A Arma Escarlate - O Muiraquitã. escrita por NahHinanaru


Capítulo 6
Capitulo 6 - Minha mãe, meu irmão e os cadernos.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem, e obrigada pessoalzinho que me ajuda com essas partes tensas de escrever da fanfic.

Ps.: A Narrativa ainda é da Nádia (no caso minha)



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–Eu posso explicar. – disse Virgilio.

Eu ainda estava com a mesma cara de “lascou-se”. Quando Virgilio se levantou e começou:

–Senhora, estávamos presos...

Minha mãe não deu muito tempo pra qualquer um de nós dois escapar, senti ela se abaixando e me puxando pela orelha, e no caminho de me levantar com a outra mão puxou a orelha do Índio e saiu nos arrastando até a sala.

–Aaaaaiiiiii mãaaaeee... – eu choramingava.

–Mee sooooltaaaaaa...- ouvi Índio reclamando.

Quando por fim chegamos na sala, e vimos minha avó jogada na poltrona dormindo. Minha mãe ainda nos olhava irritada.

–O que vocês estavam fazendo trancados naquele armário.

Eu com os olhos mareados, pronta pra chorar a qualquer momento, engoli o rancor e respondi:

–Estávamos tentando sair.

–Eu vi muito bem como estavam tentando sair. Rindo. – respondeu ela rigorosa.

Olhei para o lado e encontrei um Virgílio extremamente irritado massageando a orelha.

–Estamos presos lá desde que Salvador acordou! – expliquei, mas ela estava irredutível.

–O que foram fazer lá!? – perguntou dessa vez não para mim, olhando claramente pro Índio.

Ele deu de ombros, ainda irritado, algo me dizia que se ele falasse algo, não seria nada educado.

–Mãe! – gritei, nesse momento ela me olhou mais estressada do que já estava, minha avó deu um pulo da poltrona, por causa disso, mas logo voltou a dormir.

–Olha aqui moçinha você tem sorte de eu não gostar de bater em criança por que... – minha mãe começou, quando Virgilio finalmente abriu a boca e disse:

–Como ocê quer que ela fale decentemente com ocê? Se nem ocê escuta ela?

Olhei para ele encantada, ele estava me defendendo, ok, tudo bem, com a pior pessoa que ele deveria contradizer, mas estava.

–Rapaz, você pede para falar com a minha filha como amigo, e acordo às três horas da manhã e encontro os dois escondidos no armário da cozinha sozinhos. E você ainda acha que pode me dar sermão? – brigou minha mãe.

–I ocê acha que fizemos o que? Que tivemos alguma relação ou algo do tipo? Pois te digo se fosse pra ter, num seria num armário cheio de compotas! – ele exclamou irritado.

Eu fiquei meio espantada, nunca imaginei que o Índio fosse do tipo que cogitaria ter algo comigo, o que me fez querer rir, minha mãe e o bruxo que eu gosto estão ali no meio da sala brigando e eu aqui, toda espantada por causa de algo que ele disse quando ouvi Índio dizendo:

–Que sorriso é esse Nádia?

–O que? – dei um pulo da onde eu estava.

–Aff... Só podiam ser mãe e filha mesmo. – ele bufou.

Minha mãe estava muito irritada, quando eu falei:

–Me desculpa mãe. Posso falar o que aconteceu?

–Tem 10 minutos.

Eu então não demorei a contar, expliquei sobre o ódio que Salvador deveria estar de mim, e quando notei que ele estava vindo, puxei Virgilio junto comigo, e quando ele se foi tentamos sair, mas aparentemente a porta só se abre por fora, pois ficamos trancados.

–E por que não usaram mágica? – ela perguntou como quem havia pegado nós dois em uma mentira.

Eu então peguei a mão dela e fui a levando até a cozinha, e apontei para varinha de Índio caída no chão.

–Essa era a única varinha que tínhamos acesso, e na hora que eu puxei ele, caiu.

–E porque não chamaram ninguém?

–Acredite, tentamos. – respondeu Virgilio sério, abaixando-se para pegar sua varinha.

–Ahhh sim, Amado Batista. – ela entendeu.

Minha mãe ainda desconfiada entrou na dispensa, e se fechou lá dentro, sacudiu a porta tentando abrir.

–Podíamos deixá-la aí. – sussurrou Índio.

Eu ri baixinho, enquanto ela ainda tentava abrir por dentro.

–Ela podia ser perita da polícia, ganharia mais dinheiro do que como somente dona de casa. – comentei no mesmo tom dele.

–Eu estou ouvindo! – eu ouvi ela dizer lá de dentro. Me fazendo subitamente tomar a mesma postura séria do OuroPreto, o que fez ele sacudir a cabeça me reprovando. – Podem abrir aqui?

Rapidamente abri a porta.

–Vou me trocar, e vou te levar até sua casa. – disse ela, séria. Se eu bem conhecia minha mãe ela acabou de constatar que falamos a verdade, deve ter se arrependido da atitude agressiva e não pensada, mas ela nunca admitiria isso.

–Por que Aloísio foi embora sem mim? – perguntou Virgilio.

–Ele não foi. Deve estar no quarto de Marine. – respondeu ela.

–Pera. – eu comecei. – desde que horas?

–Eles começaram a conversar aqui na sala, falou que a tia dele conversou com ele sobre abandoná-la e se arrependeu, Marine ficou toda sonhadora, aí então a vó os mandou irem conversar a sós, subiram pro quarto de Marine e estão lá até agora. – explicou minha mãe.

Certamente devem ter se perdoado e dormindo juntinhos como uma família chata e feliz.

–Vou chamá-lo. – disse Virgilio, mas minha mãe o interrompeu segurando o braço dele.

–Acho melhor você não ir. – comentei. – talvez você tenha pesadelos ao pegar aquelas criaturas namorando. Acredite, meu quarto é do lado do dela, até Amado Batista é melhor do que ouvir o que as vezes tenho que ouvir vindo daquele quarto.

Virgilio então arregalou os olhos e ficou parado no lugar.

–Me esperem aqui, e se comportem. – disse minha mãe, claramente esperando que quando ela saísse, nós dois sairíamos nos atracando, doce a ilusão dela, não que eu não queria, eu bem que queria, mas esse não é o caso, bom até por que ele não me agarraria ali na sala e, quando ela voltou rapidamente só pra ter certeza que estávamos um bem separado do outro.

Bufei, minha vontade era falar “Você reclama de mim de barriga cheia, e se eu fosse Marine?” ou “Não é atoa que Salvador é revoltado, se ele foi criado da mesma forma que eu, todos desconfiam dele.”, mas apenas me contentei em ficar quieta.

Estávamos eu e Virgilio sentados no sofá, quando eu disse:

–Me desculpa.

–Por que?

–Por causa da minha mãe. Do armário, meu tio. E tudo mais. – eu sorri.

–Foi o ponto alto das minhas férias. – disse ele sério.

–Sério? – perguntei empolgada.

–Não disse que era um ponto positivo. – esclareceu ele seco, fazendo murchar toda minha empolgação.

–Então? Vamos? – disse minha mãe já pronta perto da porta, com a chave do carro em mãos.

Entramos no carro, eu no banco do lado do motorista e ele atrás. Estava escuro, mas dava para ver as estrelas no céu.

–Então? Qual é o seu nome mesmo? – perguntou minha mãe.

–Virgílio OuroPreto.

Os olhos da minha mãe se arregalaram pra mim, e eu sabia exatamente o por que, eu apenas dei de ombros.

–Então você é o namorado da minha filha?

–Não! – respondemos em uníssono.

–Não? – perguntou ele pra mim incrédulo.

–Não! – respondi.

Ele fez uma cara de quem não está acostumado com algo, e deu de ombros de novo.

–São o que então?

–Amigos. – respondi.

Abaixei o aparador de sol do carro, e abri o espelhinho dele com a desculpa de ajeitar o cabelo, fingi que arrumava, mas na verdade, eu olhava aqueles olhos castanhos, levemente puxados, aquele cabelo liso escorrido, que eu morria de vontade de bagunçar, aquele típico olhar de “Aff” dele. Ok, eu acho o Virgilio a ultima bolacha do pacote. (E antes que venham implicar, sou paulista falo bolacha mesmo, conviva com isso u.u)

Enfim, eu passei tanto tempo babando feito uma retardada ali fingindo que estava me olhando que logo ele disse:

–Aqui, chegamos.

–Boa noite. – disse minha mãe sem muita emoção. – Não enrola pra entrar.

–Obrigado, senhora, pela carona. – agradeceu ele, saindo do carro.

–Mãe espera, preciso falar algo pra ele! – eu exclamei.

–Pensei que o tempo que ficaram trancados foi o suficiente para todas as palavras. – reclamou ela exausta de sono.

Olhei fazendo biquinho para ela, então ela disse:

–Vai rápido, está tarde.

–Eba! – disse sorrindo, e desci do carro correndo, segurei a manga da camisa do Virgilio.

Ele me olhou sem entender nada. Eu abracei ele, afundei meu rosto no pescoço dele sentindo o cheiro dele, ele não me empurrou nem nada, só ficou parado, e eu aproveitei e disse:

–Não volta lá na casa da minha avó.

–Porque não?

–Você ouviu muito bem o que tio Salvador disse, ele não é pra brincadeira. Então fique aqui. Pode deixar que amanha mando seu primo de volta em segurança. Mas não volta lá. – mandei autoritária.

–Boa noite Nádia. – Ele soltou meus braços do pescoço dele, pegou meu rosto e depositou um beijo na minha testa. – Tenho que admitir, você não é o que eu esperava.

Então os bichos esquisitinhos que ficavam no jardim abriram o portão e o Índio disse:

–Entra logo no carro, é perigoso.

Eu assenti meio boba e entrei no carro correndo, ele entrou naquele enorme casarão.

–Não é namorado hein? – disse minha mãe irônica.

–Aff mãe. – disse constrangida.

–Ahhh, então AINDA não é. – brincou ela rindo da minha cara.

–Aff, aff, aff...

–--

Começando meu dia! Eba!

Eram 7 da manhã, das minhas férias, após ter ficado trancada num armário de cozinha, que aparamente só abre por fora, até as 3 da manhã, e sem nada de legal pra fazer, a não ser o que? Lava a louça que esqueci na pia ontem! Mas que droga!

Sem brincadeira, eu estava dormindo em cima da louça.

Bom esse foi meu dia, faltavam 3 dias pro Natal! Dá pra acreditar? Mais uma semana e dois dias e to livre! Volto pra minha amada São Paulo.

Minha vida é tão mais simples em casa, ok que lá mais que em qualquer lugar do universo eu não posso nem pensar em usar minha varinha pra algo, vivo de treinar alquimia, e às vezes ler os livros da escola, mas pelo menos lá eu não sou a única bruxa que pode impedir o tio bruxo, jagunço e alcoólatra de matar o namorado de primas retardadas, enquanto é obrigada a conviver com outros tios alcoólatras, e não dormir por que sua vó tem complexo de solidão eterna e passa a madrugada ouvindo Amado Batista.

Estava lá sentada a mesa tomando meu café da manhã sozinha, quando escuto passos, então noto Marine e seu namorado entrando pela cozinha.

–Sabe Aloísio? Um bom lugar pra brincar de esconde esconde? – murmurei, em seguida mordendo meu pão.

Ele me olhou surpreso por ter falado com ele pela primeira vez na vida.

–Como?

–A dispensa. É um ótimo lugar pra se esconder. – eu disse. Se aquele imbecil tivesse ido embora eu não teria ficado presa, ele procuraria o Virgilio e iriam embora os dois.

–Ocê bebeu? – perguntou Marine, sentando-se a mesa.

Eu fiquei quieta, sorri e dei de ombros.

–Cuidado, a nossa família tem carma cum álcool. – ela comentou enquanto preparava café da manha pra ela mesma e pro Aloísio.

–Cadê meu primo? – perguntou ele.

–Foi embora. Esperava o que? Que ele ficasse aqui esperando vocês dois? – perguntei.

–Pensei que ele te conhecia.

–Ele falou de mim pra você??? – perguntei empolgada, tipo, Virgilio fala de mim na casa dele??? Isso é um sonho ou o que? Eles perceberam minha empolgação exacerbada.

–Huuummm, tem alguém apaixonada aqui. – riu Marine.

–Ahhh cala a boca. – resmunguei. – E então ele falou o que sobre mim?

–Nada demais, não lembro. – respondeu Aloísio.

–Ahh. – suspirei frustrada.

–E como vocês se conhecem? – perguntou Aloísio.

–Da escola. As vezes ele me repreende pelos meus atrasos, e brigamos quase sempre, alias, ele briga comigo mas mesmo assim fico perto dele. – eu ri e continuei – Sabe, eu não tenho muitos amigos, na verdade uns três ou quatro, digamos que não é o grupo mais popular da escola, por exemplo, um dos meus amigos é o Lucas, um rapaz um tanto, peculiar. – comentei me referindo a como tudo pra ele se resumia em “Viny Y-piranga”. – Tenho também dois amigos completamente malucos o Afonso e a Sabrina, dá pra acreditar que os dois brigam por um garoto do primário desde que os conheço. E o Gui. O moleque é apaixonado pela Caimana!

–Quem é Caimana? – perguntou Marine.

–Ahh a Caimana é uma amiga do Virgilio, eles sim são populares! O Índio nem tanto, vocês sabem, ele é chat...

–Índio? – perguntou Aloísio intrigado.

–AAAAHHHH é! Você não deve conhecer o apelido dele. O Virgílio é o Índio! – respondi sorridente.

Aloísio riu. Então eu continuei:

–Como eu estava dizendo, os amigos do Índio, eles sim são famosos, A Caimana, é uma moça bonita, ama surf, não é minha praia entende. – sorri e comentei. – Praia, não é a minha praia, tipo praia e surf? Não? Aff vocês não acham graça de nada.

Marine tentou sorrir por educação, e eu agradeci isso, quase cogitei parar de chamá-la de songa na minha mente, então terminei de contar:

–Tem o Viny também, ele é legal! Super divertido! E tem o Capí, ele tem uma legião de fãs, ele já deu até aula pra nós! O Capí é um gênio! E tem o Hugo também, Virgilio não vai com a cara dele, mas quando ele está tranqüilo, o Hugo é um rapaz legal.

–Interessante. – disse Aloísio.

–Então, acho melhor você não demorar pra ir embora hoje hein. – comentei. – Não to com vontade de ganhar outro corte no rosto por ter tentado te ajudar.

Marine então arregalou os olhos preocupada.

–Que foi Marine? – perguntei.

–Eu não ia dizer nada ontem quando vi o corte, mas... - começou ela enrolando uma mecha de seu cabelo castanho e liso em seus dedos, e então abriu a boca e nada saiu dela.

–FALA! – exclamei nervosa de curiosidade.

–É qui, é qui... – começou ela.

A olhei feio, e ela rapidamente disse:

–Toda vez qui meu pai corta o rosto de alguém, provavelmente ele quer matá a pessoa.

–Como?

–É tipo uma jura di morte, ele corta o rosto com um canivete pra marcar qui ocê será ele quem vai mataá. – ela me explicou um pouco menos nervosa.

–Mas que desgraçado! – exclamei passando a mão por cima do curativo que eu fiz.

–Me disculpa, num tenho muito controle sobre ele. – ela me disse.

–Tudo bem, obrigada por avisar, acho que vou pro meu quarto. – comentei. – E você! Volte pra casa logo!

–Ok. – me respondeu.

Subi para o quarto, e quando cheguei lá estavam todos meus irmãos, Maysa e Flávia ouviam um walkman, provavelmente ouviam os menudos. Já Enzo e Helouise disputavam um brinquedo. Desde o acontecimento de ontem, eu torcia fervorosamente para o Enzo ganhar, e a Helouise cair quando ele puxasse mais forte o ursinho falante.

E foi isso que eu fiz, fiquei ali olhando os dois brigando como se fosse algo muito importante.

E acho que a minha torcida deu certo, por que não demorou muito, Enzo derrubou Helouise no chão e finalmente pegou o ursinho.

Minha irmã começou a chorar e eu peguei rapidamente o meu tocador de fita e coloquei uns fones gigantes pra fingir que estava ouvindo musica no ultimo volume, por que eu fiz isso? Minha mãe logo entrou no quarto correndo.

–Nádia! Nádia! – ela berrava, e de repente arrancou os fones de meus ouvidos.

–Tá surda? – gritou ela pra mim. – Não está vendo seus irmãos brigando.

Eu queria rir e falar “Cada segundo da briga”, mas apenas disse:

–Por que pergunta pra mim? A Flávia e a Maysa também estão sem fazer nada!

–Você é a mais velha! Pare de se comparar a suas irmãs!

Bufei, me levantando pra levar o Enzo dali, mas antes de sair fiz questão de pegar o ursinho falante e dar na mão do meu irmão.

–Vou andar um pouco com ele.

–Ok. – respondeu minha mãe satisfeita.

–Náh é verdade que você faz mágica? – perguntou meu irmãozinho adorável.

Eu abaixei na altura dele enquanto estávamos do lado de fora da casa, abri a mãozinha dele e fiz uma luz azul começar a brilhar entre a minha palma da mão e a dele, até formar uma miniatura da galáxia de Andrômeda, ele então abriu os olhos estupefado, eu raramente praticava magia na frente dele, afinal, quando ele nasceu eu tinha acabado de entrar na Korkovado, eu logo repondi:

–Sim é verdade! E um dia, eu vou te levar até a escola que eu estudo! Lá todo mundo é como eu! – sorri pra ele. De todos os meus irmãos, ele era o único que achava o máximo ter uma irmã bruxa.

–E vocês fazem casas de doces? – perguntou ele, com aquele olhar curioso.

Eu gargalhei e disse:

–Bom eu vou morar numa casa normal. Mas se você quiser, podemos fazer uma casa feita de doces amanha pra ceia de Natal.

–Sério??? – gritou ele eufórico.

–Sim!!! – respondi no mesmo tom alegre dele, rindo dele.

Aí peguei a mãozinha dele e saímos pelo portão, e comentei com ele:

–Então quer dizer que na sua escolinha vocês estão aprendendo a historinha do João e Maria? – perguntei.

–Como você sabe? – ele perguntou com os olhinhos arregalados.

Eu sorri, afinal, como não saber? Casas de doces? Haha. Então resolvi brincar um pouco com a cara dele. Parei onde estava, me abaixei e disse:

–Eu sei adivinhar, lembra? Sou uma bruxa super poderosa! E posso te dar também uma maça envenenada a qualquer momento! Muahaha.

Ele me olhou sério, e preocupado.

–Você ta ficando má?

Meu coração apertou na hora, eu o abracei e disse:

–Não meu príncipe, é só uma brincadeira.

–Promete que não vai me dar uma maça envenenada? – perguntou ele pra verificar.

–Sim prometo!

–Nem me engordar com doces pra me lanchar? – insistiu ele.

Eu sorri e disse.

–Credo! Te lanchar? Deve estar cheio de ranho dentro de você! – eu disse fazendo careta.

Ele então riu e pulou no meu pescoço pra me abraçar, e disse:

–Eu te amo Nah!

–Own, também te amo. – Esse é o Enzo, o melhor irmão mais novo do universo!

Quando me levantei de novo bati de frente com alguém.

–Ai! Olha por onde anda... – resmuguei.

–Mas que droga Nádia! Me fala um dia qui ocê num esbarra em mim! – disse Virgilio.

–O que você está fazendo aqui? – perguntei inconformada.

–Vim buscar meu primo! E também... – ele então ficou quieto.

–Veio me ver? Own isso é fofo demais! – sorri piscando pra ele. E isso causou uma reação que eu sinceramente não esperava, ao invés de ouvir seu habitual “aff”, ele ficou vermelho!

–Ele é seu namorado Náh? – perguntou Enzo puxando minha manga.

Eu e Índio olhamos juntos para o garotinho.

–Ta tão na cara assim? – eu sorri e continuei: - Um dia Enzo, esse rapaz vai se casar comigo, e você vai entrar na igreja junto comigo!

–Sério?! – exclamou meu irmãozinho empolgado.

–Aff Nádia, para de mentir pro menino! – resmungou Virgilio. – Eu vim aqui pra saber mais sobre Salvador, ou ocê achou mesm’ que eu ia descobrir que o cara vai destruir as escolas e fechar os olhos pra isso?

–Aff, eu já disse pra você não ficar perto dele. – ralhei.

–Prefiro a ocê aventureira, não essa versão mal feita de mim mesmo, vamos logo, sei que ocê também tá curiosa pra saber o que ele está aprontando! – ele me disse, tentando me persuadir. E pra ser sincera, ele tem razão. Eu realmente já teria tentado descobrir o que ele estava aprontando, não só tinha razão sobre a minha curiosidade, tanto, que eu já sabia mais do que ele imagina sobre tudo isso, vou resumir pra vocês, eu li no caderno de anotações do meu tio.

É algo em comum a maioria dos membros da minha família, cada um tem seu próprio caderno de anotações. E o meu é um caderno de desenhos, já o de Salvador é um caderno quadrado e cinza.

Mas o ponto não é o que estava naquele caderno sobre o plano, e sim as outras coisas que lá estavam escritas, coisas que eu preferia que ninguém da Korkovado lesse, na verdade, ninguém com o mínimo de possibilidade de conhecer o Índio.

–É tipo brincar de espião? – disse Enzo empolgado.

–Sim. – confirmou Virgilio se abaixando pra ficar da altura dele.

–Eu posso brincar também? – perguntou ele com os olhinhos brilhando para mim.

–Num sei se a Nádia vai deixar. Ela é o que sua? – perguntou Virgilio pro Enzo.

–Ela é minha irmã! – respondeu ele.

–Num sei não hein, acho que ela quer ser chata com ocê, olha lá a cara dela de azeda. – comentou Índio sussurrando alto o suficiente pra eu ouvir.

–Não, não, minha irmã é a mais legal! – confirmou Enzo com o peito inflado de orgulho de mim. – Ela é a mais corajosa e divertida de todas as minhas irmãs!

–Iiiiii, olha a cara dela, acho que ela ta com medinho. – confidenciou ele para meu irmão, mas olhando desafiador para mim.

–Não! – disse Enzo corajoso, se virou pra mim e disse: - Minha irmã é a mais forte! Nós vamos né?

Suspirei derrotada e disse:

–Tudo bem, nós vamos.

Virgilio sorriu vitorioso, levantou e passou a mão pelos cabelos de Enzo.

–Como você é chato. – resmunguei.

–Aprendi com a mais chata de todas. – ele disse, sorrindo de lado com um ar de deboche. Era lógico que ele aprendera comigo.

Nem entramos pra casa, fomos direto pro cantinho da podridão. Enquanto íamos pra lá, expliquei pro Índio sobre os horários de meu tio, que ele só chegaria em torno das cinco da tarde e depois encheria a cara, sairia brigando e depois, jantava e as onze e meia saia de novo.

Eu então disse:

–Eu entro. O velho bêbado ainda deve estar aí.

–Ocê num disse que ele tinha saído? – perguntou Virgilio.

–Não esse é outro, é o irmão podre da minha avó, uma longa história, fica aqui com Enzo, entro lá e pego os cadernos dele, e qualquer coisa que ele tiver de pista.

–Como ocê sabe que ele tem cadernos com pistas? – questionou Virgilio.

–Na minha família todo mundo tem um caderno pra anotações.

–Até ocê? – ele me perguntou.

–Sim, até eu. Agora vai me deixar entrar lá enquanto o bêbado ta dormindo ou quer esperar ele acordar pra nos dedurar pro Salvador? – reclamei.

–Vai logo.

Eu então olhei de novo pelo vitrô da edícula. E vi o homem velho de cabelos brancos curtos e barba media caído na cama, podia jurar que aquilo em cima dele era uma barata. Vendo isso minha vontade era sair correndo dali. Uma verdade sobre mim, eu odeio baratas!

Enfim, entrei cautelosa, e fui até a cama de Salvador, embaixo dela haviam algumas caixas cheias de cadernos, puxei algumas pra fora e fui abrindo até achar a que estava cheia dos cadernos mais recentes, carreguei-a comigo pra fora e entreguei pro Índio, entrei peguei mais uma das caixas, quando então reparei que embaixo da cama que o velho estava deitado, que provavelmente estava em coma alcoólico, um rolo de papeis. Deixei a caixa então no chão e com cuidado abaixei para pegar o papel.

Então vi a barata em cima do velho, eu estava crente de que a qualquer momento aquele bicho demoníaco pulasse em cima de mim, e se isso acontecesse não ia prestar, por que eu ia começar a gritar e todo mundo ia me descobrir ali.

Eu já disse que odeio meus tios? Pois bem. Eu os odeio. Aquela barata começou a se movimentar mais próximo de mim, e eu pensei “é agora ou nunca”.

Fechei os olhos, enfiei a mão de baixo da cama e tirei correndo os papeis de lá.

Não quis nem olhar pra trás pra ver se a barata tinha me alcançado. Joguei os papeis no colo do Enzo e voltei pra pegar a caixa e saímos correndo dali. Direto pro escritório do meu falecido avô, ninguém entrava lá, a respeito do finado, menos eu, que não ligava para essas cordialidades.

Logo estávamos, Eu, Enzo e Virgilio, os três trancados num escritório antigo, o único cômodo com algum luxo, da casa inteira, e o mais abandonado.

Enzo fuçava nas coisas de meu avô enquanto eu e Índio vasculhávamos os cadernos.

Bom o Índio vasculhava, eu só fingia. Eu já tinha feito isso.

As vezes eu ainda olhava para ver o que ele estava vendo, morrendo de medo de ele achar qualquer caderno que houvesse algum indicio da árvore genealógica da minha família.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pessoal que leu, não sei se esse capitulo está bom. Espero que esteja! :3



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