muiraquitã. O mesmo que morreu para proteger seu avô. – declarou minha avó, que então ficou pensativa de repente e concluiu. – Tenho quase certeza que aquele homem arrancou as memórias torturantes da mente dele, também para protegê-lo.

–E ele não lembra que tinha um muiraquitã???? Ele não sabe que meu avô morreu por ele??? – exclamou Marine inconformada. – A morte dele foi em vão?

–Não em vão, se essa foi a escolha de seu avô. Se foi com esse propósito que ele morreu, não deveríamos nos intrometer. – explicou minha avó.

–Então um muiraquitã nos preteje? – perguntou Aloísio.

–Não, o muiraquitã só protege o verdadeiro herdeiro da família. – explicou Marine.

–No caso, o Virgilio. – completou minha avó.

–E por que ocê nunca me disse nada? – perguntei inconformado.

–Por que ela não te contou? – argumentou minha avó.

–Por que essa é a tarefa do ultimo herdeiro, seu tio deveria ter te contado Virgilio. Mas cadaveres não conseguem fazer isso, certo? – disse Marine, em tom casual.

–Como ocê pode se referir ao meu filho como um simples “cadáver”? – indagou minha avó inconformada.

–A Nádia tem mais tato com gente morta que eu. Sou filha de Salvador, lembra? – ela então tomou mais uma golada do leite dela.

–Então ela esperava que eu já soubesse sobre o laço? – perguntei.

–Provavelmente. – respondeu Marine.

De repente me veio uma cena a mente:

“ ‘Índio, você sabe o que é um muiraquitã?’ disse ela lendo Macunaíma.”

–Obvio que sei. – sussurrei para mim mesmo, repetindo minhas palavras.

–O que? – perguntou minha avó.

–Ele enlouqueceu de vez. – comentou Aloísio debochado.

Meu sangue ferveu de raiva então. Respirei fundo, controlando minha vontade de descontar tudo que pesava em mim naquele momento.

O colar então começou a brilhar fraco no meu pescoço, senti então uma leveza no corpo, como se Nádia estivesse ali rindo de mim, depois de ter tentado me fazer rir com uma de suas típicas piadas bobas.

–Avise minha mãe, que vou voltar para casa hoje à noite, para ela me procurar quando chegar. Tenham um ótimo dia. – disse ironicamente no final da frase, largando minha xícara de café intocada na mesa.

–---

Korkovado

–--Narrativa Virgílio---

Era primeiro dia de aula.

Como de costume eu e os pixies preparávamos alguma comida comestível decente para os alunos, por que nem mesmo eu conseguia engolir a comida do Brutus.

Capí me olhava curioso às vezes, como se esperasse por algum comentário meu.

Mas eu estava mais preocupado com Nádia. Onde será que ela estava? Por mais que eu tenha entendido o por que d’ela ter me escondido tudo, eu ainda estava me sentindo mal por causa das mentiras dela, as mentiras a respeito de gostar de mim. Ou como ela deixou cair a máscara quando disse toda irônica “vossa majestade”.

Mas não saber onde ela estava, aquilo sim estava me deixando louco.

–Iai véio como foram as férias? – perguntou Viny pro Capí.

–Boas, sempre aparece algum perdido por aqui às vezes. – ele disse sorrindo.

–Cê ta falando da Yui? – disse Viny com sorriso.

–Sim da Stephanie. – riu Capí, mas senti que o olhar dele pousou sobre mim, esperando que eu falasse algo.

–E você, mineiro-menos-mineiro que eu conheço? – riu Viny batendo no meu ombro. – Leu que livros?

–Li Alguns. – respondi desinteressado, lembrando do inicio (normal), meio (incomum) e fim (torturante) das minhas férias.

–Só isso? Como foi seu natal? – perguntou Capí.

–Irritante. – me contentei a responder, já entendendo para onde Nádia havia fugido.

–Iiiii, o que vocês tão escondendo aí? – disse Caimana vindo até nós com a prancha que ela ganhara do Viny ano passado.

Capí me olhou esperando que eu falasse, mas eu simplesmente desviei do assunto e disse:

–Acho que está na hora de irmos interromper alguém falando.

–Sim! Vamos! – disse Caimana. – Mas depois vocês vão contar o que estão escondendo!

–Vamos. – sorriu Capí, fingindo não ouvir Cai.

Viny já estava lá na frente gritando:

–Bora Adendo!!! Vamos irritar a Dalila!

...

A primeira coisa que procurei quando entrei no salão, foi ela.

Zô então nos deu oi.

Logo notei Nádia entrando pela mesma porta que nós, sem se importar com o atraso, ou se esconder como fazia.

Ela segurava um vidrinho e ia mexendo ele concentrada.

Sentou-se ao lado dos amigos dela com alguns livros debaixo do braço e um pano branco jogada contra o ombro.

Foi então que meu coração se apertou, e em menos de um mili segundo senti o mesmo disparado, eu estava nervoso, eu não estava acostumado me sentir assim só de vê-la. Era um misto de medo, nervosismo, ansiedade e raiva, mas ao mesmo tempo, saudades.

Senti o colar brilhando no meu pescoço, e no exato momento ela olhou em alerta para mim, e ao ver que eu estava bem, ela voltou para seu vidrinho.

–Tem algo de errado. – ouvi Capí comentando com Zô.

–Acho melhor não falarmos disso agora. – comentou Caimana.

–O que você acha Adendo? – perguntou Viny.

–Não sei. – respondeu Hugo.

–E você Índio? – disse Viny.

–Índio? – Insistiu Caimana.

–Queridinho? – foi então que notei que era comigo que Zô estava falando.

–Oi? – perguntei espantado.

–Tudo bem com você? – perguntou Cai.

–Deve ter sido a delícia que Brutus preparou pra você, não deve ter caído bem. Deveria entrar na mesma dieta que eu. – disse Zô sorridente.

–Ahh, obrigado, acho. – respondi.

Então notei o olhar do Capí de “Temos que conversar”

Bom, não tive muita escolha, assim que fiquei sozinho, Capí chegou perto de mim segurando uma caixinha de metal, a caixinha de Nádia. Onde a mãe dela prendia sua varinha.

–Ela apareceu aqui na Korkovado apavorada. – ele me disse calmo.

–E ela fugiu para cá? – perguntei em um tom de falso desinteresse.

–Fugiu, e me contou uma historia sobre um muiraquitã, sobre mapas, e sobre você.

–Afff... – resmunguei.

–O que aconteceu? – perguntou ele, calmo.

–Ela já te contou tudo, por que eu deveria repetir? – disse.

–Ela não quis contar muita coisa, só falou mais sobre uns mapas, e sobre isso. – ele então mostrou a caixinha.

–E sobre mim? O que ela disse? – perguntei.

–Sobre ter te deixado em perigo, e sobre esse colar mágico, ela sabia que você ficaria com ele. – ele me disse sorrindo.

–O que tem?

–Ela disse que isso te protegeria na ausência dela. E sobre o destino dela.

–Ela não te disse mais nada? – perguntei. Eu jurava que ela teria contado sobre nosso beijo, mas aparentemente foi irrelevante para ela.

–E o que ela deveria falar a mais? – perguntou ele curioso.

Eu sabia que não conseguiria esconder isso do Capí, então sentamos na areia, e eu narrei minha “fabulosa” semana, acompanhado da senhorita problema.

–Então quer dizer que você gosta dela? – riu Capí.

–Eu não gosto dela. – retruquei. – só estou, confuso.

–Confusão? Pelo que você me disse, não tem muita confusão. – continuou Capí com o mesmo sorriso malicioso no rosto.

–Como ocê pode rir? Cê ouviu o que eu disse sobre Salvador, ou os Mapas ou até mesmo sobre ela fingir gostar de mim só para cumprir as obrigações dela?

–Acredite, o ponto de vista de Nádia é bem mais assustador que o seu. – comentou Capí. – Além do mais, não acredito que ela tenha fingido.

–Como não? Eu acho que cê ta ficando cego, ela obviamente é uma falsa.

–Já eu acho que você deveria ir conversar com ela. – Capí então me entregou a caixa de metal e completou: - Ela ta ainda com medo de te perder. Eu não sabia sobre o que você sentia, mas sinto que seja melhor você tentar se acalmar antes de ir falar com ela. Tem algo realmente estranho com ela.

–Capí, não é tão simples. – comecei, e senti como se estivesse com... medo? Medo de falar com ela.

–É simples. Vá até ela e a escute. Ela tem muito que falar, ela não quis falar muita coisa pra mim.

Fiquei ali em silencio. Capí viu que o assunto acabara e eu agora tinha que decidir o que fazer. E tinha o tempo da festa pixie.

–Capííí!!! – ouvimos a voz de uma garota chamando a distancia.

–A escolha é sua. Tenho que ir agora, prometi para Mikaelle que iria ajudá-la a escolher os jogos azêmolas para daqui a pouco. – disse Capí sorrindo, dando de leve um tapinha em meu ombro.

Fiquei olhando a caixinha de metal em minhas mãos, com o fecho destruído. Era realmente cruel a mãe dela arrancar-lhe a varinha durante as férias, era como se ela estivesse em cárcere privado!

Não muito longe dali, via Hugo discutindo com Gislene, e logo perto Caimana e Viny se agarrando jogados na areia, e do outro lado, longe dali, estava Lucas o amigo cadeirante da Nádia, vendo meus amigos, amargurado, e ao lado um rapaz mais novo que ele com a mesma cara, na mesma situação, e bem ao lado dos dois, Nádia.

Ela não estava como habitualmente ficava ao lado deles, rindo boba, e fazendo piadinha, ela usava um óculos enorme, um óculos que eu nunca vira usando e que a deixava com aparência intelectual, ela lia concentrada um livro de alquimia, e usava um jaleco, sentada em uma toalha no chão com vários livros e cadernos abertos ao redor dela.

Olhei mais algumas vezes a minha volta, antes de decidir ir até ela, não fui exatamente até ela na primeira vez, dei uma volta pela praia antes de ir.

Parei então olhando a areia em meus pés, lembrando de como ela me afetou esses últimos dias. Capí tinha razão, eu não podia simplesmente sumir!

Respirei fundo, e fui.

Eu cheguei próximo a ela, no entanto ela nem percebeu minha presença, anotava freneticamente algumas coisas em pergaminhos, cansado de esperar ela me notar sentei ao lado dela. E quando vi que ela soltou a pena, eu entreguei a caixa de metal em suas mãos.

Ela então sorriu e disse:

–Guilherme!

O rapaz ao lado do Lucas o olhou para ela.

–Pode jogar fora?

–Joga você, aff garota folgada.- retrucou o garoto amargurado vendo Caimana junto ao Viny.

–Pelo menos não sou iludida, vai arrumar alguém que ao menos saiba que você exista!

–Falou a garota que vive correndo atrás do Índi... – ele então parou os olhos sobre mim em sobressalto.

Lucas então começou a rir e disse:

–Deu uma chance para ela como eu disse?

–Deu, não tá vendo que vamos nos casar e ter seis filhos? Agora podem sair daqui para eu ter uma conversa séria com meu marido? – ela disse ironicamente áspera.

–Aff garota chata – reclamou Lucas.

–Você deveria agradecer por sermos seus únicos amigos. – reclamou Guilherme indo embora.

–Também adoro vocês! – retrucou ela.

–Uau, marido? Pensei que era protegido. – Alfinetei.

–Quase a mesma coisa. – ela me disse.

–Não, não é.

–Claro que não, até por que você me odeia. – ela argumentou.

–Aff. – bufei. Ela não estava ajudando.

–Espero que não esteja muito chateado comigo, por que você não tem escolha, ainda terei de te seguir, você me amando ou odiando. – ela disse seca.

–Eu dispenso seus serviços. – disse por final.

–Idiota. – ela disse olhando no fundo dos meus olhos.

–Eu? Eu idiota? Ocê Tem noção da maior mentira que me contou!? E eu nunca pedi nada di ocê! Nunca! E aquele papo de “Vossa Majestade”! O que ce esperava??? - exclamei irritado.

–Você e eu não temos escolhas, e eu não lembro de ter mentido naaaada para você, só omitido. – ela disse irritada.

–Mentira! – disse.

–O que eu menti “procê” então? – ela me perguntou zangada.

–Sobre gostar de mim! – Falei um pouco alto, o suficiente para chamar atenção de uma garota que tinha uma cara séria que estava por perto, que aparentemente fulminava com olhar a garota que estava com Capí, logo a reconheci de prontidão, ela era a garota que dançou com o mesmo no bar do Magal.

–Eu nunca menti sobre isso. – ela disse mais calma, então pude ver uma lágrima caindo dos olhos dela, que ela rapidamente secou com a manga do jaleco branco.

–Por que cê nunca me contou sobre o muiraquitã?

–Por que eu sabia que você ia negar meus “serviços”, tanto quanto eu neguei essa tarefa, antes de te conhecer. – respondeu ela em tom de sussurro.

–Negou?

–Claro! Quem quer ser escravinha de um rapaz? – ela me perguntou irônica.

–Ocê num é “escravinha”. – tentei justificar.

–Não, claro que não, sou só uma garota com sérios problemas de aceitação, que serve de escudo para o único cara que ela já amou a vida inteira, e a cada dia só piora tudo. E quando digo piorar, é que piora mesmo. – ela desabafou por fim, em minha cabeça tentava assimilar a frase “o único cara que ela já amou a vida inteira”, mas me forcei a focar em algum conselho inteligente, mas não saiu nada, Capí é bem melhor com essas coisas. Aff...

–Eu sou como uma sombra entende? Uma sombra do que eu deveria ser, eu só queria ser reconhecida na minha família, mas sou bruxa demais pra isso, eu queria ser uma bruxa brilhante, mas não posso treinar minha bruxaria em casa, quero ser alguém no meio dos meus amigos, mas nunca serei a favorita, eu queria ser importante para você. – quando ela disse “você”, caíram uma cachoeira de lagrimas dos olhos dela, mas ela não fazia voz de choro nem barulho nem nada, senti que a voz dela estava falhando aos poucos. -Me desculpe pelo natal. – ela disse por fim.

Abracei-a.

Eu sabia que algumas pessoas iam olhar e comentar, mas eu não podia deixá-la daquele jeito, antes pensassem que eu havia cedido a ela, do que todos verem a Nádia que ela batalha para esconder.

–Shiiii, calma. – sussurrei ao ouvido dela.

Quando ela parou de chorar, ela se sentou direito, com o nariz vermelho e disse:

–Eu realmente estive dentro da alma de Salvador.

–Dentro? – perguntei.

–É assombroso, só conheço um lugar pior que lá.

–Que lugar? – perguntei.

Ela então ficou em silencio.

–Vou embora. – disse por fim.

–Você me perdoou? – ela me perguntou.

–Não sei se devo. – disse, me levantando.

Ela então segurou a barra da minha calça e disse:

–Poderia me devolver o amuleto?

Tirei do bolso o amuleto muiraquitã, e entreguei para ela, que jogou pelo pescoço.

–Não preciso mais andar com ele escondido. – disse ela.

Cogitei sair de perto dela quando a senti me segurando de novo.

–E se eu te mostrar mais um dos meus segredos, você me perdoa?

–Mais segredos? – Tinha o que piorar? Me perguntei.

–Tem mais alguns, mas esse é o mais relevante no momento. – ela me explicou.

–Conte então.

–Amanha! Antes da aula! Te espero na frente do dormitório.

–Tudo bem.

–Certo! – ela então abriu o habitual sorriso dela.

Sai dali, sério. Antes que ela viesse com mais algum problema para minhas costas.

Mais algo que eu aprendi sobre ela. Ela SEMPRE trás problema.

Se você acha que andar com os pixies, é problema eminente, não sabe o que é andar com ela.

Bom, na verdade era o que pensava, no começo desse ano. Para ser sincero, esse ano todo, andar com ela nunca fora tão seguro, mas isso é assunto para outra história, não vem ao caso agora.

Eu só queria ir para meu dormitório, fiquei muito tempo ali com ela.

Não estava muito tarde, mas eu estava cansado.

Subi para meu quarto e a porta estava trancada. Ótimo, quais eram as opções para hoje senhor Y-Piranga? Caiamana? Beni? Lucas? Alguém novo?

Poderia sair e andar um pouco como de costume, mas me contentei a esperar na porta do quarto. Por sorte que ele sempre lançava um feitiço abafador de sons na porta. Quando acordei de madrugada, deitado do lado de fora do quarto, a porta estava aberta, e Viny dormia só de cueca, e de boca aberta na cama dele. Revirei os olhos, me ajeitei adequadamente, e larguei-me na minha cama do lado oposto do quarto e dormi profundamente. Mal sabia eu o que estava por vir.

–--

–--Narrativa Nádia---

Acordei mais cedo que o comum no dia seguinte, eu estava bem disposta por não ter ficado a madrugada toda trabalhando no meu projeto de alquimia. Me arrumei, estava pronta para levar Virgilio até meu laboratório clandestino no 8º andar. Onde eu faço todos os meus experimentos, e todos meus projetos.

Saí pela porta do dormitório animada, eu poderia finalmente conversar direito com o Índio, sem medo de ser atacada, sem medo de tentarem matarem-no.

Independência ou Morte!

–Olá Pedrão! O Virgilio já saiu?

–Ainda não senhorita.

–Pedrão, ouvi dizer que você nunca gritou independência ou morte de verdade.

–Claro que gritei! – respondeu o quadro para mim, fiquei tentada a rir, quando continuei:

–A Verdadeira historia sobre você é que estava no meio de um problema intestinal, quando assinou a declaração de independência.

–Ora! Que mentira! Não está vendo??? Eu estou aqui! Está vendo? – bradou o quadro irritado apontando para todo o cenário do quadro dele.

–Pois eu acho que você ficaria mais espirituoso se estivesse sentado num “trono”. – Eu então comecei a rir do quadro.

–E você mocinha? Ficaria mais espirituosa calada! – retrucou o quadro.

–Que isso majestade, eu simplesmente te acho muito clichê nessa pose repetida aí. Já pensou em pegar um vestido das damas da morte no quinto andar? E subir em cima de um touro do quadro do oitavo andar, cantando macarena, e com um chapéu da Carmem Miranda?

–Que ultraje!!! – reclamou o quadro.

–Eu poderia desenhar um cabelo melhor para você. Esse aí que cê ta, ta muito zoado! Dom Sebastião! Esse sim era Rei! – exclamei, vendo a fúria no olhar do quadro. Eu então comecei a rir descontroladamente, amava tirar uma com os quadros, quando de repente vi Virgilio saindo do dormitório.

– Independência ou morte. – resmungou o quadro irritado.

–Índio, você sabia que Dom Pedro ama Carmem Miranda? – comentei rindo, quando ele me interrompeu.

–Pontual?

–Pois é né. – sorri sem graça.

–O que cê queria falar comigo? – ele me perguntou, ele estava com cara de cansado.

–Preciso te mostrar algo. – disse sorrindo. – Viny não te seguiu né?

–Ele não estava mais no quarto quando acordei. – respondeu ele entediado.

–Ahh, então vamos. Temos que ir rápido, se não “ocê” vai perder as aulas! – ri.

–Eu não sei o que prefiro. VOCÊ séria, ou piadista. – comentou ele forçando o “você”.

–Tanto faz, vamos.

Estávamos subindo as escadarias quando escuto um:

– O Eimi vai ler a MINHA carta de melhoras!

– Sonha! Ele vai preferir mil vezes a caixa de doces que mandei!

–Vocês não podem para com isso?

–Não dá, a Nádia ME deu a idéia de mandar um presente antes que ele! – disse Sabrina.

–Pois saiba que o MEU amor por ele é maior! – retrucou Afonso.

–Você nem tem idade para sair com o Eimi! – exclamou Sabrina. – Ele é da MINHA turma!

–Meu deus do céu. Parem de brigar! – disse a Khouri.

–A Nádia disse que ele ia gostar de chocolates... – começou Afonso, quando a Khouri disse:

–Então a culpa é da Nádia?

–Vamos ir de fininho e em silencio... – murmurei pro Índio quando ouvi um:

–Espera aí mocinha!

–Droga. – resmunguei.

–Que história é essa de criar uma briga entre esses dois?

–BOOOM DIAAA, entãããooo, são seis horas da manhã, primeiro dia de aula, to aqui olhando a vista com Virgilio, como vocês estão? Dormiram bem? Que dia lindo! Por que não vão ver quem ama mais o Eimi, ouvi dizer que tem um rapaz chamado Bruno que aaaaaamaaaa ele. E... – eu fui despejando tudo animadamente, quando a moça bonita de pele branca, cabelo preto e olhos levemente puxados me disse:

–Pare com isso!

–Okaaaay... – disse inconformada.

–Com licença, eu estou com pressa, poderia nos dar licença? – disse Índio educado.

–Não antes de a Senhorita Nádia resolver esse problema.

–Vocês estão namorando? – perguntou Afonso para mim e Vigilio.

–Quando vocês se casarem eu vou ser a madrinha! – disse Sabrina, sorrindo.

–Não, nós não... – começou Virgilio sendo interrompido por Afonso.

–Querida, EU serei padrinho de casamento da Nádia! E entrarei com o Eimi na igreja!

–Nem sonha! Eu irei com Eimi! – retrucou Sabrina.

–Afff... – resmungamos eu e Índio ao mesmo tempo.

–Resolve aí, to saindo. – disse rapidamente puxando a mão de Virgilio para ele se apressar, e sem dar tempo de ser interrompida por Khouri novamente.

–Então, você lembra das anotações que você viu no meu caderno? – comentei recordando que eu havia perdido o caderno.

–Lembro. - ele me respondeu.

–Você já deve ter notado como eu consigo chegar à aula sem ser notada certo? – comentei.

–Com certeza. – ele me olhou um pouco mais curioso.

–Quer saber como cheguei aqui? Como fiz aquilo lá em Minas? – perguntei atiçando ele.

–Como? – ele me perguntou interessado.

–Vou te mostrar. No oitavo andar eu tenho um laboratório clandestino, e nem me olhe com essa cara de desaprovação. – comentei antes de ele pensar em reprovar minha idéia.

–E lá, eu meio que estou trabalhando em uma máquina, eu sou melhor com química, alquimia e poções certo? Certo! O que eu faço em suma, trás um resultado altamente significante, meu único problema é a parte da maquinaria, eu preciso de uma fonte de energia mágica.

–Energia mágica? – ele me perguntou.

–Os azêmolas têm energia solar, energia radioativa, energia elétrica, energia eólica, entre outras. Nós temos energia mágica. Quase não se escuta esse termo, por causa da grande significância cientifica que ela produz no mundo mequetrefe. Imagina só, energia mágica! Eu aprendi a conduzir essa energia por meio de uma poção, então no meu grande processo de construção precisei desenvolver dois tipos de soluções, poções ou alquimias diferentes. Isso foi realmente complicado, a maioria das minhas madrugadas eu fiquei dentro daquela sala sozinha só pensando, anotando, pensando, lendo.

–Isso explica seu habitual sono pesado. – comentou ele me olhando abismado.

–Quase isso, na verdade... – comentei querendo rir.

–Como assim quase? – ele me perguntou.

–Digamos que eu sei como conduzir magia, mas não sei criar uma fonte mágica continua que não precise de um bruxo tendo sua energia drenada. – comentei.

–Energia mágica?

–Não, energia vital mesmo, minhas mitocôndrias estão loucas para me matar, de tanto que sugo energia delas. Por isso que me acabo de comer doces, açúcares e massas. – expliquei, no começo eu realmente não dava conta, tive que aprender biologia com o tempo.

Eu só não entendo como mesmo toda minha energia sendo gastada, eu ainda consigo engordar horrores, pensei enquanto explicava.

–Mas o que exatamente você faz? – me perguntou ele.

–Eu fiz uma vez sozinha por causa do muiraquitã, e notei que era possível. Desde então tô tentando fazer o mesmo com grandes distâncias. – comentei eufórica, era a primeira vez que contava sobre meu projeto para alguém.

–Como assim? – ele questionou.

–Bom os efeitos são meio complicados, podem causar algumas falhas na memória, eu vivo esquecendo as coisas, e eu posso jurar que cada vez que tomo aquela poção eu fico mais imperceptível ainda. – tentei explicar mas ele impacientou-se.

–Fala logo!

–Eu sei criar portais que desafiam o espaço do universo, e não é como pó de Flú, está mais pra, um giro, só que pra qualquer pessoa. E a pessoa aparece nos lugares sem ninguém notar. – expliquei por fim.

–Então é assim que... – ele começou.

–E se você abrir sua boca pra dedurar meus atrasos juro que te esgano. – ri eu da cara abismada dele. – É um segredo, só eu e você sabemos agora.

Finalmente então chegamos ao oitavo andar, fui até uma porta que aparentava estar deteriorada, como se a qualquer toque destruísse tudo. Inclusive as escadarias.

Virgilio ficou receoso e eu disse:

–Fica tranqüilo, isso é um disfarce que eu criei na semana seguinte que encontrei essa sala. Lá dentro é muit... – eu então parei por ter ouvido alguns murmúrios dentro da minha sala.

–Muito? – ele me perguntou.

–Shhiiiiii...

Abri uma fresta da porta com cuidado, e vi de relance Capí e Caimana amarrados em pé dentro da sala se debatendo para soltarem-se.

Puxei Virgilio para trás de um armário que tinha ali perto.

–O que foi? – ele me perguntou.

–Capí e a Cai estão amarrados lá dentro. – eu disse assustada, com a respiração descompassada.

–Como? – ele me perguntou abismado.

–Não sei, foi o que eu vi. – comentei em sussurro.

–Eu vou lá. – ele me disse.

–Nem pensar, é obvio que é uma armadilha! – argumentei.

–E fazer o que? Deixá-los lá?

–Vamos chamar alguém para ajudar! A Zô! Vamos! – tentei puxar ele, mas ele ficou parado.

–Não temos tempo para isso, e nem sabemos se ela vai poder fazer algo. Deve ser coisa do Abelardo e...

–O Abelardo descabeçado? Acorda Índio, é uma armadilha!

Não adiantou muito pois ele disse:

–Eu vou tirar eles de lá. Qualquer problema ocê busca ajuda. – ele pegou depositou um beijo na minha testa e foi cauteloso.

Uma coisa sobre o Virgilio, sempre que ele vai fazer o oposto do que eu falo, ele me beija na testa. Aff...

Ele então abriu a porta com cuidado, eu fiquei encostada na parede, esperando qualquer sinal de que ele seria atacado, pronta para atacar, senti meu muiraquitã se aquietando, sua luz detectava que algo estava muito errado.

Ele então se aproximou de Capí, pude então ver Viny que estava desacordado preso em pé.

Capí e Caimana eram os únicos acordados, pude ver Hugo ao meio de olhos fechados, empunhando a varinha escarlate.

Capí então começou a se debater enquanto Virgilio murmurava um contra feitiço para as cordas imaginarias que prendiam Capí. Foi então que eu notei o que ele queria dizer, Hugo usava um amuleto semelhante ao meu, e o azul começou a brilhar do colar dele, seus olhos abriram, e ao invés dos verdes, eram azuis cristalizados e vazios.

–Virgilio!!!! – gritei, ele se virou rapidamente.

–Abá Îuká! – disse Hugo de forma robotizada.

–Ã-an! Oxé! – contra atacou Virgilio.

Foi então que senti um chute invisível nas minhas costas e eu cai de cara no chão.

–Que dia maravilhoso para voltar pra escola, certo? – disse Salvador, pisando em mim para entrar na sala.

Me joguei para o lado e gritei:

–BATÀ!!!!!

Meu tio tropeçou para o lado.

–Gostou da minha marionete? – perguntou meu tio. Enquanto olhava Virgilio e Hugo duelando em minha sala. – O garoto que empunha a varinha poderosa.

–Liberte-o!!! Como você consegue isso? – disse eu esfregando meu pulso por ter caído de mau jeito e ter certeza que deslocara algo. – Você nem está encostando nele.

–Quando é meu o muiraquitã que entra em contato com a pessoa não preciso do toque, precisei disso com ocê por que não era meu amuleto n’ocê.

–Anha...

Meu tio lançou um feitiço mudo que me fez cair pra trás novamente, mas dessa vez eu me levantei rapidamente, olhei pro Índio e ele estava dando conta dos feitiços do Hugo, Virgilio era rápido, não muito, mas o suficientemente para não correr risco de morte.

Perto do duelo do Índio com o Hugo, o meu com Salvador era patético, eu caia, era jogada pelos lados enquanto ele apenas andava ria e falava sobre seus planos. Saudades de vê-lo bêbado, era bem mais fácil derrubá-lo.

–Eu achei realmente interessante seus planos sobre viagem do tempo. – meu tio comentou.

–Viajem do tempo? – exclamou Virgilio.

–É só um esboço, o plano é outro! – expliquei.

–Um esboço e tanto devo admitir. Quem diria! Que em um dia em nossa família nasceria não uma guerreira, mas um cientista! – ele riu. – Por que guerreira ocê num é mesmo.

–Desgraçado! – eu então apontei a varinha para ele que caiu, finalmente. Acertei mais outro feitiço, e o terceiro jato sendo bloqueado. Ele então apontou para Índio que do nada se petrificou, a parecia amarrado como os outros três pixies.

–Abá Îu... – Hugo começou apontado para meu Índio, quando me joguei contra Hugo o derrubando. Queria a todo custo tirar o colar do pescoço dele.

Mas meu tio me acertou com outro feitiço me tirando de cima do garoto, antes que eu tivesse tempo pra algo.

Hugo então apontou novamente a varinha para seu alvo inicial, Índio estava assustado, eu podia ver.

Eu me atirei na frente dele:

–Oxé! Batá! Anhana!

Eu e Hugo agora duelávamos, ele não precisava também proferir feitiços para me acertar.

–Incrível como um colar e uma varinha podem mudar o potencial de bruxos medíocres. – comentou Salvador rindo.

–Você que o diga né? Grande Imprestável que cê é! – gritei protegendo a mim e Índio.

Foi nesse momento de distração que Hugo conseguiu me desarmar. Estava eu ali em frente ao Virgilio, com Hugo apontando a varinha escarlate diretamente para mim. Não tive coragem de olhar para nenhum lado, apenas para Hugo, o meu oponente.

Eu poderia sair dali, desviar, mas eu nasci para isso, morrer pelo meu protegido.

–Índio. Te amo. – foi a ultima coisa que eu disse, antes de abrir os braços, pronta para receber minha maldição da morte. Fechei os olhos.

Podia ouvir Virgilio se debatendo logo atrás de mim, em pânico.

–Abá Îuká!

O Jato veio direto para meu peito, acertando em cheio o amuleto.

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!!

Caí então para frente, a tempo de alcançar o muiraquitã do pescoço do garoto, e se arrebentar.

Estava eu ali estirada no chão, segurando o amuleto do meu tio. Hugo estava acordando. Ele parecia um pouco assustado, ele não entrou em pânico como eu por ter estado dentro da mente do meu tio. Para ele, toda aquela maldade não era tão chocante quando para minha alma.

Olhei então para Virgilio, esperando que minha ultima visão em vida fosse aqueles olhos, e aquele cabelo.

Pude então notar uma lagrima cair dos olhos dele.

Quando meu amuleto começou a brilhar, brilhar, eu sentia meu ar saindo de mim, eu estava indo embora.

Brilhar, brilhar, brilhar.

Tudo estava escurecendo, quando em um lugar escuro que só existia em minha imaginação eu ouvia, “Nádia acorda! Acorda!”.

Vou ser sincera com vocês, queria que a morte fosse bem mais rápida, isso ta me irritando, ver meu Virgilio sofrendo por tanto tempo, quando então notei que eu não estava morrendo coisa nenhuma.

Eu estava no meu estado de hibernação.

O muiraquitã! Ele sugara o feitiço, e me colocara em coma temporário.

Eu nem sabia que isso era possível.

Eu consegui murmurar:

–Como diabos eu ainda estou viva?

Foi então que senti meu corpo conseguia enxergar novamente, o amuleto parara de brilhar.

Eu enxergava, fazia sons, mas não conseguia mover nenhum músculo.

Vi meu tio se aproximando do Índio que estava ainda preso, e eu caída diante dos pés dele estática. Seus olhos mareados, ele tentava se soltar, estava menos desesperado por conta da única frase que eu conseguira pronunciar.

Vi que Hugo terminava de soltar Capí quando meu tio arrancou o muiraquitã da minha mão, e na outra ele estava com um balão volumétrico repleto do liquido lilás e entornou pela garganta do Índio.

Eu queria gritar, espernear, Índio tentava não ingerir o liquido, mas se não o fizesse morreria sufocado.

Meu tio o puxou até o arco mágico que eu criara, e ativando com o poder de seu amuleto, jogou Virgilio pelo portal.

–Isso é para ocê aprender, a não mexer onde num é chamada! Agora ache seu amor, antes que eu o mate! – meu tio entornou na boca o resto do liquido no recipiente e pulou logo em seguida, pelo buraco que dava para nada, em lugar nenhum, vi tudo a minha volta.

–Qual era mesmo o meu rótulo? – foi a ultima coisa que eu disse, antes do meu mundo se apagar por completo.

...


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Notas finais do capítulo

Ps.: para quem não entendeu, rótulo que eu quis dizer, era meu nome. Lembra de como eu me apresentei no capitulo 5? Pois bem ;)

Obrigada por lerem!



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