A Arma Escarlate - O Muiraquitã. escrita por NahHinanaru


Capítulo 8
Capitulo 8 - A Nádia de Minas e a Nádia da Korkovado.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo, na minha humilde opinião. O começo ta chato e o final. bom decida você mesmo! hauahuahuahauha
Obrigada Sté (Natasha) pela imagem, Steph (Yui) Pela metade da correção e Leo (Anjo Alves) pela betagem.
E meus amigos pela exigência de um novo cap..
Obrigada e boa leitura. ahuahauh o/



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–---Narrativa do Virgílio----

Eu acordei cedo no dia seguinte, não por que estava sem sono, mas simplesmente por que era a segunda vez que ela me derrubara da cama. Isso quando ela não me acordou gritando e chorando durante a noite, e o pior ela não acorda!!! Você pode sacudir, oferecer sorvete ou seja lá o que for, ela não acorda!!!

Me levantei exausto e fiquei em pé ao lado da cama por alguns segundos, observando-a dormir tranquilamente, ela ainda estava usando o vestido do dia anterior, reparei que eu também não havia me trocado, sorri de lado constrangido e ao mesmo tempo feliz por ninguém estar vendo minha cara patética olhando-a admirado ela na minha cama. Taí algo que ficaria para sempre só na minha memória. Aquele cabelo loiro esparramado, enquanto ela dormia de barriga para baixo abraçada no travesseiro.

Resolvi deixar de besteira e fui me ajeitar para começar o dia, tomar banho, escovar os dentes e me trocar.

Olhei de novo para Nádia antes de pegar o livro que ela me deu. Mas dessa vez não olhava admirado, eu estava reparando como aquilo tudo era estranho, uma hora eu a detesto, onde eu preferia nem encontrá-la pelos corredores da escola, nesse momento eu queria saber em que parte do caminho eu deixei que as coisas tomassem esse rumo? A ponto de me encontrar dividindo um quarto com ela!

Quando fui pegar meu livro ali no criado mudo, meus olhos passaram pela taça no outro móvel gêmeo e pensei comigo mesmo:

“Afff, mas que droga, ela nem ao menos levou isso para cozinha, vai encher de formigas!”

Foi aí então que eu me lembrei o principal motivo dela não ter levado a taça vazia para cozinha, ou nem trocado de roupas para dormir, voltei então a ficar constrangido. Achei melhor, de fato, deixar a taça ali, me sentei no sofá perto da janela, abri uma fresta da cortina para iluminar o livro, mas não o suficiente para acordá-la, e comecei a lê-lo.

Devo admitir, o livro era realmente engraçado, havia um caso onde um duende aprendeu a falar e processou a vida por ter roubado a mudez dele. Somente a Nádia para me dar um livro sobre casos policiais tão bizarros como esses.

Eu já havia lido um terço do livro quando acidentalmente ri do caso da Ratuaneira casada com um amigo imaginário. O engraçado do livro não era em si os casos, mas as imagens que seguiam dos textos faziam tudo realmente cômico.

–Não mãe, eu não vou lavar a louça. – ela resmungou, me fazendo olhar por detrás do livro.

Ela então se sentou preguiçosamente e quando me viu ali ficou confusa e logo depois vermelha.

–Por que sempre que ocê acorda e me vê, faz a mesma cara? – perguntei curioso.

–Bom dia. – ela se contentou a responder sonolenta.

–Bom dia. – respondi.

Eu a vi indo até a mochila, tentou pegar algo lá dentro e acabou se enrolando no fio e caindo de bunda no chão, eu segurei o riso e ouvi-a resmungando um “Mas que droga!”.

Ela se levantou aos solavancos pegou algumas peças de roupas, e outras coisas que não identifiquei, e foi para o banheiro que tinha no quarto, sem ao menos olhar na minha direção.

Voltei então minha atenção para o livro. Quando ela saiu de seu banho, ela foi arrumar a cama com um rosto meio sério e abriu a cortina, logo depois se jogando ao meu lado.

–Oi! – disse ela sorrindo. Para uma pessoa que parecia estar séria demais dava pra notar claramente que ela estava se forçando a sorrir. Agora a pergunta é: por quê?

Então me veio um pensamento a mente que por algum motivo me entristeceu, e se ela somente havia reparado noite passada, que a paixão platônica dela por mim era só uma ilusão do que ela queria. Não podia ser! Por que não faz sentido, passar quatro anos seguindo uma pessoa e quando você finalmente convence a pessoa que ela tem que ficar com você, você vai lá e pula fora? Aquela idéia me assustou muito. Seria eu a Nádia dela agora? Nem pensar que eu iria seguir ela por todos os lugares.

–Eu disse oi, tá surdo? – disse ela rindo fingindo bater na minha cabeça como se bate na porta. – Alôôô alguém aí? Planeta Terra tentando fazer contato com Virgilio.

–Ahh oi.

–Dormiu bem? – perguntou ela, minha vontade era responder “Como se isso fosse possível ao seu lado” mas apenas assenti. – Eu não sabia que esse livro era interessante ao ponto de prender sua atenção do que eu to falando. – reclamou ela.

–Ocê teve pesadelo a noite toda. – disse, está tudo bem.

–Ahh sim, pesadelos habituais, todos com você, se caso tiver a dúvida. – disse ela piscando para mim.

–Não sabia que eu era aterrorizante a ponto de ser pesadelo procê.

–Geralmente são sonhos sobre perder você. – riu ela.

Dei um sorriso fraco para ela, o que fez ela segurar meu rosto com suas mãos frias.

–Nossa! O que aconteceu com suas mãos? Morreu e esqueceu de cair?

–Shiii... – ela então depositou um beijo rápido no canto da minha boca, eu tenho certeza que fiquei vermelho com aquela ação inesperada. – Sorri de novo?

–Eu não quero sorrir agora. – respondi.

–Ahhh. – ela pareceu desapontada com a minha resposta. – queria poder ver mais seu sorriso.

–Por que?

–Por que eu acho que você fica deslumbrante sorrindo, da vontade de abraçar e levar pra casa e encher de beijinho. – ela disse abraçando e esmagando uma almofada do sofá, fazendo uma vozinha engraçada.

Eu comecei a rir:

–Eu não tenho certeza se eu saio vivo depois disso que ocê ta fazendo com essa almofada.

Ela riu junto comigo e não demorando muito ela parou e ficou me olhando com uma feição patética, e eu comentei com ela:

–Eu nunca falei tanto quanto to falando esses últimos dias.

–Claro. Você precisava se sentir bem pra falar, lá na Korkovado você não se sente assim o tempo todo, ficam te chamando de chato, nem mesmo eu iria querer falar. – reclamou ela. – e tem outra, eu fico agindo como uma doida lá.

Ela estava certa, desde ano retrasado ela estava com uma mania irritante de pular em cima de mim, ou se pendurar no meu braço, completamente do nada, enquanto eu andava distraído.

Dei de ombros e voltei pro meu livro. Ela então encostou a cabeça no meu ombro.

–Qual é a Nádia de verdade? A da Korkovado, ou essa que eu vim conhecer aqui em Minas?

–As duas, eu geralmente sou a Nádia “de minas” quando estou aborrecida, cansada e chateada. – disse ela fazendo careta pro “de minas” – e a da Korkovado quando eu to tranquila. Mas ambas são extremamente sozinhas.

–Sozinha? Ocê tem vários irmãos, sua mãe fica o tempo todo em casa. – argumentei.

–Experimenta só dividir toda atenção da minha mãe com meus irmãos. – respondeu amargurada.

–E na Korkovado, ocê tem vários amigos...

–Tenho, mas eu prefiro ficar com você do que com eles. Odeio o barulho deles. Já você é bem mais calmo.

Eu sorri.

–Posso fazer uma pergunta?

–Pode.

–Por que cê está tão triste?

–Como? – ela me olhou assustada, arregalando os olhos.

–Ta bom que ocê achou que eu não ia reparar. Aff..

–To preocupada com a gravidez da Marine. – ela me disse abaixando o olhar para suas mãos.

–Fica tranquila, Aloísio vai ajudá-la. – tentei acalmá-la.

–Não é exatamente com isso que eu estou preocupada. – me respondeu séria.

–Mas é um motivo tão ruim a ponto d’ocê abandonar seu presente de natal sem nem ao menos abrir?

Os olhos dela então se arregalaram, e seu rosto de repente se encheu de alegria, ela se levantou de súbito, pulou em cima da cama, desarrumando tudo que ela já havia arrumado, se jogou de mal jeito perto de onde ela havia deixado o pacote.

–Caramba é mesmo, tá pesado. – eu ri da reação dela.

Ela tentou pegar mais uma vez, toda torta jogada na cama, mas desistiu e se levantou e pegou direito, e trouxe pro meu lado o presente.

–O que é isso? Chumbo? – riu ela. – porque se for, quero saber onde você andou me espionando, por eu realmente to precisando de chumbo!

Achei graça do comentário dela.

–Cê é maluca.

–Por você. – retrucou ela piscando pra mim.

–Aff...

Ela então abriu o pacote eufórica, e viu que além do papel de presente, havia uma caixa.

–Eu comprei isso em uma loja azêmola. Espero que te sirva de algo. – comentei enquanto ela abria a caixa.

Havia um baú de madeira dentro, os olhos dela brilharam.

–N-n-não pode ser. Virgílio você que é maluco!

Eu ri.

–Isso é um absurdo de caro! Eu nunca teria dinheiro pra um desses, e você me dá como se eu fosse o ser mais organizado do universo e....

–Tenho esperanças d'ocê tomar conta disso, por isso que comprei, quem sabe assim ocê cria alguma responsabilidade. – comentei, olhando ela tentando abrir o baú.

Quando ela conseguiu abrir e viu as varias gavetinhas cheias de lápis coloridos, e outros objetos para desenhos, que eu não tinha noção para o que servia, seu rosto tinha uma expressão de espanto, alegria e deslumbre.

Eu nunca havia visto alguém tão emocionada com apenas alguns objetos simples e sem nenhuma mágica. Foi o dinheiro mais bem gasto de toda minha vida. Fiquei feliz ao ver ela fechando com cuidado, e depositando com carinho dentro da caixa novamente. Eu tinha razão, ela cuidaria daquilo como se sua vida dependesse disso.

–Você não deveria ter gastado tanto comigo! – ela exclamou. – Me promete que nunca mais você vai gastar tanto assim comigo! Prometa!

Eu sorri mas não prometi nada.

–Você é o melhor Virgilio do universo inteiro! – riu ela.

–Até por que não acredito que existam muitos Virgílios por aí. – completei sorrindo pela animação dela.

–Eu odeio você por me fazer ficar feliz por algo tão caro! Agora devo estar parecendo a maior interesseira do universo! Da próxima vez é só comprar uma caixinha de lápis de cor de 10 reais e pronto. – ela resmungou.

–Se ocê quiser eu pego de volta e... – comecei provocando-a.

Ela então agarrou a caixa e disse alto:

–Não!

Arqueei uma sobranselha, e ela completou:

–Eu sempre sonhei com um desses.

–Eu sabia que ocê ia gostar. – lembrando das aulas de artes em que ela agia como uma doida possessiva. Esse é o problema da Nádia, quando ela gosta de algo, ela não sabe disfarçar.

Ela ama sorvete, o que ela faz? Toma mais sorvete do que seu metabolismo aguenta. Ela gosta de alquimia e vive pra isso a maior parte do tempo. Ela gosta de artes, o que ela faz? Age feito uma doida nas aulas de artes mágicas. Ela me adora o que ela faz? Se joga em cima de mim sempre que me vê, e fica o tempo todo me atrapalhando com suas palavras sem fim, e seu jeito mega hiper ativo.

Essa é a Nádia.

Eu levantei o livro de novo enquanto ela abria a caixa de novo pra verificar tudo que havia dentro dela.

–A escolha do livro que ocê me deu foi muito boa. É engraçado e explica algumas táticas de defesa e acusação institucionais.

–Já chegou na parte do cara canibal? – ela me perguntou. – eu quase morri de rir.

–Já sim, é mórbida e nojenta a solução. – comentei. – Espera! Cê leu?

–Claro. Por isso que comprei pra você. Ou você achou que eu ia te dar um livro péssimo e chato como os que você está acostumado a ler?

–Eu não leio livros chatos. – resmunguei para ela.

–Aposto que passou as férias lendo a constituição, por que todos os livros bruxos insuportáveis você já tinha lido! – gargalhou ela, me deixando encabulado. Ela tinha razão, mas os livros não são chatos.

Eu fechei a cara e voltei pro livro.

Então não muito depois notei ela ensaiando para fazer alguma coisa. Ela estendia a mão como se fosse mexer no meu cabelo, mas recuava um pouco antes de tocar, ela fez isso umas cinco vezes, aquilo estava tirando toda minha concentração.

Peguei a mão dela e falei:

–Para com isso.

–Ta bom. - ela respondeu conformada, colocando o baú de lápis de cor no chão com cuidado.

Ela ficou ali parada do meu lado sem saber o que fazer quando eu olhei para ela e disse:

–Pode fazer o que ocê queria...

Eu nem precisei terminar a frase, pra ela passar a mão em meus cabelos e bagunçá-los, ela se aproximou e começou a cheirar meus cabelos. Okay aquilo era realmente estranho. Mas sentir os dedos dela alisando meus fios de cabelo era ótimo. Uma sensação de reconforto que eu não sentia a muito tempo.

–Quer deitar no meu colo? – ela perguntou sorrindo feliz.

–Não preci...

–Por favorziinhooo...

Bufei e deitei nas pernas dela, e continuei lendo, enquanto ela brincava de bagunçar meus cabelos. Às vezes eu olhava de relance os olhos dela brilhando.

–Nós somos namorados agora? – perguntei como quem não quer nada.

–Como? – ela disse embasbacada.

–É o que ta parecendo. – disse sério.

–Nós parecemos namorados desde o terceiro ano. – ela disse debochada.

–Ocê entendeu o que eu quis dizer.

–Eu não sei se deveríamos oficializ...

*Toc,Toc,Toc.*

Ouvimos a porta batendo, eu me levantei rapidamente e fui abrir a porta e dei de cara com minha avó.

–Ocê não ia embora menina?

A calmaria em que estávamos acabara de ser destruída. Aff.

–Vó! – eu exclamei.

–Não, tudo bem ela tem razão, vou aproveitar que Salvador não está em casa essa hora da manhã e vou embora. – a expressão suave do rosto dela foi substituída por um olhar sofrido e cheio de dor.

–Ela vai ficar até o almoço. – respondi autoritário. Tudo bem que a casa era de minha avó. Mas ela não podia expulsar a Nádia dessa forma.

–Não precisa... – começou a dizer Nádia. Se levantando e indo arrumar sua mochila.

–Precisa sim. – eu disse. – Daqui a pouco descemos para o café-da-manhã.

–Só até a hora do almoço. Depois cê já sabe, dê tchau para ela e volta para casa.

–Tá bem vó.

–--

Quando eu desci para o café da manhã, Nádia quis ficar um pouco mais no quarto para terminar de arrumar a mochila. Mas não sem antes eu lançar um “lailalá” na mochila dela para caber seu mais novo tesouro.

Eu já estava na metade do meu café e nada da Nádia aparecer na sala de jantar, nem ela e nem minha mãe. Eu já estava habituado a ausências da minha mãe durante as refeições, e aos atrasos de Nádia também. Só que ela não era tão organizada assim a ponto de se atrasar, para se alimentar.

Fui até o quarto quando terminei o café, e ela não estava lá. Mas sua mochila estava aberta e novamente remexida por dentro.

Saí procurando ela pela casa, quando passei pela porta do quarto de minha mãe e ouvi a voz das duas lá dentro.

–Então é por isso que eu tenho muita dor de cabeça. Aí eu conheci um bruxo curandeiro chinês lá no centro de São Paulo, na 26 de março, e ele me explicou sobre essa medicina azêmola, que primeiramente fora usada por monges bruxos. Passei minhas férias aprendendo essas técnicas com ele.

–Ahh nossa, você é muito inteligente. Meu Virgilio tem sorte em tê-la como namorada.

–Não, não somos namorados ainda. – riu ela.

–Espero que sejam, ele precisa de uma garota inteligente e educada como você.

–Eu discordo de ocê mãe. – eu ri dessa vez entrando no quarto. - Inteligente, eu realmente concordo. Mas educada?

–Viu como ele me ama? Me fareja. – riu Nádia, enquanto colocava uma sementinha na orelha de minha mãe e apertava, prendendo com uma fita adesiva.

Então vi algumas agulhas espetadas na testa, nos braços e pernas dela.

–Estava aqui conversando com sua amiga. Ela estava me explicando sobre técnicas de acupuntura, e sobre essas sementinhas que funcionam da mesma forma. – comentou minha mãe.

–É questão do sistema nervoso, como tudo está ligado, se você apertar o ponto certo você consegue até deixar um fiasco ser bruxo por alguns segundos, eu sei, testei na minha irmã! – disse Nádia rindo.

–Ocês duas não vão se alimentar? – perguntei.

–Já me acostumei a não comer tão cedo. – responderam as duas ao mesmo tempo. O que foi realmente assustador.

–Agora você pode relaxar senhora, vou acionar o chakra dos seus pés. Quer ajudar Virgilio? – perguntou ela olhando para mim.

–Como?

–Pega aquele creme ali naquela caixinha transparente. – disse ela apontando para um pote.

Peguei e fui até ela abrindo o pote.

–O que é isso?

–Uma emulsificação que eu preparei. É ótimo pra massagem.

Cada segundo que eu conheço a Nádia mais coisas sobre ela eu descubro. Então notei quanto presunçoso eu era em achar que ela só era aquela Nádia que eu conhecia exteriormente.

Ela pegou um pouco do creme e passava em um movimento suave e firme no pé da minha mãe.

–Faz isso. – ela me indicou.

E eu segui os movimentos dela.

Eu ouvi minha mãe suspirando calma, em séculos ela não estava rígida, séria e tensa.

Eu sorri para Nádia, e ela retribuiu o sorriso.

–--

Não demorou muito pra chegar a hora dela ir embora. Ela sempre fazia qualquer um perder a hora, sinceramente, é engraçado ver como que o tempo anda diferente perto dela. Ela conseguiu me fazer atrasar no horário de levá-la para a casa da avó dela.

–Eu vou pra São Paulo, não vou ficar aqui. Não vou aguentar muito tempo. – ela disse indo a nossa frente de costas com aquela mochila enorme pendurada nela.

–Por que? – perguntou Marine logo atrás de mim.

–Seu pai está doido, quer que quer me ver morta. Esse corte aqui, não é de besteira não. – ela apontou para o ferimento muito vermelho que estava no rosto dela.

–Eu também tenho medo do seu pai. – disse Aloísio.

–Por que será né? – resmunguei para meu primo. Ele engravida a menina e quer que o pai dela ficasse calmo. Se fosse minha filha... Aff...

–Então, eu vou pegar minhas coisas e ir para casa. Se você quiser ir me ver depois do ano novo, pode ir. – disse Nádia agora andando saltitante.

–Eu não sei onde cê mora. – lembrei ela.

–Anotei em um marca paginas dentro do seu livro e deixei lá na hora que você desceu para tomar café.

–Ocê é impossível! – exclamei.

–Eu sei. – riu ela.

Quando chegamos lá na casa, já tínhamos decidido que eu acompanharia Nádia até a rodoviária, a loira entrou calma. Enquanto ela ia arrumar as malas, eu fui até a cozinha ver se via o irmãozinho dela, encontrei ele junto da mãe.

–Oi Enzo.

–A Nádia chegou? – perguntou a mãe dele logo de prontidão.

–Sim senhora. Ela subiu para arrumar as malas. Ela já vem pra cá.

–Você vai levá-la embora? – ralhou a mulher.

–Não, pelo contrario, tentei convencê-la de ficar, mas ela quer ir para casa dela.

–Casa dela? Ela já acha que morar com você é o lugar dela? Ela está muuuito engana...

–Não, não, calma senhora, ocê entendeu tudo errado, ela vai pra São Paulo.

A mãe de Nádia então respirou aliviada.

–Como foi o natal d’oces?

–Não foi um dos melhores. – respondeu.

–Tio Salvadô caiu em cima da minha casa de doces. – explicou Enzo como se aquilo tivesse sido o único problema. A inocência dele era adorável.

–Por favor pai, não faz isso, não faz!!!! – ouvimos choros suplicantes vindo da sala, eu fui rápida, porém cautelosamente até lá.

Marine se escondia atrás de Aloísio, que empunhava a varinha de uma forma errônea, contra o homem que eu vira no portão dos meus avós.

–É justamente ocê que quero morto! Não importa o porquê, mas essa sua proximidade com a minha filha e toda aquela batalha da muiraquitã para te defender. Ocê merece morrer! – exclamou Salvador lançando um feitiço azul contra Aloísio, e derrubando-o na hora. Deixando Marine desprotegida, mas o foco do homem era outro. Ele desejava a morte do rapaz.

–Por favor pai, ele é o pai do meu filho, o homem que eu amo.

–Amor! Sabe o que o amor faz??? Ele destrói! Ele enfraquece! – urrou o velho.

–Ocê já amou alguém? – exclamou Marine.

–Já sim! Sua mãe antes de ela me trair, aquela vadia! Me trair com o tio desse imprestável! – urrou o homem.

–Tio dele? Seu protegido? – exclamou Marine pulando na frente de Aloísio.

Protegido? Muiraquitã? Eles só podiam estar doidos em falar sobre um conto infantil como esses numa hora como essas!!!

–Saia da frente ou eu mato ocês dois.

–Não! – gritou a moça.

–Fiquem aqui. – sussurrei para a mãe de Nádia.

O homem ia tirar algo do bolso quando eu gritei:

Batá!

Ele cambaleou para trás mas se manteve em pé.

–Quem é esse?

–Não vem ao caso! – exclamei.

– Vão embora daqui. – ordenei a Marine.

–Virgilio ele está desmaiado. – chorava Marine.

–Arraste-o!

–Virgilio? Já ouvi falar sobre ocê. Virgilio OuroPreto. Estudante da Nossa Senhora da Korkovado. Integrante de um grupinho popular, pixie. Índio certo? – cantarolou o homem.

–Como cê sabe...? – comecei quando ele disse:

–Meu informantes ouviram minha sobrinha falando sobre ocê. – ele então se aproveitou do meu segundo de distração e atirou uma faca passou de raspão no meu braço, senti de imediato o ardor do corte.

Ele então apontou a varinha para mim me olhando com desdém e disse:

–Acha que pode me enfrentar? Acha mesmo? Anhana!

Vi minha varinha voando para longe do meu braço cortado, que agora saia mais sangue do que antes, ele apontou a varinha dele para mim, me derrubando no chão com um feitiço, me fazendo bater a cabeça no chão. Quando senti algo caindo no meu colo. Era o colar que Nádia havia me mostrado outro dia.

Vi que marine ainda estava longe de chegar perto da porta com Aloísio.

Ela nunca iria chegar a tempo, iríamos todos morrer, com sorte Marine sairia viva...

–Sabe como nenhuma autoridade nunca me prendeu? - sibilou o homem cheio de si.

Olhei assustado e curioso, quieto, esperando a resposta, não sabendo se queria descobri-la de fato.

–Um bruxo não pode ser preso por leis azêmola. E armas azêmolas não são detectadas pelo ministério da magia. – o homem explicou com ar de orgulho no tom de voz, sacando uma pistola de dentro da jaqueta de couro marrom.

Ele apontava a arma para mim, quando ouvi a voz dela:

–Oi Salvador! Sentiu minha falta?

Ele cogitou virar, mas então a ouvi dizendo:

–Se meche e eu vou escolher entre atirar dentro do seu ânus ou na sua nuca. Vamos ver qual dedo se meche primeiro quando eu estou sobre pressão?

–Ocê não teria coragem...

–Não mesmo? – ela então riu de uma forma que a deixou com aspecto insano. – Você está com uma arma apontada para a cabeça do meu protegido e acha mesmo que eu não teria coragem?

–Ah então ele é seu protegido?

Protegido??? Como assim? Aquele papo de muiraquitã novamente? Muiraquitã são amuletos indígenas, qualquer outra família bruxa indígena herdava um bruxo de hierarquia mais baixa como seu servo, mas a minha não, havia uma tradição bem diferente, nós não herdávamos servos, herdávamos guerreiros, escudos, parceiros pra vida inteira, esses que deveríamos respeitar e cuidar como se nossa vida dependesse disso, pois eles morreriam por nós. Esse é o legado deles e o nosso. Nós chamamos de o laço do Muiraquitã.

Eu estava entendendo o que estava acontecendo, mas eu me recusava acreditar no que eu estava ouvindo.

–Claro que é. – disse Nádia, eu notei que de dentro do tênis dela, irradiava uma luz azul.

Vi então Salvador abaixando a arma devagar. E logo em seguida um estalo de um tiro sendo disparado.

Salvador caiu no chão aos gritos:

–Ocê é louca sua vadia nojenta!

Vi então que a perna dele sangrava.

–Não reclame! Eu só atirei na sua perna. – ela cuspiu as palavras com ódio. – isso é para você aprender a respeitar os protegidos dos outros.

Ela então deu um chute no tio, que caiu estirado fraco por ter perdido uma quantidade de sangue relativamente alta, pisou no pulso dele e arrancou-lhe a arma da mão e colocou-a em uma escrivaninha.

Ela então ficou em pé diante do tio com suas duas armas, que logo reconheci terem saído do fundo falso da sala do avô dela, apontada para o velho.

–Vale a pena? Dar um fim? Vá em frente, olhe sua prima, olhe seu irmão, olhe seu protegido. Acha que terá o respeito deles se apertar esse gatilho? – disse Julio apenas observando da porta de entrada da sala.

Só então notei que Enzo chorava soluçando próximo à entrada da cozinha, e Marine não estava diferente dele.

Ela então olhou para mim e saiu de uma espécie de transe da mente dela, e vi que o tênis dela parara de brilhar.

Bem nessa hora, Salvador agarrou a calcanhar dela, fazendo-o brilhar novamente e a arma apontar para mim, meus olhos se arregalaram, quando a Nádia apontou a arma para Marine.

–Não é isso que você quer? Acabar com ela e com o filho dela? – envenenou Salvador. Quando o verde dos olhos dela sumiu, dando lugar a um azul bizarro.

–Não é isso que te atrapalha a ter sua família de bruxinhos, sua vida longe desse mundo azêmola. Você sabia senhor OuroPreto? Que sua muiraquitã nunca vai ter um filho bruxo! O que ocê acha de ela eliminar a própria prima pra resolver o problema? Brilhante certo? Afinal, deve ser bom saber que ela tem o sangue frio para te proteger. Assim como ela vai ter para resolver seus problemas pessoais.

–Nádia, não! – eu exclamei, mas eu sabia que ela não estava ouvindo. – Por favor, Nádia pare!!!

Um sorriso macabro brotou no rosto dela, aquilo me assustou, ela puxou a trava da arma calmamente, vi que Julio não faria nada. Me levantei e chutei a mão de Salvador fazendo ele soltá-la.

–AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH – gritou Nádia se jogando longe dali.

Peguei Salvador pelo colarinho com muito esforço, pois o homem era pesado então soquei-o três vezes no rosto, até ele parecer desacordado.

Quando me virei para Nádia ela estava jogada no chão em posição fetal chorando. Ela parecia estar tentando se livrar de mil insetos de cima dela, de tanto que ela se esfregava e debatia-se, urrando assustada, com medo e nojo. Ela parecia apavorada.

Fui até ela, tentando me aproximar, logo sendo empurrado para trás.

Ela murmurava freneticamente:

–Eu estive na mente dele, eu estive na mente dele, eu estive na mente dele.

Ela levantou dali, abriu com força o armário e tirou uma garra de qualquer bebida alcoólica e virou na boca o conteúdo de dentro, dando umas três goladas.

–Nádia para com isso!!! – gritei me descontrolando. Ela então tacou o resto da garrafa no chão, fazendo-a se estraçalhar.

–Eu parei! Eu parei! – ela urrou de volta, com ódio, e dor nas palavras. – Eu parei vossa majestade! – ela então subiu as escadas furiosa.

Aquilo me magoou, devo admitir, mas também me afundou em ira. Quem ela pensa que é? Mente a vida toda sobre quem é, para mim, passa a vida toda fingindo ser uma garota boba, inocente que gosta de brincar de química. Finge-se de apaixonadinha só para andar comigo! NUNCA me contou sobre ser meu muiraquitã. Quem ela pensa que é para me julgar daquela forma? MAJESTADE? EU ODEIO ESSA GAROTA!

De qualquer forma, fui atrás dela para dizer tudo que eu estava pensando no momento, nunca ela iria se livrar tão facilmente de mim, com o sem essa droga de muiraquitã!

Eu então entrei no quarto que a vi.

Ela segurava sua mala, o revolver do avô em uma das mãos, embaixo dos braços uma caixinha de metal, presa com um cadeado, que logo notei que era onde sua varinha estava, com a mochila já a costa.

–Onde ocê pensa que vai? – eu exclamei furioso.

Ela então arrancou algo de dentro do tênis e jogou em mim, estendeu a mão e surgiu um portal redondo do tamanho dela, bem a sua frente, ela entornou um liquido violeta goela abaixo, sua pele irradiou um brilho da mesma cor e o portal mostrou o que parecia ser uma sala da Korkovado, só que muito abandonada.

Sem me olhar passou pelo portal dizendo:

–Até depois das férias.

–EU TE ODEIO!

E essas foram as minhas ultimas palavras para ela, antes do primeiro dia de aula.

–--- Narrativa de Nádia ----

Desci correndo as escadarias da Korkovado, deixando minha sala de experimentos químicos. Quando avistei quem eu mais precisava ver no momento:

–Capí,preciso da sua ajuda!


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Notas finais do capítulo

E agora? uhuhuhuhuhuhu



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